MINI OU MICROCONTOS
Maricotinha só tem três anos. Pinta direitinho os desenhos, mas às vezes deixa o lápis de cor avançar seus limites. Fiz a besteira de comentar. Ela continuou pintando... Mas quando elogiei a Juju, pegou fogo: Pinta você! - gritou! E ai de mim se digo que ela é brava!
Liz Rabello
A Maricotinha, minha bisneta de olhinho japonês, me pegou pela mão para me mostrar o que acabara de descobrir: "Biza, vem ver, tem uma bola gigante no céu!"
Liz Rabello
Foto de Duilio Coutinho
Era festa de encerramento de ano letivo no Colégio Rodrigues Alves. Juju, que nunca dançou, desta vez foi primorosa, debutou. Arrancou aplausos da plateia e ciscos dos olhos felizes de uma vovó, enfim, realizada.
Saiu do palco, último número, festa encerrada e ela emburrada. Não conseguia descobrir o motivo. Queria porque queria ir à sorveteria. Levei. Lá chegando não quis sorvete e continuou emburrada.
Voltamos e ela agarrada à saia da mãe, falava manhosamente algo incompreensível. A mãe decifrou: "Ela quer dormir na casa da amiguinha, só que não é possível." Eis que a tal menina, "minha melhor amiga", descrita assim por Juju, aparece, sorridente, e minha neta emburrada... Fui ao seu ouvido: "Minha querida, não perca tempo, vá já dar um abraço em sua melhor amiga". Vamos, que eu quero tirar uma foto."
Correu, nem deu tempo de registrar. Abraço longo, depois posou para a minha foto, toda feliz!
Horas depois, mostrei a ela o celular com o registro. Ela olhou, sorriu, lembrou e emburrou de novo!!!!!
Liz Rabello
PRIMEIRA AULA DE BALLET DA MINHA PRINCESA
- Juju, você tem certeza que vai dançar em apresentações?
- Sim, vovó, eu perdi a vergonha!
Liz Rabello
TIRADAS DA JUJU
Minha nora é Diretora na mesma escola em que Juju estuda. Ela estava ao telefone. A pessoa do outro lado da linha dizia não poder ir a uma reunião porque estava trabalhando. Juju ficou interessada. “Quem era?” A resposta chegou rápida: “A mãe de sua amiguinha, a Lelé. Não poderá comparecer à reunião, porque está trabalhando. Ela é Vigilante Sanitária.
Juju ficou pensativa. Deu uma volta pela sala e voltou: “Em que banheiro ela trabalha?” – Espantada, minha nora, respondeu: “Como assim?" - E Juju completou: “Sanitário não é banheiro?”
Liz Rabello
Conheço uma lenda NUVEM BRANCA DO JARAGUÁ... Dizem que estas nuvens são as marcas deixadas pelos lençóis brancos das mulheres que acenavam aos Bandeirantes, quando saíam em busca do ouro e pedras preciosas...
Liz Rabello
Juju conheceu Davi. Estava comendo espiga de milho. Ele, todo cavalheiro, pediu permissão aos pais dela para deixá-la brincar quando terminasse de comer. Os pais deixaram. Ficaram juntos a tarde toda. Brincaram de tudo: pega pega, esconde esconde, corrida. Rolaram na areia da praia. Fizeram buraco. Riram muito. Não faço ideia de quê. Até porquê toda cena me levou a um passado remoto. Todos os dias ele, um garotinho, me esperava no meu portão. Pouco mais da idade da Juju eu tinha então. Só me lembro que sorríamos muito felizes. Lindos olhinhos me fitavam. Um dia, tristes, me deram adeus. Ele voltou com os pais para sua terra de origem. Lá para os ares do Nordeste. Perguntei se era longe. Respondeu que sim. Até hoje espero a sua volta com o coração cheio de saudades.
Liz Rabello
TEMA: OLHOS DE RESSACA ("Obra do Poeta Machado de Assis")
Tinha olhos de quem nunca dormia no ponto. Astuta, esperta demais, sabia o que dizer quando as palavras acabavam. Sorria quando os lábios se trancavam. Mordia quando os dentes cariavam. À frente do seu tempo histórico era toda empoderada. Ninguém ousava enfrentar os olhos de ressaca de Capitu.
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentino
Acordei de madrugada. Sombras desenhavam pelas paredes figuras melancólicas e filetes de luzes fugazes. Cresceu-me um vazio imenso, medo misturado à lucidez. Desliguei o abajur. Deixei-me estar na penumbra. O escuro deu-me um sorriso. Cerrei os olhos e adormeci mais uma vez.
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentino
PALAVRA DO DIA: CONTRATO
Construí no fundo do quintal um
puxadinho. Por lá, florzinhas plantei para abelha fazer mel... Andorinhas fazem
ninhos, nascem muitos filhotinhos. Borboletas vêm pousar! Mas esqueci do
contrato. E quem diz que vão me pagar, por tão gostoso aluguel?
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentina
Praticar o respeito à natureza é muito mais do que escrever poemas e publicar no seu perfil. Requer atitudes, responsabilidades e mudanças comportamentais.
Liz Rabello
#microcontosfatimaflorentino
NÓ
CEGO
Juju
veio me visitar. Estava com saudades. Primeira brincadeira foi a contação de
histórias. O livro escolhido foi SILE, de Beto Costa. Minha neta adorou
descobrir que Sile é o começo do nome da vovó, ao contrário... ELIS. Ao
término, ela queria pintar os desenhos. Não deixei, porque sabia tínhamos lição
do colégio para fazer on line. Peguei as explicações pelo whatsapp, mas quem
disse que eu consegui abrir o tablet nas páginas indicadas? E Juju não ajudou.
Liguei para a mãe dela, que começou a explicar, Juju errava. Nós desistimos. Minha
nora me disse que faria as lições com ela à noitinha. Fizemos pipoca, fomos
para debaixo das cobertas, o frio ajudava naquela preguiça. Eu, com remorso,
preocupada, desabei. Quando a menina viu o meu sofrimento, pegou na minha mão,
amorosamente: “Vovó, não fique assim, você não tem culpa de nada.”
Não
é que Juju tinha me dado um nó? Essa menina é terrível!
Liz
Rabello
PALAVRA DO DIA: EQUÍVOCO
Como é difícil ficar longe da minha Juju... Ela está ficando mocinha e eu nem estou por perto para observar os detalhes. As fotos chegaram com legenda: "Pra vovó matar saudades". Foi um equívoco: "Só fiquei com muito mais"...
Liz Rabello
#microcontofátimaflorentino
Opostos estão presentes o tempo todo. O que seriam das rosas, se vivêssemos pensando nos espinhos? Para onde iriam as lágrimas de alegria, se nós nos alimentássemos o tempo todo de mágoas? O que seria do arco-íris se não abríssemos as janelas após as tormentas? Só sei que se não experimentarmos os opostos não aprendemos, é preciso viver diferentes realidades.
Liz Rabello
Logo que me casei, comprei vários envelopes. Separava, dentro de cada um, as notas e moedas: Feira, aluguel, mercado, roupas, condução, lazer... E, o principal: Nosso sonho: aquisição da casa própria. Vingou. Tempos bons.
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentino
TEMA: OVELHA NEGRA, DE RITA LEE
Desde criança, nos folguedos infantis, era ela, a ovelha negra. Desmanchar um ninho... Quem foi? Roubar os ovinhos... Quem foi? Puxar rabo do gatinho... Quem foi? Assustar a mamãe com lençol na cabeça e um buraco para visão... Quem foi? E assim se passaram os dias, annnnossssss... A mamãe velhinha, ovelha mansinha, doente, na cama ficou... Todos os dias, todas as noites... Quem foi que dela cuidou? A ovelha negra foi alguém que soube aprender a amar...
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentino
PALAVRA DO DIA: CONTATO
Fiz um contato de terceiro grau com amor em chamas. Diluí vertigens, captei as nuvens, apaguei o Sol fervente dentro de mim.
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentino
PALAVRA DO DIA: AMORAmemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
- Boa noite, querida, estas flores são para você e este poema também...
- Ah, que romântico!!!!
- O quê? Donzela? Eu?
- Vixi, foi mal... Errei a entrega...
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentino
Desafio do dia: Imagem (tira) do menino num casamento
A criança se espantou: o padre declarou que naquele instante o homem, que sempre foi homem, virava marido. E ela, antes menina, do sexo feminino, só mudava de status ao se casar e, finalmente, ser mulher.
Liz Rabello
#microcontofatimaflorentino
Minha dose certinha de alegria
"Vovó, estou entediada." E você lá sabe o que quer dizer entediada? "Sei, não, mas estou."
Sugeri que fosse lá pra varanda do fundo. Tomar um ar fresco, escapulir do quarto. Renovar o ar. E ela: "O wifi não passa pela janela."
Essa é a Juju.
Juju ficou quatro dias comigo. De quinta a domingo. Na hora de ir embora, deu um abraço de meia hora. Disse ao seu ouvido que ela poderia voltar tão logo quisesse. E ela: "Que tal eu ficar desde já"?
Liz Rabello
EIS QUE JUJU COMPLETA SEIS ANINHOS
- O que você quer ganhar de presente?
- Um celular.
- Mas o que você vai fazer com um celular se quase não sabe ler nem escrever?
- É verdade, não sei ler e escrever direitinho, mas sei me comunicar.
- Como assim?
- Mando figurinha.
Liz Rabello
MEDO DO ESCURO
- Juju, vamos pra chácara? Só eu e você. A gente dorme
abraçadinha uma com a outra.
- Não quero. Lá é muito escuro. Tenho medo. Se bobear não
durmo nem junto com os meus pais.
Mas veio e ainda me convidou para "sentir" o
anoitecer. Pudera! Ajudou a iluminar a chácara toda e agora está se divertindo
com as luzes.
Liz Rabello
DEIXANDO A MINISTRA
DA GOIABEIRA FULA DA VIDA!
Juju aniversariou
em novembro. Cinco anos brincando de casinha com minha netinha. Adoro! Véspera
de natal não poderia falhar. Eu lhe dei uma nova boneca de presente, que ela
deixou de lado.
- Puxa, Juju,
você não gostou?
