SER OU TER?
Outro dia estava dirigindo. Meu netinho ao meu lado. Conversávamos. Ele me disse que quando crescesse queria ser jogador de futebol, porque só assim iria ganhar muito dinheiro e ser feliz. Então perguntei a ele: O que é ser feliz? Ele começou a dissertar formas de se ter felicidades momentâneas. Não dá para se negar que quando se alcança algo que muito desejamos, alcançamos a felicidade. Mas isto não é ser feliz. Então eu retruquei: “Pois bem, meu amor, e enquanto você não crescer e não ganhar tanto dinheiro assim e não conseguir ser o jogador de futebol que você deseja, não vai ser feliz?” Sabiamente ele me respondeu: “Vovó, mas quem te disse que eu não sou feliz?” Comecei a rir. Repeti suas próprias palavras do início de nossa conversa, e ele meio que sem graça, apenas reforçou: “Sou feliz por estar aqui ao seu lado e conversar com você, sou feliz por te amar e ser amado!”
Ser feliz é um estado permanente ou não de felicidade interior, nada muito difícil de acontecer, é independente de se ter a famosa felicidade baseada no verbo “ter”, concluída no verbo “comprar”, pilares básicos da sociedade capitalista. No início deste ano letivo, dei para meus alunos uma tarefa, após ouvirem Titãs e a música Comida, teriam que fazer uma colagem, que a reproduzisse. Sem problemas: “Eu tenho fome de quê? Eu tenho sede de quê?” Nada difícil para jovens bombardeados por meios de comunicação a serviço de um sistema econômico, que não nos reserva a possibilidade de “pensar”. Em outra aula, porém, fiz o oposto. Solicitei que a colagem mostrasse por imagens o que era ser feliz e o que queriam ser enquanto não crescessem. Simplesmente, pouquíssimos alunos conseguiram realizar a proposta. A maior parte de quem se aproximou do meu objetivo esperado fez colagens de família, animais de estimação, casais se beijando, amigos e com eles brincando, cercados de corações melados de beijos, que davam a entender que queriam apenas amar e serem amados. Outros colaram bicicletas, brinquedos caros, casas com piscinas... rsrsrsrsrsrs... Voltavam ao verbo “ter” de uma forma tão espontânea, que não conseguiam me entender.
Na apreciação dos trabalhos, o diálogo foi fundamental, mas nem sempre proveitoso. Como lutar com um Sistema de Valores que bombardeiam os nossos sentidos? Continuo voltando ao tema. Acredito que é importante demais fazer com que o jovem reflita em como se sentir bem consigo mesmo. Olhar o Sol pela manhã. Conversar com estrelas e observar seu brilho. Acompanhar pingos de chuva rolando pela calçada, Observar um casalzinho de passarinhos a construir um ninho. Brincar com seu cãozinho de estimação. Olhar a paisagem pela janela do ônibus e conseguir descobrir um beijo de uma mãe no rosto do filho... São detalhes que nos ajudam a “ter felicidade interior”. Esta conquista diária, com certeza vai nos fazer “Ser feliz!”
Liz Rabello