HAIKAI

HAIKAI

Sementes germinam, borboletas beijam cosmos... Encantos de amor. Liz Rabello


Era tanto azul... O Sol farol no infinito, esperançou-me!
Liz Rabello


Céu, mar, Sol, luar,
colam-se... Corpos em nós
são borrões de amor...
Liz Rabello


A tarde voa,
leva cores, um arco-íris,
traz prata luar.
Liz Rabello

É um gênero de poesia com forma fixa. Possui três versos: o primeiro e o terceiro são redondilhas menores — versos de cinco sílabas —, e o segundo, redondilha maior — verso de sete sílabas. Portanto, é uma poesia objetiva e sintética. O haicai tradicional não possui título nem rimas e apresenta temática bucólica. No Brasil, os principais haicaístas são: Masuda Goga, Guilherme de Almeida, Afrânio Peixoto, Pedro Xisto, Paulo Leminski, Helena Kolody, Millôr Fernandes e Alice Ruiz.

CARACTERÍSTICAS DO HAIKAI

O haicai é um subgênero literário, com caráter lírico, de origem japonesa, que, tradicionalmente, é caracterizado pelo(a):

objetividade, simplicidade, serenidade, sobriedade, casualidade, solidão, não intelectualidade, bucolismo, antissentimentalismo, condensação, uso de imagens, ausência de título, ausência de rima, kigo, cesura.

O kigo é uma palavra que evidencia a estação do ano em que o texto foi produzido.

A cesura é uma palavra utilizada, no final do primeiro ou do segundo verso, para provocar uma quebra sintática e evitar que o poema pareça ser composto apenas por um verso ou frase. Já o antissentimentalismo deve ser associado ao haicaísta ou ao eu lírico, pois uma das características do haicai tradicional é a existência de uma palavra que dispara a emoção na leitora ou no leitor.

Ao contrário das TROVAS, que devem ser uma frase única, o HAIKAI requer a CESURA, que é uma palavra utilizada, no final do primeiro ou do segundo verso, para provocar uma quebra sintática e evitar que o poema pareça ser composto apenas por um verso ou frase. 

TEMÁTICA

A temática da natureza é característica do haicai tradicional.

ESTRUTURA

Quanto à estrutura tradicional, o haicai é um poema que apresenta apenas três versos, portanto, é um terceto formado por redondilhas, assim distribuídas:

Verso 1 e 3: redondilha menor (cinco sílabas poéticas)

Verso 2: redondilha maior (sete sílabas poéticas)

Desse modo, o haicai é um poema de caráter popular, que, de forma sintética e com linguagem impessoal, busca retratar uma experiência concreta por meio do equilíbrio entre a forma (metrificação) e o conteúdo objetivo.

PARA SER HAICAI NÃO É NECESSÁRIO A RIGIDEZ DA MÉTRICA TRADICIONAL DESDE QUE EXISTA O HAIMI

mesmo turvas
águas que rolam
ensinam curvas
Karlos Chapul

HAICAI QUE É HAICAI TEM HAIMI

Era tanta luz,
misturada com azul,
vi manhãs de verdes.
Liz Rabello


Em todo haicai encontramos o Haimi. O haicai pode dispensar aspectos formais como métrica, rima e até mesmo o kigo (referência a uma das estações do ano). Os recursos formais só têm valor se servirem para revelar o Haimi. O Haimi é encontrado em estado meditativo. Ou seja, em estado de não-mente, sem a presença do mental analítico. É algo surpreendente que queremos compartilhar. Não é algo concreto. É abstrato.


ninguém estranha
o inverno de manhã
também faz manha
Karlos Chapul

Um haicai é composto de motivo/evento/revelação. Sem Haimi não temos revelação. Sem revelação não temos haicai.

friozinho que arde
o inverno vindo no
fiozinho da tarde
Karlus Chapul



MEUS HAIKAIS
Com gotas de amor,
suaves pingos de orvalho,
manhãs beijam flor.
No Haikai tradicional não pode existir rimas. Mas se a criar fica errado?: (Liz Rabello)
Não, não fica errado. Mas, passa a ser uma variação, cujo perigo é esquecer a ideia inicial. Eu, pessoalmente, prefiro não usá-la. (Edilson Costa)
Com gotas de amor,
suaves pingos de orvalho,
manhãs, flores beijam.
Lindíssimo!!! Veja que é possível evitar a rima sem perder a beleza e a essência do haicai. (Edilson Costa)


Ao entardecer, os girassóis se abraçam... Carícias de amor.
Liz Rabello


Borboleta pousa... por um momento me escolhe... fica em minha mão. Liz Rabello


Na natureza... Água...
Nascente do tronco da árvore! Caixa de surpresas. Liz Rabello


Nos espelhos d'água,
Sol nascendo ou se pondo?
Reflexo do tempo.
Liz Rabello


Um amor sagrado,
cerca viva de alamandas,
flores cor do Sol...
Liz Rabello


Uma cerca velha,
de sútil beleza eterna,
seduz meu olhar!
Liz Rabello


É final de inverno,
cerejeiras no gramado,
arco-íris perfeito.
Liz Rabello


Nosso olhar divaga em quem caminha parada: uma flor de estrada.
Liz Rabello


Cores da manhã,
nem tampouco anoitecer...
Nunca são iguais.
Liz Rabello


Abrirei janelas,
após chuva virá Sol...
Flores vão sorrir...
Liz Rabello



Uma flor que voa
o meu olhar encantou...
Purificou o ar.
Liz Rabello


Meus sonhos perdidos
no travesseiro do tempo,
esquecidos, dormem.
Liz Rabello


Sempre bem me quer,
pois mal me quer, ninguém quer...
Feliz desfolhar!
Liz Rabello


Brindes espumantes
explodem pelas calçadas,
mar, amor, ressaca.
Liz Rabello


Semente plantada,
frente fria congelou,
flor que não brotou.
Liz Rabello


Sonhos de cristais,
orvalho em manhãs geladas,
frio inverno em mim.
Liz Rabello


Luz rosa púrpura,
suspiros orientais,
inverno amanhece.
Liz Rabello


Um voo por nuvens,
Fenix cobre o céu anil...
Quem imita quem?
Liz Rabello


Na trilha do outono, o vento desnuda as árvores... pro banho da vida.
Liz Rabello


Ao toque do vento, em abraços e poesia, árvore se enrola... Liz Rabello


Num entardecer, nunca é TARDE para SER o melhor do amanhã.
Liz Rabello


Nas folhagens verdes,
lembranças da minha infância,
pura nostalgia.
Liz Rabello


Minha rede embala sesta gostosa e tranquila, tarde de domingo.
Liz Rabello


Na janela da árvore, à procura do Sol luz, floresce a plantinha.
Liz Rabello


Da cascata morta,
jorram as rústicas pedras...
São lágrimas secas.
Liz Rabello


Enfrento os espinhos 
para colher seu perfume...
Rosa flor paixão.
Liz Rabello


A resiliente
semente sonha ser flor
linda em primavera.
Liz Rabello


Era algodão doce?
Filhote bem pequenino,
miava o gatinho.
Liz Rabello


As cinzas ao mar, última curva do amor, levam-me aDeus...
Liz Rabello


Ei, pisca pra mim!
Vovó de auroras de outrora,
Tempo fugidio.
Liz Rabello


Um feixe de flor,
embriagado de luz...
Linda Paraty.
Liz Rabello


Aquarelei chuva, trovões e raios, dei fim. Sobrou eu em mim.
Liz Rabello


Sedento, cedendo, até sua morte em sede, rio segue em frente...
Liz Rabello


Explode a paixão, quando o céu ao mar encontra... Um ao outro, encanta...
Liz Rabello


Vida é agridoce,
um azedim de alecrim...
Mel, fel, bom demais!
Liz Rabello


Tece teu talento,
aranha ágil, linhas, nós,
recriando a vida.
Liz Rabello


Céu de primavera...
Bailam nuvens azuis,
Sol dança com elas.
Liz Rabello


Urgência em viver,
nada é para sempre...
Fotografe o tempo!
Liz Rabello


Beija-flor, de flor
em flor, beija o coração
acalmando a vida.
Liz Rabello


Despenca no chão,
puro céu azul profundo, num raio de luz. 
Liz Rabello


Na noite estrelada,
outonos apagam Lua!
Eu, só... Vagalume.
Liz Rabello


Ipês amarelos -
bonança primaveril
cobrem céus e ruas.
Liz Rabello


As águas que descem,
pedras embolam... Cascatas,
em sonos eternos.
Liz Rabello


Borboleta azul,
na ânsia de camuflar,
é raio de luz.
Liz Rabello


Borboletas amam flores,
sugam pólen e respingam,
são deusas divinas.
Liz Rabello


Só mais um instante,
permaneça linda e fresca...
Não pereça, oh, rosa!
Liz Rabello


Ideal de flor: guardar do amor um segredo,
rosa sem espinho.
Liz Rabello


A_gosto de Deus,
setembro, no jardim seco: as gotas de chuva.
Liz Rabello


Março: muita chuva... No paraíso é só verde, não acaba mais!
Liz Rabello


Enfeita o gramado,
a árvore que não é minha, um ipê do parque.
Liz Rabello


Sol apaixonado?
Sempre corre atrás da Lua...
Amor incurável!
Liz Rabello


Solitária flor
Lua veio te beijar, brilhas por instantes.
Liz Rabello


Em mar de verão, ondas sugam os olores de corpos salgados.
Liz Rabello


Árvores perdidas,
pulmão sem ar, terra seca.
Refloresça, amor.
Liz Rabello


Os raios dourados tingem as campinas verdes... Sol do meio dia.
Liz Rabello


Eu sou estrelinha,
brilhando na Via Láctea, luz de um vagalume.
Liz Rabello


O destino é incerto
armadilhas enlaçadas...
"Nós" na Via Láctea.
Liz Rabello


Plante lindas flores.
Abre as portas, não as feche!
Respire os aromas.
Liz Rabello


