sábado, 17 de maio de 2014


DESAFIO  DE  ESCRITA

Estávamos na trilha. O sol fustigando folhas verdes. Ao chão, ramagens secas de Outono. Havíamos combinado uma troca de presentes. O que achássemos de inusitado seria nosso tesouro: tema para um novo Desafio de escrita. Meu presente: uma garrafa pet. Mudei meu ponto de vista. E no objeto me fantasiei.


SOU UMA GARRAFA PET

Bem branquinha, já fui frasco de uma garrafa de guaraná Dolly. Um dia me reutilizaram como carregadora de água para beberem durante o caminho da trilha. Ao término do conteúdo, eu, simples plástico descartável, inútil, fui jogada em meio ao desafio outonal de folhas secas. Alguém pegou-me, brincando abraçou-me. Por um momento um flash me fez brilhar. Estrela de um sorriso no olhar. Uma foto e um carinho. Mas depois, ia de um lado a outro sendo jogada, trapo velho, mais nada. Quando cheguei a um lugar bonito, repleto de flores, uma tampa se abriu. Dentro fui jogada, sem carinho fui lançada, na escuridão, perdida. Saco preto, de plástico. Outras coisas: latinhas de refrigerantes, saquinhos de compras de supermercado, outras irmãs iguais a mim. Meu destino: Reciclagem. Fui parar num grande balcão e lá alguém me separou das coisas diferentes de mim e só me deixaram numa grande família de garrafas pet, onde poderíamos voltar à vida, novinhas em folha e sermos de novo algo importante para todos os humanos. Este foi meu fim correto, eterno vai e vem que não termina. Penso: O que seria de mim, se na trilha ficasse? Em meio ao mundo orgânico e natural da mata ciliar daqueles lindos lagos, como poderia não danificar o meio ambiente? Impossível! Não consigo morrer, deteriorar e voltar à vida em outra vida e me transformar em mais vida. Mil anos são precisos para que eu possa não prejudicar o lugar onde sou esquecida. Se pudesse deixar uma mensagem aos humanos, claro, assim seria: Leve-me contigo para onde quer que vás, meu destino tem que ser a RECICLAGEM.

Liz Rabello