quinta-feira, 16 de janeiro de 2014


PERMITA-ME O AMOR!

Entre a sua liberdade
E minha autonomia
Permita-me o voo
De um novo sonho!

Entre a sua tristeza
E a minha solidão
Permita-me a metamorfose
Morte de uma mariposa!

Entre a sua melodia
E os acordes da canção
Permita-se o som
Do voo em comunhão!

Entre a sua esperança
E a minha desilusão
Permita-se o enlace
De nossas mãos!

Permita-me o Amor!

 O PASSADO NÃO RECONHECE O SEU LUGAR
ESTÁ SEMPRE PRESENTE

Estava na Casa de Repouso visitando meu sogro. Esperava no guichê o próximo atendimento, quando ouvi atrás de mim uma voz muito familiar dizendo Bom Dia. Meu coração, aos pulos, dilacerou o peito, enquanto me voltava para conferir. Sim, era Ele! Não podia ser verdade. Meu grande amor ali, na minha frente. Mesmo sorriso, mesmo jeitinho alegre. O tempo só lhe roubara cabelos, mais nada! Cingiu-me braços apertados e beijos no rosto demorados. Chorei em seus braços, enquanto me deixava dominar a emoção. “Precisamos conversar”. Levou-me para o estacionamento. E sem que eu entendesse nada, passou a abrir o capô do seu carro, a retirar o estepe e uma caixa colorida bem fechada à mão. Dentro dela, todas as cartas que eu lhe escrevera. Todas as fotos, que um dia tiramos juntos. Um par de alianças de ouro guardadas numa caixinha de veludo, que outrora fora minha grande ilusão.

Olhou para a outra aliança em minha mão esquerda. Percebeu meu embaraço. Sim, eu me casara há mais de vinte anos, duas filhas. Era feliz sem amar. Apenas respeitar e me anular para que outros fossem felizes. Não era exatamente assim a minha vida? Onde estava o meu “EU”? Observei que ele também tinha uma aliança na mão esquerda. Casara-se há apenas dez anos. Trocamos celulares, emails e nos prometemos que não nos perderíamos jamais.

NOTAS DESAFINADAS

Mar calado noite densa
Nenhuma onda gigante se manifesta
Palavras são redemoinhos ausentes
Pedregulhos pousados no fundo do mar

Corpo em pausa, corpo inerte
Nenhum som de encanto te faz acordar
Palavras são notas desafinadas
Na ponta do penhasco a se equilibrar

Arrepio na coluna... É o vento
Trazendo cantigas de um tempo lá atrás
Palavras agora exalam novos aromas
Perfumes mesclados a sabor e a paz

Coração se exalta enrubesce o rosto
Desejos mansinhos de vida a voar
Palavras nascem querendo acordar
Aurora repleta de sonhos a vivenciar

Tinha apenas dezenove anos quando nos conhecemos. Nós nos apaixonamos um pelo outro e decidimos nos casar a despeito da opinião da família que queria ver-me ao lado de outro alguém. Para conseguir o aval, menti. E depois da mentira, concretizei a ação. Decidimos pelo passo maior: uma lua de mel antecipada. Tirei uma semana de férias em meu trabalho. Ele fez o mesmo. Fomos para Campos do Jordão, num chalé, ouvir a melodia do amor. Minha primeira vez foi linda e nunca mais me senti tão feliz!

Daquele momento em diante ninguém mais poderia se interpor entre nós, pensei. Estava enganada. Mobiliamos uma nova casa, marcamos a data do casamento. Trocamos alianças de noivado. E o cenário cor de rosa só se transformou em noite densa quando a menina apareceu grávida dizendo que o pai era o meu noivo. Ele negava, é claro. Mas confessou-me ter tido intimidades físicas com ela. Minha decepção foi enorme. Meus sonhos dilaceravam-se por dentro. Rompi o noivado e me entreguei a uma fuga de vida, que nunca mais se acabou. Mesmo quando conheci meu atual marido, e um descuido deixou-me engravidar de minha filha mais velha, não foi amor. Apenas fuga, como era o álcool ou os choros convulsivos que me teciam as noites e faziam meu travesseiro verter lágrimas de sangue.

Eis que meu passado volta. De dentro deste túnel, o meu príncipe me pega pela mão e me leva para um quarto de motel. Não se atreveu a tocar-me. Ali fomos para poder fugir de olhares de terceiros. Precisávamos conversar olho no olho... Esculpir frases mal ditas em tempos malditos, lapidar aquele diamante bruto, que um dia foi o motivo do nosso viver. Justificar o injustificável.

De mãos dadas, contou-me que jamais me traíra, que aquela garota fora um deslize, um erro de juventude, que a gravidez fora uma mentira dela, que tentara de todas as formas uma reaproximação, que minha família o recebera até com armas na mão e que nunca o deixaram chegar perto de mim, que ficara sozinho durante treze anos, que se jogara na bebida e no fracasso profissional até conhecer a esposa atual. Mais velha do que ele, melhor sucedida financeiramente, ela o ajudara a reerguer-se e a se tornar o que era hoje. A pessoa que compartilhava sua vida era uma boa mulher, de alma limpa e muito doente. Um câncer dilacerava seu útero e tinha dias contados. Não podia deixá-la agora quando mais precisava dele.

Eu também preciso dele. E como, meu Deus? Entreguei-me aos sentimentos, com toda fome e desejo e coração e corpo e alma e eu inteira, por inteira, sendo Eu. Durante três meses nós nos encontramos regularmente. Mas, sempre tem um “mas”! Como poderia me olhar no espelho? Como poderia não me condenar? Como poderia viver nesta duplicidade?

OLHA PRA MIM

O que tu pensas sobre mim?
Como podes me julgar?
O que tu vês é apenas a carcaça
Corpo suado de sofrer
Aparências que me envolvem
Se tu olhas apenas pra fora
Nada enxergas!

Olhos além dos olhos
Intuição do coração
Belezas escondidas
Sorrisos ocultando tristezas
Avessos que nem sempre
Outra mente consegue mentir
Antes de desvendar!

Nunca tive nada meu e ainda não tenho. Não sou ligada a bens materiais. Tudo que da vida desejo é a construção do meu caráter, do que sou em essência. Foi por esta razão que a Igreja Batista tanto me encantou desde a minha mocidade, e, também foi por esta mesma razão que meus estudos acadêmicos se aprofundaram na Filosofia. Sou Teóloga. Meus discursos na Igreja decifram a Palavra de Deus. E meus atos me condenam perante a consciência e o coração. Meu primeiro passo levou-me a buscar uma reconciliação com meu marido. Mudei de cidade e de estado. Fui embora de perto da felicidade e dor que conheci. Tudo em vão!  Hoje me vejo separada tanto do pai das minhas filhas, que mentiras não mais fazem parte do meu viver, quanto do meu amor. Estou só. Preciso começar a me buscar, tentar reencontrar um EU profundo que possa recomeçar. Tenho esperanças. Fé no futuro. Quem sabe em algum lugar exista a paz do encontro final e a gente possa se amar para nunca mais se largar!

 ADEUS

Já te falei adeus 
Segurando o tempo
E mil vezes querendo dizer:
Volte logo meu amor!

Já te falei adeus
Na esperança de um novo início
Sem ter de fato acabado
Sem ter preenchido lacunas!

Já te falei adeus
Com dois pontos, vírgulas,
Exclamações, reticências
Sem nunca usar o ponto final

Já te falei adeus
Pra nunca mais
E não fiquei triste
Acredito em milagres!

Já te falei adeus
e só queria pedir-te
Não te esqueças de mim
Jamais te esquecerei!


Liz Rabello