Aguaceiro e Sol,
casamento de viúva,
arco-íris em luto.
Liz Rabello


No meio do nada, floresce a graça da vida: uma Flor de Lótus...
Liz Rabello


Sensação: futuro!
Esperar vida brotar,
árvores plantar.
Liz Rabello


O Sol da manhã se espreguiça, derretendo as gotas do orvalho.
Liz Rabello


Na ponta dos galhos...
Flores macias serenas...
Algodão vermelho!
Liz Rabello


Fácil vence o espírito,
sobre as coisas materiais,
minha flor de Lótus!
Liz Rabello


Presente de Deus:
Colorida flor de cactus
no meio do nada.
Liz Rabello


Memória me traz
ao porto daquele cais.
Sem ti, fim de tarde.
Liz Rabello


Despenca no chão, enfeitando meu olhar, um cacho de flor.
Liz Rabello


Dentro das conchinhas,
som das ondas em troféu...
... navegam sem mar.
Liz Rabello


Visto-me de pétalas, Flamboyant, formosa flor, perfume de Deus.
Liz Rabello


Olho que sorri,
a tal paz que não se vende,
toques que se falam...
Liz Rabello


Os quintais de minha vida são chuvas de Sol: um verão sem pressa...
Liz Rabello


Estrela cadente,
fugacidade outonal,
efêmero brilho.
Liz Rabello


Tórrido calor, desejos de chuva... Em mim, pingos de suor.
Liz Rabello


Aprendi sozinha
a viver me amando, sem
o teu cobertor.
Liz Rabello


Ave rouba a Lua,
para agradar seu amor...
Quem dera ela visse!
Liz Rabello


Outono tem, sim,
poesia... Neblina chora
as folhas perdidas...
Liz Rabello


Os dias são curtos,
as noites longas demais!
Vivemos no inverno?
Liz Rabello


Mormaço de dores,
pingos de lágrimas, matam
saudades em mim...
Liz Rabello


Entre o que se vê,
troca de olhares... Ternura
para quem nos olha!
Liz Rabello


Apenas um raio,
Sol, verão no coração, luz energizante.
Liz Rabello


Esconde o sorriso,
triste alma de palhacinho,
encanta os meninos...
Liz Rabello


Segundo atrás: chuva... Arco-íris, Sol atrevido, seca asfalto agora...
Liz Rabello


Amo tirar fotos, no meio das lindas flores... Manhãs encantadas!
Liz Rabello


O hoje a ir embora.
Que importa? Amanhã virá,
tão belo, quanto hoje.
Liz Rabello


Em raios de Lua,
orvalho se descortina...
Pérolas noturnas.
Liz Rabello


Livres andorinhas,
cúmplices dos meus amores,
levam ilusões.


Encanta-me a rosa...
O beija-flor vem tocá-la,
beija o meu olhar.
Liz Rabello


 Chega de mansinho,
conquista amor de uma rosa,
Beija-flor a beija...
Liz Rabello


Encontrei o amor,
terno passarinho sou, 
rosa entre os espinhos.
Liz Rabello


 O
 céu é de quem
não tem medo de voar...
Poesia também!
Liz Rabello


Ao pé de uma árvore
doce pétala descansa... 
É suor de Deus.
Liz Rabello


Céu convida ao voo,
passarinho vem voar;
eu? Viro poesia.


Os elos azuis,
presentes nos corações,
vida que o amor cria.


Em cristais quebrados,
outonos estilhaçados,
bebo minha vida!
Liz Rabello


Eis que em mim floresce,
orquídea de primavera,
... joga ao vento pétalas...
Liz Rabello


Maçãs perigosas...
Pecados do paraíso...
Pegar ou largar.
Liz Rabello


O tempo se perde,
mudam-se as cores das folhas,
em círculos de estações...
Liz Rabello


Doce de maçã,
pecado do paraíso,
plantar e colher!
Liz Rabello


Sou um palhacinho,
faz de conta é carnaval,
roubo teus sorrisos.
Liz Rabello


Vestida de mel,
eu pousei no girassol,
lindo entardecer.
Liz Rabello

Vestida de mel,
ao pôr do sol, entre abelhas,
pousei numa flor.
Liz Rabello


Névoas são voláteis, giram formas maleáveis, cada novo olhar.
Liz Rabello


Doce saboroso,
pecado do paraíso,
Humm! Abacaxi!
Liz Rabello


Namora a amora...
Pega a fruta do pé verde
e mastiga estrelas.
Liz Rabello

O novo das bruxas
é o rodo... Lá vem a chuva!
Vassoura aposentada.
Liz Rabello


Siga os girassóis...
Luz solar no fim da trilha,
já começa o dia.
Liz Rabello


Vestida de mel,
Entre a luz dos girassóis,
Sou rainha abelha...
Liz Rabello


Oh, moinho do tempo, não rejeite as folhas secas! Há de vir o novo!
Liz Rabello


A primeira flor
enfrentou Sol e estiagem,
apostou na chuva...
Liz Rabello


Bela flor é única,
jamais se repetirá...
Inspire, respire.
Liz Rabello


Gotinhas suaves
Vêm do céu, abençoando
tudo o que tem vida.
Liz Rabello


Tão tímido, o Sol
despeja raios de luz,
frágeis feito inverno.
Liz Rabello


Na beira do lago,
cio de cisnes em troféu,
frio de primavera.
Liz Rabello


Do túnel do tempo:
não há nada mais bonito!
Joaninha voando...
Liz Rabello


Entre espinhos: flor
desabrocha no deserto...
Rubra cor batom!
Liz Rabello


Em verdes caminhos, primavera a gorjear sons celestiais
Liz Rabello


Aves gemem ais
no dourado entardecer,
suspiros ao Sol.
Liz Rabello


Carinhos são brisas, noites mornas de verão, reinicia a vida.
Liz Rabello


Verdes tons do olhar,
banco de contemplação,
espiando a vida.
Liz Rabello


Gratidão conquista, gesto de simplicidade, canto de pardal.
Liz Rabello


Correm para o mar águas doces de um riacho, perfumando a vida.
Liz Rabello


Em giros voláteis,
na flor violeta, pousa
linda borboleta...
Liz Rabello


O amor é um pássaro frágeis asas voando ao léu, em busca de um pouso.
Liz Rabello


Só de andar contigo,
te olhar, experimentar, valeu meu viver.
Liz Rabello


Luz, amor e voo...
Na camuflagem: orgasmo! Frágil, doce clímax...
Liz Rabello

Verão, borbolete-se! Saia do triste casulo... Finda a primavera.
Liz Rabello


Vem... Voa, renova-te,
voa, vem, é primavera,
as flores te esperam.
Liz Rabello


Linda flor é única!
Nasce, cresce, vive em farpas,
embeleza o arame...
Liz Rabello


Precipício cinza,
sonho à beira do penhasco,
Ícaro alça voo.
Liz Rabello


Ovelha marinha,
pequena lesma simpática,
verde alga no mar...
Liz Rabello


Nasce uma esperança,
Natal é renovação. Gratidão por luz!
Liz Rabello

No lodo da várzea,
sapatinhos de bebê,
restaram da enchente.
Liz Rabello


A(gosto) de Deus Ipê amarelo abraça pé de buganvilea.
Liz Rabello


Saudade dos pingos,
ouro azul no meu jardim...
Fonte de esperança
Liz Rabello


Passarinho encanta
nas flores de cerejeiras,
Sol da primavera.


Enfrento os espinhos
para colher seu perfume...
Rosa flor paixão.
Liz Rabello


Setembro, promove
sinfonia de pardais,
gorjeios sonoros.
Liz Rabello


Em prelúdio, oásis:
Primavera... Outono espera
e o inverno esfria...
Liz Rabello


Prenúncio de inverno... Corpo em conchinha no seu, cobertor de amor
Liz Rabello


O vento a mastiga, tremula um esconde-esconde, Lua de verão.
Liz Rabello


A mais bela flor,
entre pisagens brutais, é a que floresce.
Liz Rabello


Poluição não é... Folha seca, não é lixo! É renovação.
Liz Rabello


Criatividade num ninho de beija-flor! Exótico, incrível! ❤️Liz Rabello


Agosto secou
verde amarelo, cor morta,
fez brotar setembro.
Liz Rabello

HAICAI DA SEMANA
1. O kigo deverá constar de forma expressa no haicai; 2. A métrica seguida é a de um terceto com 17 sílabas poéticas - ou próximo disso -, distribuídas em 5/7/5 sílabas; 3. O terceto deverá ter um corte ou pausa de leitura (kire), indicada por um sinal de corte (kireji), geralmente um travessão ( — ) ou somente por separação gramatical, ou seja, por alternância de letras maiúsculas e minúsculas. O kigo desta semana é: BEIJA-FLOR
“Várias espécies e coloração; pequenino, de voo muito veloz. Alimenta-se de néctar das flores e de insetos minúsculos. Muito frequente em nosso meio e próximo de habitações humanas na primavera, quando ocorrem as floradas. Poética: Ave-flor.”IGO

O Kigo deverá constar de forma expressa no haicai. Tentem manter o terceto próximo de 17 sílabas métricas, distribuídas em 5 - 7- 5:

