O Poetrix foi criado por Goulart Gomes há mais de vinte anos. Mas eu só o conheci há três. É uma honra para mim já estar com um livro solo em meio a grandes nomes desta Forma Poética Minimalista.
POEMAS ENCOLHIDOS DE GOULART GOMES E PEDRO CARDOSO
Existem três formas de ler este livro. A ordem convencional vertical, página após página. Descartei. A segunda opção é ler primeiro as páginas pares, onde estão os poemas de Pedro Cardoso e depois, as páginas ímpares, que seriam as de Goulart. Gostei da possibilidade. O exemplar que tenho em mãos já é uma joia preciosa em criatividade, por si só. Há de se fazer a leitura também de forma original. Fui enlaçada pela terceira forma de leitura: horizontal, da esquerda para direita, passando de um autor para o outro, já que em cada par de poetrix, os escritores procuraram realizar um diálogo intertextual entre ambos.
Nesta página, CRISTO REDENTOR, poetrix em acróstico, de Pedro Cardoso, dialoga com ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM, um poetrix, político, cuja duplicidade de significado nos remete ao momento escrito, quando a sociedade pede a libertação de Lula.
Às
vezes, criam verdadeiros duplix, como no caso destas páginas: UMAS POMBAS e AS
POMBAS. Diálogo intertextual perfeito.
EIS ALGUNS QUE ESCOLHI COMO MELHORES:
CUMULUS é um dos melhores poetrix que li no livro. E é repleto de grafismos. Penso que não se lê os grafismos oralmente, e, portanto, não muda a questão das trinta sílabas métricas. Penso que se OLHA. Ao ver, outras possibilidades de leitura se instaura, uma maior riqueza de detalhes se acumula e o leitor é convidado a pensar.
Os dois escritores, Goulart, criador do Poetrix, e Pedro Cardoso, experiente poetrixta, não seguem as atuais ondas do movimento, cujo regramento não permite frases únicas, escritas em poesias concretas, grafismos. Jogam tudo pelos ares e publicam este livro M A R A V I L H O S O... Quisera ter lido antes de publicar o meu, que segue rigidamente o regramento da Academia Internacional Poetrixta.
Para fechar o livro, ambos nos deixam verdadeiros ensinamentos, experiências que estão realizando: FORMAS MÚLTIPLAS DO POETRIX. Excelente livro de estudos que não pode faltar na mesa de cabeceira de quem se dedica a escrever esta nova forma poética.
PUBLICADO NO JCP DE MAIO DE 2023
NUVEM
ÁCIDA NO CÉU DOS MEUS OLHOS
Da linda Ligia Regina Lima,
Editora Lavra, do genial João Caetano do Nascimento, com prefácio de Arnaldo
Afonso e ilustrações de Eder Lima. Todos são amigos muito queridos.
São poemas engajados, escritos à
flor da pele, num momento dramático do planeta. Aliado ao clamor da Pandemia, aos
excessos de um louco no planalto. Tudo é deflagrado: injustiças sociais, fome,
miséria, rios de águas cristalinas que se transformam em lodo, queimadas,
massacres em escolas.
“pedras,
cães, caos e o silêncio da impotência
sempre
dói quando só se pode olhar.”
“A
enxurrada esmaga sonhos, esparrama colchões,
camas e
almas se misturam aos detritos
a gente
teima em catar os cacos, remendar documentos,
empilhar
cacarecos”...
Mas em meio a tanta injustiça há faróis:
“a arte
pulsa no coração da cidade
Grafite nos
muros
Paredões
de concreto armado
O menino
sentado debaixo do farol
Sopra uma
flor do vento
Outra flor
repousa no buraco da calçada
Canteiro de
dente de leão”
O ano de 2019 é historicamente
triste, mas termina com uma esperança: Após 580 dias, Lula é solto logo após o
Supremo Tribunal Federal ter considerado a prisão em segunda instância
Inconstitucional.
O ano de 2020 é marcado pela
Pandemia, muitas mortes, solidão, ausência de abraços, do olho no olho, mas é
também o ano que termina com a chegada da primeira vacina!
O ano de 2021 é marcado por atos antirracistas,
contra o governo brasileiro no planalto, contra a inflação e o crescimento do
número de famintos: busca por ossos para matar a fome. Mas termina com as condenações
de Lula anuladas e o ex-presidente recobrando seus direitos políticos.
O ano de 2022 é assolado por
enchentes, deslizamentos, mortes. Centenas de desalojados. Massacre aos povos
indígenas. Guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Assassinatos de Dom Philips e
Bruno Pereira, defensores da Amazônia. Mas termina com a vitória de Lula como
Presidente do Brasil.
Assim é o livro todo, que pulsa
acidez, mortes, lutas e termina com ESPERANÇAS.
“O MUNDO
DÁ VOLTAS
Gira,
gira, a Terra em movimentos
Transformando
o vácuo do estômago
Em voo de
borboletas (...)
Gira,
gira a Terra em torno do Sol
O ano
morre, a vida é cíclica.”
Liz Rabello, escritora,
2023
MANHÃS DE SETEMBRO
Esta semana maratonei a Primeira e a Segunda Temporada de Manhãs de Setembro. Uma série de televisão de drama brasileiro, que estreou no Prime Vídeo em 25 de junho de 2021. A série é dirigida por Luís Pinheiro e Dainara Toffoli. O programa é estrelado por Liniker, Thomás Aquino, Karine Teles, Paulo Miklos, Gustavo Coelho, Isabela Ordoñez, Clodd Dias e Gero Camilo.
" No papel principal a cantora Liniker, que fez história quando se tornou a primeira artista trans brasileira a ganhar um Grammy. Manhãs de Setembro é a nova minissérie nacional do Amazon Prime Video, que estreou no último dia 25 e é protagonizada pela cantora e compositora Liniker, que estreia na dramaturgia com a participação na produção. Na trama, Liniker interpreta Cassandra, uma mulher trans que finalmente conquistou sua liberdade após os trinta anos. Ela é uma mulher simples, que tenta sobreviver na cidade grande com o trabalho de motogirl fazendo entregas por aplicativo para custear o aluguel em uma pequena kitnet. Além disso, ela busca dar os primeiros passos na carreira artística cantando em um bar de amigos. A vida da personagem acaba dando uma remexida quando Leide – uma mulher com quem Cassandra se relacionou antes da transição – reaparece com um filho de dez anos, afirmando ser fruto dessa breve relação. A partir de então, o público se envolve junto com os personagens no drama que toca em pontos importantíssimos de serem discutidos na sociedade brasileira, como a maternidade para mulheres transexuais e a construção de família. De imediato, Cassandra rejeita a ideia de ser “pai” de uma criança, isso a faz revisitar traumas e acende desconfortos que ela não deseja lidar. Gersinho mora com Leide dentro de um carro, na rua, e a mãe passou esses dez anos tentando sobreviver e sustentar o filho como vendedora ambulante nos semáforos da cidade. A situação financeira dos dois comove Cassandra, mesmo se negando a aceitar a ideia de ter um filho com outra mulher, então ela leva os dois para passar uma noite na kitnet onde mora, e é assim que começa essa aproximação confusa e cheia de conflitos internos para Cassandra. Inclusive, o conflito interno é algo que foi muito bem transmitido ao público, já que é perceptível essa dualidade para a protagonista, que mesmo lutando para ser uma mulher independente e livre, começa a sentir afeição pela criança, principalmente ao ver o quanto Gersinho passou a admirá-la. Esse conflito interno para Cassandra, que não deseja ter em sua vida o fruto de uma relação com uma mulher cisgênero, parece não ser uma questão para Gersinho. Para ele, Cassandra é “seu pai” e pronto. Ao longo da série vemos a evolução do personagem ao, finalmente, respeitar a identidade de gênero de Cassandra e parar de chamá-la de pai. A criança passa, então, a sentir uma profunda admiração pela mãe que acabou de conhecer, e essa relação familiar começa a ser construída, seja com o Gersinho querendo imitar as roupas, o canto, ou simplesmente chamando-a para uma reunião da escola." *
IMPRESSÕES PESSOAIS
Gostei da Cassandra e do menino Gerson desde o primeiro episódio. Pai e filho determinados. Amei a criança. Ela é o elo do amor. Purgatório de todos os personagens. Pureza. Pelo menino, todos se rendem. Avô, amiguinha, amigos da Cassandra, e a própria Cassandra. Um momento emocionante foi quando ele confessa ao avô: "Eu conquistei a Cassandra quando a chamei pelo nome dela". Gerson tinha consciência plena de seus atos. Muito maduro, inteligente, sabia o que queria e seguiu em frente, fiel aos seus planos. Venceu o presente e o passado. Mostrou à Cassandra o que ela deveria fazer: ir atrás da própria mãe e resolver seu maior problema existencial, que é o sentimento de rejeição que a persegue. A personalidade da Cassandra é muito forte. Ela tem dois problemas existenciais: o firmar-se como mulher, sem a figura feminina em sua vida, sendo do gênero masculino e superar a rejeição que a persegue. A única pessoa em quem confiou foi Vanusa, sua mentora. Cassandra descobre no decorrer da série, que até a cantora que tanto admira, mentiu para ela, pois lhe disse quando ainda era criança, que sua mãe a idolatrava, quando na verdade, nem ligava para a artista. É bonito ver como levanta a cabeça e segue. É um exemplo de ser humano determinado. Mas senti pena do amante dela. Ama demais, quer a família gourmet, com alguém que foge de todos os laços de amor. Chorei em vários momentos, principalmente quando Gerson, em seu aniversário presenteia o pai, com um LP da cantora Vanusa, que o menino fez questão de resgatar de um sebo de discos. O amor filial venceu todas as barreiras. Não foi o maternal, como seria de se esperar!
As músicas são maravilhosas. E eu quero ver outra vez quando puder ouvir de aparelho novo. Só pude curtir pela minha memória. A última música, que encerra a primeira temporada, Travessia, de Milton Nascimento é de arrepiar. Mas as demais não ficam a dever. Show de série.
TROVA, POETRIX, HAICAI, SPINA, LANALMA, CAMAQUIANO, ALANIANO POÉTICO E ALDRAVIA.
São oito formas poéticas diferentes. A trova tem que ter obrigatoriedade de rimas AC e BD, com
sete sílabas métricas em casa verso. Sem título. Com pontuação. Letra maiúscula
só no primeiro verso ou quando o sentido exigir ou a palavra for substantivo
próprio. A trova tem que ter ideias claras, completas, fluidas. As elisões devem seguir o Decálogo da UBT.
POETRIX
Já o Poetrix
tem que ter três versos. Pode ou não ter maiúscula. Pode ou não ter pontuações.
Pode ou não ter rima. É obrigatório um título. A quantidade de palavras é
mínima. O menos é mais. Tem que ter poesia, muitas figuras de linguagem. Multiplicidade de sentidos. Anagramas. Ideias
que possam fazer o leitor voar. Os melhores Poetrix devem provocar sentimentos
de espanto, descoberta, susto.
HAICAI
O Haicai é um gênero de poesia com forma fixa. Possui três versos: o primeiro e o terceiro são redondilhas menores — versos de cinco sílabas —, e o segundo, redondilha maior — verso de sete sílabas. Portanto, é uma poesia objetiva e sintética. O haicai tradicional não possui título nem rimas e apresenta temática bucólica. No Brasil, os principais haicaístas são: Masuda Goga, Guilherme de Almeida, Afrânio Peixoto, Pedro Xisto, Paulo Leminski, Helena Kolody, Millôr Fernandes e Alice Ruiz.
O haicai é um subgênero literário, com caráter lírico, de origem japonesa, que, tradicionalmente, é caracterizado pelo(a):
objetividade, simplicidade, serenidade, sobriedade, casualidade, solidão, não intelectualidade, bucolismo, antissentimentalismo, condensação, uso de imagens, ausência de título, ausência de rima, kigo, cesura.
O kigo é uma palavra que evidencia a estação do ano em que o texto foi produzido.
A cesura é uma palavra utilizada, no final do primeiro ou do segundo verso, para provocar uma quebra sintática e evitar que o poema pareça ser composto apenas por um verso ou frase. Já o antissentimentalismo deve ser associado ao haicaísta ou ao eu lírico, pois uma das características do haicai tradicional é a existência de uma palavra que dispara a emoção na leitora ou no leitor.
A temática da natureza é característica do haicai tradicional.
SPINA
O Spina tem
oito versos. Obrigatoriamente começa com palavra trissílaba. Duas estrofes.
Três palavras para cada verso da primeira estrofe. A segunda deverá ter cinco
palavras em cada verso. Pode ter título ou não. Na primeira estrofe, joga-se
uma ideia poética, que será desenvolvida na segunda, como se fosse uma prosa
poética, sem sê-la. Rimas obrigatórias no terceiro, sexto, oitavo verso e
opcional no quarto. É proibido usar conjunções: e, pois, contigo, mas, todavia. Há de se cuidar da estética. Nada de um verso pequeno e outro longo.
SPINA (Nova Forma Poética)
QUINHENTAS ROSAS
Plantadas na areia
salgada das praias
Dor: Quinhentos mil!
Meu chão encharcado de lágrimas,
desesperança em olhares, Sol, céu
sombrio, escurece, sem luz varonil,
estéril manhã, nenhum hino único,
triste país: sangue vermelho Brasil.
Liz Rabello
SPINA (Nova Forma Poética)
EU, BUSCADOR DE MIM
Reflexo no espelho,
meu olhar instiga,
busca uma essência!
Naquilo que forte luz flameja,
não nesta matriz que apresenta
pintura de parte da existência...
A verdadeira face: olhar divino,
dentro de mim, sem divergência!
Liz Rabello
LANALMA
No Lanalma, deverá existir cinco linhas, sendo a primeira com uma palavra, a segunda com três palavras, a terceira com duas palavras, a quarta com duas palavras e a quinta com uma palavra. O trabalho não terá título, apenas o nome da criação, Lanalma, que é obrigatório. Começa-se com letra maiúscula. Não é permitido começar uma linha com: "me, te, de, do, e, ou da", por questão de estética do trabalho. Serão aceitas as seguintes pontuações: ponto final, dois pontos, vírgula, interrogação, exclamação, ponto e vírgula. Ao usarem interrogação, exclamação ou ponto final, a próxima linha deverá começar com letra maiúscula, as demais com letras minúsculas. Palavras ligadas com hífen, apóstrofo e nomes próprios, serão contadas como uma palavra. Exemplos: beija-flor, quinta-feira, São Paulo.
CAMAQUIANO
Camaquiano é uma nova forma poética, sucinta, horizontal em “quadra”, contendo apenas “8 palavras”, (onde o pouco é muito). As palavras formam-se em “pares em cada linha”; com elegância nas frases, ou seja, uma ao lado da outra com sentido à primeira palavra, pois, se trata de um “Poema Frasal” com poucas palavras; desde que tenha coerência poética. Este Poema “Camaquiano” inicia-se apenas com letra maiúscula na primeira linha do verso, as demais prosseguem com letras minúsculas; ressalvo de nomes próprios. Palavras ou nomes compostos, equivalem “uma palavra”. Não há métricas, trata-se de um “Poema Desenvolto”. (Desembaraçado-livre). É proibido a rima. Na estética do Camaquiano, as frases ficarão uma embaixo da outra; no sentido uniforme, onde as palavras ficarão voltadas para o lado esquerdo, não pode centralizar as palavras, ou as deixando aleatórias; e não há espaçadas de linhas de uma para a outra.
ALANIANO POÉTICO
O Alaniano Poético possui três versos, Pode ter título ou não. O primeiro verso deve ter três palavras com duas sílabas. O segundo verso três palavras com três sílabas. O terceiro verso duas palavras com três sílabas. As pontuações obedecem as regras gramaticais.
Minha trilha, sina, Caminho, utopia, ruína Navalha cannabis
Liz Rabello
ALDRAVIA
É a primeira forma poética genuinamente brasileira, onde o poeta deve traduzir o máximo de poesia em somente 6 palavras.
- Aldravia não é frase em pé. Devemos evitar preposições, artigos e conectivos, alguns verbos e dar preferência as palavras inteiras.Segundo as regras dos criadores, conectivos não devem ser usados pois dão as mesmas o sentido de frases em pé. Podemos construir Aldravias belíssimas, e genuínas sem precisar usá-los.Preposições são aqueles termos invariáveis que usamos para ligarmos duas palavras. Existem outras, porém as mais comuns são as essenciais: a, ante, após até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante, por, sem, sob, sobre, trás.
- Aldravia não deve conter palavras em maiúsculas, exceto em caso de nomes próprios, ou algum vocábulo que desejamos destacar. Mas a regra geral é que nenhuma palavra deve iniciar em maiúsculas.
- Aldravia não deve conter ponto final, vírgula, ponto e vírgula. As exceções de pontuação são os dois pontos, interrogação e exclamação, quando necessários.
- A figura de linguagem recomendada pelos criadores na confecção de Aldravias é a metonímia. ( vide explicação no setor " Avisos").
- Não são permitidas Aldravias em acrósticos.
- Deve ter ritmo e poeticidade
Grupo Aldraviando
EM CURAÇÁ, BAHIA, BRASIL... A ESPERANÇA É AZUL
ARARINHAS-AZUIS DE VOLTA PARA CASA
As ararinhas-azuis estão mais
perto de voltar para casa. O Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio) e a ONG alemã Association for the Conservation of
Threatend Parrots (ACTP), assinaram um Acordo de Cooperação
Técnica para repatriar (trazer de volta ao Brasil) cinquenta ararinhas mantidas em
cativeiro na Alemanha.
Eles vão dar detalhes sobre os
termos do acordo, a previsão de chegada das ararinhas e os passos que devem ser
cumpridos até a soltura das aves no Refúgio de Vida Silvestre da Ararinha-Azul,
unidade de conservação criada recentemente, em Curaçá (BA), especialmente
para receber as aves.
Atualmente, existem no mundo
apenas cento e sessenta e três exemplares da ave, todos mantidos em cativeiro, em criadouros de
países que participam do Programa de Reintrodução da Ararinha-Azul. A maioria
fica na Alemanha. No Brasil, há apenas treze aves, alojadas em criadouro em Minas
Gerais. Duas delas são filhotes e nasceram há pouco tempo.
