domingo, 14 de janeiro de 2018

ENTRE AS RENDAS DO SILÊNCIO


Tempestade de ventos
Folhas, flores, galhos, fios
Se entrelaçavam em direções opostas
Chocavam-se em vertigens de agonia
Um estouro e tudo se apagou
A luz da telinha virou breu
Horas passam vagarosas
E eu serena, em orações
O fôlego retorna
Milagre no meu jardim leproso
Minh’alma em rasgos de silêncio
Faz da dor um jardim de alvorecer

A tempestade de ventos chegou farta hoje à tarde. Tufadas de folhas, flores, fios elétricos se entrelaçavam, em direções opostas, como se as golfadas quisessem se abraçar. Portas batiam sem cessar. Vareta se escondeu em minhas pernas com o coração saltitando de pavor. Deu um estouro e tudo se apagou. Na telinha do computador a luz tornou-se breu. As horas passaram mansas, serenas, a tempestade não vingou. Cedo demais para dormir. Comecei a fazer orações. Entre palavras me perdi e o sono venceu a tarde. Acordei com todas as luzes acesas, às três e meia da manhã. Liguei o computador e eis que ao recarregá-lo, esta mensagem surge, escrita em meu blog, por um autor anônimo: "O tempo passa... O fôlego retorna. Parece milagre, mas as sementes de cura começam a florescer nos mesmos jardins onde parecia que nenhuma outra flor brotaria. A alma é sábia: enquanto achamos que só existe dor, ela trabalha, em silêncio, para tecer o momento novo. E ele chega".
Liz Rabello