- Não se
preocupe, vovó. Eu adoro presentes. Mas agora quero só brincar. E me
repreendeu:
- Você não
sabe brincar!
- Como assim? O
que tenho que fazer?
- Conversar
com os bonequinhos.
Levei a
sugestão a sério. Rapidamente peguei dois deles, improvisei uma rede, uma bolinha
e dá-lhe uma pelada de futebol de sofá.
- Vovó, eu sou
menina! Que história é esta de futebol?
Não tem nada a
ver com você, Juju... Os bonequinhos são
meninos e gostam muito de futebol. Ela concordou, pegou uma bonequinha e
começou a jogar. Berrou de alegria quando a mesma fez um gol!!!!!!!!
Liz Rabello
JUJU, ESCRITORA
Juju hoje se saiu com esta: "Quero ser escritora como
você, vovó!" Desenhou a capa, as páginas, colou deixando espaços em
branco, me deu a caneta e ordenou: "Vovó, escreve o que eu falar."
Não é que ela tem jeitinho?
Liz Rabello
PIRILIM PIM PIM... A HISTÓRIA TEVE FIM!!!!!!
Várias histórias para contar a Juju. Uma delas, mais longa, deixou-a sonolenta. Quase adormeceu em meus braços. Ao final, acordou. Pegou a varinha mágica, fechou o livro e gritou: "Pirilim pim pim, a história teve fim!"
Liz Rabello
MEDALHAS DE OURO
Quando voltei do Congresso da ANLPPB, em Campinas, encontrei
minha netinha na sala. Como ela mesma me disse, estava acampando em minha casa.
Ao me ajudar para desarrumar as malas, ficou encantada com minhas medalhas.
Disse-me que quando crescesse queria ganhar pelo menos uma. Hoje resolvi
fazer-lhe uma surpresa. Após deixá-la até beijar as minhas, dei-lhe de presente
cinco medalhinhas de ouro de chocolate. E aí gostou, Juju? Vai querer beijar as
tuas? - Não, já comi!
Liz Rabello
MINHA ADORÁVEL MOLEQUINHA
Juju nunca fica triste. Emburra, fica de mal, mas não come sal... Ou melhor, come sim, adora azeitonas com o caldinho salgado... "Vovó, hoje quero dormir com você!" - E eu, prontinha pra sair! Ai, que dó!!!!!!!
Liz Rabello
UMA
SEMENTE DESGARRADA... ÁGUA E MUITO AMOR...
MINHA VIDA CARREGADA DE FUTURO ☘️🌻☘️🌻☘️🌻
Juju ama tomates. Pede uma coisa
pra comer. A gente corta ao meio e ela fica feliz. Corre pelo quintal comendo.
Creio que perdeu a semente do tomate no meio do gramado. E este, comprado sem
agrotóxicos do hortifruti aqui do bairro, vingou, sem querer querendo. Namoro
seu crescimento diário. Verde esperança no olhar e vislumbro, com alegria e
gratidão, o dia que verei a minha pequena colhendo o fruto maduro do seu amor
ao tomate.
Liz Rabello
Juju veio dormir comigo.... Ao acordar fomos brincar no quintal... E ela curtiu o crescimento do pezinho de tomate. 🙏🏻🌷🙏🏻🌷🙏🏻🌷
Eis que amadureceu um deles. Tirei uma foto e enviei para a mamãe mostrar para Juju. E ela grava: "Quero comer"
E eis que a espera termina. Juju colhe seu primeiro tomate. E o saboreia com a alegria de quem planta, colhe e valoriza a vida!
Liz Rabello
NOVAS COLHEITAS
CONTAÇÃO
DE HISTÓRIA
Hora da História... Juju foi a
Pro... Leu e mostrou imagens do livro para os alunos (eu e suas bonecas). Em
seguida me passou atividades. Escolher no alfabeto as letrinhas do título do
Livro... PATINHO FEIO... Depois misturava o alfabeto e me pedia para de novo
realizar a tarefa... Não é que Juju tem jeitinho para ser professora?
Liz
Rabello
AULA
DE DESENHO E DE LEITURA
-
Juju, o que você desenhou?
-
Um coração e um bumbum.
-
Quem mora dentro do teu coração?
-
A vovó.
-
E do bumbum?
-
O cocô....
Liz
Rabello
Ela
ajuda a escrever, a fazer a exposição e depois soletra e lê...
A CHAVE
DA DISCÓRDIA
Bob, cachorrinho Unicórnio, veio
caminho inteiro dentro do carro levando bronca.
- Isto não se faz! Você vai ficar de castigo!
Qual o motivo de tanta bronca da
Juju para com ele? O sumiço de uma penca de chaves. Ontem a família ficou maluca
atrás delas. Nada encontraram. Eis que hoje, Juju na maior cara de pau, briga
com o Bob, porque ele "escondeu as chaves"... E as entrega triunfante
ao proprietário. Rafael fica possesso. Então foi você? E ela... "Não, foi o Bob."
Já em casa, festa pronta e Bob de
castigo.
Juju faz cara de santa. Carinhos
no coitadinho... "Vovó, ele não tem culpa, fui eu que escondi as
chaves".
Liz Rabello
PONTO SEM
NÓ
Ela me disse que minha casa não é
organizada. Que tenho coisas que nem sei que tenho. Acrescentou que preciso
jogá-las fora. De imediato me lembrei de minha irmã. A Nilce jogava objetos e
roupas fora e eu os pegava para mim. Como considero a Juju muito semelhante
à minha irmã, logo fiz outra comparação. Então, Juju era ela. De novo a pegar
no meu pé.
Mas foi então que me dei conta de
que minha netinha guarda tudo... Ponto sem nó! Se eu jogasse fora, ela pegava,
porque ela sou eu.
Liz Rabello
Exposição dos trabalhos manuais da Juju... Seu crescimento é visível. Sua coordenação motora e delicadeza no uso da tesoura e da cola é dez...
FIM
TRÁGICO
Exposição pronta. Fotos tiradas.
Orgulho! Juju feliz. Depois de dois dias, cadê os
desenhos? Minha netinha ficou possessa. Tagarelava
nervosa demais: “Só pode ter sido a Vareta! Esta vira-lata!” E acusava: “Nem a
Juliana, nem você, vovó, teriam CORAGEM de destruir a minha exposição... Só pode ter sido a Vareta!”
Argumentei que possivelmente
teria caído da parede tudo sozinho. Mas Juju contra-argumentou: “Se fosse assim
estaria no chão e não amassado e rasgado. Isso não se faz! Não há outra
possibilidade. Ninguém nesta casa seria capaz de destruir os meus desenhos. Só
esta vira-lata... Vou ter uma conversa muito séria com o tio Rodrigo.”
Ela ficou tão zangada que tive
que concordar. Agora está fazendo uma nova exposição. Desta vez é no meu quarto pra Vareta não ter acesso.
Liz Rabello
MÃE EDUCA, VOVÓ DESEDUCA!
- Vovó, você me dá comida na boca?
- Claro, meu amor.
- Vixi, a mamãe chegou!
- Esquece, vó!
Liz Rabello
UMA BELA DUPLA
Só assim pra pestinha parar de fazer artes.
Juju, para! Senão vou ligar pra sua mãe...
Juju, para! Senão vou ligar pro seu pai...
Juju, para! Que tal uma conversa no banheiro?
Nada! Nada!
Juju, para! Vou fazer um pum na sua cara!
Ela parou... Pra rir!
Liz Rabello
JUJU MAGALI MELANCIA
- Tudo isto só pra mim, vovó?
- Sim, querida!
- Obaaaaaaaaaaaaa!
E pega o traste e vira de ponta cabeça e o coloca na barriga.
- Vovó, estou grávida de melancia!
Liz Rabello
Juju ama melancia, principalmente a parte que é melão! Só ela mesmo!
MILAGRE
Guardei um pãozinho de Santo
Antônio benzido dentro da lata de arroz. Diz a fé e a lenda que nada há de
faltar e que jamais a fome chegará. Por ali o tal ficou e sempre milagre
operou. Até o dia em que a Vareta o encontrou e só a fome dela é que matou.
Liz Rabello
COFRINHO DE AMOR
Invisto no tempo
Que crio com ela
Meiguice e carinho
Olhares trocados
Plantamos na vida
Palavras de fé
São ouro, medalhas
Moedas de grande valor
Dentro do cofrinho do
amor!
Juju me ligou:
- Vovó, você pode vir na minha casa?
- O que foi que aconteceu? Sua boneca tá doente?
- Não, vovó, é uma surpresa!
- Ah, sei, igual aquele dia que ia me contar um
segredo e quando cheguei não contou, porque deixaria de ser segredo.
- Não é pra te falar nada. É pra te mostrar.
E me deu o melhor presente que poderia me dar. Ela
aprendeu a escrever o meu nome. Ainda morro com este meu cofrinho de amor!
Liz Rabello
JUJU ME DEU UM PRESENTE:
ESCREVEU O MEU NOME COM
CRIATIVIDADE
JUJU LEU, ESCREVEU E AINDA BRINCOU COM MINHA BARRIGA... O B DA PARTE DE CIMA É PEQUENO, O B DE BAIXO É GRANDE, PORQUE VOVÓ É BARRIGUDA
DIAGNÓSTICO
Juju estava brincando de médica.
Era paciente e a doutora. Tudo junto misturado. Pintou o braço com canetinha
vermelha. Pintinhas grandes e pequenas. E a médica:
-
Juju, você está com sarampo.
E ela respondeu pra ela, mudando
o foco:
- E agora?
- É só tomar banho...
Esta Juju!!!!!!!!
Liz Rabello
BRINCANDO
DE MENTIRINHA I
Sábado... Brincando de casinha
com a Juju... Eu fui esperta. Dei banho e mamadeiras pras bonecas. Sem
desculpas para me segurar um pouco mais, minha serelepe mede a febre da Duda.
Trinta e oito. "Você tem que cuidar dela vovó"... Para conseguir vir
embora, prometi que voltaria a noite.