A ararinha-azul é considerada
extinta na natureza desde o ano 2000. Endêmica (exclusiva) da Caatinga, na
região de Curaçá, ela foi alvo de caçadores e do tráfico ilegal de aves, o que
ocasionou o fim da espécie em ambiente natural. A espécie (Cyanopsitta spixii) que inspirou a história do filme Rio só existe hoje em cativeiro, e a maioria dos exemplares está em criadouros particulares fora do Brasil.
O plano prevê a criação de uma área protegida e a construção
de um Centro de Reintrodução e Reprodução da Ararinha-Azul em Curaçá, município
baiano, na divisa com Pernambuco, onde a espécie costumava ocorrer. Segundo o
ministério, os esforços para criação de uma unidade de conservação na região
“já estão em fase avançada” e deverão ser levados para consulta pública em
breve.
ARARINHAS AZUIS RETORNAM PARA A CAATINGA - CURAÇÁ – BAHIA – BRASIL 03/03/2020
Carolina Lisboa
Descoberta há exatos 200 anos
pelo naturalista alemão Johann Baptist Ritter von Spix, a ararinha-azul
(Cyanopsitta spixii) não é observada na natureza desde que o último exemplar,
um macho, desapareceu em outubro de 2000. Passados 20 anos desde sua última
aparição, a espécie finalmente poderá voltar a habitar as matas de Curaçá, no
sertão da Bahia, como resultado de um esforço conjunto que vem sendo
desenvolvido desde 1986, quando foi descoberta a última população selvagem de
apenas três indivíduos. A formalização desta iniciativa ocorreu em 1990, quando
o Ibama criou o Comitê Permanente para a Recuperação da Ararinha-azul. Desde
então, entre muitas idas e vindas e contando com o esforço de inúmeras
organizações, fundações internacionais e pessoas imensamente dedicadas, o
projeto vem dando frutos. Um deles é a repatriação de 52 ararinhas-azuis
provenientes da instituição alemã Association for the Conservation of Threatend
Parrots (ACTP).
De acordo com Ugo Vercillo,
analista ambiental da Coordenação de Ações Integradas para Conservação de
Espécies do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio),
são 28 fêmeas e 24 machos com idades entre um e 26 anos. As aves chegarão num
voo fretado nesta terça-feira (03), Dia Internacional da Vida Selvagem. A data
comemorativa foi estipulada pela ONU desde 2013 para celebrar a fauna e a flora
do planeta, assim como alertar para os perigos do tráfico de espécies selvagens
animais. As 50 ararinhas desembarcarão no Aeroporto Senador Nilo Coelho em
Petrolina (PE) e seguirão para o Centro de Reprodução e Reintrodução das
Ararinhas-Azuis construído em Curaçá.
As ararinhas seguirão do
aeroporto para o Centro de Reprodução e Reintrodução das Ararinhas-Azuis, na
Fazenda Concórdia, em Curaçá, cuja construção e o projeto de reintrodução foram
custeados pela ONG ACTP. O procedimento de translocação será realizado sem
nenhuma exposição, para respeitar as medidas de quarentena exigidas pela
legislação. O Centro possui uma área coberta de 2.400 m² com toda uma estrutura
especial para o manejo das ararinhas, prevendo espaços para atividades
administrativas, alojamento para pesquisadores e dois grandes viveiros, um para
pareamento (formação de casais para reprodução) e outro para as aves que
estiverem mais preparadas para a soltura.
A primeira soltura está prevista
para 2021. Ao longo deste período, os animais passarão por processo de
adaptação e treinamento para viverem em vida livre. Contudo, antes da soltura,
serão realizados testes com uma espécie-modelo de ave, a maracanã-verdadeira
(Primolius maracana), que possui hábitos semelhantes aos das ararinhas-azuis.
As ararinhas serão reintroduzidas no território das duas Unidades de
Conservação criadas em junho de 2018, o Refúgio de Vida Silvestre da
Ararinha-Azul (com 29,2 mil hectares) e a Área de Proteção Ambiental da Ararinha-Azul
(com 90,6 mil hectares), destinadas à reintrodução e proteção da espécie e
conservação do bioma Caatinga.
A comunidade de Curaçá vem
esperando com grande expectativa a chegada das ararinhas. Desde 2012, o Projeto
Ararinha na Natureza está presente na região, onde estabeleceu uma sede para o
desenvolvimento e acompanhamento das atividades. O Projeto visa à implementação
de algumas ações do Plano de Ação Nacional para Conservação da Ararinha-azul, e
atua em diferentes linhas temáticas como Políticas Públicas, Pesquisa
Científica e Educação Ambiental, com o objetivo de criar as condições
necessárias para proteger o hábitat natural da ave para que ela possa voltar à
natureza. Além da mobilização nacional, a comunidade internacional também vem
participando ativamente das ações para a conservação da espécie. De acordo com
Edson Duarte, ex-Ministro do Meio Ambiente, o governo do Catar anunciou que
assumirá o material escolar da rede pública de Curaçá por cinco anos.
A ararinha-azul é considerada uma
das espécies de aves mais ameaçadas do mundo. Em 2000, foi classificada como
Criticamente em Perigo (CR) possivelmente Extinta na Natureza (EW), restando
apenas indivíduos em cativeiro. No Brasil, há um criadouro científico com fins
conservacionistas especializado na reprodução, manejo e conservação da espécie,
o Criadouro Fazenda Cachoeira, no interior de Minas Gerais. Em 2019, o
criadouro conseguiu gerar 11 filhotes, um recorde de nascimentos em relação ao
tamanho da população (11 ararinhas adultas, sendo 10 com condições de
reprodução). Além da ACTP e da Fazenda Cachoeira, o Jurong Bird Park, de
Cingapura também mantém alguns exemplares de ararinhas-azuis, cujas aves são
expostas com fins educacionais e de captação de recursos.
Recintos das ararinhas-azuis no
Centro de Reprodução e Reintrodução de Curaçá sendo finalizado. Foto:
ICMBio/Divulgação.
Após 20 anos de extinção, Brasil
recebe 50 filhotinhos de araras azuis
PROJETO MEIO AMBIENTE "FONTENELLE"
Em 2007, quando ainda estava em sala de aula, desenvolvi um Projeto com minhas crianças "MISSÃO TERRA - O RESGATE DO PLANETA". Na ocasião utilizamos como base a Agenda 21, feita por crianças e Jovens de todo o mundo. O projeto que durou praticamente o ano todo, teve início com Contação de Histórias. Elegemos como personagem central SEVERINO, UMA ARARINHA-AZUL. Diariamente, lia para meus alunos um trecho da história real deste último indivíduo
Severino tem quinze anos e é o
último macho selvagem de Curaçá, povoado às margens do médio Rio São Francisco,
no sertão da Bahia. Severino é uma ararinha-azul que espera uma fêmea para se
acasalar e dar continuidade à sua espécie, gravemente ameaçada de extinção. Ele
voa em liberdade, mas as outras mais de trinta ararinhas-azuis do Planeta vivem
em cativeiro. Para se multiplicar, o pássaro precisa do verde das matas que
pontilham Curaçá. Mas seu habitat está sendo destruído por projetos de
agricultura irrigada, pela caça e pelos bodes dos sertanejos. Por isso o IBAMA
criou, em 1990, o Comitê Permanente de Ararinha-Azul, que reúne cientistas,
ambientalistas e moradores de Curaçá. Objetivo: implantar uma reserva ambiental
no habitat da ararinha-azul, em plena caatinga, e investir nos cercados,
tradicional técnica de agricultura que reserva espaço à regeneração de áreas
degradadas e ao crescimento da Caraibeira, árvore a qual o pássaro sempre
volta. O projeto mobilizou um grupo de biólogos, que estão usando as mais
modernas técnicas para viabilizar a reprodução da ave em cativeiro e reintroduzir
na natureza uma fêmea que vivia em gaiola, o que exige muito preparo para
ensiná-la a voltar a viver em liberdade. Também conta com a participação dos
sertanejos de Curaçá, que não medem esforços para recuperar o habitat natural
da ave. Como o município quer voltar a ser o “ninho” da ararinha-azul, eles não
cansam de repetir: “A esperança em Curaçá não é verde. É azul”
A ÚLTIMA
ESPERANÇA
DUAS NOVAS EXPERIÊNCIAS COM A
ÚLTIMA ARARINHA-AZUL EM LIBERDADE PODEM EVITAR QUE A AVE MAIS RARA DO PLANETA
DESAPAREÇA DA NATUREZA PARA SEMPRE
Daniel
Nunes Gonçalves
Ela vive livre e tranquila na
caatinga da cidade de Curaçá, no interior da Bahia e carrega a última esperança
da ciência para a recuperação de sua espécie. Mais raro animal do planeta, a
última ararinha azul selvagem passará por duas experiências que podem
trazer-lhe companhia para formar um bando e assustar para sempre o fantasma da
extinção. A primeira tentativa será a de dar filhotes de outra ararinha-azul
para ela criar – já que não tem filhos. O segundo plano é que ela ensine
ararinhas de cativeiro a viver em liberdade. O ideal era que este último macho
de Curaçá se reproduzisse, como fazem as ararinhas-azuis em gaiolas mundo afora
– atualmente são 66. Mas há dez anos ele arrumou uma companheira verde, uma
fêmea da espécie maracanã (parecida com
um papagaio), com quem nunca terá filhotinhos. Os cientistas tentaram, seis
anos atrás, apresentar-lhe uma pretendente da mesma espécie, que havia
aprendido a viver fora das grades. Eles sabiam que as ararinhas-azuis costumam
ser fiéis a um só companheiro, mas arriscaram. As duas passaram um mês juntas,
mesmo com uma relação a três com a maracanã, mas a ararinha recém-chegada
desapareceu – dizem que bateu num fio de alta tensão e morreu.
Como desconhecem que dois animais
diferentes não podem ter filhos, o casal continua tentando: a maracanã bota
ovinhos quando chega o período reprodutivo, entre novembro e março, tenta
chocá-los pelos 21 sias necessários e... Nada! Percebendo isto a bióloga
paulista Yara de Melo Barros, 34 anos, que coordena o trabalho de campo do
Projeto Ararinha-Azul, vai tentar “enganar” o casal. A idéia é pegar os ovos de
outras ararinhas-azuis de cativeiro e trocá-los no ninho, pelos da maracanã. A
esperança surgiu porque, em outubro, o único casal brasileiro em gaiola (os
outros estão nas Filipinas, na Suíça e na Espanha), que vive no Recife
(Pernambuco), mostrou-se saudável ao ter seus dois primeiros filhotes. “É
preciso que os ciclos reprodutivos dos dois casais aconteçam ao mesmo tempo
para que os ovos sejam trocados”, explica Yara. Savbe-se que a última ararinha
e sua esposa criariam os filhotes do outro casal porque igual experiência já
foi feita há três anos usando dois ovos de maracanã. Depois de 54 dias no
ninho, os filhotes voaram junto com os pais adotivos durante 110 dias e
ganharam liberdade.
A outra alternativa anti extinção
é igualmente delicada. No próximo ano, cinco ararinhas-azuis com um ano de
idade, nascidas no cativeiro do criador Anbtonio de Dios, virão das Filipinas
aprender a viver com o macho de Curaçá. Nesse encontro o objetivo não será a
reprodução, já que o brasileiro, de 19 anos, é muito mais velho. A intenção é
que elas se adaptem por um ano – desenvolvendo, por exemplo, a musculatura de
voo – para ganhar a liberdade e formar um bando. Da mesma forma que já foi
experimentado com nove maracanãs – e sete sobreviveram – as ararinhas
aprenderão com a selvagem macetes da vida fora das grades: evitar inimigos
predadores, reconhecer alimentação silvestre, pernoitar em lugares seguros – a última
ararinha-azul, por exemplo, dorme sobre um cacto. “Aproveitando o conhecimento
do animal livre, que é quem detém a memória da espécie, eles poderão viver na
caatinga, reproduzir e dar continuidade à espécie”, diz Yara Barros Tomara.
Revista
Terra, São Paulo, ano 9, nº 11, novembro/2000
EXTINÇÃO
TÉCNICOS
DO IBAMA VÃO AO SERTÃO PROCURAR A ARARINHA DESAPARECIDA
CURAÇÁ (BA) – Uma equipe de
quinze técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) se encontra neste Município do Sertão da Bahia
tentando encontrar o último exemplar da ararinha-azul. Que desapareceu desde o
início do mês de outubro da região. A ave estava sendo monitorada por um comitê
de recuperação, com apoio de moradores, e pode ter voado, sem que a comunidade
percebesse, para outras regiões vizinhas, embora ele seja fiel ao seu habitat,
segundo explicou a coordenadora do Comitê de Recuperação da Ararinha-Azul,
pesquisadora Yara Melo Barros.
De acordo com a pesquisadora, é
importante que a ararinha seja localizada o mais breve possível, porque é a
única da espécie que pode fornecer dados sobre a vida selvagem, um dos pontos
essenciais para o projeto de inserção na vida natural dos animais que estão em
cativeiro. “Desde a fuga da ararinha-azul, estamos mantendo contatos com as
comunidades vizinhas para agilizar a procura”, disse Yara Barros. Ela ainda
receia que a espécie tenha sido atacada por gaviões.
CATIVEIRO – A pesquisadora
explicou que atualmente existem 66 aves da espécie em todo o mundo, das quais
apenas seis estão no Brasil, vivendo em cativeiro. A coordenadora do Comitê de
Recuperação da Ararinha-Azul enfatizou que, nessa época do ano, a ave costuma
voar para outros pontos, por conta do término da seca, mas normalmente não
passa mais de quinze dias distante. Não há contato com a ave há 58 dias. Essa
demora começa a trazer preocupação para os membros do Comitê, que temem a
possibilidade de que ela tenha sido capturada por algum caçador desinformado ou
vítima de algum predador. Na maior parte do Vale do São Francisco, sobretudo
Petrolina, ainda há inúmeras feiras populares em que é comum a venda
clandestina de pássaros, mas até ontem nenhuma denúncia ou flagrante de
polícia, que também já foi acionada para ajudar no caso, chegou a ser
registrada pelo IBAMA. Dependendo do avanço dos trabalhos da equipe técnica,
antes mesmo do final deste mês, deverá ser dado um parecer final sobre o
destino da ararinha-azul.
Jornal do
Commercio, Recife, 02/12/2000
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS
ARARAS AZUIS DE LEAR
Uma das aves mais raras do mundo,
a arara-azul-de-lear recebe simplesmente também o nome de arara ou de
arara-azul-menor. Ameaçada de extinção, basicamente em função de sua captura e
comércio ilegal e também pela perda de seu habitat, hoje a população desta
espécie está restrita a cerca de 600 indivíduos. Ao contrário do exemplar
grande, a sua plumagem é menos brilhante e a mancha amarela que ambas têm junto
aos bicos é maior na azul-de-lear. Mede entre 71 a 75 centímetros de
comprimento e pesa 940 gramas.
Em geral, com a chegada das
chuvas no final de ano, é quando começa a época reprodutiva. Neste período, o
casal se separa do bando. Cada casal permanece unido durante toda a vida.
A arara-azul-de-lear é conhecida
cientificamente desde 1858, quando foi descrita por Charles Lucien Bonaparte,
sobrinho de Napoleão, a partir de um exemplar no Museu de História Natural de
Paris, França. Aliás, seu nome deriva do sobrenome do poeta e ilustrador
britânico Edward Lear, que a desenhou. Somente um século depois seria
organizada uma expedição para traçar um mapa da distribuição da espécie, pelo
ornitólogo Helmut Sick, doutor em ciências naturais pela Universidade de
Berlim.
IBAMA
DEFINE ESTRATÉGIAS DE PROTEÇÃO PARA ARARAS-AZUIS DA BAHIA
O IBAMA reuniu nesta quinta-feira,
em Salvador (BA), todos os setores do Instituto envolvidos diretamente com a
proteção e conservação das araras-azuis-de-lear. A espécie é exclusiva do
sertão da Bahia e uma das mais ameaçadas de extinção do mundo. O objetivo do
encontro foi definir as estratégias de ação para os próximos anos de modo a
garantir a sobrevivência da espécie cuja principal ameaça é o tráfico de
animais silvestres.
Das araras-azuis-de-lear
(Anodorhyncgus leari), restam apenas cerca de 400 indivíduos livres na
natureza. As aves habitam a região dos municípios de Jeremoabo, Sento Sé e
Euclides da Cunha, na região nordeste do estado, no bioma da Caatinga.
Além de intensificar a
fiscalização na região durante os períodos críticos para as aves –
principalmente a época da reprodução das araras e os feriados prolongados, o IBAMA
também dotará a Estação Ecológica do Raso da Catarina de infra-estrutura para
manter equipes em tempo integral na área.
A estação abriga a maior parte
dos ninhos das araras na região. O Centro de Pesquisa, Manejo e Conservação de
Aves Silvestres – CEMAVE/ IBAMA já mantém em campo dois biólogos que executam o
trabalho de monitoramento, pesquisa e educação ambiental voltado para a
conservação das araras-azuis. As comunidades locais também estão se integrando
às ações do IBAMA e deverão ser um dos elementos fundamentais na preservação da
espécie.
As araras-azuis-de-lear são
consideradas criticamente ameaçadas de extinção, conforme a mais recente lista
de espécies em perigo publicada pelo IBAMA no início de junho. Isso significa
que requerem atenção especial para que não aconteça com elas o mesmo que
ocorreu à ararinha-azul (Cyanopsita spixii). Depois de anos sendo perseguida
pelos traficantes, a ararinha desapareceu da natureza e hoje sua população se
restringe a poucos exemplares em cativeiro. A ararinha-azul, que se tornou um
dos ícones da conservsação ambiental brasileira, também só existia na Bahia, na
região de Curaçá.
(Panorama ambiental, junho de
2003, do site Pick-upau:www.pick-upau.com.br/INFORMATIVO/30.06.2003/ibama_define.htm)
CONSTRUÇÃO DE LIVROS ILUSTRADOS PELOS ALUNOS
CARTAS AOS SERES HUMANOS DO PONTO DE VISTA DE UM ANIMAL COM PERIGO DE EXTINÇÃO
Na Sala de Informática, os alunos pesquisaram na Internet outros animais em extinção. Causas e consequências. E, principalmente, soluções.
