ASSUSTADOR
O mar avança sobre o rio indefeso
Diante desta
magnitude
pobres águas doces
Rebelam-se,
fortes,
Arrancam
terras, capelas,
E sobre a propriedade se dilacera.
Tão logo meu olhar pousou na imensidão
do horizonte avistei o mar paradisíaco. Ondas mansinhas, quebrando-se lá longe,
como se fossem inocentes canções de amor. Meus olhos extasiados fixaram-se nas
jangadas, que iam e vinham, paravam ao redor da piscina natural, uma das muitas
existentes em meio ao espetacular oceano. Ponto turístico, onde é possível
mergulhar e com peixinhos de perto poder nadar e o mesmo espaço cruzar. A
piscina artificial da propriedade próxima me fez recuar, desviar, caminho de
pedras tortuoso trilhar e um portão entreaberto ultrapassar. Ao abri-lo, uma
surpresa: o caminho se acabava numa rampa suspensa. Abaixo: um rio de verdes
tons, cujo curso não seguia um ritmo normal. Ao contrário, águas doces
recebendo águas salgadas do mar. Percebia-se, nitidamente, que suas encostas,
recentes, desenhavam vertigens de novos esculpir!
Nem sempre foi assim. O rio desembocava suas águas no Atlântico, à
direita, uns quinhentos metros distante dali. A propriedade seguia vinte e
cinco metros pela frente, agora mar adentro. Antes do combate, uma capela e um
campo de futebol, a paz já exalaram. Quem os roubou? O rio ou o mar? Ou ambos irmanados
numa fúria de retorno: Ao homem o que destruiu!
Adoro o verde. Meus olhos ficam tristes quando as queimadas destroem a
mata ciliar para dar lugar aos sulcos de erosão e assoreamento do solo dos rios.
Foi o que mais observei durante o trajeto do centro de Maceió: Ponta Verde até
a praia de Paripueira. Ia me perguntando: “O que faz o homem pensar que suas
ações não trazem respostas? O que faz o ser humano agir sem medo algum de
interferências supostas e executadas a bel prazer? O que fazem invencionices
serem mais importantes do que milhares e milhares de anos de criação celestial?
Até quando o desrespeito e o fechar de olhos de quem não acredita no progresso
a qualquer preço? Somos todos culpados por permissividade à esmo.
No trajeto do aeroporto até o hotel em que me hospedei, muitas árvores
gigantescas, canteiros de flores centralizavam a rodovia de ponta a ponta,
dando um ar primaveril e suave ao forte sol do Nordeste. Meu coração já havia
parado de bater momentaneamente quando ouvi a cruel sentença já inscrita no
orçamento da cidade: Serão abatidas para dar lugar ao Trem Bala. Agora olhando
o combate das águas, ele batia assustado, revoltado. Sinto-me uma formiguinha,
infeliz, assistindo meu amado Planeta Terra sucumbir em mãos insanas!
Liz Rabello