sexta-feira, 4 de abril de 2014



QUANDO 

Quando tu me beijas 
Pétalas de flores desabam 
tempestades de cores! 
Rosas multicoloridas 
perfumam e alegram 
meu coração de amor! 

Quando tu me olhas
reflexos de luz 
fustigam minha paz! 
Músicas suaves 
canduras de desejos 
embalam ternos sonhos! 

Quando tu me tocas 
mãos perfeitas me encantam 
primaveras de alegrias 
joaninhas pintadinhas 
brancas, pretas, vermelhinhas 
jogam poesia em meu sentir! 

Quando tu partes 
(E sempre vais) 
levas meu mundo 
meu ser inteira! 
Nada fica a sussurrar 
senão este desejo 
de te veres voltar! 


(Liz Rabello)


SEM RAZÕES

Liberte teu coração
Ao sabor do vento
Deixe-o falar mais alto
Do que o pensamento
Fluir tempestades de desejos!
Juízos pré moldados? Não sei não...

Coração tem cem razões
Sempre a te guiar
Sem razão nenhuma a nortear.
Se a consciência comandar
Tramas do destino amordaçar
Permitas a teu coração gritar
que queres voar e amar!

(Liz Rabello - in INTERVALOS, ARMADILHAS DO DESTINO, Beco dos Poetas, 2013, SP)



DAS JANELAS DO PASSADO

“Espelho, espelho meu, quem é mais feia do que Eu?” Não, nunca me achei feia, nem mesmo bela. Qual a visão de mim mesma? Por mim? Na ausência de espelhos, numa infância muito pobre, como conseguia me saber? Penso que sempre me vi pelos olhos úmidos de emoção de meu pai. Era puro amor, encantamento! A mais bela imagem refletida. Por suas palavras doces e elogios tinha uma imagem de mim muito agradável e segura. Sentia-me com pés no chão, mas brilhante como a mais bela estrela. Ele se mostrava “satisfeito” por eu existir. Lembro-me de uma manhã de domingo. Desenhava, como de hábito, na mesa da cozinha, com meus lápis coloridos de dez centímetros cada, apenas meia dúzia, que eu cuidadosamente usava. Meus pais não podiam comprar outros. Uma visita, um amigo de meu pai. Ele me apresentou ao outro de uma forma efusiva, alegre, calorosa, dizendo o quanto estava “sastifeito”pela princesa que eu era, uma criança inteligente e criativa. Eu o corrigi: “Pai, não é assim que se fala”. Corou, nada mais falou. Quando o amigo foi embora, sentou-me em seu colo, como sempre fazia, e me disse baixinho: “Nunca mais me corrija na frente de ninguém, faça isto quando estivermos sozinhos”. Até hoje me lembro de como fiquei triste comigo mesma e do quanto me senti feia dentro dos seus olhos úmidos. Fico magoada cada vez que me lembro disto e sei que jamais amei alguém tanto quanto amei papai. Hoje sou professora de Português e a primeira lição que ensino aos meus alunos de quinta série é a de respeitar o jeitinho de falar de nossos pais, avós, amigos. Se você sabe o padrão culto da língua materna, use-o, sem constranger ou corrigir, pois palavras não nasceram para ferir ninguém.


Liz Rabello



O OLHAR DE UM CÃO

Ao longo de toda minha vida, tive, realmente, amigos fiéis, leais, amorosos. Amei e fui amada por familiares mais próximos e queridos, que partiram por conta da roda viva da vida, que nos traz para esta esfera e nos leva embora. Amo e me sinto amada pelos que aqui estão: filhos, neto, nora, tios, primos, amigos do dia a dia, reais e virtuais, inúmeros alunos, do passado e do presente! Mas nada, absolutamente nada, pode ser comparado ao olhar de um amigo canino... É puro amor, deleite, carinho, caridade, entrega sem cobranças, sem egoísmo, sem vaidades, sem rancores, abanos de rabinho com perdão, proteção, confiança, petição: “Ama-me porque eu te amo”- Eu digo. Ele não: “Amo, porque amo”. Simples assim! Penso que se o mundo canino falasse, as palavras de Cristo seriam mudadas: “Ama teu próximo mais do que a ti mesmo!”



(Liz Rabello, in INTERVALOS, “MEUS AMIGOS PELUDOS E OUTROS MAIS”
 Beco dos Poetas, 2013. SP)