ALGUNS ALUNOS FIZERAM POESIA CONCRETA
ARARAS EM LIBERDADE EM JALES E URÂNIA, SÃO PAULO
A arara-canindé, também conhecida como arara-de-barriga-amarela, arari, arara-amarela, arara-azul-e-amarela, araraí e canindé, é uma das mais conhecidas representantes do gênero Ara, sendo uma das espécies emblemáticas do cerrado brasileiro e importante para muitas comunidades indígenas. Em Urânia, aparecem aos montes e são cuidadas pela própria população.
EXEMPLO MÁXIMO DE CONVIVÊNCIA PACÍFICA COM AVES SILVESTRES
Uma arara-canindé surpreendeu o
agricultor Bruno Aparecido, de 23 anos, ao aceitar um morango, devorar a fruta
com o auxílio de uma das patas e ainda 'posar' para uma sessão de fotos.
Além das fotografias, o jovem
também aproveitou a cena curiosa para filmar a ave que estava em uma
propriedade rural localizada a um quilômetro do município de Urânia (SP). As
imagens foram postadas nas redes sociais e ganharam a web.
Ao G1, Bruno contou que a família
possuí uma plantação de morango há mais de 20 anos. Na manhã de terça-feira
(30), ele trabalhava no local quando viu a ave pousar na parte superior de um
cano de irrigação.
“Na mesma hora eu sai correndo
para pegar o celular. Ao me aproximar, ofereci um morango à arara. Me
surpreendeu o fato dela aceitar a fruta e não ter se assustado. Então, eu
resolvi começar a filmar”, afirma o agricultor. Bruno conta que é normal a
aparição de araras-canindé na propriedade, principalmente, nessa época do ano
em que as aves costumam voar até a região para se reproduzir. Contudo, ele
nunca tinha visto a ave se alimentar da fruta.
“Elas aparecem por aqui para
comer cocos e fazer ninhos nos coqueiros. Estamos acostumados com a presença
delas, mas nunca tinha presenciado uma cena igual a essa. A ave era muito
mansa”, conta o jovem.
Em Urânia, Marilene Pacheco Teubner, escritora, poetisa, ambientalista, imortasl na Academia de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, cuida de vários exemplares desta espécie, em liberdade total pelos muros das cidades próximas. Sem ajuda de ONGS, com seus próprios recursos, alimenta-os cotidianamente, duas vezes ao dia. As aves aparecem à hora certa espontaneamente em sua calçada, bem pertinho do portão. Lindo de se ver.
MAR(ILENE) DE URÂNIA
Ela tem na alma
As cores das araras
Que todos os dias
Pousam no seu quintal
Aquela mulher traz consigo
O azul brilhante do céu
O amarelo luminoso do sol
E os distribui em nossas vidas
Os seus sonhos
São sempre verdes
Feito os pequenos periquitos
Que lhe pousam quase nas mãos
Lança em nossas vidas a esperança
A lição de que não devemos parar
De que os sonhos são para
Serem perseguidos ou degustados...
Mário Feijó
23.07.13 — com Mário Feijó em Urânia
Foto de Marilene Pacheco
Em 2018 e 2019, participamos da FLIU em Urânia, festival literário e tivemos a oportunidade de conviver bem de perto com estas criaturinhas de Deus. Muita gratidão!
DE URÂNIA À RUBINÉIA A MARCA SÃO AS
ARARAS-CANINDÉ. TELEFONES PÚBLICOS, PONTOS DE ÔNIBUS, PRAÇAS SÃO ORNAMENTADAS
POR ESTES MASCOTES.
Rubinéia
é a última cidade do Estado de São Paulo. Na divisa já é Mato Grosso do Sul.
Na FLIU, voamos emoções...
Abrimos asas às utopias e voltamos repletas de realizações... Obrigada Marilene
Pacheco!
E assim de asas abertas seguimos
ao próximo pouso poético... Obrigada Liz Rabello por compartilhar momentos de
plantio no coração de nossas crianças e jovens Uranienses.
Marilene Teubner
UMA TRISTE NOTÍCIA EM AGOSTO DE 2020
AVANÇO DO FOGO AMEAÇA
SANTUÁRIO DE ARARAS AZUIS NO PANTANAL
O fogo que consome o
Pantanal desde julho avança e coloca em risco um dos maiores abrigos de araras
azuis do país.
Cerca de 700 animais hoje
usam as árvores espalhadas pela fazenda São Francisco de Perigara, no município
de Barão de Melgaço, no Mato Grosso, como refúgio.
Ensino Fundamental, 5ª Série - Sistema Anglo de Ensino, páginas 35, 36, 37
PEDAGOGIA DA LIBERTAÇÃO
Ensinamos nossos filhos e alunos a serem CIDADÃOS mesmo antes de nascerem. Nossas memórias nos fazem agir e mediar fatos atuais. Somos o que fazemos e não o que ensinamos.
O ano de 1987 foi marcado por uma dura travessia em minha vida profissional., pois o então prefeito da cidade de São Paulo, Jânio Quadros, adotou posturas autoritárias em diversas situações. Seu governo foi marcado por insatisfações de vários setores do funcionalismo público, materializadas através de greves e protestos nas proximidades de seu gabinete, aos quais quase sempre respondia com demissões em massa, não sem antes agredir aos manifestantes com o desvio de função e auxílio da Guarda Civil Metropolitana, criada por ele, para atender aos anseios de segurança da população da cidade de São Paulo.
Trabalhava em duas escolas onde a maioria dos professores eram Comissionados, sem direitos legítimos de luta salarial, sem sequer possuírem um vínculo empregatício de ordem operacional, que lhes permitissem participação em lutas sindicais. Aliás, nem sequer possuíamos um Sindicato, que nos representasse enquanto categoria. O que tínhamos era apenas uma Associação de Professores do Ensino Municipal. Só bem depois dos fatos que pretendo narrar é que o SINPEEM foi criado, ao mesmo tempo em que a Constituição de 1988 deu ao trabalhador brasileiro o legítimo direito de lutar em greve por melhores condições de trabalho e salário.
Iniciamos o fatídico ano de 87 com as escolas da rede pública deterioradas, carteiras e vidros quebrados, salários muito aquém da inflação galopante que já estava em vigor na sociedade civil brasileira. Um descontentamento crescente, de ordem moral e financeiro tomava conta de todos os profissionais da Educação Municipal de SP. A greve foi unânime, com adesão voluntária. O prefeito encontrava-se em viagem naquele final de Março e início de Abril. Voltou pouco antes do feriado de Tiradentes e determinou a todos os diretores que enviassem a lista dos grevistas. Obedecida a ordem, o resultado foi terrível! Professores com mais de dez anos, vinte anos de carreira, na rua, sem direito a nada. Alguns foram proibidos até mesmo de entrar nas escolas que foram seu lar e seu recanto de amor à profissão até o dia 21 de Abril.
Não fui mandada embora de imediato, porque era concursada, em ambos os cargos, que possuía na rede. Mas meu nome pairava no meio daqueles que seriam indiciados em processo administrativo. Muito embora recebesse recadinhos costumeiros escritos pelo próprio prefeito e publicados em Diário Oficial, através da Assessoria de Imprensa do ditador mor do país de que seria também mandada embora da rede, as tramitações em juízo seguiram até meados de 88. Era uma nuvem negra em minha vida, uma fumaça me avisando do perigo. Quando recebi o aviso de que deveria comparecer ao setor de processos em andamento para constituir defesa com advogado da própria prefeitura, entrei em pânico. Viúva há pouco tempo, com filhos pequenos, pós graduação em andamento, não poderia sequer cogitar de ficar desempregada. O recado chegou às dez e meia da manhã. Não consegui mais dar aulas aos meus pequeninos da primeira série, nem despedir-me deles com o habitual e afetuoso abraço e beijinho no rosto. Chorei muito, convulsivamente! Colegas me substituíram na sala de aula enquanto outros tentaram me acalmar.
Era ainda um tempo de maior paz do que agora, que a gente conseguia andar pelas ruas do bairro da Lapa e se distrair com vitrines, comer um delicioso salgadinho na Pastelaria de esquina da Doze de Outubro, ir ao Mercado Municipal comprar balinhas de côco. Foi o que fiz, sem avisar ninguém.
Cheguei em casa pouco depois das três. Parentes me aguardavam no portão, primeiro perguntaram-me se sabia de minha mãe. Onde estava e com quem. Ninguém a encontrava. Depois veio a notícia: sua mãe faleceu! Dirigi feito louca para a Casa Verde. E qual não foi minha surpresa quando encontrei minha mãe muito viva, dando muitas risadas no portão com amigas, voltando de um passeio que fizera. Nada disse a ela sobre a notícia falsa, mas corri até o telefone mais próximo para ligar aos meus tios avisando da não morte da viva.
Dia seguinte, na escola, apurando os fatos, chegamos à conclusão que o boato saíra de minha própria sala de aula. Uma menininha quietinha, linda, espalhara a notícia falsa. Ao conversar com ela, descobri o que a motivara: “Ninguém chora daquele jeito que você chorou a não ser que a mãe morreu!” – Sábias palavras, que me fizeram rir muito, ao mesmo tempo em que aprendi a valorizar o que realmente tem valor.
Fui várias vezes depôr em juízo sobre o caso da greve. Provas e testemunhas foram anexadas ao processo e ele estava em andamento, quando a nova Constituição foi assinada e por ela, a greve sancionada como direito legítimo do trabalhador. É claro, sem nenhum amparo legal, fui absolvida. Consta em minha carreira um processo. É este! E tenho muito orgulho de ter lutado para conquistar o que tenho hoje!
Jânio Quadros pendurou as chuteiras. Dizem que tinha literalmente chuteiras penduradas em seu gabinete para evidenciar este desejo. Mas o real é que a vitória de Erundina do Partido do Trabalhador, no pleito deste mesmo ano configurou-se como uma dura derrota para Jânio Quadros, pois a mesma foi eleita amparada quase que exclusivamente por uma plataforma de esquerda antijanista. Para nós da rede pública anos dourados iniciaram. Seu primeiro ato foi a aquisição de volta de todos os comissionados que haviam sido demitidos pelo governo anterior e a anistia geral a todos os que sofriam o Inquérito Administrativo.
Como Secretário da Educação Paulo Freire, com a Ideologia do diálogo, Pedagogia da Libertação, Escola Feliz, onde o Professor fosse o mediador do saber. Era tudo o que eu precisava para crescer enquanto profissional. Nenhum outro governo foi tão bom quanto aquele para a educação do município de São Paulo.
Liz Rabello
ORELHAS E PREFÁCIOS DE OUTROS LIVROS
PREFÁCIO PARA "BRAÇOS ENTRELAÇADOS" DE SANDRA RIBEIRO
Sandra Ribeiro passeia pela
poesia. Conceitualiza-a. Caminha por seu processo histórico na sociedade
ocidental, desde a Antiguidade , Idade Média, Idade Moderna até a Idade Contemporânea.
Ressalta que a poesia desde os primeiros tempos, acompanhada por lira ou flauta
foi declamada ou cantada. À medida em que foram escritas sem pensar nos
instrumentos, a musicalidade foi alcançada pelo uso das palavras.
Sandra nos surpreende com um
poema de sua autoria quando inicia a contextualização histórica da poesia
brasileira. Viaja pela obra de grandes nomes da literatura nacional, oferecendo
ao leitor exemplos típicos de cada fase, rigorosamente escolhidos entre os
melhores poemas de cada escritor. Do soneto formal à poesia social de Ferreira
Gullar, o grito se faz ouvir, porque o poema está fechado: Não há vagas!
Elabora uma rica exploração sobre
a poesia infantil desde os tempos iniciais da virtude e do ensinamento de educação
moral e cívica, quebrada por Cecília Meirelles e Vinicius de Moraes, que inovam
com a criação respeitando a perspectiva da criança, a temática do cotidiano, as
figuras de linguagem, jogos sonoros e trocadilhos, diálogo com o leitor
infantil e, especialmente, o paradigma lúdico.
Após este passeio histórico, a
autora nos apresenta sua premissa: O que pensa a criança sobre a poesia? Como
ela a recebe? Para desvendar estas indagações pula para dentro dos muros da
escola e ressalta o valor da contribuição do profissional professor, que tem o
conhecimento pedagógico e do poeta que tem o saber relacionado à sensibilidade,
ao lúdico, à musicalidade que pode transmitir à criança e criar o jogo decisivo
do gosto pela poesia.
Mágico e poético é o encontro da
escritora com uma criança de três anos que lhe faz uma proposta de ser ela a
professora e a aluna, a pesquisadora. Ao interpretar o poema Borboletas de
Vinicius de Moraes, desvenda aquilo que o adulto já não vê.
E foi no jogo das aulas repletas
de magia e fantasia, onde não existem regras que a imaginação das crianças flui
e de repente começaram a surgir várias rimas, brincadeiras e criação de novas
palavras.
A leitura deste livro é adequada
aos professores em formação pedagógica, aos poetas, aos pais, educadores e,
principalmente aos que, como eu, professora alfabetizadora, sempre se apaixonou
pela arte de explorar a palavra em suas nuances, cores, significados e valores.
O livro é um convite aos leitores
para unir braços entrelaçados entre a criança, a poesia e a escola num ambiente
lúdico e feliz.
Liz Rabello
Poetisa
Alfabetizadora
Professora de Ensino
Fundamental II Português
ORELHA PARA CARTAS E SILÊNCIOS [ Policromia ]
CARTAS E SILÊNCIOS [ Policromia ]
Tem duas vertentes, que paralelamente caminham em direção ao mar, onde juntam suas águas doces para se transformar em vastidão salina.
Na primeira vertente a poética de Maria Lúcia López é um pote de ouro. Dentro dele, águas transparentes em busca de essências. Tece acasos em redes luminosas de esperanças. Faz de seu nordestinado destino a brevidade de todos os atalhos. Idealiza o bailado das chuvas por sobre as caatingas. Em seus sonhos volta a ser uma menina, vendo a chuva cristalina cair sobre o sertão, onde jamais a viu cair. Chega a sonhar com um arco-íris de cores tímidas. Junto ao pé de cajueiro, consegue sentir a alegria dos maturis. Em suas fábricas de sonhos pingam nascentes. Em seu anoitecer colhe acasos de luas derramadas sobre estrelas. Em seu amanhecer de luzes, sementes são plantadas ao sol. Nas madrugadas, caminha de pés descalços em gramas molhadas, onde corpos se entrelaçam e se rompem. Perde-se e já não sabe nem quem é, pois se transforma na esperança do amor, que vai chegar. A porta estará sempre aberta para a felicidade que há de voltar. A fresta por onde a danada escapou está mais larga, mas ainda tem nas mãos estrelinhas para serem jogadas ao mar.
Na segunda vertente, a poesia de Deolinda Nunes traz a presença da dor no fundo do tacho, como sobras de doce que desandou. Mas existe a contrapartida, sementes de sol, resistências. Sua poética nos permite atravessar oceanos a nado curto. Em seus versos, os paradoxos se atraem. Com um olho despenca da montanha, com o outro escala o abismo, porta entreaberta, areia movediça. Traz o recomeço do cessar bombas a reconstrução. Traz a espera, o plantio. Quando for a hora, a certeza da colheita que sempre virá. Pressente cartas em meio à distância, que sabe, jamais chegarão, embora sinta o aroma de cada uma, lê silêncios, pensamentos, arremessados ao tempo corrediço. E mesmo não sendo ciclos infinitos, busca ser o encontro do rio com o mar, do doce e do sal, incertezas tão certas, pulsando ao leste antes do nascer do sol. Agradece aos bons ventos, que vieram impulsionando as asas dos dias.
Eis as duas vertentes, as duas poéticas e nelas o ponto de encontro. Os rios que seguiam paralelamente, de repente, juntam suas forças e se jogam ao mar.
Liz Rabello
Um livro maravilhoso de Thompson Otávio, um jovem talentoso de Sorocaba, que eu tive a honra de prefaciar. Obrigada ao destino que fez com que eu o conhecesse.
PREFÁCIO
Não por acaso, o título do
primeiro livro deste jovem escritor, Thompson Otávio: “Para Fechar com Chave de
Ouro o meu coração” é uma promessa de grande futuro literário.
Lendo seus poemas, viajo em seus
versos e rimas, por portas fechadas, à procura de chaves, que possam abri-las.
De coração bondoso, seu eu poético oferece o próprio coração para secar gotas
de lágrimas.
Como um vício, tudo se repete,
ausência da mulher amada, sua falta, o abrir os olhos e despertar pela manhã
sem a presença sonhada, sem a chave da felicidade. Mesmo assim, sorri, porque
“chorar é para quem tem tempo” e este jovem escritor, cria um eu poético
alegre, que sorri, apesar de tudo, pois sem a chave da felicidade, “não tinha
nada a se fazer se não viver.”
Outras tantas vezes revolta-se
contra este ser amado ausente: “E se fosses feita de papel, te cortava em
pedaços, e jogava fora, te tacaria fogo...”
Mas como ela é feita de carne, resolve “cortar as cartas, as fotos, tudo
que um dia foi ela...” O mais estranho é que este jovem escritor, escreve como
se fosse do século passado. Vemos em seus poemas, lareiras queimando cartas e
fotos em cinzas rodopiando ao vento. Para alguém tão jovem, rodeado de
tecnologia, não existe em seus poemas palavras atuais, como blog, e-mail,
selfies... O amor é à moda antiga,
mágico, vivido em algum lugar do passado.
Por vezes, viajei entre a
possibilidade de ser real ou imaginário o sofrimento, ser cacos de vidro ou
fortalezas, sobreviventes de temporais, que nos deixa a sensação de que é bom
colorir o mundo, usando aquela caneta essencial: “com tinta prestes a acabar,
que escreve só o que importa, para poder mais tempo durar...”
