UM BEIJO INESQUECÍVEL
Sete ou oito anos. Brincávamos no
fundo do quintal de minha casa. Cada uma de nós tínhamos por namorado uma das
árvores do pequeno pomar. Era apaixonada por uma goiabeira, de galhos
contorcidos, onde me sentava para ler Monteiro Lobato, Irmãos Grimm ou as
revistinhas de histórias em quadrinhos do Pato Donald, que adorava. Eu me
atrasei na escolha e fiquei com o pé de caqui. Naquele tempo também a gente
“ficava”. Abracei a árvore com todo ardor, fechei os olhos. Encostei os lábios,
de selinho, é claro. Um, dois, três... Lasquei o maior beijo numa taturana
preta! Mais tarde, boca inchada, tive que contar a história do beijo para um
montão de médicos e enfermeiras, que riam pra valer da minha ingenuidade. Meu
primeiro beijo de amor foi inesquecível! Aprendi a não fechar os olhos.
Quinze anos. Namorava. Brigamos! Ferida, magoada, falava sem parar, queria que me provasse que me amava. Ele gesticulava, não o deixava nem murmurar uma defesa... Não teve dúvidas, calou-me com um beijo inesquecível, maravilhoso, como jamais alguém me beijou, nem ele próprio! Eu o carreguei para o altar e juntos ficamos até bem depois da morte o levar.
Mais de trinta anos. Viúva.
Pós-graduação na PUC, Semiótica, Mestrado. Uma loucura de livros! Era
Coordenadora Pedagógica no colégio, dia de comissão de classe com professores.
Sexta-feira. Amigas me convidaram: Vamos dançar? Estava exausta, quase não sei
dançar. Como fazê-lo? Me carregaram. Fui a contragosto. Fiquei sentada na mesa
olhando. Observando os casais girando! E ali, do meio da multidão, ele veio,
atravessou o salão, me pegou pela mão e me levou, sem nenhuma palavra.
Deslizava meu corpo para todo lado. Só olhava para os olhos dele. Não sei se
foi o mundo que parou ou ele. Só senti seus lábios nos meus... Momento mágico!
Vi estrelas... Ninguém mais existia ali. Só nós dois. Não sei nem mesmo qual
era a música que dançávamos, pois só ouvi a melodia do meu coração. Ficamos
juntos por quatro anos. E até bem depois deste tempo eu o amei por demais.
Liz Rabello
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