CARTA A
MEU PAI
Estamos diante de duas pessoas.
Um pai, completo, forte, realizado fisicamente, intelectual e monetariamente.
Outro, uma criança, em total despreparo. Influenciado, sem se influenciar,
cresce à revelia. Agora já adulto, só tem um sentimento para com seu pai: MEDO.
Enfrenta o pavor e escreve uma carta.
Conta fatos do passado, tempestuosamente. Esta narrativa segue um tempo psicológico, onde tudo acontece nas malhas da memória. Um filho, que não deseja se eximir de suas culpas e escolhas, mas que ao longo da narrativa, culpa o pai o tempo todo. É um filho, que vivia em culpa, pela surra que nunca levou, graças à clemência do pai, pelos carinhos da mãe, que o socorria. De todos os lados ele desembocava na sua própria culpa.
Na VERDADE, um pai e um filho, nascem juntos, tiram diploma no mesmo dia. Cabe ao adulto, permitir- se, começar do zero, descer ao nível da criança e com ela crescer. Pensar: "Como é que a criança se sente e o que realmente aprende com minhas atitudes de adulto?"
Um momento marcante de minha leitura, foi o episódio da sede da criança (manha, vista pelo pai), e sua consequência, durma com sede ao relento. Com este ato, o pai ensinou o filho a ser obediente, a calar- se para o resto da vida. "A criança se cala, o adulto que ali mora, adquire um modo de falar entrecortado, gaguejante. E, finalmente silencia, a princípio talvez por teimosia, mais tarde, porque já não podia pensar nem falar."
Outro momento, seriam as refeições, "Façam o que eu mando e não o que eu faço". O pai subestimava a inteligência do filho. Agia como se o mesmo só tivesse capacidade de ouvir e obedecer. Criança pensa, analisa, faz reflexão crítica.
Um pai que se utiliza da ironia, sem nenhuma afetividade. Eram tão poucos os momentos de afeto que o filho se lembra quando na sua última doença, o pai veio em silêncio vê-lo no quarto e ficou parado na soleira da porta, apenas esticou o pescoço para lhe avistar na cama e por consideração só fez um cumprimento com a mão. Naquele momento, filho chorou de felicidade, e chorava ainda, enquanto escrevia.
De qualquer forma, não só pais, como também educadores precisam ler estas cartas, trazem relatos importantes sobre a educação dos jovens. O que mais educa? O exemplo ou o que se ensina. Quando era Coordenadora Pedagógica eu perguntava aos professores: O que você está ensinando, quando ensina o que quer ensinar
Liz Rabello