Liz Rabello
OLHA AÍ A
MINHA SITUAÇÃO
Enquanto eu cuido de um monte de
netinhas, a Juju só cuida da Dudinha, que estava com febre pela manhã. E ainda
levo bronca que saí à tarde e não fiquei com ela. É duro ser vovó!!!!
Liz Rabello
BRINCANDO
DE MENTIRINHA II
Hora da despedida é sempre
difícil. Explico os motivos e Juju diz que entende. Dá beijos e tudo... Daí
inventa moda. "Vovó, a Bianca disse que não quer que você vá embora!"
- Pergunto sorrindo: " E a mamãe da boneca também não quer que eu vá
embora? e ela: " Nós gostamos muito de você." - E eu: "Por
quê?" - "A vovó sabe brincar de mentirinha." E como eu fiquei
com cara de ponto de interrogação, soltou a pérola: "Você me dá banho, me
deixa cheirosa, tira foto e me pede para eu sentir o meu perfume dentro do
celular" - "E eu sinto"...
Liz Rabello
ESPONTANEIDADE
Passei a manhã com minha
princesa... Brincamos de escolinha. Aulas e intervalos para o lanche. Reclamei que nunca vi merendeira homem. E ela
retrucou: “Claro que é homem e é um MERENDEIROOOOOOO! O meu pai é ele aqui em casa.
Meu celular nas mãos dela,
apertou algo que o apagou. Puxou meu dedo para destravá-lo, com a maior
naturalidade.
Na despedida, expliquei os
motivos de minha pressa. “Entendi, vovó!” Deu beijinho e tudo. Mas saiu
berrando atrás de mim: “Vovó, preciso de tua ajuda, minhas bonecas estão todas
chorando! Tem uma que fez cocô, preciso
trocar a fralda! Me ajuda!!!!!!!”
Minha pressa foi pro brejo.
SEGREDO
Ao telefone Juju dispara: “Vovó, vem aqui que eu preciso te
contar um segredo”.
Curiosidade mata. Lá fui eu, atravessando o bairro em
disparada. Ao chegar: “Qual é o segredo, Juju?” E ela: “Se eu te contar deixa
de ser segredo!”
Liz Rabello
VERGONHA
Minha bonequinha está crescendo. É sapeca demais, porém é tímida. Não dançou na festa julhina da CEI e me segredou: "Vovó, tive vergonha"!
No Primeiro Sarau da Escola de Ensino Fundamental do Colégio Rodrigues Lima, soltou-se só um pouquinho, porque foi chantageada: Ou dança, ou não tem bonequinha de presente!
Nada mais lindo do que sua espontaneidade dançando só pra família...
BRINCANDO DE CASINHA
O melhor de tudo é ouvir suas histórias. Um pássaro verde de braços abertos é do bem. Vem voando para me abraçar. Um bonequinho pititico é do mal. Não deixa sair nenhuma cadeira para outra ala da casinha. É preciso virá-lo de costas para não ver a cena do bem... Acho que ela é mesmo netinha de escritora...
Liz Rabello
NA PRAIA OU NA CHÁCARA, JUJU É MUITO MADAME!
ENFEZADA
Juju queria entrar na piscina,
mas a água gelada e o medo imperava. Queria porque queria que eu caísse por lá pelo escorregador... Não cedi. A lembrança do formigueiro ainda viva no
corpo. Lá foi o pai... Que pai tem que participar! Ela riu demais... E quis.
Mas não sozinha... No colo do pai. E foi. Subiu a escada feito rojão e estancou
no topo ao ver a altura. Perdeu a pressa. Desistiu. Não deu tempo... O pai a
carregou de improviso escorregador abaixo! Foi uma gargalhada só! E ela ficou
enfezada!
Liz Rabello
Juju não deixou a boneca Dudinha
na piscina de verdade...
Só na de mentirinha.
FORMIGUEIRO
A ideia era me esconder...
Estávamos brincando de esconde-esconde. Juju preferia escorregar no gramado.
Até colocou roupa que podia rasgar. Mas faltava o papelão. Foram buscar no
mercado. Enquanto isto... Ela batia cara e contava até dez. Eu corri pelo
terreiro da chácara e me escondi atrás do arbusto. Perdi o equilíbrio, rolei
rampa abaixo e parei... Bem em cima do formigueiro... Lama dele pelas costas.
Roupa nova toda suja. - "Vovó, a gente não ia brincar de rolar no gramado
depois?"
Liz Rabello
FICO COM A INGENUIDADE DAS CRIANÇAS
Ela bem que queria cantar, declamar, pegar o microfone e fazer algo no palco para participar. Ninguém a proibia, mas também não liberavam. Não teve dúvidas. Durante a apresentação de um dos convidados, ela subiu no palco e pertinho do microfone sibilou: "cu"... Aos meus ouvidos carentes e inaudíveis foi tudo bem, não escutei, mas estava com o olhar na boca e sei ler lábios. A Helô, que é jovem e boa de ouvido, veio em socorro do cantor e a tirou do palco. Decerto que seu tom de voz era bem alegre, sorria enquanto chamava atenção da menina. Mais tarde, contei para avó que riu muito da ingenuidade da garota. Perguntou a ela: "Quer dizer que você falou ao microfone aquela palavra?" A garota respondeu: Não, eu não disse "cu", porque a tia Helô me falou que não posso repetir este palavrão!
Liz Rabello
dite ou exclua is
DESPEDIDA
Na hora da despedida: "Puxa
vovó tô indo embora, você vai ficar sozinha? " - Vou, sim, você não tem dó
da vovó? - "Tenho, não, problema seu" - Eita sinceridade! Mas vai
embora me jogando beijinhos, fazendo corações com os dedos da mão e gritando:
"Te amo, vovóóóóó!
Liz Rabello
Às vezes ela quer comer feito gatinho, cachorrinho.
Lambe lambe e abana o rabinho... no caso, a bundinha...
Amo e me divirto demais.
Liz Rabello
MINHA CIRILA GATA
Juju é igualzinho o Cirilo gato, que adora ficar em cima do sofá. A diferença é que ela realmente é uma "gata" e ele não, é feio que dói... Bem, era!!!!!! Está ficando bonitinho!
Juju estava triste. Era sono. Vamos dormir? Arrumei a cama e me deitei com ela. As bonecas no meio de nós duas.
Armou tempestade, raios e trovões de verão. Um deles caiu bem perto. Estremecemos na cama. Juju pulou as bonecas e se agarrou na vovó. Percebi o pavor e quis brincar para relaxar.
- Juju, suas filhinhas também têm medo?
- Sim, elas têm medo de mentirinha e eu tenho medo de verdade!
Liz Rabello
FÉRIAS DOENTE COM A JUJU...
E É BOM DEMAIS!
Hoje sou a professora... Não, é hora do recreio, sou a inspetora... Não, sou a aluna e acabo de levar a maior bronca: "Pare com este celular e preste atenção na aula!"
Liz Rabello
UMA RARIDADE: ALIÁS, DUAS!
Encomendei o tapete muito antes destas histórias de rosa e azul. Juju ama a cor rosa. Ficou encantada quando viu no meu banheiro uma toalha cor de rosa. E quando o tapete chegou não teve dúvidas. Tomou posse... Dancei! Eis aí minhas duas raridades: Jóias preciosas: o tapete e a Juju!
Liz Rabello
DA SÉRIE: PÉROLAS
Coisa rara, Juju comia sua macarronada com garfo e faca, delicadamente na mesa da cozinha... Vareta veio atrapalhá-la. Chamei atenção da minha cadelinha com afeto: - “Filhinha, fique quieta!” Juju ponderou: - “Ela é sua filha, vovó?” – Respondi que sim, sem pensar. E ela indagou: “Você é casada com cachorro?”
CALMA! CALMA!
Juju estava almoçando e não parava no lugar. Mexe daqui,
mexe de lá, derrubou o prato e lambuzou a mão de comida no chão. Não segurei o
palavrão. Saiu. Sem querer querendo. E a levei aos berros pra lavar as mãos e o
rosto. Voltamos pra estaca zero. E ela toda envergonhada. Nem se mexia mais a
danada. Fiquei com remorso, pedi desculpas. E ela nada.
- Juju, não vai mais falar comigo? Fez sinal que não, deu um sorriso.
- Juju, você
ainda está de mal? Outro sorriso.
- Juju, você está
zangada? Fala algo, por favor. E ela:
- Não, vovó, tá
tudo bem, você já me pediu desculpas...
Fiquei com cara de idiota. Quem foi mesmo que derrubou o
prato de comida no chão?
Liz Rabello
SEM
QUERER QUERENDO
O Rafa estava com as pernas pra
fora do sofá, de sorte que a menina tinha pouco espaço pra passar. Tentou
pular, não conseguiu e ele tirou a perna e ela caiu. Briguei com o irmão e a
defendi. E ele se ofendeu: "Vó, ela fez de propósito!" - E novamente,
a defendi. Atrás dele, a danada me piscou um olho... Não é que ela havia mesmo
feito de propósito?
Liz Rabello
MINHA PIMENTINHA AMOU "NINHO SEM PENAS"
Eu sentada na cadeira dura lendo uma história triste de um pintinho indefeso à procura de uma mamãe. Ela toda confortável
nesta almofada giratória. Vamos trocar de lugar? "Claro que não, né,
vovó?" - Sabidinha! E fica feliz, feliz quando um pintinho desgarrado é adotado finalmente por um casal de vira-latas de muito bom coração.
Liz Rabello
MINHA TATUZINHA AMOU OS TATUZINHOS ÓRFÃOS
Eu sentada na cadeira dura lendo uma história triste dos
tatuzinhos que após um acidente com a mãe, ficam órfãos. Ela toda confortável
nesta almofada giratória. Vamos trocar de lugar? "Claro que não, né,
vovó?" - Sabidinha! E fica feliz, feliz quando os irmãozinhos encontram
novos pais que os criam com muito amor.
Liz Rabello
QUALQUER DIA EU CONTO (...)
QUERO UMA
COISA
Brincando de casinha ou de
jardinagem, Juju sempre tem a mesma frase: “Vovó, quero uma coisa pra comer”... Saco sem fundo! Come que come o tempo todo.
É magrinha, num sei como.
-Vovó,
quero morango com leite “CONDENADO” a me
deixar gordinha...