Árvore no chão,
aborto na gravidez.
Flor sem beija-flor.
Liz Rabello

TOUCA DE LÃ

Eu desfiei a touca
de lã, perfazendo o inverso
da infância saudade.
Liz Rabello

O HAIKAI É O QUE É

1. Resposta intuitiva ao mundo natural.
2. Consciência ampliada de nossa unidade com a natureza.
3. Simplicidade sem lutas ou antagonismos.
4. Uma expansão do específico para o geral, ou uma contração do geral para o específico.
5. Nos vê em nossos incontáveis devires. Na natureza, nada é estático. Samsara.
6. Um momento de maior consciência. Intuitivo em relação à nossa Unidade na Natureza.
7. Simplicidade - declarada de forma simples.
8. Aceita todas as coisas religiosamente (não confessionalmente). Não religiosamente filosófico.
9. Evita a severidade, a violência - sendo essencialmente uma melhoria da vida.
10. Refinamento da linguagem, evita o vulgar e o chocante (chocar por chocar).
11. Um empurrãozinho à iluminação.
12. Intuição.
13. Poesia do espírito iluminado.
14. Lida com a Naturalidade do Homem.
15. Eternidade em um momento.
16. Lida com a pureza da natureza COMO NATUREZA.
17. Sinceridade em todas as coisas. Ajuda-nos a transcender através de nossa
semelhança com TODA a Natureza.
18. Pode conter implicações de humor, contradições e paradoxos.
19. Mostra-nos “idealmente” a nossa Unidade com TODOS.
20. Toda a verdade, afiada até a pureza. Um lampejo de percepção não resolvido por comentários intelectuais. NATURAL.
Lorraine Ellis Harr


COISAS QUE O HAIKAI NÃO É

1. Haikai NÃO É uma frase em prosa dividida em 3 linhas de 5–7–5 sílabas, nem um "drible de prosa". Haikai É, uma forma de arte que requer estudo e disciplina.
2. Haikai NÃO ESTÁ sempre dividido em 5–7–5 sílabas. A contagem 5–7–5 refere-se ao onji japonês (símbolo / som) e não às sílabas do idioma inglês. É geralmente uma forma curta / longa / curta. NÃO É “preenchido” com modificadores para fazer a contagem sair correta.
3. Haikai NÃO É poética (no sentido da poesia da língua inglesa), mas é poesia pura.
4. Haikai NÃO É símile ou metáfora. Símile e metáfora transformam o haikai em poética inglesa.
5. Haikai NÃO É uma declaração intelectual. É uma resposta intuitiva à NATUREZA.
6. O Haikai não é um cartão postal ou uma “bela imagem”. É um momento de maior consciência que pode ser compartilhado pelo leitor. Deve ter profundos significados.
7. Haikai NÃO É um poema de 3 linhas, sendo a primeira ou a última um título para a segunda. Todas as 3 linhas devem ser necessárias para a clareza do haikai. Não desperdice espaço de palavras.
8. Haikai NÃO É resumido pelo comentário intelectual do poeta a respeito da experiência. É deixado em aberto, para que o leitor possa compartilhar de sua criação.
9. Haikai NÃO É um amontoado de palavras amarradas juntas para obter uma contagem de 5–7–5 sílabas, ou um trava-língua em staccato. O haikai deve fluir, especialmente quando lido em voz alta. Não rima, exceto raramente. Evite o recurso poético do cavalgamento, ou enjambement. Reserve um tempo para escrever haikais sem eles.
10. Haikai NÃO É uma poesia mecânica com ritmos (ou seja, pentâmetro iâmbico), mas as terminações das linhas devem ser um pensamento tão completo quanto possível, tanto quanto a totalidade do poema, quanto a sua expressão. Haikai requer polimento! “Vale a pena fazer tudo o que vale a pena fazer”.
11. Haikai NÃO É sobre valores humanos, moral, julgamentos, comentários, etc. NÃO É um epigrama ou um dístico. NÃO É didático, seja abertamente ou secretamente. É da Natureza e da "Natureza das Coisas". Capturar a “natureza das coisas” é a essência do bom haikai.
12. Haikai NÃO É antropomórfico, como poesia em língua inglesa. Sem humanização da natureza ou personificação! Em vez disso, Naturalize o homem. Esta é uma diferença sutil.
13. Haikai NÃO É uma generalização sobre algo. É uma coisa / hora / lugar / temporada / evento específico. É poesia da natureza no sentido japonês (tipo ZEN). No momento presente.
14. O Haikai NÃO É um “conta-tudo”. É indicar, e não dizer. Mostre, não diga.
É frágil a vida...
Beija-flor de primavera,
nuvem de algodão.


15. Haikai NÃO É obscuro. A estação (ki) deve ser nomeada, ou usada uma palavra de estação (kigo). O leitor deve ser capaz de co-criar o clima / temporada / evento. Seja específico. Não diga “árvore” se você quer dizer olmo; não diga “pássaro” se você quer dizer carriça, por exemplo. A coisa / hora / lugar / estação deve ser evidente para o leitor. Evite “este” ou “aquele” pássaro / inseto / folha, etc. É desnecessário.
16. Haikai NÃO É uma "imagem bonita", nem é deliberadamente sombrio para "se exibir". É uma interação entre duas ou mais coisas / objetos em um estado de tensão não resolvida, não diga ao leitor como reagir ou sentir; deixe ao leitor algo para co-criar.
17. Haikai NÃO É qualquer coisa que vem à mente. É uma experiência iluminada específica e compartilhada com o leitor. É uma consciência intensificada, não imagens imaginárias. É o que está acontecendo aqui / agora, não um devaneio ou exposição.
18. Não use palavras desnecessárias, que se sobreponham ou digam a mesma coisa como abril / primavera, inverno / neve. Cada palavra deve ter valor e importância. Escolha cuidadosamente.
19. Haikai NÃO É apenas um “pequeno poema” que pode conter até 17 sílabas. Os Mestres da Arte trabalharam nele, às vezes a uma vida inteira.
20. Haikai NÃO É fácil de escrever, mas quando você estiver “fisgado”, ficará feliz por ter tentado. O estudo e a disciplina aguçam a percepção e melhoram todos os outros campos da escrita, além de adicionar entusiasmo à vida.

HAIKAI É O QUE É!

Se você se pegou fazendo alguma destas coisas que o HAIKAI NÃO É, estude estas DIRETRIZES novamente; precisamos de bons poetas haikaístas. FELIZ HAIKAI!
Lorraine Ellis Harr


COMO SE FAZ UM HAICAI?

Para aprendermos como se faz, vamos analisar um haicai de Masuda Goga (1911-2008), principal representante do haicai tradicional japonês escrito em território brasileiro:

Em cima do túmulo,

cai uma folha após outra.

Lágrimas também...

Em relação ao conteúdo, note que a informação é sintética e objetiva, centrada em três elementos: um túmulo, folhas e lágrimas. Quanto à forma, cada um desses elementos foi colocado em um verso do terceto. Esses versos estão, segundo a estrutura tradicional, metrificados:

→ Escansão do verso 1: Em/ ci/ma/ do/ tú/mu/lo.

Esse verso é composto por cinco sílabas poéticas, portanto, uma redondilha menor. Não se esqueça, na separação de sílabas, devemos contar até a última sílaba tônica. Como a palavra “túmulo” é uma proparoxítona, contamos até a sua primeira sílaba.

→ Escansão do verso 2: cai/ u/ma/ fo/lha a/pós/ ou/tra.

Esse verso é composto por sete sílabas poéticas, isto é, uma redondilha maior. Além disso, contamos até a última sílaba tônica da palavra paroxítona “outra”.

Atenção: quando uma palavra acaba com som de vogal e a palavra seguinte inicia-se com som de vogal, é permitido, segundo as regras de metrificação, juntar a última sílaba de uma palavra com a primeira sílaba da próxima, como ocorreu em: “cai uma folha após outra”. Até porque, ao declamar-se o haicai, na língua portuguesa, junta-se os dois as: cai-u-ma-fo-lhapós-ou-tra.

→ Escansão do verso 3: Lá/gri/mas/ tam/bém...

Assim como o verso 1, o verso 3 é uma redondilha menor, pois possui cinco sílabas poéticas, já que a última palavra do verso é uma oxítona e, logo, sua última sílaba entra na contagem.

No mais, podemos apontar o kigo, ou seja, a folha que cai, pois essa imagem indica o outono, estação em que foi escrito o haicai. Também é possível indicar a cesura — a palavra “outra”, que encerra a imagem construída nos dois primeiros versos para dar lugar à imagem do verso seguinte, que representa o choro de alguém. Assim, a palavra “lágrimas” dispara a emoção.

Em conclusão, para fazer-se um haicai tradicional, é necessário expressar-se uma ideia, imagem ou emoção de forma rápida, sintética e objetiva. Além disso, deve-se seguir as regras estruturais desse tipo de poema, ou seja, três versos apenas, sendo os versos 1 e 3 compostos em redondilha menor, e o verso 2, em redondilha maior.

HAICAI NO BRASIL

O haicai chegou ao continente europeu no século XIX e foi trazido ao Brasil pelos modernistas no século XX. Ele é particularmente associado ao escritor Guilherme de Almeida (1890-1969), que adaptou o gênero ao anticonvencionalismo modernista.

Depois dele, o concretismo também dialogou com esse tipo de poesia, principalmente por meio do poeta Pedro Xisto (1901-1987). Por fim, a poesia marginal dos anos 1970 teve em Paulo Leminski (1944-1989) um dos maiores representantes dessa estética.

Outros haicaístas são Afrânio Peixoto (1876-1947), Helena Kolody (1912-2004), Millôr Fernandes (1923-2012) e Alice Ruiz. Esses artistas, no entanto, possuem, cada um, suas peculiaridades.

No Brasil, em alguns casos, o haicai reduziu-se a uma estrutura fixa e abandonou o elemento filosófico de origem japonesa, como a existência de uma palavra que dispara a emoção ou de um kigo (termo que indica as estações do ano). Outros poetas abandonaram também os 17 versos e optaram por outro tipo de metrificação, ou mesmo pela sua ausência. Além disso, em vez de os autores limitarem-se aos temas bucólicos, houve uma ampliação temática. Dessa forma, existem haicais tradicionais ou almeidianos, por exemplo.

Os haicais de Guilherme de Almeida são metrificados e utilizam rima e título. Já os de Paulo Leminski não trazem métrica nem kigo, são mais libertários. Millôr Fernandes utiliza a ironia e a rima. Já Afrânio Peixoto e Helena Kolody buscam aproximar-se da forma tradicional de fazer-se o haicai. Assim, outros haicaístas inspiram-se em algum desses poetas, reproduzindo o seu jeito particular de compor esse tipo de poesia.

