ENTRE AS
RENDAS DO SILÊNCIO
Tempestade de ventos
Folhas, flores, galhos, fios
Se entrelaçavam em direções opostas
Chocavam-se em vertigens de agonia
Um estouro e tudo se apagou
A luz da telinha virou breu
Horas passam vagarosas
E eu serena, em orações
O fôlego retorna
Milagre no meu jardim leproso
Minh’alma em rasgos de silêncio
Faz da dor um jardim de alvorecer
Faz da dor um jardim de alvorecer
A tempestade de ventos chegou
farta hoje à tarde. Tufadas de folhas, flores, fios elétricos se entrelaçavam,
em direções opostas, como se as golfadas quisessem se abraçar. Portas batiam
sem cessar. Vareta se escondeu em minhas pernas com o coração saltitando de
pavor. Deu um estouro e tudo se apagou. Na telinha do computador a luz
tornou-se breu. As horas passaram mansas, serenas, a tempestade não vingou.
Cedo demais para dormir. Comecei a fazer orações. Entre palavras me perdi e o
sono venceu a tarde. Acordei com todas as luzes acesas, às três e meia da
manhã. Liguei o computador e eis que ao recarregá-lo, esta mensagem surge,
escrita em meu blog, por um autor anônimo: "O tempo passa... O fôlego
retorna. Parece milagre, mas as sementes de cura começam a florescer nos mesmos
jardins onde parecia que nenhuma outra flor brotaria. A alma é sábia: enquanto
achamos que só existe dor, ela trabalha, em silêncio, para tecer o momento
novo. E ele chega".
Liz Rabello