Liz Rabello
HORA DA
ENTREVISTA
"Juju, do que é que você gosta? - Gosto
de brincar de boneca, de carrinho, de pega pega, de esconde esconde. Bater
cara. Gosto de comer... (Grande novidade!) Arroz e feijão, carne com batatinha
frita, salada de tomate com azeitonas, cenoura e beterraba. Pipoca... Muito
chocolate, Gosto de frutas: uvas, bananas, mamão, laranjas, maçãs, morangos
(com leite condenado a ficar gordinha). Gosto de beber água e leite no copo
feito menina grande. Gosto de ver massinha no teu celular, vovó!"
Liz Rabello
Liz Rabello
JUJU DOENTINHA
- Vovó, quero colinho.
- Tá bom, vem, meu amor!
- Não vovó, lembra, a sua coluna! Você não pode me carregar!
Corre e faz da fronha saco de corrida pela sala.
Esta é a Juju, amorosa, levada, minha adorável pimentinha.
Liz Rabello
- "Vovó, meu chocolate derreteu na minha mão...
Sumiu!!!!!! " Mais tarde eu o encontrei embaixo do sofá...
NÃO ADIANTA PEDIR, O PRIMEIRO PEDAÇO DO BOLO É DELA
JUJU
COMILONA
A Juju é magrinha, alta, de pouco
peso. Não sei onde vão parar todas as frutas, pipocas, chocolates e pratos de
arroz, feijão que come sem parar. O dia todo abre a geladeira e pede: “Me dá
uma coisa, vovó!” Ela é a Mônica do Maurício de Souza, com sua personalidade
mandona e é a Magali com a boca boa. Antes do almoço fui buscar o Rafael no
colégio. Ela ficou em casa nos esperando. Na surdina, comeu a sobremesa. Ao ser
inquirida sobre o fato, pois eram três potes certinhos na mesa posta, sem
nenhum morango a mais na geladeira, se saiu com esta pérola: “Eu só me garanti!”
Liz Rabello
AS BONECAS DESENHAM, MAS JUJU COME PIPOCAS
QUI DILÍCIIIIIA!!!!!
CUIDADO COM AS PALAVRAS!
Estávamos, eu e Juju, no estacionamento do supermercado, dentro do carro, esperando o papai que fora comprar a mistura para o almoço de domingo. Ao nosso lado parou um carro, onde desceu um casal. Ela de cara triste e ele emburrado. Olhamos para ambos e em sintonia comentei: "Acho que eles brigaram". Juju concordou comigo. Daí a pouco voltaram e o sorriso dela brilhava nos olhos e iluminava o rosto. Ele parecia aliviado. Juju gritou: "Fizeram as pazes, vovó!" E eu me escondi no carro...
JUJU, MINHA ADORÁVEL SAPEQUINHA
Domingo me fez uma surpresa. Subiu em cima da cadeira, ficando mais alta do que a mesa e declamou pra mim: "Batatinha quando nasce" e quase despencou meu coração!
Liz Rabello
VERGONHA
Minha bonequinha está crescendo. É sapeca demais, porém é tímida. Não dançou na festa julhina da escola e me segredou: "Vovó, tive vergonha"!
Liz Rabello
LEMBRANÇAS AO PÉ DO OUVIDO
Em nossa casa, mamãe comprava os bichinhos vivos e após
matá-los, nos oferecia um delicioso jantar. Na hora da fome não dá para
questionar. Certa vez trouxe uma patinha toda branquinha e tagarela. Ligeira
escondeu-se debaixo de minha saia e de lá não mais saiu. Quando o susto passou
e mamãe desistiu de assá-la no fogão à lenha, resolveu me adotar. Brincamos de
esconde-esconde. De pega-pega e eu a batizei de Patoquinha... A patinha corria
abrindo as asinhas e voava acima das águas do verde lago, que ficava no fundo
do terreiro. Dormia embaixo da minha cama e eu a escondia no meio dos meus
trastes e cadernos e livros escolares. Ela me ajudava nas lições, porque era
pra ela que eu lia, quando queria ganhar o concurso de leitura com microfones
criativos a base de latinhas de massa de tomate amarrados num cabo de vassoura.
E quando aconteceu de ganhar o concurso foi para ela quem mostrei o meu
primeiro diploma, uma cartolina branca impressa num mimeógrafo a álcool e
recortado com tesoura de picotar. Patoquinha foi minha mascote por dez anos e
me deixava completamente feliz.
Liz Rabello
HISTÓRIAS DO CORAÇÃO
A professora que promovia o
concurso de leitura com microfones feitos com latinhas de massa de tomate
amarradas a um cabo de vassoura, era eu. A menina adotada pela patinha tagarela
era a Giovana Maciel... Minha linda amiga eu te amo!
AFETO EM PÚBLICO
Quando meu neto adolescente me
deu muitos beijos e abraços, eu lhe disse: “Isto mesmo, aqui no esconderijo,
nada de público!" - Ele respondeu: "Vó, eu não tenho vergonha de te
amar" - E eu: "É pra ninguém sentir
inveja"... Ele riu muito.
Liz Rabello
OSSINHOS CONGELADOS
Ai que frio "da porra" é este? - Sempre me lembro desta expressão de uma garotinha de dois aninhos, um dia, me visitando na chácara. Lá é muito alto e o frio é de escangalhar os ossos.
Liz Rabello
BONECA PARAGUAIA
Juju passou o dia comigo. Chegou às seis e meia da manhã, com as bonecas peladas e sujas de canetinhas. Decidimos deixá-las de molho na cândida. Mais tarde fui a lojinha próxima procurar vestidinhos novos para as bisnetas da vovó. Estavam caríssimos. Decidi por uma nova boneca que tinha um vestido do tamanho da Alive mais charmosa... O Rafael me disse num repente: Vó esta boneca é paraguaia. O vestido vem grudado. Dito e feito. Mamadeira que não abre, roupinha costurada no corpo. Repeti a frase: É paraguaia mesmo e a Juju emendou: "Não é, não! Esta é do Jaraguá"
O QUE
SUCEDE?
Todos aqui em casa pagamos a
língua. Rafael sempre foi educadíssimo e nós criticávamos crianças rebeldes.
Juju chegou chegando. Só dá ela no pedaço. Ao almoçar levanta e senta. Anda
debaixo da mesa e se apoia no vidro indefeso. Consegue deixar impressões
digitais até debaixo da mesa. Limpo que limpo e não consigo lustrar o vidro e deixá-lo
brilhando como deve. Chamo sua atenção
para o detalhe e ela nem liga. Dia destes eu é que fiz a arte.
Utilizando cola tudo para um trabalho artesanal, deixei pequenos pingos
escorrerem pelo vidro. Fiquei sabendo que água quente no lugar seria a solução
para retirar as marquinhas. Tentei, tentei...
E com um pano seco lustrava que lustrava. E ela chegou toda preocupada: “Vovó
o que sucede?” - Ao explicar o motivo, ainda acrescentou: “Fui eu?” – Claro que
lhe disse a verdade, que a culpa era minha, coisa e tal. E ela perguntou: “Posso
colocar meu chocolate aqui?” – Apontando bem no canto da mesa. Oras bolas se eu soubesse que seria assim tão
fácil educá-la, já teria dado um jeito numa porção de problemas. Aliás, onde
será que a Juju aprendeu a expressão: “O que sucede?”
Liz Rabello
EIS A JUJU AOS OITO ANOS
E ainda vai acrescentar: Vovó não esqueça de minha lista nas compras: biscoitos, morangos, uvinhas, tomates, azeitonas, bombons, pipoca de micro ondas e tudo em dobro, para eu levar pra minha casa...
Liz Rabello
CRIAÇÃO DE MILHO
Juju hoje se saiu com esta: "Vovó estou com um projeto novo, vou "criar" milho. Quero folhas de papel e lápis de cor. Vou já desenhar e pintar... E sua criação de milho ficou dez"
Liz Rabello
SEM MEDO DE SER FELIZ
Juju perdeu o medo de andar através das muretas do pingo de ouro. Foi sozinha ao fundo do quintal e quis colher jabuticabas. Depois as comeu, sentadinha na escada ou nas cadeiras do terraço. Após fez a festa do descanso. Cerrou olhinhos travessos para se fingir de menina quietinha e comportadinha. Por falar nisto, não é que o furacão está dando uma trégua?
Liz Rabello
E A JUJU ME LÊ PELA PRIMEIRA VEZ
- Vovó, olha aí você na capa do livro.
- Não sou eu, não, Juju. Eu não uso esta máscara, nem este cabelo...
- É, sim, o sorriso é o mesmo! E tá escrito, ó, "Vovó fofa".
Liz Rabello
UBATUMIRIM
É um lugar belíssimo! Para se
chegar à Praia Justa, ao lado, uma pequena orla magnífica de águas brandas,
serenas e quase intocáveis, uma trilha. Ou o próprio mar, se a maré estiver
baixa. Na paisagem, meu filho caminha pela areia com o Cirilo. De costas. Nada
muito revelador. Aos olhos da Juju, porém, é tudo claro. A foto é tão linda que
a coloquei como fundo de tela do meu computador. E quando minha netinha viu,
soltou a pérola: " Vovó, como você conseguiu colocar o Tio Digo e o Cirilo dentro do seu computador"?
Liz Rabello
VOVÓ FOFA
"Juju, pare de comer doces,
você vai ficar com o bumbum igualzinho da vovó. Impossível, haja doces... E
comeu que comeu! - E ainda me abraçou me chamando de "Minha vovó
fofa"
Liz Rabello
VOVOZINHA MALUQUINHA
Juju brinca de jogar amarelinha e
sempre é ela quem chega primeiro no céu, bater cara, esconde-esconde e me
procura atrás de um vaso, ou dentro dele, como se eu pudesse ali me esconder... Trocamos
histórias do Lobo Mau, que não é tão mau assim, que acaba até dando um beijo na
vovó e uma piscadinha para o olhar da Juju. Daí ela chupa sorvete de brigadeiro e molha no pão. - "Vovó, vamu brincar de tocar a tampainha? - Onde você viu a tampa da campainha? - Não tem tampa não? " Eita vovozinha maluquinha"!
