A ONDA
QUE APRISIONA O HOMEM
Sábado fui ao Dia da Família na
escola em que minha netinha está frequentando. Em lugar das professoras olharem
as crianças brincando no parque infantil da CEI, os pais ocupavam esta tarefa.
Começavam a fotografar os próprios filhos com seus celulares, enviavam aos
amigos as belas fotos, depois liam as respostas e se esqueciam das crianças.
Salvei uma de um ano e meio mais ou menos de cair embaixo da balança no ar em
que minha netinha brincava comigo.
Liz Rabello
TEMPOS ESTRANHOS
Estava no salão de
beleza. Por ser sábado, muita gente por lá. Mamães e titias e babás atenciosas
e amorosas com suas crianças. Era aniversário de seis aninhos de uma princesa,
Maria Eduarda, sendo cuidada pela babá como se fora a própria mãe a lembrar de
todos os detalhes de como deveria ser o penteado, para que a tiara valorizasse
o rostinho de traços perfeitos da menina educada. Trançava as pernas delicadamente na cadeira e
sorria a cada movimento que a fazia mais bela ao próprio olhar.
A segunda criança,
por volta de um ano e meio, me encantou. Descendente afro, os cachinhos desciam
pelo rosto puro, olhos grandes e negros. Alegres e perspicazes diante do mundo
que desbravavam. A tia lhe ensinava a usar o celular, cantava junto com os
desenhos animados canções que conheço bem, porque tenho o hábito de cantar pra
minha neta. A mãe, grávida de oito meses, também se revezava e brincadeiras
como a canoa virou por deixá-la virar, nas pernas que embalavam a bebê,
inundavam de alegria o rostinho puro da menina e o meu olhar.
A terceira criança,
que logo completará dois anos, era uma pestinha, levada da breca, igualzinho
uma garota que conheço muito bem, a Juju, minha netinha. Ou pelo amor que tenho
a minha princesa, ou pelo fato de gostar mesmo de crianças e com elas ter
convivido minha vida inteira, por ter sido professora, nada que aquela doçura
fizesse poderia me irritar. Mesmo quando pegou minha bolsa e a virou de pernas
pro ar, abandonando tudo por ali, a Deus dará. Todos correram em meu auxílio e
os objetos foram repostos à bolsa com a devida urgência que o caso requeria.
Estranhei a frieza da mãe, mas... Tudo
bem, afinal estava fazendo as unhas, com as mãos ocupadas. Logo a seguir, com a
ligeireza das artes infantis, a chupeta voou pelos ares, caiu ao chão e foi
imediatamente colocado de volta à boca da neném, sem sequer ser lavada, embora
o salão não estivesse nada limpo.
Percebi a barriguinha grande da criança, sinalizando que não poderia estar
saudável. Troquei olhares reprovativos com a dona do Salão e viramos a página.
Às vezes é melhor se calar.
A mãe continuava a
se embelezar. Nada reprovável, todos estávamos ali para cuidar da aparência,
inclusive eu. Foi então que a menina correu e pegou algo da mão da mãe, que
imediatamente retrucou: “Me dá, senão te bato” – A menina continuou correndo e
subiu no sofá desajeitada. Ambos voaram pelos ares. A mãe correu, derrubou a
manicure. Esmaltes, água, acetona, tudo pelo chão, mas a mulher conseguiu o que
queria. Salvou da queda... O celular, enquanto a criança se estatelava pelo
chão!
Liz Rabello