EXEMPLOS DE HAICAIS

Arco-íris

Arco-íris no céu.

Está sorrindo o menino

Que há pouco chorou.

O haicai “Arco-íris”, do livro Paisagem interior (1941), de Helena Kolody, apesar de apresentar título, traz características do haicai tradicional, como as redondilhas e a ausência de rima. Nesse poema, cada verso traz uma imagem distinta: um arco-íris no céu, um menino sorrindo e um menino que chora.

Infância

Um gosto de amora

Comida com sol. A vida

Chamava-se: “Agora”.

Nesse haicai, publicado no livro Poesia vária (1947), Guilherme de Almeida quebra com a tradição ao colocar um título e rimar “amora” com “agora”. Dessa forma, o gosto de amora simboliza a infância do eu lírico em um dia de verão. No entanto, o poeta mantém a metrificação do haicai tradicional.

lua à vista

brilhavas assim

sobre auschwitz?

Extraído do livro Distraídos venceremos (1987), esse haicai de Paulo Leminski não segue a regra de metrificação do haicai tradicional, já que o primeiro e o terceiro versos possuem três sílabas poéticas, enquanto o segundo verso possui cinco. Nesse poema, o eu lírico dialoga com a Lua, quer saber se ela brilhava em Auschwitz, o campo de concentração nazista.

Perfume silvestre

As coisas humildes,

Têm seu encanto discreto:

O capim melado...

Afrânio Peixoto, nesse poema publicado no livro Miçangas: poesia e folclore (1931), segue quase todas as regras do haicai tradicional, com redondilhas, ausência de rima, presença de kigo e cesura. No entanto, o terceto possui um título. Assim, nessa poesia, o capim melado é associado a um encanto discreto, à humildade e ao perfume silvestre.

assombrada por você

minha sombra

se esconde de mim

Esse haicai é de Alice Ruiz, publicado no livro Desorientais (1996), e não segue a metrificação do haicai tradicional, pois apresenta sete sílabas poéticas no primeiro verso; três, no segundo; e cinco, no terceiro. Nele vemos um trocadilho entre “assombrada” e “sombra”, e a ideia de que alguém provoca medo no eu lírico, que, ao mesmo tempo, é protegido ou anulado pela sombra do interlocutor.

alma e lua ah lumes

bambo embalo de bambus

flauta e flume fluem

Nesse haicai de Pedro Xisto, retirado do livro Caminho (1979), é possível perceber a presença de assonância e aliteração, de forma a produzir-se um poema sonoro, tão característico do concretismo. Assim, no primeiro verso, em redondilha menor, temos a repetição das letras “a”, “l”, “m”, “e” e “u”; no segundo, em redondilha maior, repetem-se o “b”, o “a”, o “m”, o “e” e o “o”; e, por fim, no terceiro, também em redondilha menor, as letras “f”, “l”, “a”, “e”, “m” e “u” são repetidas.

Olha,

Entre um pingo e outro

A chuva não molha.

Esse poema de Millôr Fernandes, retirado de seu livro Hai-kais (1968), não segue a metrificação do haicai tradicional. Afinal, o primeiro verso tem apenas uma sílaba poética. Como característica do haicai millordiano, temos a rima — olha/ molha — e a ironia, ao afirmar-se que, para não se molhar, é preciso ficar entre um pingo e outro da chuva.

LINK DE PESQUISA

https://www.portugues.com.br/literatura/o-haicai.html?fbclid=IwAR0GlGcal6eyeS8EQ8TPgv6Nm-e73JWg7fy6so14_MUtW1yH167jFyQZhh8


REFLEXÕES SOBRE JUSTAPOSIÇÃO
Carmen Sterba
Por que o haicai é tão atraente para nós que gostamos de lê-lo e escrevê-lo? Para os amantes do haicai, ao escrever o que se considera um bom poema provavelmente ocorrerá uma resposta catártica, liberando emoções e desejos. Provavelmente, o poeta espera compor um haicai que não seja esquecido. Frequentemente ouvimos que a justaposição é a chave para o sucesso de um haicai. O contraste de duas imagens no haicai costuma ser fundamental para a criação de ressonância.
Robert Spiess, editor de Modern Haiku , disse o seguinte em A Year's Speculations on Haiku :
“A justaposição de entes no haicai não pode ser simplesmente a junção de qualquer coisa; o poeta deve ter a intuição de que certas coisas, embora de características ‘opostas’, ainda assim têm uma ressonância, uma ligação, umas com as outras que evocarão uma revelação quando forem justapostas, de acordo com os cânones testados pelo tempo e a estética do haicai”. Como editora do jornal eletrônico Haijinx, descobri como é importante ler cada haicai várias vezes antes de fazer escolhas individuais. Era preciso avaliar o haicai em vários níveis, mas o ponto principal era se os elementos do haicai permitiriam que o leitor se identificasse com uma nova maneira de ver. Isso pode envolver tanto a justaposição, quanto um estilo aberto, além de uma escolha cuidadosa de palavras.
A seguir, alguns haicais contemporâneos que são sutis ou surpreendentes em sua justaposição. O primeiro é um exemplo de como a justaposição cria sinestesia (Obs.: cruzamento de sensações; associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão), combinado mais de um dos sentidos.
Noite estrelada ―
Ao longo do precipício,
o som dos sinos das cabras
..... an'ya
Em uma noite especialmente clara com estrelas brilhantes, as cabras da montanha se movem ao longo de uma trilha com seus fardos pesados, enquanto seus cascos se aproximam perigosamente do precipício. Os sinos das cabras tocam e as estrelas parecem tocar também. Este é um excelente exemplo de sinestesia.
Névoa da lua cheia ―
O meu sussurro
em seu brinco de prata


Exalando amor, um toque suave de flor, nas farpas de arame.
Liz Rabello


Ao Sol, bem-te-vis,
alçam voos mirabolantes,
no jardim das flores.
Liz Rabello



RENGA (POEMA ENCADEADO)
KASEN  (36 ESTROFES)

Quando soube por um amigo haijin, do recente lançamento de Três Poetas em Minase, de Andrei Cunha, Karen Kazue Kawana e Roberto Schmitt-Prym, que me fez um resumo de seu conteúdo, de pronto lhe falei: ― Acho que é o primeiro livro sobre e com renga (literalmente poema encadeado) lançado no Brasil!

No mesmo dia, ao conversar com um dos autores, o editor e confrade Roberto, tive a confirmação da minha primeira impressão, baseada em trabalho anterior desenvolvido para o Zen do Haicai sobre renga – mais especificamente sobre uma modalidade dele, o kasen, de 36 estrofes, praticado por Matsuo Bashô – para o qual só encontrei artigos, entre os quais o de H. Masuda Goga, em Natureza – O Berço do Haicai e do professor Teiiti Suzuki, na Revista de Estudos Japoneses, da USP.

Os Correios não colaboraram, o que só fez aumentar a nada zen ansiedade pela chegada da preciosidade, que só se deu duas semanas após o pedido. Mas, valeu – ou melhor, está valendo, pois uma leitura só é impossível, pela beleza e riqueza do texto, bem como pelo estudo de seus encadeamentos.

Para variar, um comentário inicial sobre a Editora Bestiário e seu selo Class. Hoje ela ocupa a ponta dos lançamentos de livros de poesia japonesa, dos clássicos tancas aos haicais brasileiros, passando por haikai e haiku de mestres. Trabalho abnegado dos confrades professor Andrei Cunha e do poeta-editor Schmitt-Prym. Seu catálogo já é referência entre quem aprecia a poética japonesa. ― Oh, Gênios Poéticos japoneses, que outras surpresas eles prepararão para nós!?!

Nos livros disponibilizados por eles, existe uma característica comum: na verdade são duas obras em uma, pois as apresentações a título de prefácio escritas por Cunha são um livro dentro do livro. A riqueza das informações acerca do tema tratado nos contextualiza no que é necessário. E não é diferente neste, no qual o tema renga e a vida dos três poetas são explanados de modo profundo. Nela, somos instados a ler de maneira correta as cem estrofes que seguirão:

O poema encadeado não é lido como um todo único, coeso, cujas partes somadas e racionalizadas produzem um sentido integrado e cumulativo (...) A unidade não é obtida por coesão temática, narrativa ou lógica, e sim pela textura da sequência, com repetições curtas e longas, imagens que aparecem e somem, saltos sem sentido, descontinuidades temporais.” Ou seja, não procuremos uma mensagem única, um sentido subjacente, mas viajemos em cada estrofe e sua ligação com a que vem antes e com a que a sucede. E não tenhamos a preocupação de entender literalmente o que os autores quiseram dizer nas estrofes, pois o texto foi escrito em 1488, no seio de uma sociedade distante da nossa geográfica e culturalmente, mas, sim, com que existe de pura poesia nelas. Como ensinou Mestre Goga, “o interesse maravilhoso do kasen reside na relação sempre nova criada pelo encadeamento”. E, em se tratando de encadeamento – que deve ser sutil, apenas com a estrofe precedente – muitas vezes ele não guarda muita dificuldade de se perceber, noutras, nem tanto, mas esse é um dos prazeres desse “jogo” cortesão. Por exemplo:

Estrofes 33-34:

meus amigos já se foram
nesta estrada da vida
já avisto a chegada

tristeza em meu coração ―
sem lugar pra onde ir
Uma ligação que se apresenta como possível é a da morte presente na primeira estrofe, com impossibilidade de fuga, na segunda. Desta forma, os poetas reforçam a inexorabilidade da partida final. Ambas as estrofes estão inscritas no tema lamento, e não presentam kigo.

