segunda-feira, 11 de agosto de 2014

IMAGENS INSANAS


FOGO EM IBIÚNA PRECISA DO AUXÍLIO DO CORPO DE BOMBEIROS PARA NÃO CHEGAR EM PROPRIEDADES RURAIS E EM FIOS ELÉTRICOS, CUJOS POSTES AINDA SÃO DE MADEIRA.



 UMA GRANDE EXTENSÃO DA PROPRIEDADE JÁ ESTAVA DEVASTADA PELO FOGO. O VERDE QUE ALI BROTAVA AGORA NÃO PASSA DE MATO QUEIMADO.


AGOSTO INSANO

Desde criança estas cenas invadem minh'alma de indignação. Meu pai, por origens de trabalho, adquiriu uma doença crônica e irreversível: Fibrose Pulmonar. Pó de madeira, em seus pulmões fechavam os brônquios e ele não conseguia respirar sem o auxílio de oxigênio. Tubos iam e voltavam dentro de minha casa. Aflição de criança!

Meus vizinhos cortavam o mato do quintal. Colocavam fogo e meu pai morria aos poucos. Gritava, estraçalhava minha indignação com choro fértil. Lá se vai meio século da partida do meu grande amor e eu, hoje, choro por todos os animais que morrem a cada queimada, pelo solo perdido, pelos nutrientes queimados, pelo planeta e sua camada de ozônio cada vez mais em abismo. Pela água que não brota mais do céu. Seca que nos faz ficar com a pele encarquilhada e com a respiração difícil! Meu coração queima a cada Agosto insano!

Liz Rabello


QUEIMADAS

Uma tarde em que a saudade apertou, fui ao quarto dela. Encontrei um trabalho de pintura e colagens de fotografias. Era seu hobby, eternizar a vida ou a mim. Álbuns meus repletos de imagens dentro de caixas, cuidadosamente guardadas. Sabia perfeitamente o que havia lá dentro: Fotos minhas desde antes de nascer. Registros de meu crescimento, primeiros passos, primeiras quedas, choros e muitos sorrisos. Eu sempre fui alegre e não tinha como não o ser! A família toda me envolvendo em carinhos e afetos, cuidados e exigências! Todas, bem o conhecia: limites para me fazer ver que a vida nos é dada por empréstimo, que é preciso cuidar!

Parei diante daquela pintura. As fotos coladas sobre a chapa de acrílico, datavam de Agosto. Troncos de árvores queimadas. Cinzas. Restos do que poderia ser belo. Imediatamente eu me lembrei do quanto vovó dizia que sofria ao ver em suas viagens, as queimadas, que criminosamente os homens cometiam. Visualizei sua alma naquela foto, desenho de um contorno. Não por acaso, a pintura se chamava DOR. Atrás do quadro, um pequeno bilhete. Abri rapidamente como se encontrasse um copo de água no deserto:

Feche olhos pras queimadas
A gosto de quem não vê
Os Agostos sem chover!

(In “INTERVALOS”, “CÓDIGO AGV”, Liz Rabello, Editora Beco dos Poetas, 2013)