Quando o livro chega ao fim, a
mim ficou uma resposta: De que a chave, que tanto o eu poético procura, está
nestes versos: “Não fui ninguém, por um só momento, e sim alguém, à procura de
pessoas para amar...”, ou nesta indagação: “E se durante toda a sua vida, com o
amor desencontrar? De repente olhar nos olhos, e não notar que não existe
conexão que o faça se lembrar de um amor que nunca viu.” Em outros versos, no
entanto, se contradiz: “Contudo é impossível, deixar de amar. Há quem diga que
o coração quebrou e não exista ninguém que possa consertar. Há quem diga que já
amou e vai ser impossível mais uma vez tentar...”
Desejo a todos uma excelente
leitura e um desejo luminoso: “Encontrem a chave!”
Liz Rabello
Escritora, Professora de
Português, Pós-Graduada em Comunicação e Semiótica, dez livros solo publicados,
imortal em três Academias: ALPAS/RGS e ANLPPB/Campinas/ SP e Academia de Letras
dos Professores da cidade de São Paulo.
ENSAIOS
JULGAR SEM SABER
Eu o conheci num encontro de professores. Sem querer fui parar no grupo em que estava. Logo de cara senti grande admiração. Além de ser um homem muito bonito era líder nato, inteligência, discernimento, um charme! Quando consegui por acesso e concurso um cargo de Coordenadora Pedagógica tive a alegre surpresa de reencontrá-lo. Era meu subordinado. Menos de dois anos depois, levei meu segundo cargo de Professora de Português para a mesma escola e passei a ser Orientadora da Sala de Leitura. Nós nos tornamos amigos de fato, pois que agora éramos companheiros de ideais pedagógicos. Tínhamos um projeto “INTERDISCIPLINARIDADE”. Todos os professores trabalhavam juntos irmanados na educação dos alunos de forma integral e duradoura. Tenho orgulho desta época, pois vários deles são hoje médicos, dentistas, advogados, professores, trabalhadores em diversas profissões. Excelente professor era muito amado pelos alunos e por todos os pares. Mas era frequente seus atrasos para a primeira aula. Sempre a mesma desculpa: Exame de sangue num mesmo laboratório. A Direção deu sinal de alerta. Chamou sua atenção ao caso. Ao que ele não se defendeu. A irmã da Diretora o acudiu. – “Sabe-se lá os motivos destes exames frequentes. Não podemos julgar sem saber.” Faltas começaram a ser frequentes. Um dia o professor desmaiou em sala de aula. Escorria suor pelo seu corpo. Começou a definhar. Emagreceu consideravelmente. E sua pele não tinha mais brilho. Diagnóstico: Leucemia. Foi o que nos falou a portas fechadas. Um dia, horário de lanche para todos, ele me ofereceu um pãozinho doce, após observar meu olhar pedinte. Aceitei não o que estava no pacote fechado, mas o que tinha nas mãos. Este ele não quis me dar. Ao me negar, advertiu-me: “Não quero que ninguém fique doente por minha causa” – E eu retruquei: “Meu querido, ninguém pega leucemia”. Já era fim de ano, chamou-me à parte. Avisou-me que não voltaria em fevereiro do ano seguinte, precisava fazer um tratamento mais poderoso. Quimioterapia. Fiquei triste demais. Realmente não voltou, aliás, nunca mais voltou! E eu poderia ter ficado sem mágoas, tão envergonhada de mim mesma se não tivesse numa conversa em grupo, na presença dele, soltado a bomba: “AIDS é uma doença voluntária de pessoas "PROMÍSCUAS", que fazem parte de grupo de risco”. Ainda não acredito que um dia fui capaz de pensar assim. Em abril do ano seguinte, o professor morreu. Caixão lacrado. E foi a primeira vez que perdi alguém próximo para essa doença. Até então pouco se sabia sobre AIDS, que nos anos oitenta e noventa foi o terror dos nossos dias. Após a morte de Cazuza, Lauro Corona e de outros famosos: Fred Mercury, Rock Hudson, o governo brasileiro passou a fazer parte de um programa de defesa. Anos Lula foram piedosos para o avanço da luta contra AIDS e tratamento preventivo aos que são soro positivo. Coquetéis de remédios diários são oferecidos pelo governo a todos os que fazem parte do Programa. Camisinhas em épocas de carnaval, festas de finais de ano, em espaços públicos, grupos de riscos, principalmente pessoas que se drogam. Vejo com ressentimentos o que estou lendo sobre o que o Ministério da Família do governo Bolsonaro pensa e ilude os evangélicos com mentiras e preconceitos, que eu imaginava tinham sido erradicados do meu país e que todos tinham adquirido informações e crescido como eu cresci.
Liz Rabello
O Brasil completa 30 anos de luta
contra o HIV no dia primeiro de dezembro com o país sendo referência mundial no
tratamento da doença. De acordo com o Boletim Epidemiológico de 2018, em 2012,
a taxa de detecção de Aids era de 21,7 casos por cada 100 mil habitantes e em
2017 o número caiu para 18,3. Também houve queda de 16,5% na taxa de
mortalidade pela doença entre 2014 e 2017. O resultado se deve, principalmente,
ao fato de o Brasil ter sido um dos primeiros países a incorporar a medicação
desde que foram descobertos os chamados medicamentos antirretrovirais, em 1995.
É o que conta o médico infectologista Gerson Salvador. “Um ano após a divulgação, a
terapia antiviral combinada de alta potência já estava disponível no SUS. Isso
é absolutamente incomum. O Brasil foi, de fato, um país pioneiro na oferta de
tratamento com antirretrovirais para quem vive com HIV e AIDS”.
No entanto, o congelamento de
investimentos na saúde com a PEC 95 coloca em xeque um dos programas de combate
a AIDS mais eficazes do mundo. O vice-presidente da Associação Brasileira
Interdisciplinar de AIDS (ABIA), Veriano Terto, explica que a excelente atuação
brasileira no combate à AIDS se deve, principalmente, à existência de um
sistema de saúde público e único no Brasil. Ele afirma que o programa de
distribuição de medicamentos só foi possível por conta do princípio de
universalidade e equidade no qual o SUS se baseia.
Ele aponta ainda que os cortes em
áreas como educação e pesquisa são preocupantes e podem inviabilizar a resposta
brasileira no combate ao vírus HIV. “A gente precisa estar incorporando
inovação, ou seja, precisamos não só manter as compras de medicamentos como
precisamos incorporar novos medicamentos para conseguir sustentar essa
resposta”.
A AIDS ainda não tem cura, mas o
tratamento disponibilizado pelo SUS ajuda a diminuir a carga viral do HIV no
sangue. Salvador, que também faz parte do Sindicado dos Médicos de São Paulo,
conta que no surgimento da AIDS, na década de 80, o índice de letalidade era de
100%. O médico ainda explica que com o tratamento brasileiro o material
genético do HIV fica tão pouco no sangue que algumas pessoas chegam a não
transmitir mais a doença. Ou seja, tratar o soropositivo também é uma forma de
prevenir que a AIDS se espalhe.
Neste sentido, as declarações de
Bolsonaro que indicam que o SUS não deveria se responsabilizar pelo tratamento
da AIDS, tratando de forma pejorativa quem é infectado pela doença, preocupam o
médico. O Ministro da Saúde indicado pelo futuro presidente também fez
declarações polêmicas e causou apreensão entre soropositivos, especialistas e
ativistas da área. A Comissão Nacional das Infecções Sexualmente
Transmissíveis, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais (CNAIDS) lançou um manifesto
no último dia 16.
Para Terto, que também é doutor
em Saúde Coletiva, o contexto e os discursos conservadores do novo governo
significam retrocessos e obstáculos imensos no tratamento e combate a AIDS no
Brasil. “A gente enfrenta prevenindo, com
informação científica, com informação adequada e com posições de solidariedade
com essas populações, não é condenando. Afinal, a sexualidade é condenada por
religiões há mais de 2 mil anos e nem por isso as pessoas deixam de transar e
ter uma vida sexual”.
QUEM FOI MINHA AMIGA SECRETA? Minha amiga secreta é Ela, sim, é Ela... Me enlouquece pelo que sente Me liberta pelo que inventa Bebe o líquido do poeta Sua baba, sua chama Relaxa nos braços dos Deuses Amigos de sempre e pra sempre E é no meio deles que se humaniza Que se sente mais gente Não é só politicamente correta Tem e vive ideologia de esquerda Desde 1987 já publica textos com fundo utópico e político pois em tempos de tamanha perplexidade Mariposas voam A febre vicia E a necessidade de união e utopia transborda... Estou contigo e não abro minha querida xará Beth Brait Alvim Liz Rabello
Eis que somos semelhantes no gosto literário. Marquei a página 176 para você ler, porque me arrepiou... Nas palavras de Mia Couto invenção do passado, real no presente:
"Fomos avisados nós, os negros: estamos interditos de sair do navio. Esta é a regra na Cidade do Cabo. Permite o comandante que ocupemos o convés e nos deleitemos a observar a permanente azáfama de cargas e descargas que reina no cais. Os prisioneiros apontam para as maquinarias do porto à procura de nomes que não existem nas suas línguas. Depois riem-se, divertidos, por verem tantos mulatos carregando pesados fardos. Não são como os mestiços da nossa terra, que se mantêm afastados do trabalho penoso.E riem-se os meus irmãos destes mestiços, que transpiram como mineiros escavando no chão do inferno. Só eu não me rio. E penso no meu futuro filho. Será um eterno estivador carregando o peso da sua própria pele."
(Mia Couto, In As Areias do Imperador 3/ O Bebedor de Horizontes, Companhia das Letras,2017)
Mia Couto, escritor moçambicano notável por sua prosa poética, cuja força das palavras faz ressurgir em nós o ímpeto de sonhar, iniciou, no ano de 2015, um audacioso projeto. Trata-se da trilogia “As Areias do Imperador”. Naquele ano, o primeiro volume, no Brasil denominado “Mulheres de Cinzas”, teve grande aceitação do público e da crítica, sendo, inclusive, indicado como um dos finalistas do Prêmio São Paulo 2016. O livro narra os derradeiros dias do chamado “Estado de Gaza”, o segundo maior império da África dirigido por um africano. E o segundo volume, “Sobras da Água”, chega agora, com lançamentos no Rio e em São Paulo, com a presença do autor. Antes de lançar o primeiro livro da trilogia, Mia Couto respondeu-nos algumas questões muito pertinentes acerca do seu trabalho e do livro em si mesmo.
A história da terceira obra gira em torno da prisão, em 1895, de Ngugunhane, último imperador do Império de Gaza, parte de Moçambique e, na altura, bastião da resistência à presença colonial portuguesa. "Estou a fingir que estou a falar de outras pessoas que já não estão connosco, mas estou a falar de nós próprios. Estou a mentir a dizer que estou a falar do passado, mas estou a falar do presente. É isso que me interessa e foi isso que me entusiasmou a escrever este livro", referiu. O livro revela as "falsas diferenças" que dividem os moçambicanos e que hoje "se colocam mais uma vez na história de Moçambique". Mia Couto considera que a literatura tem o poder de mostrar que as diferenças "são simplesmente superficiais ou circunstanciais". "Não existe uma coisa chamada brancos, negros" ou outras divisões étnicas, "são construções históricas sempre chamadas à pedra quando se trata de fabricar conflitos, fabricar ódios, de sugerir que o caminho não é o diálogo, mas o confronto", sublinhou.
Sombras da água retoma a história
de Mulheres de cinzas, romance histórico encenado à época em que o sul de
Moçambique era governado por Ngungunyane, o último grande líder do Estado de
Gaza, em fins do século xix. Ferido, o sargento português Germano de Melo é
levado ao único hospital de Gaza, sob os cuidados de Imani, sua amada e
responsável pelo tiro que lhe esfacelou as mãos, do pai e do irmão da garota
africana e de uma amiga italiana. Nesta jornada, eles encontrarão outros
percalços e personagens memoráveis - característicos das obras de Mia Couto.
Alternando as vozes de Imani e Germano, o escritor apresenta duas visões de
mundo diferentes, porém inevitavelmente envolvidas nesta trama.
Mulheres de cinzas tem como pano de fundo a guerra civil-colonial de Portugal e África que, como toda guerra, impõe fronteiras. Sobre a obra, são muitas as fronteiras transpostas até aqui (lembrando que ainda há o restante da trilogia para ser lida), mas vale “demarcar o território não demarcado” da alma feminina e de tudo aquilo que ela pode transpor no mundo. Trata-se de um único ventre, como diz o autor na narrativa, o ventre da mulher e o ventre do mundo. Narrativa dupla, como só Mia Couto sabe fazer tão bem, alternada entre a voz de uma mulher (Imani, africana) e a de um homem (Germano, português), ambas as vozes apenas dizem, cada uma presa à sua fronteira, o movimento de mundo que as mãos e o espírito feminino nos oferecem. A primeira superação é a fronteira do corpo: a mulher que supera a opressão que pode significar estar presa a um corpo feminino em uma cultura onde esse corpo pode trazer mais privações do que liberdade. A vontade de ser pó, a vontade de virar cinzas e “desobrigada de ter memória” poderia significar a felicidade momentânea. Superar a imposição que se põe ao corpo feminino é a primeira singeleza. Depois, a superação de raças: o branco que se apaixona pela negra africana, o soldado português que se apaixona pela jovem aldeã. O amor que não se rende às fronteiras, sejam elas geográficas, de raças ou de guerras. A superação da morte: os mortos que não morrem. Essa contextualização da cultura moçambicana, em que o respeito pelos mortos como se ainda estivessem vivos e como se ainda conversassem com os que ficaram, retirando da morte o peso sepulcral e deprimente que adquiriu ocidentalizada, ainda que com nuances de conforto e esperanças religiosas. Porque os mortos simplesmente “viram sementes”, que irão germinar grandes árvores e se tornam um com a terra.
Por fim, a superação da ideia de que a memória deixada de lado conscientemente não significa esquecer o que não deve ser esquecido, e sim esquecer para recomeçar. Em Mulheres de cinzas, as mulheres sem nomes que se desfazem com o pó são chamadas a ganhar corpo em todas as raças, cores e lugares, podendo ser eu, você e quem mais quiser refazer o mundo a partir do pó a que as tantas guerras, armadas ou não, reduzem o ser humano.
A classe dominante com aval da mídia, dos golpistas e do
Judiciário mantém Lula preso sob a insígnia de que é o maior chefe de quadrilha
de todos os tempos, de que é um verdadeiro corrupto. Correto. Concordo.
Realmente Lula roubou dos mais ricos e distribuiu aos
pobres, aos menos favorecidos. Sua lista de feitos, durante seu governo, que o
legitimizou na reeleição com mais de oitenta por cento dos votos é imensa.
Não há como refutar seu valor histórico. Não há como não
aplaudir o que vivemos nos últimos vinte anos, comparando anos anteriores e
agora os dois da era pós golpe, cujas leis assinadas por Aécio, Bolsonaro
e companhia demonstram claramente quem é a favor ou contra o povo.
Não se iluda... Lula não está preso por corrupção contra os
cofres públicos. Está preso por não atender aos desejos de continuidade do
sistema de valorização do dinheiro concentrado numa minoria de mais ricos em
detrimento de uma maioria entre os mais pobres.
Liz Rabello
Quando Luísa Erundina foi eleita para prefeita de SP, era
impossível ganhar do Jânio Quadros. Ela ganhou. Quando estávamos há dois anos
apenas lutando contra o Pinóquio e suas mentiras era impossível premeditar
apenas 4% de votos pra ele. Quando o Doria ganhou não foi de verdade, foi um
olhar errado do povo que se absteve e não saiu do muro. Por esta razão tenho pavor ao voto em
branco, porque aqui em Sampa, Dória se elegeu prefeito em primeiro turno com
menos de um terço dos eleitores, por conta dos votos válidos. Estamos no mesmo impasse:
39 milhões de abstenção, branco ou nulo
31 milhões Haddad
27 milhões outros candidatos
97 milhões não apostaram no fascismo
49 milhões apostaram
Somos maioria. Tenham esperança.
Liz Rabello
Vamos lutar. Vamos lutar até a vitória. Você conseguiria
imaginar 11 candidatos do PSOL eleito? 55 do PT? Se olharmos por este prisma,
vencemos esta eleição.
Mas se virarmos a página, nós a perdemos de antemão. Como
poderíamos prever tanta gente saindo do armário e demonstrando tanto caráter
sórdido, preconceitos de todos os tipos, contra gays, negros, pobres em geral.
Xenofobia e volta do velho desejo de separação. Estamos diante de uma guerra
civil.
"Apertar 13 na urna no segundo turno não vai fazer de
vocês petistas, do mesmo jeito que apertar 45 e votar no Anastasia não vai
fazer de mim tucana. A nossa questão agora é combater o fascismo, então a gente
vai ter que votar e depois vai fazer oposição. Tá tudo bem. Voto não serve pra
gente se orgulhar dele, serve pra tentar melhorar as coisas. Ou fazê-las menos
piores. Quem gosta dos direitos humanos, quem tem uma pessoa LGBT na família,
quem não quer ter medo de sair na rua, porque a pessoa do carro do lado vai
estar armada, quem não concorda com a alíquota única de 20% no Imposto de
Renda, que vai sobrecarregar pobres e classe média, quem acredita nos direitos
das pessoas com deficiência, quem acha absurdas as ameaças de intervenção
militar do Mourão, quem não quer colocar no poder alguém que defende
torturador, vai ter que se unir e votar 13. Só assim vocês têm a garantia de
que vão poder fazer oposição democrática ao governo eleito."
Julia Lery
Decidir por #elenão e muito maior do que questões
partidárias. É uma luta contra o fascismo e tudo que vem em decorrência dele.
Votaria em qualquer candidato para não permitir essa aberração no poder.
Analice Campos
JAIR BOLSONARO ESTAVA NESTE BANQUETE E VOTOU A FAVOR DA PEC
241
Aquela que congelou por vinte anos subsídios para Educação, Saúde e
Cultura.
Brasil - (O banquete dos ratos!)
"Não me convidaram
Pra essa festa "pobre" (podre)
Que os homens armaram pra me convencer (aos coxas CBFs)
A pagar sem ver
Toda essa droga
Que já vem malhada antes de eu nascer"
Não vote em branco, não anule seu voto. Escolha! Participe
desta luta. A participação nos atos de reivindicação de nossos direitos faz com
que a gente tenha olhos abertos para o lado certo da História: O lado dos
oprimidos.
