VARETA ELÉTRICA
Nossa vira-lata está cada vez mais sapeca. Alegre como só ela é capaz. Tem duas casas, dois donos e mais amores para cuidar dela. Passa finais de semana com o pai adorado, num apartamento minúsculo e dias úteis aqui em casa conosco, onde pode se divertir pelo quintal. Era de se esperar que fizesse mais artes no solitário local que seu dono a leva quando quero viajar, mas não! É aqui mesmo que faz das suas. É só ver a porta do meu quarto aberta que sobe e desce da cama em agitação, desfaz o endredon certinho e retira todos os travesseiros do lugar. Agita em meio às orelhas grandes a centopeia verdinha que eu trouxe do Rio de Janeiro e que ela é doida para tomar posse. Só pela manhã é que me acorda com doçura, lambendo meus cabelos com cuidado e me amassando de alegria.
Adora passear de carro, colocar a cabeça meio que para fora e deixar o vento tentar arrancar suas lindas orelhas do lugar. Se está com calor, senta-se em frente ao ventilador e faz a festa com o arzinho agradável que bate em sua carinha assanhada. Perdeu a chance deste último prazer quando o ventilador queimou. Mas ela não teve dúvidas, arrancou o fio teimoso em não funcionar e tentou consertar o vilão. Claro, não conseguiu! Levou uma bronca daquelas, abaixou as orelhinhas envergonhada, virou a carinha só para fingir que não é com ela que o assunto está rolando e pernas pra quem tem, porque Vareta é elétrica e precisa gastar energias.
Liz Rabello