LUTO
ILUSÓRIO
A última vez
que eu a usei foi no lançamento de Quatro Estações no Sarau Urbanista Concreto,
em finais de 2019. Eu a adoro. Uma túnica azul turquesa, de rendas, bordada. Só
a uso em ocasiões muito especiais, como a troca de presentes de Amigos
Secretos, no Bar do Julinho, Sopa de Letrinhas. Olhava a foto com saudades da “Bem-me-Claire”,
Flor sem idade, da biblioteca inteira que ganhei de presente, todos livros solo
desta maravilhosa escritora, e, é claro, com tristeza eu olhava a minha túnica
azul turquesa.
Ia participar
de uma Live, receberia um Prêmio “Personalidade Literária 2021”, da ALPAS.
Queria estar bem na chamada, on line. Decidi que a usaria. Procurei, procurei, revirei os dois guarda-roupas. E nada. Virei a página, esqueci do assunto.
Mais recentemente, eis que me vem à memória o ocorrido. Quando minha
ajudante doméstica chegou, eu a fiz procurar em todo canto. Nada! Se não a achava
fisicamente, comecei a vasculhar a minha memória. Eu me lembrava de um momento
em que percebi que a roupa estava suada e precisava de um trato. Eu a coloquei
numa sacolinha de supermercado branca, para levá-la para ser lavada. Num
sábado, indo para Ibiúna, passei na lavanderia, que estava fechada. Como segui
viagem, pensei que ela poderia estar na chácara. E logo que pude, lá fui eu,
revirando tudo por lá e nada encontrando.
Numa noite, já
triste e decepcionada, acordei me lembrando que ficara chateada por ter dobrado
a roupa tão cara de qualquer jeito e, ao colocá-la no balcão da “LA- VAN- DE-
RIA”, estar com os bordados amassados. Deu o insight! É lógico, está lá, eu me
esqueci de ir resgatá-la de um longo confinamento. Esta Pandemia ainda vai me
matar! Esperei o dia útil e logo ao amanhecer fui em busca da preciosidade. Nada
existia em meu nome naquele local. Insisti tanto que a atendente perdeu a
calma. Sem esperanças, voltei, desanimei e não mais procurei.
Eu sou de
dormir às madrugadas e meu filho, ao contrário, passa-as acordado. Entre um
sono e outro, abri o celular e, muito triste, contei a história toda a ele.
Postei minha foto com a Claire, usando a túnica. E lamentei: “Eu adorava esta
peça...” Em tom de despedida!
“Ei, mãe, você
não se lembra que me pediu para ir buscá-la na lavanderia? Está aqui no meu
guarda-roupa. Amanhã eu te levo.”
Ah, se todos
os lutos fossem assim!!!!!!
Liz
Rabello