Liz Rabello
REFLETINDO COM MEUS
BOTÕES
“No Brasil, artistas pensam que
são pessoas importantes... Já precisei de médico, já precisei de professores,
preciso de agricultores todos os dias, já precisei de mecânico, encanador,
pedreiro e de muitas outras pessoas...
Mas eu nunca precisei de um artista!” (autor desconhecido)
Será? Pense comigo: Um professor
para ser um dos bons, precisa fazer nascer a criança que há dentro de cada um
de nós. Ter bom humor, ser capaz de ressuscitar o amor a cada pétala que se
despedaça. Um bom encanador tem que ser criativo, fazer valer os melhores
pontos para reduzir os caminhos distantes uns dos outros, mas separar
definitivamente a água potável daquela fóssil. O médico tem que ser humilde o
bastante para abraçar o artista palhaço amigo na hora exata em que os métodos
de cura se esgotam e só a fé salva o paciente de uma morte dolorosa. Os
agricultores precisam de todos os caminhos poéticos da vida para driblar as intempéries
e fazer valer a colheita farta que nos mantém distantes da fome. Os pedreiros
têm que ser os arquitetos artísticos cada vez mais eficientes em suas criações
de moradias, terrenos em planícies são muito diferentes de morros inclinados,
cortados pelo vento. Como pássaros indefesos vão descobrindo novas formas de
driblar as correntes sanguíneas dos rios, das cascatas, dos desfiladeiros. Somos todos arquitetos da vida e de nossas
moradias neste Planeta. De repente, os transportes são inúteis, quebram. Os
mecânicos com seus engenhos criativos nos oferecem novas saídas. Pense,
reflita: Quem vive sem a poesia? Todos precisamos ser artistas até da
palavra.
Nós precisamos dos artistas, os
seres mais importantes desta existência. Não servem para nada, só estão além da
utopia: na caminhada.
Liz Rabello
PARA QUE SERVE A UTOPIA?
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
Eduardo Galeano
Agora, me responda: Você nunca precisou de Deus? Para que serve Deus na tua vida? Para mim ele é o maior artista que eu conheço. As telas mais lindas são aquelas pintadas por Deus!
Liz Rabello
"Você não precisa de artistas?
Então me devolve os momentos bons
Os versos roubados de nós
As cores do seu caminho
Arranca o rádio do seu carro
Destrói a caixa de som
Joga fora os instrumentos
E todos aqueles quadros
Deixe as paredes em branco
Assim como é sua cabeça
Seu céu de cimento
Silêncio cheio de ódio
Armas para dormir
Nenhuma canção para ninar
E suas crianças em guarda
Esperando a hora incerta
Pra mandar ou receber rajadas
Você não precisa de artistas?
Então fecha os olhos, mora no breu
Esquece o que a arte te deu
Finge que ela não te deu nada
Nenhum som, nenhuma cor,
Nenhuma flor na sua blusa
Nem Van Goh, nem Tom Jobim
Nenhum Gonzaga, nem Diadorim
Você vai rimar com números
Você vai dormir com raiva
E acordar sem sonhos, sem nada
E esse vazio no seu peito
Não tem refrão pra dar jeito
Não tem balé pra bailar.
Você não precisa de artistas?
Então nos perca de vista
Nos deixe de fora
Desse seu mundo perverso
Sem verso, sem graça, sem alma".
POEMA "VIDA EM BRANCO" DE ZÉLIA DUNCAN
HOMENAGEM AO AUTOR DO MÊS DE SETEMBRO DE 2018 - ANLPPB MANOEL DE BARROS
UM ARTISTA DA PALAVRA COMO POUCOS!
MANOEL DE BARROS
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em Cuiabá (MT), em 1916. Ainda novo, foi morar em Corumbá (MS) e mais tarde iria para o Rio de Janeiro, para fazer a faculdade de Direito. Viajou pela Bolívia e Peru, morou em Nova York, captou em cada um dos lugares por onde passava um pouco da essência da liberdade, que aplicaria em suas poesias. Apesar de ter publicado o primeiro livro em 1937, o “Poemas Concebidos Sem Pecado”, o primeiro livro que escreveu acabou nas mãos de um policial. O jovem Manoel fez a pichação “Viva o comunismo”, em um monumento, e a polícia foi em busca do autor da ousadia. Para defendê-lo, a dona da pensão em que vivia disse ao policial que o “criminoso” em questão era autor de um livro. O policial pediu para ver e levou o livro. Chamava-se “Nossa Senhora de Minha Escuridão" e Manoel nunca o teve de volta.
Formou-se em Direito, em 1941, na cidade do Rio de Janeiro. E já no ano seguinte publicou “Face Imóvel” e em 1946, “Poesias”.
Na década de 1960 foi para Campo Grande (MS) e lá passou a viver como fazendeiro. Manoel consagrou-se como poeta nas décadas de 1980 e 1990, quando Millôr Fernandes publicava suas poesias nos maiores jornais do país.
Outros livros do autor são: ”Compêndio para Uso dos Pássaros”, de 1961, “Gramática Expositiva do Chão”, de 1969, “Matéria de Poesia”, de 1974, “O Guardador de Águas”, de 1989, “Retrato do Artista Quando Coisa”, de 1998, “O Fazedor de Amanhecer”, de 2001, entre outros.
SUA POESIA TENTA CAPTAR O ÓBVIO
OUTRAS TANTAS, EM PROSA POÉTICA, CAPTA O INATINGÍVEL
DIFÍCIL FOTOGRAFAR O SILÊNCIO
(...)
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra. Fotografei a existência dela. Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre. Por fim, eu enxerguei a Nuvem de calça. Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski - seu criador. Fotografei a Nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria roupa mais justa para cobrir sua noiva. A foto saiu legal.
TRATADO GERAL DAS GRANDEZAS DO ÍNFIMO
A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. Alguns dos prêmios que o autor recebeu: “Prêmio Orlando Dantas”, em 1960, ”Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal”, em 1969. “Prêmio Nestlé”, em 1997 e o “Prêmio Cecília Meireles” (literatura/poesia), em 1998.
Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha, onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre bichos do chão,
aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao publicá-los me sinto
meio desonrado e fujo para o Pantanal onde sou
abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei — pelo que
fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer da moral porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore. Manoel de Barros foi fazer poesia com os anjos no dia 13 de novembro de 2014.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta
Você vai carregar água na peneira a vida toda
Você vai encher os vazios
Com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos
Manoel de Barros
Lendo este poema eu me lembro do meu tio Adonio, que me ensinou a amar Olavo Bilac, telas de Van Gogh, que me declamava no ouvido, bem baixinho: "Amai as estrelas, olhai para entendê-las"... Ele era um simples sapateiro. No meio dos sapatos velhos, cujas solas consertava, tinha muitos livros: Os Sertões de Euclides da Cunha, Guerra e Paz, de Liev Tolstói, compêndios completos d' Os Miseráveis, de Victor Hugo, coleções completas de Machado de Assis, O Primo Basílio de Eça de Queirós, Angústia de Graciliano Ramos, todos os livros do mestre Jorge Amado... Conversar com ele, era glória! Ninguém mais culto do que aquele homem.
e ganhei Manuel de
Barros: Gramática Expositiva do Chão.
"O homem de lata é um passarinho de viseira não
gorjeia..."
SUGESTÃO DE PROJETO EDUCACIONAL NUMA ESCOLA DE ENSINO FUNDAMENTAL
LEITURA DE POEMAS DE MANUEL DE BARROS. CONSTRUÇÃO DE PLACAS COM POEMAS CURTOS. COLOCÁ-LAS NUM JARDIM, APÓS SEMEAR E PLANTAR. ORGANIZAR UM SARAU POÉTICO.
Ama-me, é tempo ainda.
Hilda Hilst
Hilda de Almeida Prado Hilst, mais
conhecida como Hilda Hilst, foi poetisa, ficcionista, cronista e dramaturga
brasileira. É considerada pela crítica especializada como uma das maiores
escritoras em língua portuguesa do século XX.
5- I (De cigarras e
pedras, querem nascer palavras) de Via espessa
De cigarras e pedras,
querem nascer palavras.
Mas o poeta mora
A sós num corredor de
luas, uma casa de águas.
De mapas-múndi, de
atalhos, querem nascer viagens.
Mas o poeta habita
O campo de estalagens
da loucura.
Da carne das mulheres,
querem nascer os homens.
E o poeta preexiste,
entre a luz e o sem-nome.
Hilda Hilst
Foi a única filha do fazendeiro
de café, jornalista, poeta e ensaísta Apolônio de Almeida Prado Hilst e sua
mãe, Bedecilda Vaz Cardoso. Em 1932, seus pais se separaram. Em plena Revolução
Constitucionalista, Bedecilda mudou-se de Jaú para Santos, com Hilda e Ruy Vaz
Cardoso, filho do seu primeiro casamento. Em 1937, Hilda ingressou como aluna
interna do Colégio Santa Marcelina, em São Paulo, onde cursou o primário e o
ginasial, com desempenho considerado brilhante.
Em 1945, iniciou o curso
secundário no Instituto Presbiteriano Mackenzie, onde permaneceu até a
conclusão do curso. Em 1948, entrou para a Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo (Largo São Francisco), onde conheceu aquela que seria sua grande
amiga ao longo da vida, a escritora Lygia Fagundes Telles.
Seu primeiro livro Presságio,
publicado em 1950, foi recebido com grande entusiasmo pelos poetas Jorge de
Lima e Cecília Meireles. Concluiu o curso de Direito em 1952. Depois da leitura
do livro Carta a El Greco, do escritor grego Nikos Kazantzakis, Hilda decide
afastar-se da vida agitada de São Paulo e, em 1964, passa a viver na sede da
fazenda de sua mãe, próximo a Campinas, durante a construção da sua casa numa
parte daquela propriedade. Em 1966, findos os trabalhos da construção, Hilda
muda-se para sua Casa do Sol, lugar planejado detalhadamente pela autora para
ser um espaço de inspiração e criação artística. Hilda Hilst viveu o resto de
sua vida na Casa do Sol e nela hospedou diversos escritores e artistas por
vários anos. Os escritores Bruno Tolentino e Caio Fernando Abreu foram hóspedes
da Casa do Sol.
Do amor contente e
muito descontente
Iniciei mil vezes o
diálogo. Não há jeito.
Tenho me fatigado tanto
todos os dias
Vestindo, despindo e
arrastando amor
Infância,
Sóis e sombras.
Vou dizer coisas
terríveis à gente que passa.
Dizer que não é mais
possível comunicar-me.
(Em todos os lugares o
mundo se comprime.)
Não há mais espaço para
sorrir ou bocejar de tédio.
As casas estão cheias.
As mulheres parindo sem cessar,
Os homens amando sem
amar, ah, triste amor desperdiçado
Desesperançado amor…
Serei eu só
A revelar o escuro das
janelas, eu só
Adivinhando a lágrima
em pupilas azuis
Morrendo a cada
instante, me perdendo?
Iniciei mil vezes o
diálogo. Não há jeito.
Preparo-me e aceito-me
Carne e pensamento
desfeitos. Intentemos,
Meu pai, o poema
desigual e torturado.
E abracemo-nos depois
em silêncio. Em segredo.
– Hilda Hilst, no livro
“Exercícios”. São Paulo: Editora Globo, 2001. Hilda Hilst
Hilda Hilst escreveu por quase
cinquenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios literários
do Brasil. Em 1962, recebeu o Prêmio PEN Clube de São Paulo, por Sete Cantos do
Poeta para o Anjo (Massao Ohno Editor, 1962). Em 1966, ao mudar-se para a Casa
do Sol, passou a viver com o escultor Dante Casarini. Em setembro do mesmo ano,
morreu seu pai. Dois anos depois, Hilda casou-se com Casarini (de quem se
separa em 1980, embora continuassem a residir na mesma propriedade - Casa do Sol).
Do amor contente e
muito descontente
Tenho pedido a todos
que descansem
De tudo o que cansa e
mortifica:
O amor, a fome, o
átomo, o câncer.
Tudo vem a tempo no seu
tempo.
Tenho pedido às
crianças mais sossego
Menos risos e muita
compreensão para o brinquedo.
O navio não é trem, o
gato não é guizo.
Quero sentar-me e ler
nesta noite calada.
A primeira vez que li
Franz Kafka
Eu era uma menina. (A
família chorava).
Quero sentar-me e ler
mas o amigo me diz:
O mundo não comporta
tanta gente infeliz.
Ah, como cansa querer
ser marginal
Todos os dias.
Descansem anjos meus.
Tudo vem a tempo
No seu tempo. Também é
bom ser simples.
É bom ter nada. Dormir
sem desejar
Não ser poeta. Ser mãe.
Se não puder ser pai.
Tenho pedido a todos
que descansem
De tudo o que cansa e
mortifica.
Mas o homem
Não cansa.
– Hilda Hilst, no livro
“Exercícios”. São Paulo: Editora Globo, 2001. Hilda Hilst
Em 1969, a peça O Verdugo
arrebatou o Prêmio Anchieta, um dos mais importantes do país na época. No mesmo
ano, a cantata Pequenos Funerais Cantantes, composta por seu primo, o
compositor Almeida Prado, sobre o poema homônimo de Hilda, dedicado ao poeta
português Carlos Maria Araújo, conquistou o primeiro prêmio do I Festival de
Música da Guanabara.
Passeio
De um exílio passado
entre a montanha e a ilha
Vendo o não ser da
rocha e a extensão da praia.
De um esperar contínuo
de navios e quilhas
Revendo a morte e o
nascimento de umas vagas.
De assim tocar as
coisas minuciosa e lenta
E nem mesmo na dor
chegar a compreendê-las.
De saber o cavalo na
montanha. E reclusa
Traduzir a dimensão
aérea do seu flanco.
De amar como quem morre
o que se fez poeta
E entender tão pouco
seu corpo sob a pedra.
E de ter visto um dia
uma criança velha
Cantando uma canção,
desesperando,
É que não sei de mim.
Corpo de terra.
– Hilda Hilst, no livro
“Exercícios”. São Paulo: Editora Globo, 2001. Hilda Hilst
A Associação Paulista de Críticos
de Arte (Prêmio APCA) considerou Ficções (Edições Quíron, 1977) o melhor livro
do ano. Em 1981, Hilda Hilst recebeu o Grande Prêmio da Crítica para o Conjunto
da Obra, pela mesma Associação Paulista de Críticos de Arte. Em 1984, a Câmara
Brasileira do Livro concedeu o Prêmio Jabuti, idealizado por Edgard Cavalheiro
(1959) a Cantares de Perda e Predileção (Massao Ohno - M. Lydia Pires e
Albuquerque editores, 1983), e, no ano seguinte, a mesma obra recebeu o Prêmio
Cassiano Ricardo (Clube de Poesia de São Paulo). Rútilo Nada, publicado em
1993, pela editora Pontes, levou o Prêmio Jabuti como melhor conto. E,
finalmente, em 9 de agosto de 2002, foi premiada na 47ª edição do Prêmio Moinho
Santista na categoria Poesia.
A escritora ainda participou, a
partir de 1982, do Programa do Artista Residente, da Universidade Estadual de
Campinas - UNICAMP.
Assuntos tidos como
socialmente controversos foram temas abordados pela autora em suas obras. No
entanto, conforme a própria escritora confessou em sua entrevista ao Cadernos
de Literatura Brasileira, seu trabalho sempre buscou, essencialmente, retratar
a difícil relação entre Deus e o homem
Poemas aos Homens do
nosso tempo
Amada vida, minha morte
demora.
Dizer que coisa ao
homem,
Propor que viagem?
Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de
ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa
RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro,
logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
Ao teu encontro, Homem
do meu tempo,
E à espera de que tu
prevaleças
À rosácea de fogo, ao
ódio, às guerras,
Te cantarei
infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a
todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se
sentarem contigo à tua mesa.
As coisas serão simples
e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e
o difícil de antes,
Aparências, o amor
dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é
o teu
O mistério dos rios, da
terra, da semente.
Te cantarei Aquele que
me fez poeta e que me prometeu
Compaixão e ternura e
paz na Terra
Se ainda encontrasse em
ti, o que te deu.
Hilda Hilst
Enigmática, estranha e
instigante. Esses são alguns dos adjetivos que bem descrevem Hilda Hilst, um
dos grandes nomes da Literatura brasileira e importante voz feminina em nossa
poesia.
“Como me sinto? Como se
colocassem dois olhos sobre uma mesa e dissessem a mim, a mim que sou cego:
isso é aquilo que vê, essa é a matéria que vê. Toco os dois olhos sobre a mesa,
lisos, tépidos ainda, arrancaram há pouco, gelatinosos, mas não vejo o ver. É
assim o que sinto tentando materializar na narrativa a convulsão do meu
espírito, e desbocado e cruel, manchado de tintas, essas pardas escuras do não
saber dizer, tento amputado conhecer o passo, cego conhecer a luz, ausente de
braços tento te abraçar.”
Hilda Hilst
Hilda nasceu na cidade de Jaú,
interior do estado de São Paulo, no dia 21 de abril de 1930 e faleceu em
Campinas no dia 04 de fevereiro de 2004.
Após seu falecimento, o amigo Mora Fuentes liderou a criação do
Instituto Hilda Hilst. O IHH tem como primeira missão a manutenção da Casa do
Sol, seu acervo e o espírito de ser um porto seguro para a criação intelectual.
II (Colada à tua boca a
minha desordem) de O desejo
Colada à tua boca a
minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se
fazendo ordem.
Colada à tua boca, mas
descomedida
Árdua
Construtor de ilusões
examino-te sôfrega
Como se fosses morrer
colado à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia
magnânimo
Eu te sorvo extremada à
luz do amanhecer.
Hilda Hilst
Parte
de seu arquivo pessoal foi comprado pelo Centro de Documentação Alexandre
Eulálio, Instituto de Estudos de linguagem - IEL, UNICAMP, em 1995, estando
aberto a pesquisadores do mundo inteiro e o restante, notadamente sua
biblioteca particular, encontra-se na Casa do Sol, sede do Instituto Hilda
Hilst - IHH
“Do muito desejar altura
e eternidade
Me vem a fantasia de
que Existo e Sou.
