terça-feira, 25 de março de 2014



SABEDORIA DO OUTONO
A vida é uma escada gigantesca, cujos degraus alçados jamais será possível descer! Podemos subi-los um a um, bem devagar, sem se cansar! Ou depressa demais e exausta ficar... Nesta subida, podemos saborear as paisagens, aprender com os rouxinóis, bem te vis e andorinhas o canto no silêncio, ou podemos subir ouvindo o som da moto serra, cortando árvores para alimentar o pó da vida. Neste galgar degraus podemos auxiliar os mais fracos, dar as mãos aos mais velhinhos, pegar no colo os pequeninos... Saborear as belezas de compartilhar a vida, ou egoisticamente subir sem olhar para os lados, nem para frente, nem atrás, pisando e puxando tapetes e quem cair... tanto faz! A cada degrau conquistado, sentimos que a escolha é nossa, que quanto mais semeamos na primavera, mais frutas no outono iremos colher, mais massas e maçãs vamos oferecer! Mais perfumes o olfato irá se enriquecer! Podemos correr da tempestade, ou permanecer quietinha no degrau, a espera do sol que virá e com ele o arco íris a brilhar! Aproveitar a estiagem para novamente ver o pôr do sol, as primeiras estrelas, e a lua surgir iluminando com seu clarão os degraus a subir! Podemos aguçar a visão para além do horizonte, o futuro por vir, alimentar a razão de sentimentos e sonhos, desejos de criação de um mundo melhor. Ou podemos simplesmente fechar os olhos e nada ver além do próximo degrau que tentamos subir! Só sei que a escada é íngreme, de difícil acesso! Só sei que quanto mais alto estiver, mais perto dos céus vou estar! E mais perto da morte, nosso fim inevitável ali encontrar. E quando, enfim, o último degrau restar e no topo mais alto nossa raiz fincar, sei que vou descobrir porque foi tão difícil voar, embora observasse e amasse tanto as borboletas... É que na vida sou casulo. É preciso morrer para no topo chegar e voar!

SOMOS POEIRA DO VENTO!
Quando eu me for desta
para outra esfera
Quero ser a estrela mais bela
Lua dançante de tuas noites azuis!
Ondas quebrando em teus pés molhados
Um grão de areia a roçar sua face
Magia do vento a balançar cabelos
Luz do sol a perpassar folhas de alface
Olhar fiel do teu cãozinho amigo
Festim de cores de tuas flores
Gramado verde a cobrir o pasto
Frutas maduras a saciar tua fome!
Quando eu me for desta para outra esfera
Quero ver-te sorrindo como agora vejo
Lábios cantando músicas alegres
Crianças correndo pela casa toda
Memórias boas a deslizar no quarto
Outras memórias que virão depois!
Quero te ver vivendo sempre
Que a vida é para quem está aqui!
Liz Rabello

TEIA ENCANTADA

No picadeiro o palhacinho
cria uma teia encantada
Pernas de pau,
nariz redondo,
carinha pintada
Malabares desencontrados
Quando fogo e bolas desabam pelo chão
E gargalhadas mil fluem da multidão!


Liz Rabello


DEVOLVER À NATUREZA  SUAS VITÓRIAS

Olhar o rio
Água correndo leve
Solta, imponente!
Translúcida manhã
Primaveril

Olhar Vitórias régias
Rainhas da beleza
Rosa escarlate
Roubar suas riquezas
Pra  tua mesa ornamentar!

Olhar o céu
Anil azul
Nuvens bailando
Roubar o vento
Pra teus cabelos acariciar!

Olhar a planície
Esperanças vivas
Luzes e cores
Roubar o verde
Pra teus olhos enfeitar!
  
Apenas Olhar
Desejar e agir: Devolver
Ternuras e beijos
À mãe natureza
Suas vitórias e riquezas!

(Liz Rabello - In Mil Pedaços, Editora Beco dos Poetas, 2012 - SP)