Estrofes 44 – 45:

ah! quero um rito que me liberte
deste ciclo de reencarnações

até nos vermos de novo
meu desvelo com o orvalho
vem evapora e volta

Aqui a ligação se apresenta mais clara com a ideia de ciclo de reencarnações e se ver de novo, na primeira estrofe, com o último verso da segunda, vem evapora e volta. Além disso, a brevidade da existência do kigo orvalho, reforça a ideia de que  nada é definitivo.
Estrofes 53 – 54:

sem rumo certo
desconheço meu destino ―
a névoa que aumenta

na aldeia na montanha
de repente a primavera

Este encadeamento é de se verter lágrimas... Os poetas sugerem que todos desconhecemos nosso destino e que isso não importa, pois é da vida que, sem esperar, a primavera das coisas nos alcancem! Esse também é a ligação deste tanca maravilhoso, esbanjando primavera ao coração, com os kigo névoa e a própria primavera.

Isso é só uma amostra do que se pode encontrar no encadeamento, também, dessas 235 páginas poéticas. Só repito um ponto: impossível ler apenas uma vez...
Contatos: Roberto Schmitt-Prym 
Carlos Martins (O Zen do Haicai)

"Faça o haicai mais simples, sem pretensões de ser brilhante porque o haicai perfeito fica, na maioria das vezes, afetado. Deixe seu lado simples, comum, aparecer. Na verdade, é preciso escrever o que você viu e sentiu, mesmo que lhe pareça tolo, pois, este é, muitas vezes, o verdadeiro haicai: ele pode ser capaz de tocar o coração das pessoas."
Nenpuku Sato


HAIBUM

Em 2021 houve uma novidade muito cultivada no Zen: a prática do haibun, um pequeno trecho em prosa seguido de haicai.
A pioneira em nosso espaço foi a confreira Natalia Yamane e, neste ano muito nos ajudou os haibun de Teruko Oda e Madoka Mayuzumi, que estimularam as experiências de cada um de nós.
Então, a proposta desta semana é escrevermos quantos haibun quisermos ( e valem haibun antigos!). Para tanto, seguem algumas dicas da mestra Teruko Oda:
“Por tradição, o haibum é uma breve descrição objetiva de lugares, momentos, pessoas, objetos, paisagens, situações e ou eventos relacionados à vida do(a) autor(a), suas emoções e vivências. Uma espécie de página poética de um diário, que registra uma cena ou um momento particular de modo objetivo e descritivo. Algumas considerações:
- Haibum, assim como o haicai, deve sempre ter por base o aqui/agora;
- Haibum consiste em um texto em prosa poética + um haicai, em que procuramos não explicar nada, mas sugerir;
- O haibum tradicional tem por base um haicai com kigo, termo de estação (Obs. do Zen: será considerado haibun livre, o haibun sem kigo);
- O haibum pode ter mais de um haicai, desde que formem um conjunto com a prosa poética.
Exemplo de aplicação dessas diretrizes em um haibun de Teruko Oda:
‘Arrumo a mesa para o café da manhã. Louças e talheres em um único assento ao redor da grande mesa. Inclinando-me, mãos unidas, início minhas orações. Gratidão por ontem, por hoje, pelos dias que virão. Nenhum ruído, nada perturba a solene quietude do momento.
Sobre a louça branca
pequenino ponto preto
 —Um pernilongo.’”

MEU HAIBUM
A flor-de-maio, assim conhecida por florescer no mês de Maio, é uma planta ornamental, que se destaca por sua beleza e resistência. Também conhecida como Schlumbergera truncata, ela é originária das florestas tropicais da América do Sul, incluindo o Brasil. Essa planta pertence à família das cactáceas e é popularmente chamada de flor-de-maio, cacto-de-natal, cacto-de-páscoa e flor-de-seda. Considerada um tipo de cactácea de ramos suculentos e pendentes, a flor de maio pode apresentar colorações que vão do branco ao vermelho, passando ainda por lindas tonalidades de amarelo, laranja e rosa.
Ahhhh! Flores-de-Maio!
Botões abrindo-se em cores,
na festa outonal.
Liz Rabello


Sakura lá no Japão dizem que é a flor da alma. Uma lenda conta que a palavra “Sakura” surgiu com a princesa Konohana Sakuya Hime, que caiu do céu perto do Monte Fuji, tendo se transformado nessa bonita flor. Também existe uma crença que o cultivo de arroz poderá ter originado a palavra, tendo em conta que “Kura” era o depósito onde esse alimento ( visto por muitos japoneses como uma oferta divina) era guardado. Os samurais, os guerreiros japoneses, eram grandes apreciadores da flor de cerejeira. Desde aqueles tempos, passou a estar associada à efemeridade da existência humana e ao lema dos samurais: viver o presente sem medo. Assim, a flor de cerejeira está também associada ao código do samurai, o Bushido.

Sonhei que era só
bela flor de cerejeira,
oferta de amor.
Liz Rabello

HAIBUNMIL ESTRELAS, PLATEIA!

Sigo contando flores. Tirando fotos, me enfeitando destes amores. Respirando ar, odor de beija-flores. Tomando chuva, quando Deus lhes manda água... Molhando-me quando ao final da tarde, mangueiras atravessam o jardim. Sigo, plantando e contando as horas, dias, noites, estações. Observando as diferentes auroras, nascer e morrer da vida. Faço parte deste verde! E, quando o meu corpo virar adubo, minha essência vital na ponta de uma pétala de flor, irá contar às estrelas, minha saga... Eu, viva na eternidade!

Imortalidade!
Em cruzamentos de vida
tudo se completa.
Liz Rabello

(Foto: a senhora de noventa anos foi quem plantou a bela flor)

HAIBUN

AS BRUXAS DE SALEM

A pequena cidade de Salem, no estado americano de Massachusetts é famosa pelos mistérios que cercam o episódio que ficou conhecido como ‘Julgamento das Bruxas de Salem’, que inspirou filmes e mantém até hoje a fama de capital mundial das bruxas! O fato ocorreu entre 1690 e 1692 e nessa época, o local era um vilarejo de puritanos e de uma hora para a outra a cidade foi consumida por uma paranoia coletiva, que levou a mais de duzentas prisões, tortura e pelo menos vinte execuções por ‘bruxaria’, inclusive a de dois cachorros, que acreditavam estar possuídos pelo demônio. A história começou quando oito meninas, que viviam nos arredores de Salem começaram a ter comportamentos estranhos. As moças rolavam, gritavam, grunhiam, e caíam doentes sem motivo aparente. Elas ficavam correndo em círculos, e começaram a dizer que haviam sido enfeitiçadas por determinadas pessoas, que tinham um pacto com o demônio. Logo a cidade entrou em uma histeria coletiva! Uma teoria muito interessante é a de que tudo possa ter sido causado por ingestão de pão de centeio contaminado pelo fungo Claviceps Purpurea (substância natural da qual o LSD é derivado), o que pode ter gerado os sintomas de euforia nas adolescentes, que somado ao fervor religioso poderia ter causado as alucinações.

Alessandra B. Fratus
A mão raiz toca
tamborim no chão da Terra...
Pilatos em Salem
Liz Rabello


HAIBUN

É preciso falar de esperança todos os dias. Só para que ninguém esqueça que ela existe.
Mia Couto

Vamos conjugar:
eu, tu, ele, esperançar...
Verde luz no olhar.


HAIBUM

VÍTIMAS INOCENTES

A escultura consiste em uma viga de ferro retirada dos escombros do World Trade Center, sustentada por duas mãos de aço inoxidável. As mãos que a seguram são construídas a partir de 2.976 pombas de aço inoxidável, trabalhadas individualmente, cada uma representando uma vítima dos ataques.

"Reflect," a sculpture in Rosemead, California

São pombas da dor
as vítimas inocentes...
Onze de setembro!
Liz Rabello

HAIBUM

PEDRA SUSPENSA

Na reserva Ergaki, no território Siberiano, existe um milagre da natureza: um bloco de pedra pesando cerca de 600 toneladas à beira do abismo. A pedra está em uma posição muito instável há milênios e ninguém consegue acreditar como ela mantém sua posição. Todo o seu aspecto: o declive e a pequeníssima superfície de contato com a rocha mostram claramente a instabilidade da situação.
Ca Po

Sou pedra suspensa,
em equilíbrio vertigem
na beira do abismo.
Liz Rabello


HAIBUN

FIGOS: NÃO SÃO FRUTOS, SABIAM?

Um figo não é uma fruta qualquer. Na verdade, nem é uma fruta. Estritamente os figos são flores invertidas. As figueiras não florescem da mesma forma que outras árvores de fruto fazem como amendoeiras ou cerejeiras. Os figos têm uma história muito curiosa.

Em primeiro lugar tecnicamente não são uma fruta, mas sim uma infrutescência (um conjunto de frutos). E, em segundo, que eles precisam de uma vespa sacrificada para se reproduzir, inseto que morre dentro do figo. Em palavras simples os figos são uma espécie de flores invertidas que florescem dentro desse grande casulo escuro com tons avermelhados, que conhecemos como figo.

Cada flor produz um único fruto de casca rija e uma única semente chamada ′′ aquênio ". O figo é formado por vários aquênios, o que lhe dão essa textura crocante tão característica. Portanto, quando comemos um figo, estamos comendo centenas de frutos.

Mas, o mais incrível é o processo de polinização especial que as flores do figo precisam para se reproduzir. Elas não podem depender de que o vento ou as abelhas os façam chegar o pólen como outros frutos por isso precisam de uma espécie conhecida como vespas dos figos. Esses insetos transportam seu material genético e permitem sua reprodução. Por seu lado, as vespas não poderiam viver sem os figos, pois depositam suas larvas no interior da fruta. Este relacionamento é conhecido como simbiose ou mutualismo.

Atualmente, a grande maioria dos produtores deste fruto não precisa mais do trabalho das vespas. A maioria das variedades de figo de consumo humano são partenogenéticas. Isso significa que eles sempre dão fruto na ausência de polinizador.

Marcia de Carvalho

Figos não são frutos,

casulos que matam vespas,

são infrutescências.