Quando sou nada: égua
fantasmagórica
Sorvendo a lua n’água.”
– Hilda Hilst, no livro
“Sobre a tua grande face”.
Hilda Hilst
Alguns de seus textos foram
traduzidos para o francês, inglês, italiano e alemão. Em março de 1997, seus
textos “Com os meus olhos de cão” e “A
obscena senhora D” foram publicados pela Editora Gallimard, tradução de
Maryvonne Lapouge, que também traduziu Grande Sertão: Veredas, de João
Guimarães Rosa.
Dez chamamentos
ao amigo
Se te pareço
noturna e imperfeita
Olha-me de novo.
Porque esta noite
Olhei-me a mim,
como se tu me olhasses.
E era como se a
água
Desejasse
Escapar de sua
casa que é o rio
E deslizando
apenas, nem tocar a margem.
Te olhei. E há
tanto tempo
Entendo que sou
terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo
de água mais fraterno
Se estenda sobre
o meu. Pastor e nauta
Olha-me de novo.
Com menos altivez.
E mais atento.
Hilda Hilst
Hilda Hilst dedicou boa parte de
sua vida à Literatura, tendo deixado mais de quarenta livros publicados. Embora
não tenha caído nas graças do grande público e da crítica, que considera ainda
hoje seus textos herméticos, foi agraciada com os mais importantes prêmios
literários do Brasil e admirada por grandes escritores, entre eles Caio
Fernando Abreu e Lygia Fagundes Telles.
6- VI (Que as barcaças
do Tempo me devolvam) de Amavisse
Que as barcaças do
Tempo me devolvam
A primitiva urna de
palavras.
Que me devolvam a ti e
o teu rosto
Como desde sempre o
conheci: pungente
Mas cintilando de vida,
renovado
Como se o sol e o rosto
caminhassem
Porque vinha de um a
luz do outro.
Que me devolvam a
noite, o espaço
De me sentir tão vasta
e pertencida
Como se as águas e
madeiras de todas as barcaças
Se fizessem matéria
rediviva, adolescência e mito.
Que eu te devolva a
fome do meu primeiro grito.
Hilda Hilst
A temática de sua poesia
circundou as ações humanas, a inquietude do ser, a morte, o amor, o sexo, Deus
e indagações metafísicas, tema que a levou a flertar com a Física e com a
Filosofia. Entre suas experiências literárias, esteve aquilo que ela chamou de
“Transcomunicação Instrumental”, quando deixava gravadores ligados por sua
chácara (a Casa do Sol, hoje Instituto Hilda Hilst) com o intuito de gravar
vozes de espíritos, demonstrando assim sua clara preocupação com a
sobrevivência da alma.
Testamento lírico
Se quiserem saber se
pedi muito
Ou se nada pedi, nesta
minha vida,
Saiba, senhor, que
sempre me perdi
Na criança que fui, tão
confundida.
À noite ouvia vozes e
regressos.
A noite me falava
sempre sempre
Do possível de fábulas.
De fadas.
O mundo na varanda. Céu
aberto.
Castanheiras douradas.
Meu espanto
Diante das muitas
falas, das risadas.
Eu era uma criança
delirante.
Nem soube defender-me
das palavras.
Nem soube dizer das
aflições, da mágoa
De não saber dizer
coisas amantes.
O que vivia em mim,
sempre calava.
E não sou mais que a
infância. Nem pretendo
Ser outra, comedida.
Ah, se soubésseis!
Ter escolhido um mundo,
este em que vivo,
Ter rituais e gestos e
lembranças.
Viver secretamente. Em
sigilo
Permanecer aquela,
esquiva e dócil.
Querer deixar um
testamento lírico
E escutar (apesar)
entre as paredes
Um ruído inquietante de
sorrisos
Uma boca de plumas,
murmurante.
Nem sempre há de
falar-vos um poeta.
E ainda que minha voz
não seja ouvida
Um dentre vós,
resguardará (por certo)
A criança que foi. Tão
confundida.
Hilda Hilst
CASA
DO SOL
“Construída por Hilda Hilst há
cinquenta anos nos arredores de Campinas, a Casa do Sol se mantém como uma
espécie de arquivo orgânico da obra da escritora, poeta e dramaturga. Planejada
nos mínimos detalhes como um espaço de criação, a grande residência se confunde
com a sua vida e a sua obra. De lá, não param de sair surpresas. Facetas raras
da autora, como poemas infanto-juvenis e outros em línguas estrangeiras, acabam
de ser descobertas e podem aparecer em livro em breve.
Entre os achados, está ainda uma
correspondência inédita com o artista plástico Mora Fuentes, amigo e
responsável pela criação do Instituto Hilda Hilst, com previsão de publicação
até o final do ano pela Editora Biblioteca Azul — que acaba de lançar “Pornô
chic”, reunião dos escritos eróticos da escritora, e publicará no segundo
semestre uma edição com sua poesia completa.
Mas o acervo reserva um outro
segredo, pista indispensável para compreender o quebra-cabeça hilstiano. São
suas misteriosas “conversas” com vozes do além, registradas em mais de cem horas
de gravações, que estarão no centro do documentário “Hilda Hilst pede contato”.
Nos anos 70, depois de ter se
mudado para a Casa do Sol, Hilda começou a gravar sinais de rádio tentando se
comunicar com amigos e parentes mortos, fenômeno conhecido como trans-comunicação
instrumental. Ela seguia os experimentos do cientista suíço Friedrich
Jurgenson, que explorava o “ruído branco”, chiado eletromagnético emitido no
espaço entre duas estações de rádio.
Hilda acreditava que esse som
abafado escondia vozes de entidades incorpóreas. “Contato, contato, Hilda
querendo saber de seus amigos da outra dimensão”, dirigia-se a escritora aos
espíritos, esperando por uma resposta que chegava em palavras inaudíveis para a
grande maioria das pessoas, mas suficientemente claras para ela.
A cineasta Gabriela Greeb
adquiriu o direito dessas gravações e as transformou no leitmotiv de seu
documentário, em fase de finalização. A voz de Hilda é o fio condutor da
narrativa, que usa imagens raras do arquivo pessoal da autora, encontradas em
cinquenta rolos inéditos de película Super 8 com registros de situações
cotidianas na Casa do Sol, e algumas cenas ficcionais realizadas dentro da
moradia com a atriz Luciana Domschke (no papel de Hilda).
Elemento importante do filme, o
trabalho de som ficou a cargo do premiado francês Nicolas Becker, de filmes
como “Gravidade” e “Batman begins”. Já a fotografia é assinada pelo português
Rui Poças, que trabalhou no longa “Tabu”, de Miguel Gomes.
— A questão das fitas é o
argumento para abordar a vida e a obra de Hilda, mais do que um tema em si —
explica Gabriela. — É como se o filme todo estivesse gravado nestas fitas, uma
realidade que se repete, em círculos, a casa e suas histórias.
Na verdade, tudo passa pela Casa
do Sol, que se transforma num receptáculo de sons. A ideia é inverter esta
situação original das gravações: aqui seria Hilda, já imortalizada, que busca
contato com os vivos. Este dispositivo permite que o filme seja narrado na
primeira pessoa, na voz da poeta.
Para a cineasta, Hilda tinha “uma
necessidade gigante” de comunicação; como vivia isolada na Casa do Sol, com
poucos leitores, optou por comunicar-se com os espíritos.”
GABRIELA GREEB
Diretora do documentário
'Hilda pede contato'
“Ela não se conformava com a
morte; desde criança, não entendia como era possível que as coisas morressem,
terminassem — lembra Gabriela. — Hilda buscava comprovar de maneira científica
a imortalidade da alma. Passou a estudar física quântica no final de sua vida,
ficou muito amiga do físico Mario Schenberg, com o qual passava horas
discorrendo sobre temas como “luz interdita”, entre outros assuntos. Estava se preparando
para ir para Marduk, planeta para onde, segundo ela, iam alguns mortos, aqueles
que haviam constituído uma alma.
Em uma reportagem do “Fantástico”
de 1979, Hilda abriu sua casa e mostrou suas experiências para o programa. Pela
primeira vez, parte de suas gravações vieram a público — e voltaram ao
esquecimento desde então. Pelo menos na reportagem, o conteúdo das fitas está
longe de mostrar algo conclusivo; é provável que a exibição em um programa de
grande audiência, em horário nobre, tenha aumentado ainda mais a fama de
“louca” e “hermética” da autora junto ao público. Na entrevista, Hilda admite
que nem mesmo alguns de seus amigos físicos levavam a sério a sua obsessão
pelas vozes.
O que a Hilda diz durante o
contato com os mortos é o mais interessante, pois as vozes respondem apenas
“sim”, “hildinha”, ou pequenas coisas que realmente nunca sabemos se são elas
que dizem ou se somos nós que ouvimos — especula Gabriela. — Esse espaço ínfimo
e infinito entre o que uma pessoa fala e o que a outra pessoa ouve. O filme se
localiza neste espaço, talvez. O imaginário, a literatura.
O fascínio pelo oculto é um fator
essencial na obra de Hilda. A visão de uma bola de fogo em 1967, e de vários
discos voadores nos anos seguintes, serviram como um catalizador de sua escrita
(segundo um de seus amigos, especialista em OVNIs, as aparições a teriam
“energizado”). “Sinto que tenho uma afinidade, uma vontade de pactuação com
algo que eu desconheço, mas que faz parte do cósmico”, disse ela, em uma
entrevista de 1986. “Eu acho que o meu caminho é sempre esse, o desejo de me
irmanar com o inatingível para ver se descubro o sentido do que é existir”. Um
vislumbre de sua relação com o inatingível também está nas trocas de cartas com
Mora Fuentes. Batizada como “Cartas aos pósteros” e nunca antes publicada, a
correspondência é uma das novidades preparadas pela Biblioteca Azul em 2015.
Hilda desenvolveu uma linguagem
própria para as cartas, que não é nem a da poesia, nem a da prosa, nem a do
teatro”
ANA LIMA CECÍLIO
Editora
“Hilda e Mora escreviam pensando
mais no leitor do que numa forma de comunicação entre eles — diz a editora Ana
Lima Cecílio. — Parece um desenvolvimento de um novo gênero, um pouco como a
Hilda fez nas entrevistas: criar um personagem, desenvolver uma linguagem
própria para as cartas, que não é nem a da poesia, nem a da prosa, nem a do
teatro.
As novidades não param por aí, já
que o Instituto Hilda Hilst, responsável pela preservação da Casa do Sol,
começou em janeiro um inventário do arquivo, que prevê o cadastramento, a
higienização e a digitalização de textos, entrevistas e imagens. Parte do
material catalogado será usado no projeto Ocupação, do Itaú Cultural. Segundo
Daniel Fuentes, filho de Mora e presidente do instituto, obras valiosas deverão
vir à tona. Em prosa, ele destaca a descoberta de trechos de prosa
datilografados que se assemelham a um diário. Já na poesia, há versos para o
público infanto-juvenil (um deles escrito para o próprio Daniel Fuentes),
improváveis poemas em inglês e alemão, e ainda paródias de outros poetas, como
Adélia Prado e Ferreira Gullar.
— São poemas que ela escreveu
para gozar outros poetas — detalha Fuentes. — É um trabalho fenomenal de
linguagem, e engraçadíssimo.”
Guilherme
de Andrade de Almeida nasceu em Campinas, 24 de julho de 1890, e morreu em São Paulo, 11 de julho
de 1969. Foi advogado, jornalista, heraldista, crítico de cinema, poeta, ensaísta, tradutor, incentivador do teatro brasileiro.
Foi o primeiro modernista a entrar para a Academia
Brasileira de Letras (1930).Terceiro ocupante da Cadeira 15, eleito em 6 de
março de 1930, na sucessão de Amadeu Amaral e recebido pelo Acadêmico Olegário
Mariano em 21 de junho de 1930. Recebeu o Acadêmico Cassiano Ricardo. Em 1958,
foi coroado o quarto "Príncipe dos Poetas Brasileiros" (depois de
Bilac, Alberto de Oliveira e Olegário Mariano). A essência de sua poesia é o
ritmo “no sentir, no pensar, no dizer”. Dominou amplamente os processos de
rimas, rítmicos e verbais, bem como o verso livre, explorando os recursos da
língua, as onomatopeias, assonâncias e aliterações.
Foto de Liz Rabello
1917 – Nós – capa e ilustrações de Correia Dias, oficinas de
"O Estado de S. Paulo"
Vou partir, vais ficar. “Longe da vista, longe do coração”- diz o ditado.
Basta, porém, que o nosso amor exista,
para que eu parta e fiques sem cuidado.
Dentro em mim mesmo, o coração egoísta,
quanto mais longe, mais te quer ao lado;
tanto mais te ama, quanto mais te avista
e, antes de ver-te, já te havia amado.
Vou partir. Para longe? Para perto?
Não sei: longe de ti tudo é deserto
e todas as distâncias são iguais.
Como eu quisera que, na despedida,
quando se unissem nossas mãos, querida,
nunca pudessem desunir-se mais!
Da obra original “Nós” (1914-1917)
Guilherme de Almeida
Seu livro, "Era uma Vez", foi publicado em 1922, ano em que
atuou na realização da Semana de Arte Moderna.
Foi, com seu irmão, Tácito de Almeida (1889 - 1940),
importante organizador da Semana de Arte Moderna de 22, tendo criado em 1925
conferência para difusão da poesia moderna, intitulada "Revelação do
Brasil pela Poesia Moderna", que foi apresentada em Porto Alegre, Recife e
Fortaleza. Um dos poemas de Guilherme de Almeida, "A Carta Que Eu
Sei de Cor", presente em seu livro "Era uma vez", foi declamado
na Faculdade de Letras de Coimbra, em 1930, na importante conferência
"Poesia Moderníssima do Brasil" - esta conferência foi estampada na
revista 'Biblos' (Faculdade de Letras de Coimbra, Vol. VI, n. 9-10, Coimbra,
Setembro e Outubro de 1930, pp. 538 – 558; e no 'Jornal do Commercio', Rio de
Janeiro, domingo, 11 de janeiro de 1931, página 3).
SPINA (Nova Forma Poética)
BELKISS: AMOR SENSUAL
Guilherme de Almeida...
Amor por correspondência
"Decifre meu codinome"!
Pedaço por pedaço, foto mosaico!
Aquela carta, decorei, lembro tudo:
você disse: "Pronuncie meu nome";
acrescentou: "antes que eu parta".
Lembranças: lábios, beijos de fome.
Liz Rabello
A CARTA QUE EU SEI DE COR
E tu me escreves: - "Meu amor, minha saudade!
Há tanto tempo não te vejo: há quase um dia;
estou tão longe: do outro lado da cidade...
Tive sonhos tão bons esta noite! Vem vê-los:
ainda estão nos meus olhos loucos de alegria.
Sabes? Esta manhã cortei os meus cabelos.
Denunciavam-me tanto! E a ti também, meu poeta...
Que alívio! Tenho a sensação de haver cortado
relações com alguma amiguinha indiscreta.
Agora estamos mais a nosso gosto. Agora
o meu gosto será bem menos complicado
Para pôr o chapéu, quando me for embora...
Sinto-me tão feliz! Tive um riso sincero
ao meu espelho: e esse sorriso revelou-me
que o meu único mal é este bem que eu te quero..."
(...)
E quando chego ao fim da carta, sinto, vejo
que a minha boca toma a forma do teu nome:
a forma que ela tem quando vai dar um beijo...
Guilherme de Almeida
Foi um dos fundadores da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, onde lecionou Ciência Política.
No mesmo ano ajudou a fundar a revista Klaxon, tendo realizado sua capa, assim como os arrojados anúncios da Lacta.
Participou do grupo Verde-amarelista e colaborou também com a Revista de Antropofagia, tendo escrito poemas-piada à moda de Oswald de Andrade.
Sossego macio da tarde.
Um sol cansado passa pelo rosto suado
uma nuvenzinha alva como um lenço
para enxugar as primeiras estrelas.
Silêncio.
E o sol vai caminhando sobre os montes tranquilos
vai cochilando.
E de repente tropeça e cai redondamente
sob a pateada dos sapos e a vaia dos grilos.
Elaborou
também a capa da primeira edição do livro "Paulicéa Desvairada", de
Mário de Andrade.
Na época heroica da campanha modernista, soube seguir
diretrizes muito nítidas e conscientes, sem se deixar possuir pela tendência à
exaltação nacionalista. Nos poemas de Simplicidade, publicado em 1929, retornou
às suas matrizes iniciais, à perfeição formal desprezada pelos outros, mas não
recaiu no Parnasianismo, porque continuou privilegiando a renovação de temas e
linguagem. Sobressaiu sempre o artista do verso, que o poeta Manuel Bandeira
considerou o maior em língua portuguesa.
APERITIVOS PARA VOCÊ DEGUSTAR
Somente quando ela perdeu suas asas
Soube que o que mais amava na vida
Era voar
Guilherme de Almeida, Azul e Outras Cores
Eu me afogo
No vazio do meu peito
E sigo em queda
No infinito constante de mim mesmo
Guilherme de Almeida, Azul e Outras Cores
Quanto mais eu digo
Que não sinto nada
Mais e mais eu me deixo
E desabo em um penhasco infinito
De puro sentimento
Guilherme de Almeida, Azul e Outras Cores
DESPERTAR
Todo o meu medo
Todo o meu horror
O frio
A dor
Toda minha angústia
E meu tormento
Do ócio ao ódio
Virando desprezo
Tudo parte de mim
E talvez
Nada esteja errado
E todo o mal que eu enxergo
Estava todo em mim
Enterrado
Guilherme de Almeida, Azul e Outras Cores
SINTA
Não há porque tentar
A fuga é inevitável
Todos os caminhos
Todas as escolhas
Nada pode evitar o único destino possível
Não importa o sentimento
Não importa o quanto doa
Você precisa fechar os olhos
Precisa viajar em você mesmo
Precisa saber
Não há porque mentir
Você precisa
Sentir
Guilherme de Almeida, Azul e Outras Cores
HAI KAI
Entre outras realizações, foi o responsável pela divulgação do poemeto japonês haikai no Brasil.
CHUVA DE PRIMAVERA
Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.
