DESAFIO DE ESCRITA
Estávamos na trilha. O sol fustigando folhas verdes. Ao chão, ramagens secas de Outono. Havíamos combinado uma troca de presentes. O que achássemos de inusitado seria nosso tesouro: tema para um novo Desafio de escrita. Meu presente: uma garrafa pet. Mudei meu ponto de vista. E no objeto me fantasiei.
SOU UMA GARRAFA PET
Bem branquinha, já fui frasco de uma garrafa de guaraná Dolly. Um dia me reutilizaram
como carregadora de água para beberem durante o caminho da trilha. Ao término
do conteúdo, eu, simples plástico descartável, inútil, fui jogada em meio ao
desafio outonal de folhas secas. Alguém pegou-me, brincando abraçou-me. Por um
momento um flash me fez brilhar. Estrela de um sorriso no olhar. Uma foto e um
carinho. Mas depois, ia de um lado a outro sendo jogada, trapo velho, mais
nada. Quando cheguei a um lugar bonito, repleto de flores, uma tampa se abriu. Dentro
fui jogada, sem carinho fui lançada, na escuridão, perdida. Saco preto, de
plástico. Outras coisas: latinhas de refrigerantes, saquinhos de compras de
supermercado, outras irmãs iguais a mim. Meu destino: Reciclagem. Fui parar num
grande balcão e lá alguém me separou das coisas diferentes de mim e só me
deixaram numa grande família de garrafas pet, onde poderíamos voltar à vida,
novinhas em folha e sermos de novo algo importante para todos os humanos. Este
foi meu fim correto, eterno vai e vem que não termina. Penso: O que seria de
mim, se na trilha ficasse? Em meio ao mundo orgânico e natural da mata ciliar
daqueles lindos lagos, como poderia não danificar o meio ambiente? Impossível!
Não consigo morrer, deteriorar e voltar à vida em outra vida e me transformar
em mais vida. Mil anos são precisos para que eu possa não prejudicar o lugar
onde sou esquecida. Se pudesse deixar uma mensagem aos humanos, claro, assim
seria: Leve-me contigo para onde quer que vás, meu destino tem que ser a
RECICLAGEM.
Liz Rabello