sábado, 9 de agosto de 2014

HOMENAGEM PÓSTUMA
FELIZ DIA DOS PAIS ZEZINHO!

Perdi meu pai com pouca idade (mais ou menos dez anos)... Presentes? um bebê num carrinho de passeio, DNA? Tudo, sou ele, me vejo parecida com ele, de minha mãe, só os trejeitos italianos, ou a cor verde do olhar. Fraldas, mensalidades? Nada disto, que naquele tempo era tudo muito diferente... No entanto, sabe do que me lembro? De quando me colocava em seu colo e me fazia ler a Caminho Suave, de quando pegava em minha mão e me ensinava a escrever um bilhete de amor a minha mãe, de quando me encantava com histórias de contos de fadas, João e Maria, de quando me elogiava, eu me via pelos seus olhos, sem espelhos e conseguia acreditar que um dia eu seria ALGUÉM! Ele me transmitiu valores, ética, e, principalmente, a certeza de um amor sem fim, porque sei que o amo até a eternidade. E lá se vão cinquenta anos ou mais de ausência/presença infinita em minha vida. Amar é isto, eu creio!


Pai, eras minha proteção,
Puro amor
Idealização do que sou,
Do que fui, do que serei!
Tua partida deixou um vácuo
Um abismo jamais preenchido!
Mas fui tecendo dia a dia
O que tu querias, Zezinho!
A cada conquista, uma resposta
Um agradecimento, uma vitória!
Sim, sou tua filha, Zezinho!

Liz Rabello

RECORTES DA MINHA INFÂNCIA

Tenho janelas abertas do passado
Travas serenas prontas a me agasalhar
Saudades lindas e vibrantes
Momentos vividos na infância
Sonhos a me iludir no presente

A maioria das casas de nossa rua não possuíam ainda luz elétrica. Nós, sim. Mas o abastecimento era tão precário, que vivíamos apagões constantes. Éramos, então, obrigados a nos iluminar à luz de vela. Momentos lindos. Meu pai brincava de magia. Cortava o fogo com seus dedos ágeis e jamais os queimava. Depois pegava a vela e a levava ao caminho desconhecido do mundo dos contos de fadas: João e Maria... Perdidos na noite de lua escondida. O caminho iluminado pelo sol (vela acesa) era marcado na mesa da cozinha por casquinhas de pão. Eu fingia ser o passarinho que as pegava para levar ao ninho e dar aos filhotes o abençoado jantar. Os dois irmãos jamais conseguiram voltar, por conta de que eu passarinha as comia... Chegávamos a desligar a luz elétrica só para brincar de magia à luz de vela. Era tudo tão lindo e eu fico de novo feliz, só de lembrar. Quando a luz voltava não havia na mesa nenhum vestígio das casquinhas de pão abençoadas. Até hoje, amo este lance do pão francês. Sei que é vestígio de minha infância povoada de palavras, de sons, de sonhos, que meu pai carinhosamente me iludia.

Liz Rabello