PERIFERIA
SANGRENTA
Levantou-se como
num dia qualquer
Sem saber que
deveria viver
Agradecer um bom
momento melhor
Para um novo respirar
acontecer
Beijou a criança
que deixou a dormir
Café pronto,
quentinho
Forma de agradar
com sabor
o marido que também acordou.
Saiu após banho
sentir
Que um novo dia
realmente começou.
O sol tardou a
raiar no horizonte
Pingos de aurora
secar
No escuro a
câmara a pegou
Na esquina
deserta a solidão inundou.
Um vulto a vinha
seguindo
Era a vizinha
sem amor
Que dela morria
de ciúmes
Pois seu amado
olhos libidinosos a cobriam com ardor
Desejos que nem
sequer nunca suspeitou
E a câmara a
flagrou
Gestos de ódio
consagrou.
Outro vulto a
vinha seguindo
Era um jovem,
cujos olhos não fechou
Madrugada toda
pelas ruas andou
Atrás de crack,
dinheiro
Ou outro sonho
desesperador.
E ela seguia
feliz
Triste trabalho
cumprir
Nem reparou que
a câmara o flagrou
Olhos de ódio
consagrou.
Eis um terceiro
vulto que vem
Este se apressa
e aos outros deixa além
Late grunhidos
de fome
Mas beija as
mãos da garota que segue
Pois sem saber
A câmara a
persegue
E o cãozinho
registra também
Olhos de amor o
consagrou.
Eis um quarto
vulto que a segue
É a polícia que
a todos persegue,
Seja mulher,
homem, cachorro
Trabalhador,
vadio ou sem vintém
E a câmara
registra este vai e vem
Não se sabe para
o que vem.
Um estampido
Um latido
Uma garota caída
Corpo de trapo
na beira do asfalto
Mais uma que no
trabalho não chega
Mais uma morte
que a câmara não desvenda
É a não vida que
se nega quase sempre na periferia sangrenta!
Liz Rabello