Liz Rabello
PÉROLAS
Dou boas risadas com as falas encantadas da Juju, que após
passar a mãozinha macia na careca do Nicholas, pergunta: “Por que você não tem cabelo"? E ao ouvir que caiu, replicou: "Seu cabelo caiu para a barba”?
Liz Rabello
Juju, você viu o jacaré me paquerando?
Não vi.
Nem observou ele piscando pra mim?
Não, vamos voltar lá que quero vê!
Esta é a Juju... Só tem mesmo medo é do mar, da piscina e dos pingos de ouro do fundo do meu quintal.
Liz Rabello
MEDO
Juju se agarra em minhas
mãos ao passar pelas muretas de pingo de ouro da trilha para a lavanderia,
puxadinho do churrasco, escada acima. Lá se solta para se deliciar na cadeira
de balanço. Enfrenta o medo novamente, desce as escadas e passa pelas muretas. Esquece
o sentimento e se solta para colher jabuticabas e delas se enfastiar até se
lembrar da última dor de barriga. Olho para ela e me vejo dentro do meu próprio medo, na idade dela, quando andava, ou melhor, corria de pavor pelo
corredor estreito, no meio dos chifres de boi, matéria prima dos cabos de
guarda-chuva, fábrica dos meus ancestrais
italianos, os Bonellos, na General Flores, Bom Retiro.
Liz Rabello
DIÁLOGO COM UMA ENFEZADA
Oi, Juju, por que você está enfezada?
To não, tô é cansada. Tá bom, tô, sim, você não me guardou
nenhum docinho!!!!!!
Mas você já comeu meu Danone e minhas gelatinas. O que você
quer mais?
Sorvetes...
Já te dei também.
Chocolates...
Já comeu também.
Tá bom, tô enfezada!
Liz Rabello
DUVIDO
E minha netinha se enfezou de
novo e não quis ir para a escola. O pai ligou pra mim: "Mãe, pode ficar
com a Juju?" Ouvi, ela do outro lado, perguntando: "Ela pode?" -
E o pai deu a última cartada para convencê-la a ir para a escola: "Hoje, a
vovó não pode ficar com você." - E ela: "Duvido"...
Liz Rabello
AMENDOINZINHO
Felipe ou Júlia? Seja bem-vindo,
amorzinho! Teu ser já grita fome de vida no ventre da mamãe. E os olhos dela já
marejam de alegria ao leve lembrar que tu és ainda um pequeno amendoim... E
como é que podemos amá-lo tanto assim?
Liz Rabello
SANTINHA DA VOVÓ
Minha princesa cruza os bracinhos para se fingir de "santa" e ainda me faz um elogio: "Mamãe a casa da minha vovó é muito arrumadinha" - Ao que a mãe retruca: "E você vai desarrumar?" - "Hoje, não"!!!!!!!!!! E cumpre a promessa. Só que a vovó aqui fica descadeirada de tanto jogar bola com ela no quintal.
Liz Rabello
TÁ DE MAL
Come sal... Na panela do mingau...
E Juju corre e faz carinha de santa, cruza os bracinhos e dá o dedo mindinho
pra enlaçar com o meu e dizer que tá de mal... Finge uma carinha bem feia e
percebe então que depois que tá de mal, nem comer sal tem graça não! Então vem
bem de mansinho, pega na minha mão e desaba:
“É só de brincadeirinha. Vamu ficar de bem???
Liz Rabello
VAMOS JOGAR OVO?
Juju fez carinha de "santa" e quis brincar de jogar ovo. E foi
daí que eu me assustei! Correu pra me mostrar o que era. Uma bola de futebol
americano. Jogamos um tempão. Haja fôlego, então!
Liz Rabello
FURACÃOZINHO
Juju é um furacão. Logo que chega por aqui já vou tirando os enfeites que quebram, principalmente meus "cozinheiros" do armário da cozinha. E ela reclama: "Bovó, por que você faz isto"? - Às vezes se antecipa a mim e ela mesma começa a tirar, já falando: "Vou te ajudar para eu não quebrar".
Liz Rabello
A MELHOR DO DIA
Fizemos o almoço a quatro mãos e
ela me disse que meu tempero tem pouco sal, o que é verdade. E que eu não sei
fazer laranjada. Que não era pra usar tantas laranjas, mas sim colocar água.
Quando respondi que as mesmas já estavam murchas e deveriam ser aproveitadas,
calou-se. Mas não por muito tempo. A melhor do dia foi quando brincamos
de contar um, dois, três... Dedinhos da
vovó. Contava e olhava atentamente para minhas mãos: “Puxa, vovó, como elas
estão murchas” Ahhhhhhhhhhh! Juju, Pimentinha!
Liz Rabello
JUJU PIMENTINHA
Quando
decidimos que eu contaria histórias foi um tremendo ritual, desde a escolha do
livro à arrumação das bonecas em círculo. E eu tinha que me sentar no chão. O
livro escolhido por ela em sua estante pessoal era uma história desconhecida
por mim de um homem “asqueroso”, que jogava lixo no mar. Comecei a ler para
elas: Minha neta e suas filhinhas. –
“Juju, você sabe o que significa asqueroso”? – “Não, não sei, mas este homem
é”! - E você, vovó tem que fazer cara de
nojo, assim, ó” - E me mostrava aquela carinha linda, que jamais demonstraria
nojo, de jeito algum. De repente zangou. Como não entendesse o porquê, logo
explicou: “Vovó, você tem que contar e
mostrar as fotos, não pode ler” - “Não é assim que se faz”! - Como não conheço
a história, contei do meu jeito e ela retrucou: “Você não sabe ler, vovó” Pois
é, fui duramente castigada por suas críticas. “Vou te ensinar” - Foi sua frase
predileta.
Liz Rabello
QUE CALOR!
Juju estava com muito calor e se
abanava com o vestidinho. Pedi a ela que olhasse pra todos os lados e
observasse como é que as pessoas se comportavam no teatro durante os minutos
que antecederam a cerimônia de formatura do irmão mais velho. Olhou e perguntei: "Você está vendo alguém com a saia
levantada mostrando as calcinhas?"
- "Não"! - Foi a
resposta animadora. "Então, Juju, comporte-se"! - "Que nada, vai
ver não estão com calor!"
Liz Rabello
Juju pensando na próxima arte...
Raro momento de pausa do furacão...
MENINA SAPECA
Juju veio me visitar e se soltou. Esqueceu que tem medo de andar. Pegou a vassoura com uma mão e com a outra panelas ao ar. Botou a Vareta pra fugir. Em lugar de andar, corria! Pisou na vasilha de água da cadelinha assustada. Sujou o vestidinho de comida canina. Não dava tempo de socorrer suas traquinagens, logo inventava outra mais grave pra fazer.
AGORA EU SEI
Alguém me desejou feliz natal e
eu respondi que não ligo para estas datas. Juju retrucou: "Eu ligo, adoro
papai noel e quero presentes"! - Ok, Juju, mas você sabe que o velho
barbudo só dá presentes pra quem se comportou bem durante o ano todo?" -
Ficou pensativa e preocupada, consciência pesada. Mas respondeu de pronto:
"Eu era pequenininha e não sabia ser boazinha, mas agora eu sei".
Liz Rabello
A LOBA NA FLORESTA DA JUJU
Juju está muito sapeca.
Exageradamente ligeirinha. Ontem passamos o dia juntas. Brincamos de passear na
floresta enquanto seu lobo não vinha. O lobo, ou melhor, a loba, era a Vareta, a
cachorra vira lata de olhos doces e meiga, que faz tudo o que a Juju quer. E me
deixava levantar as orelhas e dizer: Pra que servem estas orelhas? - É PRA TE
OUVIR MELHOR! - E estes olhos grandes? - É PRA TE OLHAR COM
AMOR. - E este focinho travesso? - É PRA FUÇAR NAS TUAS COISAS! - E esta boca
grandona? - É PRA COMER TUA MAÇÃ!!!!!!! E Juju fugia e comia a maçã com
alegria.
Liz Rabello
ARMA DE BRUXA
Vareta estava
muito à vontade. Largada no sofá da sala. Até que eu a convidei para ir lá fora
fotografar o amanhecer. Ela me acompanhou toda faceira. De repente descobri uma
nova colmeia de marimbondos, já tem uma antiga lá no topo da casinha de bonecas
de madeira, que não se pode tacar fogo porque é perigoso. O jardineiro colocou
veneno. Para meu desespero, elas voltaram. Pois bem a nova estava bem pertinho
da porta da sala de visitas. Tinha o tamanho de uma laranja. Tinha, porque não
tive dúvidas, catei a arma de bruxa, me enfiei dentro de um lençol e vapt... vupt!
Algumas vassouradas e acabei com a festa. Vareta fugiu
aterrorizada. Enfiou-se embaixo do banco da piscina e de lá só saiu quando eu é
que fui para lá tomar o meu banho de sol costumeiro. Na hora de ir
embora novamente a Vareta se mostrou azeda. Puxa eu nunca bati nela com
vassoura nem com nada deste mundo. Qual é, menina? Está me estranhando?
Liz Rabello
Ontem fui dormir muito cedo e não levei minha menina para passear pelo quintal como sempre faço. Quando acordei estava com esta carinha, de quem fez o que não devia. Não deu outra. Hoje o tapete da sala está no varal... Como pode ser tão inteligente?
Liz Rabello
VARETA É UMA "GATA"
Vareta não só conversa com o olhar, como tem latidos diferentes para cada ocasião. Pra xingar outro cão que passeia pela rua quando está presa no quintal, o latido soa: "Seu bobão". Quando Rafinha chega: "Oi, vó" e quando o Rodrigo vai embora: "Udiguuuuuuuuu", um uivo soa pelos ares.
Liz Rabello
VERDADES SOBRE A VARETA
Parece que ao lado de cada olhinho, alguém abriu um paraquedas "Orelhas? Estamos sendo modestos ao afirmar isto: na fila da orelha, Vareta passou mil vezes..."
