LÁGRIMAS
DE SANGUE
Era jovem, apaixonada pelo meu
marido. Já mãe do meu filho mais velho... Quando chegaram visitas para o
jantar... Um casal, ela, minha amiga pessoal; ele, amigo do meu esposo. Aquelas
visitas tornaram-se frequentes. Nós, também, retribuíamos os convites para
sairmos juntos. Até que comecei a perceber o interesse do amigo por mim,
telefonemas no meio da tarde, quando sabia, meu marido não estava, recados
absolutamente desnecessários. Um dia, aquilo me irritou e abri o jogo: “Se você
não parar com isto vou contar para sua mulher!” A resposta veio rápida: “Pode
deixar, eu mesmo conto!” E realmente contou. Nunca soube exatamente o quê, porque
minha amiga jamais voltou a falar comigo.
Os anos se passaram, não falei nada
a ninguém, nem ao meu esposo, sabia o quanto era ciumento. A morte levou meu
segredo para o túmulo. Primeiro o meu marido, depois o homem traiçoeiro.
Encontrei, recentemente, a amiga. Muito bonita (aliás, sempre foi!) Demos de
cara uma com a outra e não houve como não nos cumprimentarmos. Ela sorriu e eu
lhe dei um abraço e um beijo; disse-lhe ao pé do ouvido: “Meus pêsames pelo
falecimento do seu marido” – Ela sorriu, novamente: “Não sinta, eu sabia muito
bem quem era ele, mas o amava.”
Olhei para ela com olhos de quem
nunca a viu e a admirei por ser capaz de amar assim. Ela sempre soube a
verdade, mas o queria mais do que a nossa amizade e se sacrificou por ele.
Hoje, revejo os fatos: precisei de mais de trinta anos para me sentir
justiçada. Quantos anos precisarei para me renovar da injustiça de hoje?
Liz Rabello
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