Guilherme de Almeida
OUTUBRO
Cessou o aguaceiro.
Há bolhas novas nas folhas
do velho salgueiro.
Guilherme de Almeida
O HAIKAI
Lava, escorre, agita
A areia. E, enfim, na bateia
Fica uma pepita.
Guilherme de Almeida
NOTURNO
Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.
Guilherme de Almeida
HORA DE TER SAUDADE
Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)
Guilherme de Almeida
OS ANDAIMES
Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.
Guilerme de Almeida
QUIRIRI
Calor. Nos tapetes
tranquilos da noite, os grilos
fincam alfinetes.
Guilherme de Almeida
NFÂNCIA
Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se "Agora".
Guilherme de Almeida
NÓS DOIS
Chão humilde. Então,
riscou-o a sombra de um vôo.
"Sou céu!" disse o chão.
Guilherme de Almeida VISITA AO MUSEU CASA GUILHERME DE ALMEIDA
Guilherme de Almeida mudou-se para o local em 1946, um
sobrado na rua Macapá, no Pacaembu, em São Paulo. Era chamado carinhosamente
por ele como a "Casa da Colina". E ele a descreveu: "A casa
na colina é clara e nova. A estrada sobe, para, olha um instante e desce".
Nela, o poeta viveu até 1969 e nela faleceu. Lá, os saraus eram bem animados,
como lembra o poeta Paulo Bonfim. Também estavam sempre presentes os amigos
Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Victor Brecheret, Noemia
Mourão, René Thiollier, Saulo Ramos, Roberto Simonsen, Carlos Pinto Alves e
tantos outros.
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
A casa, em 1979, tornou-se o Museu Casa Guilherme de
Almeida, pertencente à Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Estado de
São Paulo, tendo sido "tombado como museu biográfico e literário"
pelo Conpresp, em maio de 2009. O museu conta com importante acervo de obras de
arte: quadros de Di Cavalcanti, Lasar Segall e Anita Malfatti, as primeiras
edições dos livros do poeta, entre seis mil volumes no total, além de
mobiliário, peças pessoais e relíquias da Revolução de 1932.
Foto de Liz Rabello
COM TANTOS OBJETOS PESSOAIS O AMBIENTE RESPIRA VIDA E GUILHERME DE ALMEIDA RESSUSCITA AOS NOSSOS OLHOS
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Guilherme de Almeida foi responsável pelas traduções para o Português destas três obras importantíssimas para a cultura universal.
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Foto de Liz Rabello
Combatente na Revolução Constitucionalista de 1932 e exilado
em Portugal, após o final da luta, foi homenageado com a Medalha da
Constituição, instituída pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Sua obra
maior de amor a São Paulo foi seu poema Nossa Bandeira, além do Hino dos
Bandeirantes - oficializado como letra do Hino do Estado de São Paulo - e da
letra do hino da Força Pública (atual Polícia Militar do Estado de São Paulo).
É proclamado "O poeta da Revolução de 32". Escreveu o poema Moeda
Paulista, a pungente Oração ante a última trincheira, a letra do "Hino
Constitucionalista de 1932/MMDC", O Passo do Soldado, de autoria de
Marcelo Tupinambá, com interpretação de Francisco Alves. O poema treze listras
em homenagem a bandeira do estado de São Paulo, que mais tarde foi feito o
dobrado (música militar) treze listras do compositor e maestro Pedro Salgado.
Autor da letra do Hino da Televisão Brasileira, executado quando da primeira transmissão da Rede Tupi de Televisão, realizada por mérito de seu concunhado, o jornalista Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. Dedicou-se ainda a outras artes e atividades, além da literatura e da poesia: desenhista amador, cultivou também a heráldica, tendo criado o brasão das cidades de São Paulo , Petrópolis (RJ), Volta Redonda (RJ), Londrina (PR), Brasília (DF), Guaxupé (MG), Caconde, Iacanga e Embu (SP).
Foto de Liz Rabello
UM SONETO QUE EU DECLAMEI QUANDO MENINA NA ESCOLA ESTADUAL MANUEL DA NÓBREGA
Foto de Liz Rabello
Quando a chuva cessava e um vento fino
franzia a tarde tímida e lavada,
eu saía a brincar, pela calçada,
nos meus tempos felizes de menino.
Fazia, de papel, toda uma armada,
e estendendo meu braço pequenino,
eu soltava os barquinhos, sem destino.
ao longo das sarjetas, na enxurrada...
Fiquei moço. E hoje sei, pensando neles,
que não são barcos de ouro os meus ideais:
são de papel, são como aqueles,
perfeitamente, exatamente iguais...
Que meus barquinhos, lá se foram eles!
Foram-se embora e não voltaram mais!
Guilherme de Almeida
Foto de Liz Rabello
Agradecimentos à jovem Ana, que nos atendeu híper bem no Museu.
https://pt.slideshare.net/lanimedesudaisukianimeslovekpop/guilherme-de-almeida-primeira-fase-do-modernismo Visita ao Museu Casa de Guilherme de Almeida - Rua Macapá, 187 - Perdizes
ESTÁTUA DE BRONZE DA MINHA SAMPA
IDÍLIO OU
O BEIJO ETERNO
"Idílio
ou Beijo Eterno" é uma escultura de William Zading, criada em 1920 e
implantada na cidade em 1966, no Largo de São Francisco, em frente a Faculdade
de Direito da USP. A escultura foi encomendada pelo Centro Acadêmico Onze de
Agosto, em homenagem a Olavo Bilac.
Foto de Liz Rabello
POEMA EM PROSA PARA UMA ESTÁTUA DE BRONZE
Bilac meu patrono na ALPAS
Desde cedo me fez estrelas amar
Versos seus meu tio a declamar
Em meus ouvidos a sussurrar
Também pelo Centro Acadêmico
Pelo sueco escultor William Zading
Se imortalizou numa estátua de bronze
O IDÍLIO ou O BEIJO ETERNO virou
Sabe-se pelo folclore urbano paulista
Que alunos de Direito
Sequestram estátuas
Para embelezar sua escola
Prova é o busto de José Bonifácio
Num nicho no hall de entrada do edifício
Mostra do velho ato vulgar
Mas que consegue obras de arte salvar
Na Faculdade São Francisco
Quem por ali põe os olhos
Sobre a estátua de bronze
Eternizando um beijo etéreo
Não imagina histórias de mudanças
Homem nu beijando índia?
Pode não, dizia multidão
Mas ali na Faculdade virou opinião!
Este bronze eternizou o ósculo
Da índia com o jovem francês
É uma das cinco peças de bronze
Que no final da Paulista, na década de 1920
Busto de Bilac no centro
Nas laterais, A Tarde, O Caçador de Esmeraldas,
O Beijo Eterno e Pátria e Família,
Representavam os escritos do poeta
Foto de Liz Rabello
O IDÍLIO censurado por cidadãos de bem
Escreviam pros jornais
Escultura atrapalha o trânsito
Mão de Bilac mais parece
Pássaro de bico aberto
Homem nu abraçado à mulher?
Jovem francês beijando índia?
Pode não, dizia multidão!
Foto de Liz Rabello
Atendendo pedidos da população
Venceu a falta de informação
Do que é belo, e O BEIJO ETERNO
Em 1936, a prefeitura
Desmontou a escultura
E jogou parte escandalosa
No fundo de um porão
E uma vez mais calou-se a multidão!
Foto de Liz Rabello
Jânio Quadros, vinte anos depois
Ressuscitou a escultura
E o casal de namorados foi parar no Cambuci
Mas um pai indignado dizia que a imagem
Era um ataque aos olhos da inocente filha
Pode não, dizia a população
E a tal foi mandada pro porão
Só pra calar a multidão!
Dez anos depois, o prefeito Faria Lima
Resolveu aproveitar a inauguração
Dos jardins do túnel 9 de Julho
E por lá o casal de namorados
Ali podia se beijar em paz
Mas vereador ressuscitou velho sermão
Esta obra é coisa de demônio, pode não!
E será que ela vai de novo pro porão?
Foto de Liz Rabello
Cansados de tanta polêmica,
Estudantes da Faculdade de Direito
Que lá no começo da história
Tinham pago e encomendado a obra
Resolveram cuidar do que era deles
Sequestraram o beijo transgressor
Fixaram a obra num endereço definitivo
Onde incompreendidos amantes se beijam até hoje!
Liz Rabello
IDÍLIO OU O BEIJO ETERNO
Na década de 10 do século passado, Olavo Bilac e sua campanha civilista chegaram a São Paulo e encontraram adeptos nas Arcadas. O movimento paulista, capitaneado pelo professor Vergueiro Steidel, fundou a Liga Nacionalista, que entre outras coisas pregava a instrução pública gratuita, o alistamento militar e diversas outras ações. A Liga teve destaque em grandes momentos da história paulistana, como quando da Gripe Espanhola e da Revolução de 1924, o que acabou lhe valendo a dissolução oficial pelo presidente Arthur Bernardes. Quando Bilac faleceu, em 1918, aos 53 anos, os membros da Liga Nacionalista, cuja direção e maioria dos membros eram estudantes e professores da Academia de Direito, e em menor número da Politécnica e da Faculdade de Medicina, resolveram fazer uma homenagem ao poeta. Após o levantamento dos fundos necessários, contrataram o escultor sueco William Zading, professor do Liceu de Artes e Ofícios, para esculpir um conjunto monumental em honra a Bilac. O monumento foi inaugurado em 1922, durante as comemorações do Centenário da Independência, pelo então governador Washington Luís.
BEIJO
ETERNO
Quero um
beijo sem fim,
Que dure
a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me
o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me
assim!
O ouvido
fecha ao rumor
Do mundo,
e beija-me, querida!
Vive só
para mim, só para a minha vida,
Só para o
meu amor!
Fora,
repouse em paz
Dormida
em calmo sono a calma natureza,
Ou se
debata, das tormentas presa, -
Beija
inda mais!
E,
enquanto o brando calor
Sinto em
meu peito de teu seio,
Nossas
bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o
mesmo ardente amor!
De
arrebol a arrebol,
Vão-se os
dias sem conto! E as noites, como os dias,
Sem conto
vão-se, cálidas ou frias!
Rutile o
sol
Esplêndido
e abrasador!
No alto as
estrelas coruscantes,
Tauxiando
os largos céus, brilhem como diamantes!
Brilhe
aqui dentro o amor!
Suceda a
treva à luz!
Vele a
noite de crepe a curva do horizonte;
Em véus
de opala a madrugada aponte
Nos céus
azuis,
E Vênus,
como uma flor,
Brilhe, a
sorrir, do ocaso à porta,
Brilhe à
porta do Oriente! A treva e a luz – que importa?
Só nos
importa o amor!
Raive o
sol no Verão!
Venha o
Outono! do Inverno os frígidos vapores
Toldem o
céu! das aves e das flores
Venha a
estação!
Que nos
importa o esplendor
Da
primavera, e o firmamento
Limpo, e
o sol cintilante, e a neve, e a chuva, e o vento?
Beijemo-nos,
amor!
Beijemo-nos!
que o mar
Nossos
beijos ouvindo, em pasmo a voz levante!
E cante o
sol! a ave desperte e cante!
Cante o
luar,
Cheio de
um novo fulgor!
Cante a
amplidão! cante a floresta!
E a
natureza toda, em delirante festa,
Cante,
cante este amor!
Rasgue-se,
à noite, o véu
Das
neblinas, e o vento inquira o monte e o vale:
“Quem
canta assim?” E uma áurea estrela fale
Do alto
do céu
Ao mar,
presa de pavor:
“Que
agitação estranha é aquela?”
E o mar
adoce a voz, e à curiosa estrela
Responda
que é o amor!
E a ave,
ao sol da manhã,
Também,.
a asa vibrando, à estrela que palpita
Responda,
ao vê-la desmaiada e aflita:
“Que
beijo, irmã!
Pudesses
ver com que ardor
Eles se
beijam loucamente!”
E
inveje-nos a estrela... e apague o olhar dormente,
Tudo
o que desejava fazer, estou realizando. Viajei para Cruz Alta sozinha. Desafiei
todos os meus limites. Fui por Porto Alegre, pela Latam, através dos pontos da
Multiplus. Desci no aeroporto e peguei um táxi até a rodoviária, onde tinha
viagem paga e programada. Um veículo com assento leito. Híper confortável. Semi
direto, com pouquíssimas paradas. Após sete horas de viagem, cheguei na
rodoviária de Cruz Alta, onde peguei outro táxi direto ao maravilhoso Rosmer
Palace Hotel.
Cheguei
inteiraça. Tomei um banho, arrumei os meus pertences e logo ouvi o telefone
interno do hotel tocando. Era a presidente da Academia Internacional de Cruz
Alta ALPAS 21, me pedindo pra descer. Fomos a um restaurante local, eu, ela e
uma menina Argentina, que se tornou minha amiga imediatamente e não mais nos
desgrudamos.
TUDO ISTO SÓ PRA NÓS?
Foram três dias de muitas atividades, as quais me fizeram lembrar
do passado, mas não com tristeza...Sozinha sou mais eu. Não passo por
humilhações e não me senti rejeitada, muito pelo contrário. Fui abraçada,
acolhida, bem tratada. O povo gaúcho é muito acolhedor. Foram pequenos
gestos de acolhimento, como na noite de despedida, que fui a um churrasco na
casa de amigos, onde tomei licor de laranja, colorido de azul aniz. Ficamos
todos de rostinho corado e demos risadas mil.
Durante
todo o trajeto de ônibus, de Porto Alegre a Cruz Alta, passamos por várias
barricadas que demonstravam que a greve dos caminhoneiros iniciava a todo
vapor. Bandeiras brasileiras hasteadas nas antenas dos veículos. Pelo que
sabemos de greve, não existia a presença de Sindicatos, nem de elementos
representantes dos trabalhadores rurais ou de responsáveis pelos caminhões. Na
sexta-feira pela manhã, nas ruas paralelas ao Rosmer Palace Hotel, onde estava
hospedada, a caminho do Clube Internacional de Cruz Alta, eis que me deparo com
uma passeata de Caminhoneiros. Tratores dividiam as ruas com pesados
transportes à óleo Diesel.
O que li nos vidros de três caminhões?
"QUEREMOS INTERVENÇÃO MILITAR". Tive uma diarréia no mesmo instante
psicológica e física. Entrei em uma loja pedindo socorro. Voltei ao ponto de
partida, não sem antes tirar algumas fotos e observar que dos ônibus parados
saíssem madames loiras, belas e perfumadas só para engrossar o movimento. Era
uma palhaçada de gente que não combinava nada com nada. No meio deles estavam
homens banguelas, de ásperas mãos, retrato vivo de empregados da lavoura, de
uma zona rural como é toda aquela região. Outros, homens fortes, estes, sim,
caminhoneiros, porém manifestoches, lutando por causa justa ao lado do patrão.
Paradoxo do grevista que pede ao dono do poder, ao lado dele, uma intervenção
militar que é justamente o trocadilho do momento: Usar a greve, que é um
direito da esquerda, para fins políticos da direita torta.
Agora, a volta? Bem esta foi uma outra
história que te conto a seguir. Uma maratona. Desde o princípio da programação
da viagem, a volta tinha horários entre voo e transporte rodoviário que não se combinavam.
Resolvi não usar os pontos da Multiplus e pagar por um voo da Azul. Decisão
acertada, pois a Latam deixou muitos usuários sem transportes aéreos. Sairia de
Cruz Alta com um carro particular de um rapaz que me cobraria pela viagem do
hotel até o aeroporto de Passo Fundo. Na véspera, voltando de um passeio com a
mesma pessoa, eis que lhe pergunto se já havia abastecido o carro. Perante a
resposta negativa, fiz outra: O tanque
de combustível cheio é suficiente para ir e voltar? – Outra resposta negativa. Alertei de que eu e meus filhos estávamos
alarmados com a possibilidade de que eu poderia ficar pela estrada, no meio do
nada, sem saber como voltar para casa. Disse-lhe que em São Paulo, já não havia
postos abertos com combustível.
Imediatamente o rapaz foi abastecer o carro e não conseguiu encontrar
nenhum posto aberto. Ao me dar a notícia de que não poderia assumir o
compromisso de me levar ao aeroporto, me falou que me levaria à rodoviária para
comprar uma passagem (caso tivesse). Lá fomos nós e conseguimos uma num ônibus intermunicipal, que sairia pela manhã do mesmo dia, onde tinha um
voo a me aguardar, naquela tarde de domingo. Marcamos o horário que viria me
buscar para levar-me ao aeroporto. Quase não dormi de preocupação. Acordei em
tempo hábil, fechei a conta do hotel, paguei e fiquei esperando, esperando,
esperando. Até que um funcionário do hotel chamou um táxi para mim. Eu já havia pago na noite anterior pela
carona que teria. Duas vezes o mesmo trajeto, mas cheguei a tempo na rodoviária
para pegar o ônibus já quase partindo sem mim.
Foi então que o motorista ao pegar minha bagagem e colocá-la no lugar
adequado me deu a triste notícia: “A
senhora sabe que não vou para o aeroporto? Vou deixá-la na rodoviária de Passo
Fundo. O aeroporto é longe e é provável que não haja táxis por conta da ausência de postos abertos”. Gelei. Mas
tomei a decisão acertada. Entrei no
ônibus. Foi um tour por mais de dez cidades pequeninas. Um entra e sai de
crianças, homens simples, mulheres alegres e falantes, jovens indo para
diversões domingueiras. Gostei da viagem, embora nenhum pouquinho confortável.
No meio do caminho, eis que o céu se fechou de repente. O medo tomou conta de mim. E se cair uma tempestade? O que vou fazer no meio daquele deserto sem nada de nada?
Imediatamente eu me lembrei de uma frase que foi dita para mim numa das tardes de nossas atividades literárias: "Nunca permitas que teu medo te domine, pois eis que ele acaba com as tuas forças"... Não permiti!