Liz Rabello

HAIBUN

Caverna Kameiwa e Cachoeira Noumizo, perto de Kimitzu, na província de Chiba, no Japão, oferecem esta famosa característica: a luz solar que entra na caverna, duas vezes por ano no equinócio, ilumina a superfície do rio, formando um coração de luz.
Reflexos de luz...
Um coração no equinócio,
une o céu ao chão.
Liz Rabello


HAIBUN

Um arco-íris é um fenômeno óptico e meteorológico que separa a luz do sol em seu espectro (aproximadamente) contínuo quando o sol brilha sobre gotículas de água suspensas no ar. É um arco multicolorido com o vermelho em seu exterior e o violeta em seu interior. Por ser um espectro de dispersão da luz branca, o arco-íris contém uma quantidade infinita de cores sem qualquer delimitação entre elas. Devido à necessidade humana de classificação dos fenômenos da natureza, a capacidade finita de distinção de cores pela visão humana e por questões didáticas, o arco-íris é mais conhecido por uma simplificação criada culturalmente que resume o espectro em sete cores na seguinte ordem: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil (ou índigo) e violeta.
Smith H Tammy
Ouro em belas cores,
tesouro no fim do arco-íris,
preso está na íris.
Liz Rabello


HAIBUN

UVAS JAPONESAS

A uva japonesa chamada Koshu. A uva Koshu ou uva rosa japonesa é uma fruta que existe no Japão há milhares de anos e é utilizada para a produção de bebidas frutadas, que normalmente são leves, frescas, cítricas e levemente ácidas. A uva Koshu é uma das uvas mais únicas do mundo e se origina da região de Yamanashi, conhecida como o berço da viticultura japonesa.

Bebida frutada,
uva rosa japonesa,
e levemen
te ácida.
Liz Rabello

HAIBUN
É uma das maravilhas do mundo, encontrar na Terra e num deserto, o que parece com planetas e corpos celestes, tudo isso com rochas e pedras. Até areia lá tem forma semelhante ao espaço e ao fundo dos planetas como vemos em fotos e vídeos, conforme relatado pelos astrônomos. Este lugar foi chamado de Vale dos Planetas na região de Cufra do Estado Árabe fraterno da Líbia.
Sem água e sem verde,
esculturas num deserto...
são corpos celestes!
Liz Rabello

HAIBUN

KIGO: PAI
Num passado, sem espelhos, infância pobre, eu me via, pelo brilho dos olhos de meu pai... O único "influencer" da minha vida. Sou quem sou, porque ele me desenhou em seus sonhos de homem à frente do seu próprio tempo... Numa época em que mulher tinha que ser "do lar", ele me incentivou a ser da vida, a fazer tudo o que eu quisesse fazer: estudar (sou a única pós graduada da família), trabalhar (hoje sou aposentada em dois cargos na PMSP), ser autônoma, independente (fui a primeira mulher da família a dirigir o próprio carro), a não ter medo de arriscar. Principalmente, ele me ensinou a lutar e conquistar direitos de igualdade entre os gêneros.
Liz Rabello
Pai, meu influencer,
sou o que tu desenhaste,
a mulher feliz.
Liz Rabello

HAIBUN

KITSUNJI
“Quando os japoneses consertam objetos quebrados, eles exaltam o dano, preenchendo as rachaduras com ouro. Eles acreditam que, quando algo já sofreu danos e tem portanto, uma história, torna-se mais bonito.”

Billie Mobayed
Alma calejada,
mais virtudes alcançadas,
na pele enrugada
Liz Rabello


HAIBUN

Durante os invernos frios da Europa do Norte, as casas eram difíceis de aquecer, então algum criativo artesão deu-lhe para construir camas, quase como um armário, para se refugiar do frio da noite quando os últimos brasões do fogo da família se apagavam.
Verdadeiros trabalhos de marcenaria eram estas camas de um ou dois compartimentos que, desde o século XVI, protegem do gelo da noite os não claustrofóbicos europeus.
A cama box, originada no período medieval tardio, apareceu de várias formas em toda a Europa, há exemplos em: Escócia, Inglaterra, Gales Áustria, Países Baixos e Escandinávia. Em alguns lugares foram usados até bem entrado o século XX, o que faz sentido quando se considera os invernos frios europeus e as casas onde o único calor provinha de um fogo de lenha. Além disso, antes da eletricidade, as pessoas simplesmente não aqueciam tanto suas casas, então que o frio lá fora também significava frio lá dentro.
Hoje, chamamos-lhe camarote com duas asas de correr para o centro para fechar totalmente decoradas com torno e tamanho, abaixo como escada bancária ou assento com tampa que sobe e deixa uma gaveta pronta para guardar os sapatos.
Mistérios do Mundo

Inverno gelado,
cama box
pra esquentar...
Passado sem frio.
Liz Rabello

HAIBUN
BORBOLETA DE INVERNO
“No inverno, são raras em nosso meio; quando surgem, geralmente estão à procura de água. Apresenta aspecto enfraquecido e desnorteado. Sensação de grande fragilidade.”
Carlos Martins

Num frágil voo
em orvalhos congelados,
borboleta de inverno.
Liz Rabello


HAIBUN

Chegou a hora de mais uma atividade improvisada de composição de haicais com temas típicos da região cerrado brasileiro. E o tema que apresentamos hoje é: Guapeva, chuva na serra.

"Guapeva (Pouteria ramiflora radlk - tb. curriola e pateiro)", é uma árvore de grande porte, de folhas alternas simples e espiraladas, encontrável na região do centro do país mais próximas de locais úmidos, indicada para uso em ajardinamento, que produz flores melíferas e produz frutos que amadurecem entre meados da primavera e início de verão e são consumidos in natura ou em sucos, sorvetes e doces. É considerada uma planta benéfica para a saúde, devido à sua ação antioxidante e anti-inflamatória da polpa de seu fruto, com efeito positivo no tratamento de moléstias crônico-degenerativas. contra alguns tipos de câncer.
Severino José
Suco de guapeva...Arco-íris depois da chuva, doce entardecer!Liz Rabello
HAIBUN

TEMA: FÉRIAS DE VERÃO
UM POUCO DE MIM
Sou de Janeiro. Verão no coração. Branco de paz na alma. Arco-íris nos jardins. Perfumes de jasmins. Quando nasci, vento varreu pétalas de manacá da serra de uma árvore alvissareira. Eu, tapete, fui presente de Deus. Amo viver. Nas trilhas de verão, depilo pelos do coração, energizo paz, brinco de ser feliz. Para mim a felicidade tem cor. É verde esperança, é azul, rio, nascente. É amarelo, girassol, meu Sol. Para mim a alegria tem cor. É um arco-íris. Quando em mutação é branco de harmonia. Não sei viver em preto e branco.
Eu, verão e férias...
Girassol, procuro o Sol.
No mar? Na montanha...
Liz Rabello


HAIBUN

“A Ginkgo Biloba é uma árvore que costuma ser chamada de "fóssil vivo". A razão é simples: os biólogos acreditam que esta talvez seja a árvore mais antiga do mundo. Ela surgiu há pelo menos 200 milhões de anos, e existem indícios de que ela tenha alimentado os dinossauros. Além de ser muito antiga, ela também é uma árvore extremamente longeva. Um exemplar pode viver mais de mil anos. A razão para isso é que a Ginkgo Biloba produz substâncias químicas que a protegem de doenças e secas. A sua antiguidade é comprovada por conta de ter sido encontrada fósseis de folha da Ginkgo Biloba que datam de milhões de anos. Estas folhas têm pouquíssimas diferenças das vistas nas árvores que existem atualmente. Uma curiosidade sobre a Ginkgo Biloba: ela é uma das poucas espécies que sobreviveu à radiação da bomba de Hiroshima. Por conta disso, no Oriente, a árvore é vista como um símbolo de paz e longevidade.”
(Jardim Exótico)

Ouro no caminho,
Ginkô na árvore da praça,
aura luz divina.
Liz Rabello


HAIBUN

"Buda, o tal homem sábio e bom, achou que faltava alegria ao ar. Então colheu uma mão cheia de flores e lançou-as ao vento e disse: “Voem!” E foi assim que surgiram as primeiras borboletas. A beleza das borboletas é para ser vista no ar, entendes? É uma beleza para ser voada.”
José Agualusa

Uma flor que voa,
o meu olhar encantou...
Purificou o ar.
Liz Rabello
HAIBUN

Eu sou o viajante do deserto que, no regresso, diz: viajei apenas para procurar as minhas próprias pegadas. Sim, sou aquele que viaja apenas para se cobrir de saudades. Eis o deserto, e nele me sonho; eis o oásis, e nele não sei viver.
Mia Couto
Nas rodas do tempo,
viajo no pensamento,
renasço em paixões.
Liz Rabello



HAIBUN

"Hoje, sem ser de uma maneira metafórica, escuto a árvore, a planta, o bicho, porque de fato todas essas entidades querem dizer qualquer coisa além, não é? E por isso assumem cores e cheiros e diferenças de forma que me agrada muito escutar."
Mia Couto
Christopher Guinet
Silêncio, escuta!
Os troncos emaranhados,
em abraços, choram!
Liz Rabello

"HAIBUN

"- Meu Deus, como somos injustos com nosso corpo. De quem nos esquecemos mais? É dos pés, coitados, que rastejam para nos suportar. São eles que carregam tristeza e felicidade. Mas como estão longe dos olhos, deixamos os pés sozinhos, como se não fossem nossos."

Mia Couto

É de pedregulho
este meu chão! Não ligo e olho
estrelas no céu!
Liz Rabello

HAIBUN

Na manhã... dirigi-me descalça para o rio... Mergulhei no leito até que a água me chegou ao peito. Não era que quisesse morrer afogada, arrastada nas fundas correntezas. A minha intenção era oposta: queria engravidar do rio."

Mia Couto

Grávida de rios,
solo fértil, guarda vida!
Mãe Gaya feliz!
Liz Rabello



HAIBUN

A SAKURA BUS é uma livraria itinerante do Japão. Em plena primavera, quando as cerejeiras estão no auge, circula pelas ruas, em movimentos lentos: cultura, beleza e criatividade. *

A Sakura Bus é
cultura na dose certa,
pílulas de amor!

