PERMITA-ME O AMOR!
Entre a sua liberdade
E minha autonomia
Permita-me o voo
De um novo sonho!
Entre a sua tristeza
E a minha solidão
Permita-me a
metamorfose
Morte de uma
mariposa!
Entre a sua melodia
E os acordes da
canção
Permita-se o som
Do voo em comunhão!
Entre a sua esperança
E a minha desilusão
Permita-se o enlace
De nossas mãos!
Permita-me o Amor!
O PASSADO NÃO RECONHECE O SEU LUGAR
ESTÁ SEMPRE PRESENTE
Estava na Casa
de Repouso visitando meu sogro. Esperava no guichê o próximo atendimento,
quando ouvi atrás de mim uma voz muito familiar dizendo Bom Dia. Meu coração,
aos pulos, dilacerou o peito, enquanto me voltava para conferir. Sim, era Ele! Não
podia ser verdade. Meu grande amor ali, na minha frente. Mesmo sorriso, mesmo jeitinho
alegre. O tempo só lhe roubara cabelos, mais nada! Cingiu-me braços apertados e
beijos no rosto demorados. Chorei em seus braços, enquanto me deixava dominar a
emoção. “Precisamos conversar”. Levou-me para o estacionamento. E sem que eu
entendesse nada, passou a abrir o capô do seu carro, a retirar o estepe e uma
caixa colorida bem fechada à mão. Dentro dela, todas as cartas que eu lhe
escrevera. Todas as fotos, que um dia tiramos juntos. Um par de alianças de
ouro guardadas numa caixinha de veludo, que outrora fora minha grande ilusão.
Olhou para a
outra aliança em minha mão esquerda. Percebeu meu embaraço. Sim, eu me casara
há mais de vinte anos, duas filhas. Era feliz sem amar. Apenas respeitar e me
anular para que outros fossem felizes. Não era exatamente assim a minha vida?
Onde estava o meu “EU”? Observei que ele também tinha uma aliança na mão
esquerda. Casara-se há apenas dez anos. Trocamos celulares, emails e nos
prometemos que não nos perderíamos jamais.
NOTAS DESAFINADAS
Mar calado noite densa
Nenhuma onda gigante se manifesta
Palavras são redemoinhos ausentes
Pedregulhos pousados no fundo do mar
Corpo em pausa, corpo inerte
Nenhum som de encanto te faz acordar
Palavras são notas desafinadas
Na ponta do penhasco a se equilibrar
Arrepio na coluna... É o vento
Trazendo cantigas de um tempo lá atrás
Palavras agora exalam novos aromas
Perfumes mesclados a sabor e a paz
Coração se exalta enrubesce o rosto
Desejos mansinhos de vida a voar
Palavras nascem querendo acordar
Aurora repleta de sonhos a vivenciar
Tinha apenas
dezenove anos quando nos conhecemos. Nós nos apaixonamos um pelo outro e
decidimos nos casar a despeito da opinião da família que queria ver-me ao lado
de outro alguém. Para conseguir o aval, menti. E depois da mentira, concretizei
a ação. Decidimos pelo passo maior: uma lua de mel antecipada. Tirei uma semana
de férias em meu trabalho. Ele fez o mesmo. Fomos para Campos do Jordão, num
chalé, ouvir a melodia do amor. Minha primeira vez foi linda e nunca mais me
senti tão feliz!
Daquele
momento em diante ninguém mais poderia se interpor entre nós, pensei. Estava
enganada. Mobiliamos uma nova casa, marcamos a data do casamento. Trocamos
alianças de noivado. E o cenário cor de rosa só se transformou em noite densa
quando a menina apareceu grávida dizendo que o pai era o meu noivo. Ele negava,
é claro. Mas confessou-me ter tido intimidades físicas com ela. Minha decepção
foi enorme. Meus sonhos dilaceravam-se por dentro. Rompi o noivado e me
entreguei a uma fuga de vida, que nunca mais se acabou. Mesmo quando conheci
meu atual marido, e um descuido deixou-me engravidar de minha filha mais velha,
não foi amor. Apenas fuga, como era o álcool ou os choros convulsivos que me
teciam as noites e faziam meu travesseiro verter lágrimas de sangue.
