HOMENAGEM À QUERIDA REJANE BONADIMANN
Foram dez anos de namoro, entre
idas e voltas, brigas e juras de amor eterno. Eram dois pombinhos apaixonados,
se beijando de olhinhos fechados, carícias para tudo quanto é lado. Eu os
adorava. E no dia do casamento deles, era a mais alegre mãe no altar. Ria das
macaquices da dama de honra. Não parava um segundo sequer de mexer-se. Agonia
total. Não era à toa que aquela menininha havia se lançado para fora da janela
da perua, aos nove meses de idade, enquanto seu pai dirigia, atentamente, sem
correr, sem tirar os olhos da rodovia escura, durante uma noite fria em que
voltavam para casa. Mas isto é uma outra história que fica para outro conto. O
pajem, cópia fiel do meu filho quando criança, já estava até com uma parte da
camisa para fora e outra para dentro da roupa cara. Eram as figurinhas mais
arteiras e divertidas daquela cerimônia travessa, cujo padre, mais parecia um
moto boy, pego às pressas numa esquina qualquer. Errava o Português culto, que
a ocasião requer, o tempo todo. Estava tão feliz que sequer o percebia.
Depois de assinados todos os
documentos de cartório, porque as cerimônias foram concomitantes, numa linda
capela do Alfaville, entrecortadas por árvores belíssimas, paz e flores
naturais embelezando o local, lá foi o casal, ainda emocionado para as fotos de
praxe. Lindas! O álbum ficou uma raridade. Ali documentou-se todos os momentos
de emoção. Desde a entrada triunfante da noiva, uma princesa em noite de gala,
vestida de um lindo cor de palha, cravejado de pedras em brilho. Uma menininha
tímida que mal se sabia naquele véu de noiva que a ornamentava. Meu filho
tremia no altar, à espera da tão sonhada melodia do amor. Anos após, numa ida à
Aparecida do Norte, descobrimos que até promessa fizera para casar-se com
aquela flor.
Cerimônia finda, família todinha
reunida, aplaudindo, testemunhando, assinando e documentando realmente as juras
de amor eterno, que ambos faziam para sempre, nós nos encaminhamos para o salão
de festas. Ali já estavam os pais de minha nora, recepcionando os convidados
quando cheguei. O evento transcorreu às mil maravilhas até a chegada da torcida
corinthiana. Amigos do noivo que tomaram conta do salão. Ao contrário do que
todos temiam, até que se comportaram muitíssimo bem. Afinal, tudo o que meu
filho fazia, sempre tinha um ponto negativo. Nem eu, sua defensora perpétua,
acreditava que estava tudo tão certinho. Todos reclamam de mil problemas quando
há uma cerimônia assim. No nosso caso, a festa foi maravilhosa. Alegre como eu
estava. Feliz como só eu poderia me encontrar. Queria mais do que nunca a
felicidade do meu filho e a sabia estar ocorrendo naqueles instantes únicos.
Muitos convidados trouxeram
presentes e os levaram ao salão de festas, por conta da ausência de tempo
costumeira dos habitantes desta louca cidade de São Paulo. Na saída, enchemos
dois carros: o nosso e o da irmã da minha nora. Carregamos tudo para o
apartamento deles. E, é claro, o casal a tiracolo... Só que ele foi comigo e
ela, com a irmã. Logo de cara, a separação! Sem querer, sem perceber, estávamos
eu, a irmã e o cunhado, invadindo a privacidade da noite de núpcias dos noivos.
Primos haviam dado um presente numa caixa fechada, pesada demais, com um tic tac
estranho. Ficamos curiosos e resolvemos abrir somente aquele presente. E o
fizemos. Não era a bomba do Bin Laden, que rindo apelidamos. Apenas um simples
relógio de parede, em pedra talhada, um enfeite especial. A esta altura, duas
horas da manhã, a noiva já estava sem véu, sem sapatos e louquinha para tirar o
vestido. Meu filho não conseguia abrir os botões (quarenta e dois, por sinal).
Ela pediu ajuda à irmã, que pediu ao marido, que pediu a mim. E eu consegui!
Metade dos botões abertos quando me dei conta de que eu, a sogra, estava sendo
“SOGRA”? Não, nem nos piores pesadelos da coitadinha da noiva, poderia haver
uma sogra em sua noite de núpcias. Fechei tudo rapidamente e fomos embora,
praticamente correndo! Não sem antes dar a meu filho alguns documentos a mim
entregues pelo rapaz do Cartório, que deveriam ser levados para um local exato,
em tempo hábil, conforme legislam as leis em vigor. Lembro perfeitamente que
meu filho os colocou no bolso do paletó da roupa do casamento.
Dia seguinte soube que perderam
um tempão com aqueles botões e que dormiram intenso e profundamente até nós os
acordarmos com um telefonema na madrugada, avisando que iríamos levá-los ao
aeroporto para a viagem a Natal, que já estava devidamente paga e programada. A
despedida foi emocionante demais.
Dez dias depois, casal de volta,
queimados pelo delicioso Sol do Nordeste, sorrisos lindos nos lábios, felizes
como nunca! E mais uma vez, família reunida para recepcioná-los e trocarem de
lugar para todos terem chance de ver as fotografias da viagem, o vídeo do
casamento e o álbum, com fotos, uma mais bonita do que a outra, documentando o
casamento que não ocorreu! Como? Que história é esta? Simples assim: havia um
prazo para entrega dos documentos, que foi excedido. Além disso, cadê os
documentos? Desapareceram dentro da roupa lavada, entregues pela irmã à loja de
aluguel. Resultado: Tiveram que esperar dois meses, para as tramitações
costumeiras e irem ao Cartório e realmente se casar, como manda a lei. Nossa
Senhora Aparecida teve que ser homenageada por meu filho, duplamente. Que amor
lindo dele por minha nora. Casou-se e casou-se. Só que teve que aguentar e
ainda aguenta as brincadeiras da família, que jamais entende as datas do álbum,
dos convites, com a inexatidão dos documentos oficiais.
Pior foi o sogro perdoar que o
genro lhe passou a perna, levando sua filha para o leito nupcial sem casar!
Liz Rabello
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