As nuvens escuras desapareceram. Cheguei
na rodoviária e consegui entrar em um táxi que me levou até o tão desejado
aeroporto. Já sabia que a Azul cumpriria o voo até Campinas, mas retirara o
translado à capital paulista, como fazem de hábito. Já combinara com meu filho
que ele iria me pegar de carro. O combustível estava reservado para isto. Ao
chegar no aeroporto, a surpresa. Tudo fechado: restaurantes, guichês. Somente
eu e dois seguranças, que não sabiam me dar informações. Daí me desesperei até
que vi uma senhora da limpeza, muito tranquila que me abriu a porta e me fez
entrar. Disse-me que o único voo do dia programado era o meu e que os
funcionários chegariam perto das três da tarde para o chekin e despacho de
bagagens. O mesmo com o pessoal do restaurante. Por uma tarde tive um aeroporto
só pra mim... Quer mais?
Liz Rabello
MASSA DE MANOBRA
A Rede Globo lançou o furor. O PSDB arquitetou e se uniu aos outros partidos, mas a elite sempre soube por que foram às ruas pela segunda vez. A primeira em 1964, na Marcha da Família. Para eles se "safarem" das próprias corrupções é o bastante. A classe média quer chegar ao topo e rastejam atrás da elite. São os famosos "coxinhas", comem do mau a pior e arrotam "caviar". Apoiar a venda da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal, privatizar as Estatais sempre foram os objetivos do PSDB, partido que defendem. Agora já conseguiram, inclusive que o BNDES "empreste dinheiro" para empresas privadas adquirirem suas próprias estatais. Modo tucano de desgovernar o nosso país. Para eles, o estilo Maria Antonieta, que a Marcelinha veste muito bem é o que importa. Para eles, as viagens a Disney com seus filhos é o que importa. Para eles, as viagens de compras a Miami é o que importa. EUA por trás do Golpe???? Que é que tem. Não vem ao caso! Sempre foram vira latas rastejando ao redor do mais forte! Agora que se danem os pobres sem teto, sem terras, sem SUS, sem remédios para Aidéticos, controlados pelo governo e gratuitos, aumento substancial aos Planos de Saúde, sem farmácia popular, sem escolas para deficientes, sem ambulâncias para todos, sem universidades para pobres, através de cotas pela escola pública, sem PROUNI, sem ENEM, sem PRONATEC, aposentadoria só depois dos 75, ou jamais se morrer antes, sem décimo terceiro, terceirização ou flexibilização para todos os trabalhadores, mordaças aos professores, censura em sala de aula. Escolas apartidárias? Ou com ideologias deles? Repressão às opiniões. Policiais militares tratando manifestantes como bandidos. Sem cotas em universidades para negros... Aliás, o que já li: "Que voltem para a senzala, lugar de onde jamais deveriam ter saído!"... Incrível, pois esta frase foi escrita por um pobre coitado, coxinha mal vestido e mal pago! Estes, é que são os verdadeiros MASSA DE MANOBRA, que não admitem que são, que não percebem, porque muita burrice viveu até então.
Liz Rabello/2017
“ROUBA MAS FAZ”
Você já deve ter ouvido esta
expressão: “Rouba, mas faz”, famosa na atualidade por ser uma das frases
folclóricas, que se atribui adjetivos ao multi processado político paulista
Paulo Maluf. Na verdade, a origem da menção “qualificadora” é bem mais remota.
Vem da eleição municipal de 1.957, em que Ademar de Barros disputava, como
candidato a prefeito, o pleito no município de São Paulo. Seu adversário lançou
o slogan “Ademar, rouba mas faz”! - Que “pegou”. Sempre houve baixaria e sujeira
em nossas campanhas políticas. Caricaturas e anedotas é o que nunca faltaram.
Na campanha ao governo de São Paulo, Jânio Quadros e Adhemar escreveram uma
página de insultos, ataques pessoais, de baixo nível. Na época não existia a
palavra ‘corrupção’. O termo usado era ‘negociata’. O então candidato a
prefeito, dizem, era muito bom em negociatas. O ‘rouba, mas faz’ teve sucesso
no pleito. Os exemplos de como é prejudicial
a corrupção, que desemboca na falta de escola, de hospital decente e de comida
na mesa das pessoas, deveria ser de amplo conhecimento popular. Deste modo os
incautos não venderiam mais o voto nas eleições ou não mais cairiam no conto do
‘rouba mas faz’.
“Quem não conhece?
Quem nunca ouviu
falar?
Na famosa 'caixinha'
do Adhemar.
Que deu livros, deu
remédios, deu estradas.
Caixinha
abençoada!"
Com cantigas, anedotas ou sei lá
mais o quê, o certo é que o povo é massacrado com mentiras, pois afinal, se não
rouba, o político faz mais. Assim é que deveria ser!
Uma das “tradições” da política
brasileira é a do “rouba, mas faz”, sobre o governante que enfrenta denúncias
de corrupção ao longo do mandato, mas é querido pelo povo por causa das obras
que realiza. Ex-governador de São Paulo e ex-prefeito da capital paulista,
Ademar de Barros (1901-1969) até hoje é identificado com esse “lema”. Entre o
início de sua carreira como deputado estadual, em 1934, e sua cassação pelo
regime militar, 32 anos depois, ele colecionou feitos administrativos,
suspeitas de desvio de dinheiro público e muita polêmica. Numa
época, onde os meios de comunicação eram os jornais “O Estado de São Paulo” e o
rádio, a serviço da classe dominante, não se sabe ao certo se as denúncias
contra Ademar sobre corrupção realmente foram leais. Seu lema era "São
Paulo não pode parar", que tempos depois seria reiterado por Paulo Maluf. Deste,
não há dúvidas de que rouba, e não sei não, se realmente fez!
"Por onde passar a energia elétrica, passarão o transporte, o
médico e o livro"
Jaraguá, um bairro de periferia
da cidade de São Paulo, já foi muito importante no passado, por conta de sua
ferrovia, construída pelos Ingleses, com o aval dos grandes fazendeiros, que
utilizavam os trilhos para enviar ao porto de Santos e de lá para o exterior os
frutos do trabalho árduo dos paulistas. Com o abandono das redes ferroviárias e
o crescimento e investimento em rodovias, principalmente nas mãos de Ademar de
Barros, cujo lema era “São Paulo não pode parar”, obras, como a construção da
segunda pista da Rodovia Anhanguera e a segunda pista da Rodovia Anchieta,
ambas pavimentadas e que se tornaram as duas primeiras rodovias brasileiras de
pista dupla, foram realizadas. Adhemar seguiu uma tradição de antigos
governantes paulistas, como Washington Luís, que dizia que "governar é
abrir estradas".
A pavimentação de estradas, com
asfalto e concreto, uma inovação na época, feita por Ademar, era malvista e
criticada por muitos políticos, que a consideravam um processo muito caro.
Muitos políticos da época entendiam que os recursos públicos estariam melhor
empregados se fossem usados na construção de novas estradas de terra e na
manutenção e conservação das estradas de terra já existentes. Ninguém pensava
na melhoria e conservação das estradas ferroviárias.
Contudo, um outro slogan de sua
campanha era a expansão da energia elétrica. Nos comícios de rua, Ademar de
Barros prometeu aos moradores do Jaraguá a chegada da luz elétrica, muito
precária em vários pontos. Campanha realizada, povo crente, até subiram os
caminhos tortuosos do morro do Jaraguá até o Pico com velas, à meia noite, em
ato de jejum e de fé, a favor da vitória do homem que roubava, mas fazia. Com
tanta garra, claro que o candidato venceu as eleições. Tomou posse e nada. A luz elétrica não vingava. O povo indignado não teve dúvidas. Lançaram
mão de uma luta que até hoje a gente faz. Organizaram uma caminhada até os
Campos Elíseos. Saíram de trem e
chegaram ao entardecer à luz de velas, numa enorme Passeata das Velas. Tanto
gritaram que não demorou muito a luz se acendeu!
Liz Rabello
ALFABETIZAÇÃO... UMA BRINCADEIRA!
Fui alfabetizadora durante dezoito anos seguidos, num tempo
em que meus filhos eram pequenos e, eles próprios vivenciavam estes momentos de
primeiros contatos com a escrita.
Meu filho mais velho me deixou traumatizada por conta de que
problemas familiares me fizeram optar por uma escola maternal para ele. Aos
dois anos já estava frequentando o Colégio Pato Donald, que funcionava dentro
do prédio do São João Gualberto, e, portanto, não era adaptado à criança tão
pequena. Seus garranchos e rabiscos iniciais eram pautados de conceitos como
“PÉSSIMO”, “SEM CAPRICHO” ou outros sinais de que quem o estava direcionando
para os primeiros contatos com a alfabetização não tinha a menor ideia do mal
que fazia para uma criança de dois aninhos. Se fosse hoje, eu o teria tirado
daquela escola num piscar de olhos. Quando entrou para o ensino fundamental já
estava farto de escola, carteiras, lousas, lápis e cadernos. Reagiu como alguém
que não tinha capacidade para aprender. E tinha.
A diferença entre os irmãos é de oito anos. Minha
experiência negativa com o mais velho, deixou-me cautelosa com o mais novo. Não
o coloquei na escola maternal, mas sim bem mais tarde. No entanto, por não ter
com quem deixá-lo em casa, muitas vezes eu o levava comigo para a sala de aula.
Usava vários materiais para a aprendizagem dos meus alunos e um deles eram os
cartazes da Caminho Suave, a Cartilha e os varais. Tinha um jogo velho que
deixei em casa e o meu filho se apropriou para brincar. Um dia eu o peguei no
fundo do quintal pendurando os cartazes no varal de roupas e ensinando as
galinhas a ler:
RA RE RI RO RU RUA!
SUAS GALINHAS BURRAS!
Ri muito da cena. E fiquei meditando se eu também não usava
de brincadeiras para com meus aluninhos pequenos da Rui Bloem, onde lecionava.
Acredito que sim... Um deles vivia me dizendo: “Já estou ficando cafuso... É
muita letrinha pra me torturar!”
É claro que as galinhas jamais aprenderam a ler, mas o
Rodrigo, sim! De tanto ensiná-las, quem se auto alfabetizou, foi ele próprio.
Certa vez me disse num repente: “Mamãe, eu sei ler.” Abriu a Cartilha Caminho
Suave e leu: LATA. Havia o desenho da lata e eu menosprezei a leitura. “Oras,
você leu a imagem” – E ele mudou a página. Desta vez leu DADO. E novamente
deduzi que a imagem é que decifrava o código. Ele se irritou e leu SAPO... A
mesma repetição dos fatos. Para me provar que sabia ler não mudou de página,
apenas leu uma das palavras da lição do sapo: SALADA! Oras bolas e num é que
era o SA do sapo, mais o LA da lata, mais o DA do dado???? Ele ficou realmente
zangado e berrou: “Eu sei ler!” E leu a página toda e depois outras páginas,
enquanto muito emocionada eu o beijava de alegria... pois jamais o ensinara,
apenas o deixei brincando com todo aquele material de alfabetização. Quando aos
quatro anos eu o coloquei na escola Chácara Mundo Feliz ele já sabia ler e
escrevia muitas palavras que aprendera sozinho por seu próprio interesse.
Isto me fez aprender a ensinar! E, principalmente a refletir
sobre o que é que eu ensinava realmente quando queria ensinar algo que tinha em
mente. Na verdade não é o conteúdo que importa, mas o MODO como fazemos o nosso
trabalho.
Liz Rabello
GRATIDÃO
A MIM A VEJA NÃO CONVENCE ATÉ PORQUÊ EU A RASGO. SÓ LEIO QUANDO PESQUISO ALGO PARA DEFLAGRAR A REALIDADE INJUSTA QUE ESTA PSEUDO REVISTA INFORMATIVA PASSA PARA SEUS LEITORES. IDEIAS SOFISMÁTICAS SEMPRE A FAVOR DA ELITE BRANCA DESTE NOSSO IMENSO PAÍS.
Pense nisso...
A primeira capa foi à beira da eleição presidencial.
A segunda capa foi logo após a aprovação da PEC que garante direitos às trabalhadoras domésticas.
Na primeira capa Veja lamenta o fato de a eleição estar na mão de gente assim: mulher, pobre, negra, sem educação.
Na segunda capa Veja lamenta uma lei que vai fazer o trabalho doméstico ser executado por gente assim: homem, branco, classe média, engravatado.
Na primeira capa Veja diz "ela".
Na segunda capa Veja diz "você".
A quem Veja se dirige? Em nome de quê? A quem Veja quer convencer?
A autora de Sex and the City
narra no novo livro "SELVA DE BATON" a história de três amigas: Nico,
Wendy e Victory. Aos quarenta e poucos anos, as três amigas têm em comum algo
além dos laços afetivos. Bem-sucedidas, fazem parte da seleta lista das
"50 mulheres mais poderosas de Nova York"... Não se trata de ser
aquela que obteve sucesso por ser a única mulher no meio de uma sala repleta de
homens poderosos... As três são um novo modelo de mulher poderosa, onde a base
é a união com outras mulheres de igual valor... Desejam que as mulheres
governem o mundo e não os homens... As três histórias particulares de vida
seguem paralelamente, saindo cada vez mais de um mundo fútil, esvaziado de
sentido, para as profundezas da alma feminina, sempre em busca de novos conceitos
de vida: "Ninguém sabe exatamente como vai se comportar até enfrentar
certos desafios. É uma das grandes coisas da vida: colocar-se em posições de
modo a enfrentá-los e não ter medo. É isto que faz a vida delas ser
extremamente interessante"... Vale a pena ler!
Liz Rabello
GUERRA DO FIM DO MUNDO
Quem
quiser conhecer a Guerra de Canudos, pelo viés do dominado, é só ler A GUERRA
DO FIM DO MUNDO, de Mario Vargas Lhosa. Baseado em fatos reais, já escritos em
OS SERTÕES de Euclides da Cunha (viés do dominador). Este escritor latino
americano nos traz a dor, a miséria, a fome, pelo lado de quem a viveu dentro
das terras ocupadas. O livro de Mario Vargas traz a saga de Antonio Conselheiro
e seus seguidores, do princípio ao fim, da luta pelas terras prometidas e
ocupadas, pela comunidade pobre que se tornava rica de auto sustentabilidade e
por esta razão "PERIGOSA" para os dominadores. Quinhentas páginas que
foram devoradas por mim em uma semana. O livro histórico mais comovente de que
me lembro ter lido.
Liz Rabello
MINHA COLUNA RESENHAS
PARA O JORNAL ELETRÔNICO
"CORREIO DA PALAVRA" - ALPAS 21
PLANTÃO SOLAR, DE MARA
PITTALUGA
É um livro de poesias com 64 páginas, totalmente colorido, de um amarelo girassol,
exuberante e atrevido, da Editora Gaya, Cruz Alta- RS, 2017. A escritora assume a coragem de se dizer poeta
num mundo onde a guerra sangra o verso.
Na esteira deRozélia
S. Razia, que prefaciou o livro, “A poeta amanhece Vênus, vive girassol,
sintetiza o cotidiano em poemas, ilumina versos, pinta um cenário onde o céu é
o palco, o sol protagoniza o herói, os olhos espelham o horizonte à espera do
estandarte da lua para eternizar os amores que ela, apaixonadamente vive a cada
momento. Sem culpas, ela transita, ora nas asas de Págasus em uma viagem
estelar, ora adentra o veículo do erotismo, abre o próprio peito e expõe os
sentimentos que afloram do seu coração em janelas de poemas”.
Mara Elisabete Pittaluga e Silva
é natural da cidade do Rio de Janeiro/RJ. Reside em Santa Maria/RS. Trabalha
com artesanato, pintura em telas. Mas é apaixonada pela natureza e seu maior
prazer é fotografar as belezas do lago, enquanto escreve.
Conhecida como a
“Poeta do Lago”, publicou quatro livros de poemas: “Poemas à Beira do Lago”,
“Em Estado Lírico”, “Plantão Lunar” e “Plantão Solar”, além de um livro de
literatura infantil “A Mágica Aventura”. Participou de várias Antologias e
escreve para o jornal literário Letras Santiaguenses. Autografou na Bienal
Internacional do Livro de São Paulo, momento em que tive a honra de conhecê-la.
Liz, assim como gostei muito de seu livro Intervalos, mescla de poesia e prosa, estou adorando ler estes seus ensaios. Você é boa escritora em prosa e verso. Parabéns.
Comecei lecionar em 1989 Liz Rabello, e antes mesmo do meu primeiro dia em sala de aula, já estava em greve rss, acredite se quiser. Me lembro que tinha assinado um contrato e a diretora me disse que assim que a greve terminasse eu assumiria as aulas, e foi uma greve longa e participei de todas as assembleias, mesmo ainda não sendo professor. Li o texto que escreveu e me lembro bem dessa época, alguns amigos foram demitidos pelo Jânio Quadros por causa da greve de 1987, mas o que chamou a atenção me fez rir por aqui rsss, foi a cabeça da menina sua aluna, você vê o que é a cabeça da criança rsss, ela achou q devido ao seu choro exagerado por ter que responder processo administrativo, só podia ser porque sua mãe tinha morrido, e espalhou a notícia rssss! Ter dedicado esse primeiro texto político à minha pessoa é uma honra, você escreve muito bem, obrigado!! (Cícero Carlos)
Liz, assim como gostei muito de seu livro Intervalos, mescla de poesia e prosa, estou adorando ler estes seus ensaios. Você é boa escritora em prosa e verso. Parabéns.
ResponderExcluirComecei lecionar em 1989 Liz Rabello, e antes mesmo do meu primeiro dia em sala de aula, já estava em greve rss, acredite se quiser. Me lembro que tinha assinado um contrato e a diretora me disse que assim que a greve terminasse eu assumiria as aulas, e foi uma greve longa e participei de todas as assembleias, mesmo ainda não sendo professor. Li o texto que escreveu e me lembro bem dessa época, alguns amigos foram demitidos pelo Jânio Quadros por causa da greve de 1987, mas o que chamou a atenção me fez rir por aqui rsss, foi a cabeça da menina sua aluna, você vê o que é a cabeça da criança rsss, ela achou q devido ao seu choro exagerado por ter que responder processo administrativo, só podia ser porque sua mãe tinha morrido, e espalhou a notícia rssss! Ter dedicado esse primeiro texto político à minha pessoa é uma honra, você escreve muito bem, obrigado!! (Cícero Carlos)
ResponderExcluirQue encanto seu blog Liz! Realmente você escreve com a alma e o coração...
ResponderExcluirBeijos!