Liz Rabello
FAÇANHAS DA DONA VARETA
Neste fim de semana minha menina ficou comigo na chácara. Ela é muito urbana. Ao mais leve canto de um João de Barro já se assusta a procura do aconchego. Morre de medo de tudo. Hoje se deparou de novo com o Mr Jackson Filho, um morador antigo da chácara. Nasceu lá... E portanto, quando ela o enfrentou latindo feito uma louca varrida, cujos sons lembravam uma canção de briga: "Seu bobão... Seu bobão", enfrentou-a. E ela recuou e veio me chamar, que bobão é o outro, porque ela não é não! Consegui fotografá-lo, coisa rara...
Liz Rabello
FAÇANHAS DO MR. JACKSON FILHO
Dia de sol. Muito calor. Decidi
ir pra chácara sozinha. Tomar um belo banho de piscina. Ou melhor, fazer
terapia. Prendo os cabelos, uso um chapéu de abas largas para cobrir meu rosto
e pescoço. Fecho os olhos, sinto água bater de leve, silencio minha voz
interior e movimento bem devagar o corpo em exercícios calmos, lentos e
compassados, como que seguindo uma música solitária ao som da própria
respiração. Mais do que na yoga, a mente cala. Tenho dificuldades auditivas e
sons muito baixos não escuto. Quanto tempo fiquei assim nesta
atmosfera de pura paz eu não sei. Só sei que me assustei pra valer quando abri
os olhos e me deparei com uma cabecinha alta, no meio do gramado, me
espreitando de olhos arregalados. Era ele: o Mr. Jackson Filho, que se
esgueirou muro afora desembestado de pavor com meus berros de horror.
Liz Rabello
OS SAPATINHOS DA MOCINHA
Tenho o hábito de passar finais de semana na chácara e a Vareta fica com o Rodrigo. O novo apartamento tem piso de madeira e a nossa mocinha anda por lá como se usasse sapatos de salto alto e fino. O vizinho de baixo reclamou. O jeito foi comprar sapatinhos vermelhos e de lacinhos. Como eu quisesse ver, além das fotos, trouxeram os originais para eu conhecer. No granito da cozinha ela percebeu que se desse impulso deslizaria. E lá está minha menina brincando de escorregar na copa. Nem criança consegue ser tão arteira assim.
Liz Rabello
MILAGRE DA MARACUGINA
Rodrigo foi viajar a passeio e
deixou sua encomenda comigo. Não sem antes me fazer jurar que cuidaria com
muito amor do pacote. O danadinho do Cirilo gato é muito “agarrado” ao dono. Gato
não por ser belo, porque é feio demais. E sim porque gosta de ficar em cima do
sofá. O carro nem estava na esquina e o cãozinho já arriscava notas de sua
sinfonia, um uivo de lobo que lembra gata no cio. E assim foi noite adentro,
para meu desespero que destinei cuidados e carinhos para com o bichinho. Por
volta das cinco da manhã, já queria mandá-lo de volta. Mas não o fiz, achei por
bem cumprir a promessa. Só que durante a manhã, num momento de desespero
desabei a chorar e implorar ao negrinho que calasse a boca. Ou por dó ou por
cansaço o bichinho cedeu. Dormiu. Finalmente dormiu! Ao acordar, novamente o
concerto reiniciou, mas eu, muito precavida fui comprar Maracugina. Cirilo
dormiu a noite inteira. Deve ter sido o santo remédio ou o colinho e afetos do
substituto do pai o causador do milagre. Acordou de manhã todo feliz e só
começou a sinfonia quando saí para comprar os pães do café matinal. Quando a
nova dona chegou foi uma festa interminável. Pareciam séculos transcorridos
desde o último uivo. Cirilo não tem mesmo noção de tempo. Comecei com minha
manha especial para agradá-lo: compartilhar meu pão com queijo derretido em
fogo brando. Vareta adora e ensinou o moleque a gostar também. Daí precisei
sair. E o concerto começou. Vareta na bateria e Cirilo no saxofone. Penso que
antes do Rodrigo voltar a vizinhança já fez um BO.
Liz Rabello
CHINELO NA CADEIRA
Senhor Cirilo está de volta. Mais uma semana comigo. Minha casa virou canil de cachorros folgados. Ontem ele estava encapetado. Acho que pisou na macumba... Nem o tal do maracugina fez sucesso. Para acabar com os uivos chamando seu dono "Udiguuuuuuuuuuuuuu!!!!”. Apelei para o chinelo. Dei uma surra na cadeira e aos berros dizia que o próximo seria ele. Bem ou mal entendeu a situação e me deixou dormir.... Dormir! Delícia! Dormir! E lá se vai mais um ítem para o Manual de sobrevivência da família quando o seu dono viajar: Caminha, travesseiro, maracugina, Cds de músicas suaves, cueca do dono usada, bola de meia do dono usada... E se nada adiantar... Chinelo na cadeira!
Liz Rabello
SURPRESA
Uma das melhores memórias
infantis que tenho veio da surpresa pelo reaparecimento de uma pintadinha
riscadinha, que se infiltrara por debaixo do porão do quarto da vizinha. Quando
nós a pensávamos perdida, eis que voltou com uma ninhada linda! Onze pintinhos
de penugens fofas e repletos de vida. Era impossível tanta alegria caber dentro
de mim.
Liz Rabello
SÍNDROME DE POBRE
Quando os meninos eram pequenos,
fui visitar meus tios e decidimos jantar fora. Fomos a um magnífico restaurante
nos jardins. Cardápio diferente, original e muito cheio de xiliques. Saímos
insatisfeitos. Já próximo da Rua Diana, nas Perdizes, virei a esquina em frente
à padaria. Cheiro delicioso de pãozinho fresco. Olhei para o meu tio e
decidimos no sorriso. Parei o carro, ele desceu e voltou com um montão de pão
francês e mortadela... Amei!
Liz Rabello
DINHEIRO
Era tão grande o valor que dava ao dinheiro, que se esqueceu
da amizade, da dignidade. Vendeu o próprio caráter e ficou a ver navios, fora
do mar e dos estaleiros. Agora, sem porto seguro, não tem mais como voltar.
Liz Rabello
DESBUNDEI
Fui ao espelho, olhei minha bunda e me vi mais pra Botero, que para a nova imagem atual, que a mídia global recomenda... Mas como é carnaval, segui o ritmo da Tuiuti e apaguei a luz no último carro alegórico Neo Tumbeiro dos Manifestoches. Afinal se a escola de samba do Rio de Janeiro fechou a avenida com chave de ouro, por que minha bunda grande não pode ser assim da moda outra vez? Sim, ela é muito legal, genial e não tem igual pra mais ninguém...
Liz Rabello
O LADO BOM DOS FATOS
Dez fotos e nada. A fila aumentando por trás de mim. O pessoal do micro-ônibus do Despachante me chamando. A fotógrafa do DETRAN modificava o foco de luz. Tirei os brincos. Nada. Maldita hora em que falei que preferia mudar a foto da Carteira de Habilitação. Agora era impossível voltar atrás. Segui em frente. Na décima primeira tentativa, deu certo. Mas quando me mostraram, arruinou minha autoestima. Cedi e comecei a rir. Lembrei que minha irmã dizia que era muito bom cara de morta, espantava policiais de trânsito ao se depararem com uma infratora com semblante de vampiro. Nada é tão ruim quanto possa parecer.
Liz Rabello
CHUTE
Já chutava o balde, ou melhor, a barriga, antes mesmo de nascer. Hoje, dá cambalhotas, tropeça em sua própria vaidade, cospe pro alto e nem percebe que se lambuza de ódio. É tão egoísta quanto os primeiros segundos de vida na barriga da mamãe.
Liz Rabello
DIFERENÇA
Uma de minhas alunas da primeira série não
conseguia ler, vivia soletrando e com muita dificuldade suas leituras eram vazias
de sentido. Uma manhã, atenta a sua vez, começou a soletrar “da”, não, “de”,
não... " di... a..." e antes de terminar fez o sinal da cruz. Deste
dia em diante superou seu deficit de leitura. O "diabo" fez a
diferença!
Liz Rabello
QUEBRANDO COM AFETO
Todo mundo visita a chácara e carrega algo para a lata de lixo.
Reclamei. Depois de alguns dias um pequenino de dois anos quebrou um bibelô. Em
outra visita me trouxe um jogo novinho em folha e me disse todo feliz... "Olha,
este aqui é para eu poder quebrar sossegado..." Pestinha!
Liz Rabello
TERROR NA MATA
Destino implacável. Ao som do
barulho ensurdecedor, fugimos aflitos. Homens na mata, machados no ar, árvores
tombando sem parar.
Liz Rabello
AMOR DE VIDRO
Certa vez, numa de minhas caminhadas pela Rua das Corujas,
parei e não acreditei. Meu olhar de fotógrafa amadora extasiado: Não é que um
casalzinho estava bem pertinho um do outro numa frenética busca de amor? E eu
cliquei. Momento mágico! Beleza eterna! Minha corujinha flagrada em seu segredo
solitário: Apaixonada por um bibelô de porcelana... E foi então que pensei:
Sim, é possível, sim, o amor virtual! E meus versos criei e num livro palavras
lacei.
Liz Rabello
SINFONIA
Antigamente molhava as plantas e
lavava o quintal todos os dias. Tinha um visitante João de Barro, que vinha
banhar-se logo após as poças d'água se formarem... Nunca mais o vi, após parar
com estes gastos excepcionais e fazer a minha parte na economia do uso do puro
ouro azul, tão em falta aqui em São Paulo. Hoje, vencida pelo barro que se
formou com a pouca chuva de ontem, lavei o caminho até os fundos e meu
visitante veio me agradecer. Trouxe os amigos... Foi uma festa! Sinfonia de
cordas musicais dos meus amigos leais!
Liz Rabello
A BANDA PASSOU
A moça ficou. Nem estrela brilhou. Uma tarde já idosa,
surda, cega, sentiu o roçar de uma mão. Era João, pedindo esmola. Não só ganhou
a coroa, como a cara e o coração. Naquele outono, na janela entre aberta, a
cortina se fechou.
