MEMÓRIAS EM BRANCO E PRETO
Ao me deparar com uma foto antiga de um rádio, viajei por minhas memórias. O nosso era movido à eletricidade, ficava em cima de uma geladeira e só funcionava no tranco. Era preciso lhe dar um tapa. Eu me lembro das novelas, de como a gente chorava, ouvindo as cenas trágicas. O mais incrível eram os jogos de futebol. Nunca consegui entender como papai decifrava aquela correria toda. Signos e bolas. Goleiros e jogadores. Árbitros e palavrões. Tinha muito dó da mãe dos juízes. Música? Memória de mel: "Que beijinho doce que ele tem. Depois que beijei ele, nunca mais amei ninguém." Anos mais tarde, na casa da esquina, uma TV para todos: Chico Buarque: Eu me lembro de chorar, emocionada pela minha gente humilde, diante de uma TV, apaixonada pelo brilho dos seus verdes olhos em branco e preto.
Liz Rabello