Eis que meu
passado volta. De dentro deste túnel, o meu príncipe me pega pela mão e me leva
para um quarto de motel. Não se atreveu a tocar-me. Ali fomos para poder fugir
de olhares de terceiros. Precisávamos conversar olho no olho... Esculpir frases
mal ditas em tempos malditos, lapidar aquele diamante bruto, que um dia foi o
motivo do nosso viver. Justificar o injustificável.
De mãos dadas,
contou-me que jamais me traíra, que aquela garota fora um deslize, um erro de
juventude, que a gravidez fora uma mentira dela, que tentara de todas as formas
uma reaproximação, que minha família o recebera até com armas na mão e que
nunca o deixaram chegar perto de mim, que ficara sozinho durante treze anos,
que se jogara na bebida e no fracasso profissional até conhecer a esposa atual.
Mais velha do que ele, melhor sucedida financeiramente, ela o ajudara a
reerguer-se e a se tornar o que era hoje. A pessoa que compartilhava sua vida
era uma boa mulher, de alma limpa e muito doente. Um câncer dilacerava seu
útero e tinha dias contados. Não podia deixá-la agora quando mais precisava
dele.
Eu também
preciso dele. E como, meu Deus? Entreguei-me aos sentimentos, com toda fome e
desejo e coração e corpo e alma e eu inteira, por inteira, sendo Eu. Durante
três meses nós nos encontramos regularmente. Mas, sempre tem um “mas”! Como
poderia me olhar no espelho? Como poderia não me condenar? Como poderia viver
nesta duplicidade?
OLHA PRA MIM
O que tu pensas sobre
mim?
Como podes me julgar?
O que tu vês é apenas
a carcaça
Corpo suado de sofrer
Aparências que me
envolvem
Se tu olhas apenas
pra fora
Nada enxergas!
Olhos além dos olhos
Intuição do coração
Belezas escondidas
Sorrisos ocultando
tristezas
Avessos que nem
sempre
Outra mente consegue
mentir
Antes de desvendar!
Nunca tive
nada meu e ainda não tenho. Não sou ligada a bens materiais. Tudo que da vida
desejo é a construção do meu caráter, do que sou em essência. Foi por esta
razão que a Igreja Batista tanto me encantou desde a minha mocidade, e, também
foi por esta mesma razão que meus estudos acadêmicos se aprofundaram na
Filosofia. Sou Teóloga. Meus discursos na Igreja decifram a Palavra de Deus. E meus
atos me condenam perante a consciência e o coração. Meu primeiro passo levou-me
a buscar uma reconciliação com meu marido. Mudei de cidade e de estado. Fui
embora de perto da felicidade e dor que conheci. Tudo em vão! Hoje me vejo separada tanto do pai das minhas
filhas, que mentiras não mais fazem parte do meu viver, quanto do meu amor.
Estou só. Preciso começar a me buscar, tentar reencontrar um EU profundo que
possa recomeçar. Tenho esperanças. Fé no futuro. Quem sabe em algum lugar
exista a paz do encontro final e a gente possa se amar para nunca mais se
largar!
ADEUS
Já
te falei adeus
Segurando o tempo
E mil vezes querendo
dizer:
Volte logo meu amor!
Já te falei adeus
Na esperança de um
novo início
Sem ter de fato
acabado
Sem ter preenchido
lacunas!
Já te falei adeus
Com dois pontos,
vírgulas,
Exclamações,
reticências
Sem nunca usar o
ponto final
Já te falei adeus
Pra nunca mais
E não fiquei triste
Acredito em milagres!
Já te falei adeus
e só queria pedir-te
Não te esqueças de
mim
Jamais te esquecerei!
Liz Rabello