HOMENAGEM À QUERIDA REJANE BONADIMANN
O AMOR É AZUL
Estavam
apaixonados. Ao luar, pertinho do mar, ela lhe dizia ao ouvido amorosamente: “O
amor é azul, seu cheiro está impresso em minhas digitais. Sinto-o comigo. É
como se nunca tivesse sido eu, sozinha, sem você... É como se este seu odor me
aquecesse desde sempre.”
Não
era a primeira vez que ela, tímida, se sentia assim. Às vezes, em álbuns de
fotos antigas, vinha em sua mente a mesma cor do amor, o mesmo odor da bondade.
Certa vez perguntou à mãe por que ela, sendo menina, vestia azul. E ouvira
aquela mesma resposta: “Porque é a cor do amor.”
Eles
se conheceram pelo virtual. Ela, oferecendo residência para quem estivesse
precisando de moradia num intercâmbio cultural, nos Estados Unidos da América.
Ele, procurando estadia, enquanto estivesse fazendo seu mestrado por lá.
Ficaram amigos de imediato. Respeitoso, o sentimento foi crescendo, enquanto
moravam juntos com toda a família dela, apoiando os estudos do rapaz. A mãe da
menina, carinhosamente lhe fazia as melhores refeições, tudo o que se pode
oferecer de bom no Brasil, país rico em Gastronomia e criatividade culinária.
A
garota, que se expressava bem em três idiomas: Português, Inglês e Espanhol,
não tinha nenhuma dificuldade em dialogar com o rapaz, que só conseguia se
expressar na Língua Portuguesa. Ela passou a ajudá-lo nas leituras, nos
trabalhos escritos e em tudo o que ele necessitava. A amizade foi crescendo. O
amor cada vez mais era azul.
Um
dia ele lhe perguntou: “Como foi que você conseguiu sair do Brasil e
aprender tão bem o Espanhol e o Inglês?” – Ao que ela respondeu: “Saí do
Brasil com poucos dias de vida e me mudei para a Espanha. Cresci falando duas
línguas: a do meus pais e a do país que me abraçou. Mais tarde, já adolescente,
viemos para os Estados Unidos e então, aprendi o Inglês.”
Não
falaram mais sobre este assunto, embora as perguntas borbulhassem na mente do
rapaz. Pela Internet, ele se comunicava com os pais, mostrava fotos da menina,
da casa, falava da família, com muito amor. Até o dia em que se confessou
apaixonado: “Eu me sinto como se o amor e nosso futuro já fosse escrito por
mãos divinas.”
Os
pais dele adoraram a foto da garota. Praticamente a mesma idade do filho,
apenas alguns meses de diferença. Um dia perguntaram o nome completo dela e era
bastante familiar aquele sobrenome. Mas Silva, no Brasil, é extremamente comum.
Certa
noite, após o jantar, família reunida e um álbum aberto: fotos da Maria bebê,
vestida de lindas mantas e casaquinhos de crochê, todos azuis como o céu. Numa
nova conversa com os pais, pela Internet, Leonardo confessou: “Mamãe, Maria
ama o azul. As fotos dela se parecem com as minhas. Será que você poderia me
enviar algumas para eu matar minhas saudades de vocês e do meu passado?”
Pedido
feito, ações concretizadas. Os pais choraram ao se lembrar daquele período
mágico, em que receberam de Deus, tamanho presente! Quando Leonardo nasceu, seu
enxoval todo azul, foi um encanto bordado e tricotado pelas avós materna e
paterna. A mãe não tivera dúvidas ao doar tudo aquilo àquela bebê, que nasceria
antes de que os pais embarcassem para a Espanha. A mãe, grávida, era sua babá e
cuidava de seu primogênito com muito amor, enquanto ela terminava os estudos na
Faculdade de Artes. A moça não tinha nenhuma peça para a criança que logo iria
nascer. E também não tinha nenhuma possibilidade financeira de comprar algo, já
que todas as economias do casal foram direcionadas para essa viagem de mudança
de país. No novo lar, o marido já tinha emprego garantido. Nunca se comentou
com o filho sobre este gesto. Até que, já adulto, ele quis saber o motivo de
ter tantas lembranças em fotos e objetos e não existir nenhuma peça de roupa de quando o
rapaz era bebê. Doação confirmada e esquecida nos retalhos minúsculos da
memória.
Quando as fotos chegaram, o casal num uníssono de alegria teve o insight. Já não havia dúvidas: Ele, Leonardo; ela, Maria, estavam escritos
nas estrelas, com as mesmas roupinhas azuis!
Liz Rabello