sexta-feira, 27 de novembro de 2015


PERIFERIA SANGRENTA

Levantou-se como num dia qualquer
Sem saber que deveria viver
Agradecer um bom momento melhor
Para um novo respirar acontecer
Beijou a criança que deixou a dormir
Café pronto, quentinho
Forma de agradar com sabor
 o marido que também acordou.

Saiu após banho sentir
Que um novo dia realmente começou. 
O sol tardou a raiar no horizonte
Pingos de aurora secar
No escuro a câmara a pegou
Na esquina deserta a solidão inundou.

Um vulto a vinha seguindo
Era a vizinha sem amor
Que dela morria de ciúmes
Pois seu amado olhos libidinosos a cobriam com ardor
Desejos que nem sequer nunca suspeitou
E a câmara a flagrou
Gestos de ódio consagrou.

Outro vulto a vinha seguindo
Era um jovem, cujos olhos não fechou
Madrugada toda pelas ruas andou
Atrás de crack, dinheiro
Ou outro sonho desesperador.
E ela seguia feliz
Triste trabalho cumprir
Nem reparou que a câmara o flagrou
Olhos de ódio consagrou.

Eis um terceiro vulto que vem
Este se apressa e aos outros deixa além
Late grunhidos de fome
Mas beija as mãos da garota que segue
Pois sem saber
A câmara a persegue
E o cãozinho registra também
Olhos de amor o consagrou.

Eis um quarto vulto que a segue
É a polícia que a todos persegue,
Seja mulher, homem, cachorro
Trabalhador, vadio ou sem vintém
E a câmara registra este vai e vem
Não se sabe para o que vem.

Um estampido
Um latido
Uma garota caída
Corpo de trapo na beira do asfalto
Mais uma que no trabalho não chega
Mais uma morte que a câmara não desvenda
É a não vida que se nega quase sempre na periferia sangrenta!


Liz Rabello

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