Liz Rabello

*fonte: Dozen Books



HAIBUN

"Agosto... O verde que tanto amava, ficava seco, marrom escuro. A fumaça cortava océu e voava levada pelo vento a poluir a cidade. O ar, o ambiente, tudo ficava triste. Agora, era eu, quem mais sentia. A gosto de Deus... Ele a levou neste mesmo mês. Poderia ter sido em setembro, mês das flores, ou em abril, pés de manacá floridos. Ou janeiro, os girassóis estariam se voltando para o Sol, em busca de luz. Ah, os girassóis!"

Leveza do amor,

cinemas de amanhecer...

Olhe os girassóis!

Liz Rabello


HAIBUN

"E levito, voo de semente, para em mim mesmo te plantar menos que flor: simples perfume, lembrança de pétala sem chão onde tombar."

Mia Couto

Palavras em mim
são perfumes de sementes...
Triste flor sem chão!
Liz Rabello


HAIBUN

"Os vaga-lumes começam a aparecer à noite. Embora se escondam na grama durante o dia, ao cair da noite, machos e fêmeas piscam e voam em busca de amor. Os que brilham mais são as fêmeas. Eu amo vê-los dançando e levemente se iluminando sozinhos ou em pares. Os vaga-lumes chegam ao fim de sua vida após uma ou duas semanas de idade adulta. Eles têm sido frequentemente empregados como um símbolo de impermanência e amor na poesia e literatura clássicas.”

Madoka Mayuzumi, via Carlos Martins

A Dama da Noite,
entrega-se aos vaga-lumes,
canção sensual.
Liz Rabello


HAIBUN

"Encontrei uma estela (*) antiga em um parque escuro próximo ao centro da cidade. Tentei decifrar a inscrição quase apagada pela passagem do tempo: era um poema de amor do período Heian (séculos VIII-XII d. C.), que expressava os sentimentos ardentes de uma mulher. O tempo mudou, mas os sentimentos das pessoas permaneceram os mesmos. A placa de pedra estava cercada por um tufo de flores de íris-japonesas. Esta planta geralmente floresce na sombra. Apesar de sua aparência sóbria, seu esplendor se revela, ao se aproximar dela. Ao observar as flores, senti como se estivesse olhando para as nobres damas da antiga capital (Quioto) à espera de seus amantes, enquanto sufocavam sua paixão."

Em uma antiga estela
um poema de amor inscrito
Íris-japonesa

Madoka Mayuzumi"
Trad. Chinen / Martins

(*) Nota dos tradutores: coluna ou placa de pedra em que os antigos faziam inscrições
Singela ternura,
permanece viva em flores.
perpassa no tempo...
Liz Rabello


HAIBUN
Um monge decide meditar sozinho. Longe do seu mosteiro, pega um barco e vai para o meio do lago, fecha os olhos e começa a meditar. Depois de algumas horas de silêncio inperturbado, ele de repente sente o golpe de outro barco atingindo o seu. Com os olhos ainda fechados, sente a sua raiva a subir e, quando abre os olhos, está pronto para gritar com o barqueiro que ousou perturbar a sua meditação. Mas quando ele abriu os olhos, viu que era um barco vazio, não amarrado, flutuando no meio do lago... Nesse momento, o monge alcança a auto-realização e entende que a raiva está dentro dele; simplesmente precisa de atingir um objeto externo para provocar. Depois disso, sempre que ele conhece alguém que irrita ou provoca sua raiva, ele lembra; a outra pessoa é apenas um barco vazio. A raiva está dentro de mim.
𝑇ℎ𝑖𝑐ℎ 𝑁ℎ𝑎𝑡 𝐻𝑎𝑛ℎ
Desejos em mim,
moram dentro do coração:
vingança ou perdão.
Liz Rabello



HAIBUN

Sou louca por fotografia, todo mundo sabe, mas segunda feira pela manhã, encontrei na chácara um esquilo comendo coquinhos. Não fui buscar o celular, como sempre faço quando algo inusitado me chega às mãos; fiquei ali olhando, olhando! Comecei a conversar com ele, bem baixinho, sussurrando e ele mexia a cabecinha de um lado da voz a outro. Depois foi-se embora bem tranquilo. Fiquei sentindo uma felicidade imensa... Imensa! 
 Liz Rabello
Dela prisioneiro,
não há quem não a deseje: 
Doce Liberdade!
Liz Rabello

HAIBUN

"Memória Afetiva é uma surreal colcha de retalhos, tecida com fios de arco-íris; um amor lindo, fotografias, papéis de carta, de seda, pipas, gotas d'água e desenhos dos filhos e netos. Hoje cedo, ao folhear um livro de poesias revi algumas pétalas de rosas, diáfanas carícias perfumadas, doce brisa a beijar minha alma..."

Vanice Zimerman, IWA

Memória afetiva,
em pétalas ressecadas, 
num livro guardado.
Liz Rabello
HAIBUN
"Carpas podem viver até 70 anos. São animais inteligentes, com personalidades individuais. Reconhecem humanos, aproximam-se dos que gostam e escondem-se dos que não gostam. Algumas atendem pelo nome quando chamadas por uma pessoa de que gostam. São muito limpas e precisam de uma água igualmente limpa, com pH e temperatura certos. Como vivem muito e são valiosas, no Japão costumam ser deixadas em herança, por escrito. Em geral, carpas que passaram a vida juntas não devem ser separadas, pois elas também têm laços afetivos entre elas, assim como têm com alguns seres humanos.
As Nishikigois, ao contrário das carpas comuns, resultam de um grupo de mutações genéticas que ocorreu, numa determinada época, numa província do Japão. A família imperial japonesa, e parte da aristocracia, passou a criar as nishikigois como se fossem membros da família, desde então. Hoje, a criação é feita em várias partes do mundo, mas algumas têm até genealogia. As carpas de Brasília eram presentes do imperador japonês para o Brasil. Além da crueldade, há um sentido simbólico terrível nisso tudo: Que sejamos perdoados e recuperemos nossa boa sorte como país que era dono dessas carpas."
Tatiana Bianconcini
Ganância em moedas Abraços de morte às carpas... ... Símbolos da vida...
Liz Rabello

HAIBUN
FESTOON
Este comportamento das abelhas é chamado de "festooning" e podemos observá-lo quando as abelhas estão trabalhando juntas para criar um favo de mel ou repará-lo.
Elas unem suas pernas na forma de uma corrente viva chamada "festoon" e assim, conseguem construir seu favo de mel.
*"Unir é um começo. Ficar juntos é um progresso. Trabalhar juntos é um sucesso"!*
Henry Ford
A corrente viva,
reparo em favo de mel,
abelhas irmãs.
Liz Rabello



HAIBUN

A BANDA PASSOU

A moça ficou. Nem estrela brilhou. Uma tarde já idosa, surda, cega, sentiu o roçar de uma mão. Era João, pedindo esmola. Não só ganhou a coroa, como a cara e o coração. Naquele outono, na janela entre aberta, a cortina se fechou.

Tristeza no peito
jaz desaperto de amor,
no ciclo outonal
Liz Rabello



HAIBUN

VEREDAS DO PASSADO

Caminhei pelas frestas da memória. Minha mãe costurava cortinas... Nos últimos anos, eu a trouxe para morar comigo. A máquina de costura veio com ela. Depois que partiu para as estrelas, meus dois filhos e sobrinho resolveram doar a relíquia... No momento ímpar, abriram gavetas e o frescor do passado inundou o ambiente. Olhos marejaram... Decidiram no olhar: "a máquina fica..."

Eu ainda a vejo,
na máquina de costura,
frescor do passado.
Liz Rabello



HAIBUN
“— Agora és minha – disse-lhe. — Toda a tua beleza me pertence. A borboleta agitou as asas muito levemente e ele ouviu a mesma voz que há instantes o encantara: — Isso não é possível – era a borboleta que falava. — Sabes como surgiram as borboletas? Foi há muito, muito tempo, na Índia. Vivia ali um homem sábio e bom, chamado Buda… Vladimir esfregou os olhos: — Meu Deus! Estou a sonhar? A borboleta riu-se: — Isso não tem importância. Ouve a minha história. Buda, o tal homem sábio e bom, achou que faltava alegria ao ar. Então colheu uma mão cheia de flores e lançou-as ao vento e disse: “Voem!” E foi assim que surgiram as primeiras borboletas. A beleza das borboletas é para ser vista no ar, entendes? É uma beleza para ser voada.”
José Agualusa
Borboleta azul,
enfeites primaveris,
uma flor voando!
Liz Rabello


HAIBUN

Uma paisagem mágica na Groenlândia! E alguns castelos de gelo aparecem, construídos pela natureza. Branco e azul cintilando nos cristais de gelo e no manto marinho, a água em vários estados e a luz em vários espectros do comprimento de onda mais frio...

Água é a rainha,
filetes de luz, cristais,
castelos de gelo.
Liz Rabello

Fotografia de Daniel Kordan



 HAIBUN

CHUVA DE VERÃO

Calor intenso! Dias longos, noites curtas. Ventos mornos, brisa leve, traz manhãs de vida quente. Traz entardecer com chuvas fortes. Duelo de Titãs: molha relva, seca pétalas de flores. Sol salpica águas frias... Um arco-íris no horizonte.

O Sol que ilumina
Verão, mais quente estação,
forma chuva e arco-íris.
Liz Rabello


HAIBUN

PEDRA DO OSSO

Está localizada no Parque Estadual da Pedra Branca, em Realengo. Segundo geólogos, é um tipo de granito que se formou nas profundezas da Terra, a quilômetros de profundidade, e vem sendo "cuspido pelos processos tectônicos e pela erosão. Com 20 metros de altura, fica localizada no Parque Estadual da Pedra Branca (Núcleo Piraquara). Ela desperta a curiosidade de muitas pessoas por estar equilibrada verticalmente sobre um platô de pedra, desafiando a gravidade...

