sábado, 15 de julho de 2017


A ONDA QUE APRISIONA O HOMEM

Sábado fui ao Dia da Família na escola em que minha netinha está frequentando. Em lugar das professoras olharem as crianças brincando no parque infantil da CEI, os pais ocupavam esta tarefa. Começavam a fotografar os próprios filhos com seus celulares, enviavam aos amigos as belas fotos, depois liam as respostas e se esqueciam das crianças. Salvei uma de um ano e meio mais ou menos de cair embaixo da balança no ar em que minha netinha brincava comigo.
Liz Rabello

TEMPOS ESTRANHOS

Estava no salão de beleza. Por ser sábado, muita gente por lá. Mamães e titias e babás atenciosas e amorosas com suas crianças. Era aniversário de seis aninhos de uma princesa, Maria Eduarda, sendo cuidada pela babá como se fora a própria mãe a lembrar de todos os detalhes de como deveria ser o penteado, para que a tiara valorizasse o rostinho de traços perfeitos da menina educada.  Trançava as pernas delicadamente na cadeira e sorria a cada movimento que a fazia mais bela ao próprio olhar.

A segunda criança, por volta de um ano e meio, me encantou. Descendente afro, os cachinhos desciam pelo rosto puro, olhos grandes e negros. Alegres e perspicazes diante do mundo que desbravavam. A tia lhe ensinava a usar o celular, cantava junto com os desenhos animados canções que conheço bem, porque tenho o hábito de cantar pra minha neta. A mãe, grávida de oito meses, também se revezava e brincadeiras como a canoa virou por deixá-la virar, nas pernas que embalavam a bebê, inundavam de alegria o rostinho puro da menina e o meu olhar.

A terceira criança, que logo completará dois anos, era uma pestinha, levada da breca, igualzinho uma garota que conheço muito bem, a Juju, minha netinha. Ou pelo amor que tenho a minha princesa, ou pelo fato de gostar mesmo de crianças e com elas ter convivido minha vida inteira, por ter sido professora, nada que aquela doçura fizesse poderia me irritar. Mesmo quando pegou minha bolsa e a virou de pernas pro ar, abandonando tudo por ali, a Deus dará. Todos correram em meu auxílio e os objetos foram repostos à bolsa com a devida urgência que o caso requeria. Estranhei a frieza da mãe, mas...  Tudo bem, afinal estava fazendo as unhas, com as mãos ocupadas. Logo a seguir, com a ligeireza das artes infantis, a chupeta voou pelos ares, caiu ao chão e foi imediatamente colocado de volta à boca da neném, sem sequer ser lavada, embora o salão não estivesse nada limpo.  Percebi a barriguinha grande da criança, sinalizando que não poderia estar saudável. Troquei olhares reprovativos com a dona do Salão e viramos a página. Às vezes é melhor se calar.

A mãe continuava a se embelezar. Nada reprovável, todos estávamos ali para cuidar da aparência, inclusive eu. Foi então que a menina correu e pegou algo da mão da mãe, que imediatamente retrucou: “Me dá, senão te bato” – A menina continuou correndo e subiu no sofá desajeitada. Ambos voaram pelos ares. A mãe correu, derrubou a manicure. Esmaltes, água, acetona, tudo pelo chão, mas a mulher conseguiu o que queria. Salvou da queda... O celular, enquanto a criança se estatelava pelo chão!

Liz Rabello