Liz Rabello
Durante uma aula numa classe de
sétima série, enquanto os alunos me falavam de seus sonhos para o futuro, um
deles apenas nos declarou suas metas: "Não quero saber de estudar. Isto é
perda de tempo. Quero ser traficante e já estou a desenhar os meus pauzinhos,
porque ganharei tudo o que preciso ganhar para ter tudo o que pretendo ter em
pouco tempo... Veja você, professora, o que ganha após tantos anos de
trabalho?" - Respondi a ele que ganhava pouco, sim, mas que já era idosa e
você já viu traficante ficar velhinho? - A pergunta ficou no ar e para minha
paz o sinal bateu. A aula acabou! Não voltamos ao assunto, mas dias atrás soube
que ele foi preso. Não adianta educadores, pais, professores questionarem a
sociedade corrupta enquanto os valores são TER, TER E TER... É PRECISO SER...
EXISTIR! Temos que buscar nova IDENTIDADE.
Liz Rabello
CAMPANHAS ELEITORAIS
Há muitos anos atrás levei meus alunos de quinta série ao Pico do Jaraguá. Subimos o morro a pé. Lá no topo, em meio às últimas dificuldades extremas para alcançar o mais alto do morro, uma garota posta-se numa pedra, em equilíbrio e, ironizando, imita a voz do Maluf e começa um belo discurso, sintetizado pelas seguintes palavras: "Vote em mim que vou asfaltar todas estas pedras e ninguém mais vai sofrer para escalar este morro." Moral da história: Absurdos são as promessas dos políticos em prol de uma campanha. Pior dos absurdos é ter quem não perceba até o que uma criança é capaz de desvelar.
Liz Rabello
Foto de Nicholas Betoni
COCHILO NO BANHO DE ESPUMA
Certa vez fui para Campos do Jordão e reservei um quarto só pra mim com hidro massagem. Fomos em cinco pessoas, dois casais em lua de mel, meu filho com a esposa e um amigo também acompanhado. Evidentemente que não queria atrapalhar os quatro em sua privacidade. Entrei e logo de cara, friozinho que só, tomei uma taça de vinho, abri a torneira e joguei o conteúdo de um saquinho na hidro. Peladinha da silva, tomei posse do meu prazer e confesso, bom demais, adormeci. Eis que acordo me afogando numa espuma que invadia o quarto e transbordava banheira afora. Desesperada, não conseguia desligar aquela coisa. Pus roupa rapidamente e chamei o serviço de quarto. Muito encabulada. Dia seguinte, café da manhã, o amigo do meu filho mostra fotos da noite. Quase morri! Espumas pra todo lado e foi difícil perceber que no quarto ao lado, um casal teve o mesmo problema que eu.
Liz Rabello
ESPERAR
NÃO É FÁCIL
Estávamos na Sala de espera do
Laboratório Lavoisier. Aguardava os preparativos para fazer um exame de endoscopia. Minutos
são horas. Tempo que não escorre. Para. A cena me levou para muitos anos atrás.
Eu e o Rodrigo num ponto de ônibus. Esperávamos por uma condução que nos
levasse até a Casa Verde. Francisco Matarazzo é passagem para vários bairros.
Ônibus chegavam e partiam com a maior facilidade. Menos o meu, que não chegava
nunca. A certa altura meu filho pequeno enlouqueceu de raiva. Esperneou pela
calçada, me xingando em som alto e de bom tom: “Você é muito chata mamãe, fica
escolhendo, nós vamos entrar no primeiro que aparecer” – Enquanto tentava
explicar que não era bem assim, que não se tratava de escolha, mas de falta de
opção, o tal ônibus aparece, novinho em folha. Claro que entramos bem depressa,
após dar o sinal de parada e o veículo abrir suas portas para nos receber. –
“Viu, você só estava esperando chegar um bem novinho!” – Gritou o menino todo
feliz! Três quarteirões depois o acidente aconteceu. Saímos do ônibus batido e
amassado aos berros do meu filho e pegamos um táxi. – “Puxa, mamãe, por que
você não fez isto antes?”
Liz Rabello
QUE ABSURDO!
O filho de um amigo, com apenas dois aninhos,
após ouvir minhas queixas contra as novas tecnologias e dificuldades de
aceitação, repetiu ao pai, assombrado: "Que absurdo! Ela não sabe ligar a
TV!"... E mais recentemente, em uma nova visita, o mesmo pai me dizia que
Davi já tinha aprendido a ler. E eu: “Meus parabéns, menino esperto! Me diz, o
que mais aprendeu”? A resposta veio feito bomba: "Escrever, pintar,
desenhar... E você, já aprendeu a ligar a TV”? Pior que não!
Liz Rabello
AMAR SEM
JULGAR
Meu filho teve um amigo gay, cuja
mãe, testemunha de Jeová, o colocou fora de casa. O menino nos ligou três horas
da manhã, porque estava morrendo de frio. Nós o acolhemos. Mas a mãe não
reconsiderou. Foi morar sozinho. Morreu jovem e no enterro havia apenas uma
coroa de flores, com as palavras cravadas: "Saudades de seu pai e irmãos". Ela
chegou, olhou pro filho morto e não soltou nenhuma lágrima. Nem na despedida fatal percebeu o quanto é desprezível aos olhos de Jesus, que nos ensinou a amar sem julgar.
Liz Rabello
DISCUTINDO
A RELAÇÃO
Ao se decidir pela compra de um
casal de araras azuis esverdeados, carinhosos e apaixonados, minha irmã passou
a vivenciar arrojos e barulhentos momentos de intimidade familiar de um casal
enamorado. Ela, de um salto a outro na grande gaiola que a prendia. Ele,
preocupado em confeccionar o ninho.
Bicadinhas de amor por todo lado, em todo canto que se roçavam, numa
alegria ímpar! Tempo passou, ninho ficou pronto, a fêmea botou dois ovinhos,
mas nada de esquentá-los, pois continuava a bailar pelos galhinhos improvisados
da gaiola. Ferveu o tempo. Discutiram a relação. Ele chegou à conclusão. Deu uma surra nela. Destruiu o ninho. Pifaram
os ovinhos. Amor acabou. Ele morreu de tristeza e ela por muito tempo sozinha,
decidiu que fêmea tem liberdade pra fazer o que quiser.
Liz Rabello
LEMBRANÇAS
E ENSINAMENTOS
Meu pé de goiaba não era só meu.
À noite eu o dividia com as galinhas de plantão. Durante o dia, sentava no melhor galho para
ler minhas revistinhas e livros emprestados às prateleiras dos meus primos.
Eram maravilhosos meus intervalos de lanches ou de almoço, entre o trabalho que
ajudava a mamãe a ganhar o dindin do pão. Passava colas em fitas, que forravam
caixinhas de papelão, para presentes em lojas de vendas. Em meus momentos de lazer, corria para minha
árvore predileta. Ficava a ler o que
podia. Quantas risadas eu fantasiei por
ali? Quantos beijos de príncipe encantado ganhei? Quantos sonhos
alimentei? Quando penso em volver o
tempo, vou pra trás, longos anos até o cacarejar das galinhas pedintes. Até
oito, nove anos de amor aos meus livros, que na verdade nunca foram meus. O que me restam são lembranças. Estas,
ninguém as tira de mim. O que me restam são os ensinamentos, que a vida enfim
veio me oferecer.
Liz Rabello
MÚSICA DO CORAÇÃO
Conheci uma jovem que estava vivendo
completamente nas garras da cocaína. Linda, inteligente, médica, recém formada,
estava caindo na vida, descendo do muro da sapiência para a loucura do poço
frio da morte. Em depressão, foi difícil conduzi-la para a noite de formatura.
Agressiva, não aceitava carinhos, nem abraços, nenhuma demonstração de amor dos
pais, irmãos e amigos, e, é claro, muito menos a internação para tratamento. Na
última hora, resolveu comparecer à cerimônia. No final, tocou uma música de sua
infância e ela, aos prantos correu para os braços dos pais. De lá foi para a
Clínica, onde permaneceu durante seis meses em tratamento. Agora está saudável... Se
os pais soubessem o que faz bem aos filhos a música, o amor, a poesia, os livros
e os afagos... Seriam os melhores pais do mundo.
Liz Rabello
LATA VIRADA
Minha cadelinha de estimação é
uma tremenda “sacana”. Na minha frente é uma santa. Caras e lambidas de afetos.
Vira-se de costas, não me vê e acredita que também não a vejo. Tomba lata é o
que é. Vive de lata virada!
Liz Rabello
A BARATA
Quando era menina e trabalhava na José Giorgi, tinha mania
de me pendurar pelos braços entre duas mesas e balançar as pernas. Certa vez
meu chefe me pegou no flagra. Que é que eu fiz? Gritei: Uma barata! Até ele
fugiu!!!!!!!!!
Liz Rabello
BUMBUM
NÃO É BOLA
Há muitos anos atrás numa sala de
primeiro ano, tinha um aluno que todo santo dia dava um pontapé muito bem dado
em uma bundinha fofinha da classe. Quando não em pênis. Todos já haviam passado
pelo terror exposto. Uma manhã me deu a louca. Mostrei a parede e disse
"Dê um pontapé aqui!" - Ele, que não era bobo, não queria obedecer,
até que gritei. Deu um bem de leve. E eu berrei: “Mais forte, mais forte”. Ele chorou, sentiu
a dor e nunca mais deu pontapé em ninguém. Não só a classe passou a ser mais
feliz, como ele também, que não mais significava o "pavor" aos
demais. Até ganhou de presente uma bola de verdade. Por que todos os meus
diálogos não surtiram resultados? Porque existem formas e formas de
aprendizagem. Uma é ouvindo e aceitando, outra é convivendo e dialogando e
inserindo as experiências alheias. Outra é a própria experiência e o sofrimento
que ela produz.
Liz Rabello
UM ANJO
O microfone anunciava em alto e
bom som: “Última chamada para Passo
Fundo”. E eu desesperada. Nosso voo atrasara por quatro horas e eu havia me
mudado de lugar diversas vezes. Em algum canto deixara meu banner, com minha
foto e capa do novo livro “Lua no Chão”, que calculava iria utilizar num
lançamento, que deveria ocorrer em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Não
conseguia encontrá-lo. Pedia licença aos passageiros que aguardavam novos voos,
e olhava por debaixo das pernas deles. Nada!