A robusta pedra
desafia a gravidade,
osso em equilíbrio!
Liz Rabello


HAIBUN
Quietude. Apartamento no décimo quinto andar. Nem cães, nem crianças. Da grande varanda envidraçada observo os gigantescos prédios ao redor. Janelas fechadas, ninguém nas sacadas. Silêncio profundo. De quando em quando, aviões cruzam o céu azulado no espaço entre dois prédios. Cores em movimento, chegadas e partidas, sonhos que vão e vêm. No silêncio de mim, ecos da infância distante. Das viagens, tão esperadas e tão raras, que saudade imensa!
Súbita saudade
dos amigos lá da infância -
Tarde de outono.
Teruko Oda
HONKADORI, CORRENTE INICIÁTICA

O grito do faisão -
Que saudade imensa
De meu pai e minha mãe.
... Bashô (Trad.Franchetti / Doi

Súbito aguaceiro -
Do cheiro do mato molhado
que saudade imensa!
... Teruko Oda

Névoa de inverno -
Da casinha esfumaçada
que saudade imensa.
... Teruko Oda

Pôr do sol de outono
Do colo de minha avó, -
que saudade imensa
... Carlos Martins
Gritos da criançada,
pega pega no quintal... -
Que saudade imensa!
Liz Rabello

CURIOSIDADES


"Kodo (literalmente ‘Caminho do Incenso’) é a arte do incenso. Já o ‘ato de sentir o cheiro da madeira de incenso queimando’ é chamado de monkoKodo usa tipos raros de madeira, como a pau-de-águila (agarwood ou aloeswood), que amadurece na natureza por longos períodos de tempo. Em japonês, monko usa o caractere para "ouvir" no lugar de "cheirar". Isso é para homenagear as madeiras perfumadas e expressar o ato de aprender a dizer as diferenças sutis em seus aromas, com o coração e a mente abertos. As cerimônias Kodo são realizadas em completo silêncio; toda a atenção está voltada para o incenso. Em uma dessas cerimônias, ouvi o chamado repentino de um picanço, como se estivesse rompendo o silêncio como num rasgar de tecido. Durante o outono e o inverno, picanços machos e fêmeas delimitam territórios separados, cantando com vozes agudas. O ritual do incenso continuou em silêncio, sem ser perturbado pelo chamado do picanço.
Perceber o aroma
do incenso no ritual
Som do picanço rasga o ar"
Madoka Mayuzumi
 Tradução Chinem / Martins

OS DEZ MANDAMENTOS DO HAICAI

HAIMI


Flores, chuva e Sol,
belo arco-íris cai do céu,
um jardim no chão.
Liz Rabello
1. O haicai não é a revelação de algo concreto, mas abstrato. Através de elementos concretos - as palavras -, ele nos revela algo abstrato, o haimi.
2. haimi é o grande barato do haicai. É uma percepção ou um sentido que damos a algo e que queremos compartilhar com os outros através da linguagem, que é num primeiro momento expressão e logo a seguir comunicação.
3. haimi é encontrado através do estado meditativo.
4. Estado meditativo é quando estamos receptivos. Quando a mente está serena e surge uma espécie de observador silencioso. A mente não atrapalha, não se interpõe.
5. O estado meditativo independe do objeto de meditação. Pode ser qualquer coisa: a natureza, a natureza humana, o cotidiano, as idéias e até a linguagem. De qualquer coisa vista do ponto de vista meditativo pode se extrair haimi.
6. Assim, o haicai nasce de algo que é objeto de um ato meditativo. Esse objeto nos é apresentado não para enxergarmos ele mesmo, mas o que o autor viu nele e quer compartilhar com o leitor.
7. Os recursos formais próprios da poesia são válidos na medida em que estão em função de nos revelar o haimi. Assim, não há elementos a priori válidos ou inválidos. Em cada haicai, acharemos o meio formal. Imagens, recursos sonoros, jogo de palavras, enfim.
8. Os recursos formais do gênero, como o terceto, a métrica, a relação entre os versos, permanecem, mas são objeto, ao longo do tempo e da cultura em que o haicai se dá, de crítica e até de transformação. Desse ponto de vista, a métrica em nossa produção de haicai contemporâneo passsou a ser questionada, uma vez que nada soma para se obter o haimi. Por outro lado, um haicai com métrica ou rima, pode ser apenas uma opção de estilo, que nada compromete o barato do haimi. Se tem haimi, os aspectos formais externos (métrica, rima) passam despercebidos e tê-los ou não é uma questão de gosto. Não está aí o haimi. Quando o haimi é maior, não há o perigo deles chamarem a atenção para si e desviar do haimi. Pelo contrário, podem, pela sonoridade, reforçar a percepção do haimi, criando um ambiente estético mais agradável, não tão árido (penso mais na rima do que na métrica).
9. Não há haicai sem recurso formal. O haicai não é a coisa em si do mundo. A coisa em si não tem sentido nenhum. É impossível falar das coisas como elas mesmas falariam se pudessem. Elas não podem. É o nosso olhar sobre elas que produz o haicai. O que a estética do haicai nos ensina é a falar sem complicar. É achar algo sutil a partir das coisas. Assim, haverá sempre um recurso formal: descrever uma situação específica e não outra é um deles, selecionar algo que tem um paradoxo é outro e assim por diante.
10. A transitoriedade de tudo é uma das coisas que se percebe em estado meditativo. O kigô, portanto, só é válido se revelador de haimi.

A IDENTIDADE DO HAICAI

Fazem parte da primeira kigologia nacional, a "atureza - O Berço do Haicai). O primeiro é a própria alma do haicai tradicional brasileiro.

Pelos poemas disponibilizados, pode-se perceber que o haicai tradicional estava começando a encontrar seu caminho, como os poetas experimentando e conhecendo como, lidar com sua forma fixa. Mas, pelo menos um deles se tornou icônico, dada a profundidade de seu "haimi", o da grande poeta Eunice Arruda:

Solidão de inverno
O velho aquece as mãos
com as próprias mãos

Nossa dileta confreira Zuleika dos Reis também se fez presente nessa edição histórica com:

Da página aberta
salta a pétala seca
e a primavera antiga

Que maravilhosa história, exemplos e ensinamentos tão atuais!
Mestre Goga

DESABROCHAR

A poesia haikai diariamente me surpreende com sua capacidade de renascimento, ou talvez melhor dizendo, desabrochar. A cada leitura, novos mundos literalmente desabrocham na cabeça do leitor, formados pelas experiências de vida do mesmo. Quantas vezes vi interpretações de haikais seculares, que tentam trazer exatidão naquilo que foi concebido pelo poeta, mas, se o mesmo poeta não deixou alguma explicação explícita, como saber se de fato a conjectura é real. Um haikai que nasce da vivência, traz consigo o universo pessoal do autor, seu olhar, suas sensações e emoções, toda uma bagagem que dá fundação para que aquele haikai colhido, escrito e publicado, torne-se único. E aí está a grande beleza desta arte, como também acontece na literatura, criando quase que um jogo entre poeta e leitor, permitindo que aquele que lê, sinta o haikai desabrochar em sua mente, e possa assim, imergir na experiência vivida, e a partir de então, reviver tudo aquilo, dentro do seu próprio mundo, de sua própria biografia psicoemocional.

Aquele cheirinho

das flores que ela mais gosta

Ainda está aqui

George Goldberg


SÁBADO POĒTICO

Há muito vivenciando, aprendendo e praticando haicai nos grupos o Zen do Haicai e Haicai Estrela do Atami, aproveito para hoje publicar uma seleção de alguns autores, uns bem próximos, outros distantes.

Para quem não conhece, o haicai é um pequeno poema de origem japonesa em louvor à natureza, composto, na sua origem, em uma forma fixa, cuja métrica ideal é um terceto com aproximadamente 5, 7 e 5 sílabas poéticas, sem rimas ou títulos. Ainda, há uma referência à estação do ano em que foi escrito, mediante o uso de um termo da estação , ou kigo.

Vejam a beleza delicada e poética dos que apresento aqui, e desculpem os não citados, pois são muitos e o espaço é pouco.
Eunice Tomé
O frescor das flores
em meio à moita de espinhos -
Morangos silvestres
Teruko Oda
Descalça na areia
o planeta me faz cócegas
nas plantas dos pés
Maria Valéria Rezende
árvore sonora -
primavera na mangueira
- estação de sabiás
Maria Alice Bragança
Temporal de março -
No telhado uns passarinhos
enxugam as asas
Sérgio Bernardo
basta um galhinho
e vira trapezista
o passarinho
Alice Ruiz


MEUS HAIKAIS PUBLICADOS NESTA LINDA COLETÂNEA



HAIKAIS
Eis que em mim floresce,
orquídea de primavera,
... joga ao vento pétalas...
A primeira flor
enfrentou Sol e estiagem,
apostou na chuva...
Com gotas de amor,
suaves pingos de orvalho,
manhãs, flores beijam.
Ao entardecer,
os girassóis se abraçam...
Carícias de amor.
No meio do nada,
floresce a graça da vida:
uma Flor de Lótus...
O céu é de quem
não tem medo de voar...
Poesia também!
Liz Rabello


POEMAS MINIMALISTAS




MINHA CENTÉSIMA VIGÉSIMA PRIMEIRA PARTICIPAÇÃO EM ANTOLOGIAS



Hoje o Correio me trouxe este Card de aniversário, recebido do grupo O ZEN DO HAIKAI, enviado por Carlos Martins, a gentileza à moda antiga... Gratidão imensa
Bem à moda antiga,
mais um ano se recicla,
gratidão Martins.
Liz Rabello



PUBLICAÇÕES NO CORREIO DA PALAVRA DA ALPAS

MINHA CONTRIBUIÇÃO AO JORNAL ELETRÔNICO DA ALPAS, ABRIL DE 2023, PUBLIQUEI DOIS HAIBUNS E SEUS RESPECTIVOS HAIKAIS.




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