LUA NO CHÃO
Quando a lua vem até você só para dizer boa noite é porque a vida mora
dentro de você! Estávamos na chácara e um clarão imenso nos absorveu por
inteiro, logo depois que a luz elétrica acabou e que a mudez do som e o vazio das imagens dos
computadores nos tiraram de nossos afazeres habituais. A princípio, atônitos
com a louca escuridão dos primeiros sinais do apagão, ficamos inertes. Depois nossas
mãos se procuraram em busca da segurança que um espera do outro em momentos de “não
sei o que fazer agora”. Rimos e nos abraçamos como se tivéssemos nos encontrado
somente naquele instante. A noite estava escura e era tempo de verão! Lá fora
parecia que tudo estava imóvel como a vida que parara em busca de uma nova
melodia. De mãos dadas e muito abraçados fomos para a varanda. A rede ainda
estava lá, como leito de amor a espera da sede aplacar. De lá conseguíamos
ouvir o sibilar do vento nas águas da piscina, nas folhas dos arbustos, no
diálogo com as nuvens, que teimavam em esconder as estrelas. Nossos carinhos
trocados se enlaçavam, em sussurros e afagos se tocavam, nossos corpos
arrepiados de prazer se procuravam. Nossas vestes se soltaram. E nenhuma
estrela brilhou mais do que devia! Quando a febre do desejo saturou nossos
sentidos e nossos corpos se acalmaram, percebemos que a lua se encaixava em nossas mãos, num
único clarão que as nuvens nos legaram e enfim, deliciados, desejamos
ardentemente que o apagão fosse eterno e nunca mais se iluminasse!
Liz Rabello (In LUA NO CHÃO, 2015)