Foi então que a menininha me viu e se compadeceu de minha aflição: “O
que a senhora procura?” - Ao ouvir a resposta me falou meigamente: “Vou
ajudá-la” - E ao se levantar do lugar, o
rolo do banner caiu no espaço vazio que o banco deixou. Realmente aquele anjo me ajudou.
Liz Rabello
UMA
ARTE BEM GOSTOSA
Cidinha Paixão era uma pessoa
“quadradinha”, toda certinha, que andava com Diário Oficial debaixo dos braços.
Mas era boa de coração. E por esta razão foi unânime a adesão. “Vamos fazer
para ela, nossa Diretora predileta, uma festa de aniversário surpresa”. E fizemos.
A data caiu numa quarta-feira.
Aulas foram desmarcadas. Na surdina, ninguém abriu a boca para falar o
que não devia e a surpresa realmente foi para nós. No almoço, o prato servido foi Strogonoff de
carne e frango para todos os gostos. Unidos, professores e funcionários fizeram
algo para preparar a festa, desde bexigas a enfeites de mesa, que por sinal
ficou linda! Trabalhei na cozinha e muitas batatinhas descasquei, cortei e
fritei. Tudo pronto, meio dia e nada da Cidinha aparecer. Uma hora, duas horas,
três horas... A fome aumentando e o estômago roncando. Fomos comprar mais
batatinhas, porque elas é que estavam desaparecendo. Regadas à caipirinha, foi
o que nos restou para conseguirmos fazer a espera durar. Alguém contratou a
escola de samba do bairro. Os músicos e
as passistas chegaram. Samba rolou solto no pátio interno, todo fechado, para
ninguém saber o que rolava por lá. Eu só me lembro que me sentei na escada e
que tirei os sapatos e ensaiei passinhos de samba que jamais soube dançar. Foi
neste dia que aprendi que se ficasse de fogo, o que faria seria sorrir. Foi a melhor festa de minha vida. Gargalhei gargalos de alegria! Cidinha não
apareceu e nem soube se ela percebeu que no sábado seguinte a escola toda foi
feliz da vida repor a comemoração de um dia de aniversário que não rolou.
Liz Rabello
TEMPOS
DIFÍCEIS
Trinta e um de Outubro, à noite, por volta das dez
ou onze horas, tocaram a campainha. Estremeci, ainda em pânico pelo assalto de
dois meses atrás. Olhei para a câmera, observei um vulto adulto descendo a rua,
pelo meio. Deduzi ser uma mulher por estar com roupa esvoaçante, talvez,
pensei, uma saia longa rodada. Encostado ao meu portão, um vulto pequeno. Olhei
pela janela da sala. Abri e perguntei quem era. Não consegui ouvir a resposta,
mas saí correndo para atender, xingando meu filho, que deixava meu neto,
sozinho, uma hora daquelas, me chamar pelo portão, sem sequer telefonar. Saí
até sem chinelos, correndo, desci os degraus rapidamente e me assustei ao ver
um moleque vestido de vampiro, com dentes postiços e pintado de preto nos olhos
e sangue na boca. O pequeno de pouco mais de oito ou nove anos, com uma longa
capa preta, só queria balinhas. Botei o moleque pra correr. Desejando que em
lugar dele estivesse a mãe ou o pai para xingar os incautos de tudo quanto é
nome de palavrões pelo descaso. Onde os adultos têm a cabeça?
Liz Rabello
CRIANÇAS DIFERENTES EM TEMPOS ESTRANHOS
Estávamos no Salão de Beleza. Uma cliente nova, com uma
criança de dois anos. Muito sapeca. Com a ligeireza das artes infantis, a
chupeta voou pelos ares, caiu ao chão e foi imediatamente colocada de volta à
boca da menina, sem sequer ser lavada, embora o local não estivesse nada
limpo. Percebi a barriguinha grande da
criança, sinalizando que não poderia estar saudável. Troquei olhares
reprovativos com a dona do Salão e viramos a página. Às vezes é melhor se
calar. A mãe continuava a se embelezar. Nada reprovável, todos estávamos ali
para cuidar da aparência, inclusive eu. Foi então que a menina correu e pegou
algo da mão da mãe, que imediatamente retrucou: “Me dá, senão te bato” – A
menina continuou correndo e subiu no sofá desajeitada. Ambos voaram pelos ares.
A mãe correu, derrubou a manicure. Esmaltes, água, acetona, tudo pelo chão, mas
a mulher conseguiu o que queria. Salvou da queda... O celular, enquanto a
criança se estatelava pelo chão!
Liz Rabello
A MELHOR PROFISSÃO:
APOSENTADO
Quando fico longe do meu amor
morro de saudades. Fui visitá-lo na sexta e no sábado. Não estava. Planos de
fim de semana com o priminho e a madrinha. Quando liguei no domingo, e
disse-lhe sobre minha gripe, ele respondeu sem pestanejar: “Vovó, tome um Benegripe
e ponha uma máscara, quero te dar um abraço de saudades”. Adiamos para o dia
seguinte e o abraço chegou com o comprimido para a gripe, sem a máscara. No
meio de uma longa conversa na sorveteria, onde fiquei só olhando, perguntei a
ele o que queria ser quando crescesse. A resposta foi irônica, mas verdadeira:
“Um aposentado! Olhe que vida boa você tem vovó: não precisa se levantar
cedinho, não tem que trabalhar e pode me levar à sorveteria”!
Liz Rabello
O INCÊNDIO
Esta foto me lembra de minha infância. Era assim que o Bambi estava antes do incêndio começar. Depois eu só me lembro do desespero que senti ao vê-lo nas escritas das palavras fugindo das chamas. Meu impulso era entrar dentro do livro e salvá-lo...
Liz Rabello
PALAVRA DO DIA: ARBUSTO
No toque suave do arbusto, uma família de passarinhos. O mais guloso, na ânsia da fome, cai do pequenino galho. Não consegue voltar, fica desesperado batendo asas sem alçar seu voo, em direção à fome matar e ao amor da mãe se aconchegar. Eis que um toque de anjo, um menino de coração alado, pega com gentileza o bichinho e o devolve ao arbusto, para a mãe ensiná-lo a voar.
Liz Rabello
PALAVRA DO DIA: AMOR
Baseado no poema AMOR, de Álvares de Azevedo, componha seu microconto com até 300 caracteres.
Em lindas trovas de amor, tentei conquistar seu coração, mas você, pouco romântico, preferiu tomar vacina, cuidar-se e viver o amor em outro coração. Moral da história: Morrer de amor é coisa do passado, hoje em dia, morre-se por ser "negacionista", cultivar o ódio e persistir no azar.
Amor
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Álvares de Azevedo
De posse do comprovante mais desejado do ano, por estar, enfim, jacarezada, não ligou para os sintomas: perdeu paladar, olfato, até audição... Não sentiu cheiro de enxofre, nem gosto de podridão, muito menos ouviu o discurso do louco presidente da nação: "Imorrível, Imbroxável, Incomível"... Já estava imunizada.
Entre os bilhetes da rotina, pendurados na porta da geladeira, aquela anotação: "Deixe um bilhete para mim, acaba com este gelo, diz qualquer coisa que eu te sinta."
Opostos no Zodíaco, teimavam se amar. Ela, Aquário, livre sonhava ser; ele, Peixe, ao mar, seu rio desembocava, ao amanhecer. Aflitos nesta utopia, passaram a vida assim, sonhando, sem nunca realizarem os finais felizes antes do anoitecer.
Liz Rabello
Era jovem, bondosa. À tarde, quando o Sol se punha, na hora da Ave-Maria, recolhia-se em oração: "É hora do desapego, soltar as amarras, libertar correntes do ódio, extravasar mágoas, subornar vaidades, perdoar!" Terminou a prece e decidiu num ímpeto voltar para seu companheiro. Afinal o amava perdidamente. Dia seguinte fez as malas e viajou. Assim que chegou, limpou a casa, fez o jantar, colocou pétalas de flores na cama, tomou um belo banho e se pôs a esperar. Adormeceu na espera. Para sempre, não acordou. Há pessoas que não merecem perdão.
Liz Rabello
PALAVRA DO DIA: GARRAFA
Joguei em alto mar uma garrafa. Dentro dela, um poema de amor, uma oferenda para Iemanjá. Enroladinho, um bilhete escrito à mão: "Vermelho batom... Eu, botão de rosa, joguei-me ao mar, não me traga de volta, assim sozinha... Devolva-me a dois! Leve-me para profundezas do amar, Traga-me... Suaves goles de ondas. Não me deixe lá... Perambular!" Se Iemanjá vai me escutar, eu não sei, mas não custa tentar.
- Por que este mau humor, Juju?
- Sei não, acordei assim.
- Algum probleminha na cabeça?
- Nenhum, vovó. Tá tudo bem.
- Alguma dor no seu corpinho?
- Que nada... Acho que é frescura mesmo, vovó!
Liz Rabello
Nas Leis divinas estão escritas as marcas da vida. Pode o homem, com seu machado, serrote ou moto serra, cortar, destruir todas as árvores. Com suas mãos e mente insana, incendiar as florestas. Aqui a vida acaba, acolá, ela renasce, vive!
Liz Rabello
PALAVRAS DO DIA: São João, paçoca e festança
Era para ser uma festança, destas que nunca ninguém se cansa de contar as proezas da noite, em homenagem a São João. Mas eis que todos ficaram à mercê de muita fome: não tinha batata-doce e espiga de milho assadas numa fogueira, em brasa. Nem a famosa pipoca, muito menos os quentões... Festa sem comilanças, só com paçoca, sem arrasta-pé, quadrilhas e fogueiras, num é o que quero, não!
Liz Rabello
Baseado no poema da poetisa Lara Machado, "Ventando em Vão", componha seu microconto
VENTANDO EM VÃO
Se eu pudesse
Me transformaria em vento
Faria seus cabelos voarem
Desenharia um coração com folhas
E você pensaria em outro
E eu continuaria ventando em vão
Lara Machado
Ele queria ser vento para bailar nos cabelos dela, mas só conseguiu destruir os filetes do dente-de-leão. Ventou em vão.
Liz Rabello
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