quarta-feira, 20 de julho de 2016


NATUREZA EM FÚRIA

  
O mar avança
sobre a calçada
indefesa
diante desta magnitude
pobres pedras mansas
desaparecem
Árvores se  envergam
torturam-se entre rajadas de águas salgadas!

Ondas gigantes em ressaca
rebelam-se,
fortes,
arrancam areias
derrubam muros
descortinam fumaças de águas
e sobre a rodovia
se dilaceram!

Liz Rabello


Fotos de Sidney Santos

terça-feira, 12 de julho de 2016

CÍRCULO VICIOSO


Fotografei a aurora
Ao clicar já era manhã

Fotografei o orvalho
Ao clicar já era água
O sol desbotara a noite
O sol desfiava a neblina
O sol delirava o dia


Fotografei a manhã

Ao clicar o frio já era quente
O sol aquecia o ar
O sol temperava a luz
O sol desmanchava trevas


Fotografei a tarde

Ao clicar o vento bramia
Mandava para longe
Folhas de um girassol


Fotografei a chuva

Que escondera o pôr do sol
Que o Arco Íris cambiou
Ao leve sol que voltou


Fotografei a noite
Ao clicar a lua advertia:
Mandava chamar o meu amor
Porque já era hora bem perto da hora
De se encontrar com o dia!”


Liz Rabello - Poema escrito no Workshop de Carloz Torres,
 no Armazém da Cidade, em São Paulo, Vila Madalena

DENÚNCIA


Faltava apenas uma inscrição para que a Oficina fosse realizada. Eu me inscrevi e paguei duzentos e cinquenta reais pela vaga. A oficina aconteceu com a promessa que no final do curso um livro seria publicado com fotos e também os poemas numa Antologia de PHOTOPOESIA, pela Editora Essencial. Porém, ao término dos encontros não havia material suficiente para que o livro acontecesse. Entramos todos num acordo comum, a Editora Essencial, através de Carloz Torres, nos prometeu que faríamos parte do próximo evento que já estava em vias de acontecer. Dito, combinado, mas não cumprido, porque no início deste ano, 2018, o livro ÍRIS DO AMANHECER,  não registrou minha poesia, EXCLUINDO-ME de uma Antologia que paguei para participar.
Liz Rabello



Saudade é o que fica
No ponto curvo do horizonte
Onde a paisagem desatina
A esfumar o perfil de quem partiu

Liz Rabello 


LIBERDADE
Não há ninguém que não a queira
Nem alguém que dela não seja prisioneiro

Liz Rabello



Quero nuvens pra remontar pedaços,
Estrelas pra colar mozaicos
Infinito pra deixar mensagens
Eternidade caminhos afora
Um livro é uma oportunidade
De se viver além do próprio tempo!


(Liz Rabello)



SINAIS


Levanto atrasada. Banho rápido, café pretinho, sem mais. Saio correndo! O carro não pega. Vizinho me ajuda. Ladeira abaixo, no tranco, é o que resta. Na esquina, curvinha chata e com muitos pedregulhos, pneu fura. Largo o carro por lá e vou a pé para o trabalho. Dou as três primeiras aulas e no intervalo peço ao Diretor do colégio ajuda para a troca do pneu. Volto para completar a jornada da manhã. Saio de lá para ir buscar dindim no banco. Não consigo. Outro pneu furado. E não tenho estepe pra trocar. Desço ladeira abaixo correndo atrás do redondinho que desliza mais rápido do que meus pés. Subo carregando todo aquele peso ladeira acima, com pneu consertadinho. Troco, com auxílio dos alunos. Já no Banco, tudo certinho, mas ao sair do estacionamento, o carro empaca feito mula persistente. Tanque de combustível vazio. Logo em frente uma loja de comércio de veículos usados. O dono vem em meu auxílio e me “DÁ” um pouco de gasolina. Ele próprio fez aquela chupação toda com mangueira improvisada de um carro a outro. Ligo, engato, saio. Tranco. Barulho. Morte final! Correia dentária do meu velho Volks que arrebenta. O mesmo dono vem de novo me ajudar. Troca a correia, que por sorte está de reserva no meu porta-malas. Ligo de novo e parto aliviada e agradecida por tudo acabar bem. Na garagem guardadinho, ali o deixo e volto para as aulas vespertinas. Sou recebida até com flores pelo vizinho da frente do colégio, que acabara de ganhar na Loteria com os números da chapa do meu carro!

Liz Rabello



ESTA CRÔNICA FOI AGRACIADA COM O PRÊMIO DE MENÇÃO HONROSA NO  XL CONCURSO  LITERÁRIO  FELIPPE D"OLIVEIRA, EDIÇÃO 2017


domingo, 10 de julho de 2016

POEMAS CURTOS  E  MÍNIMOS  (SLANS)


Tece com teus dedos ágeis
Linhas, nós, desenhos inimagináveis
Enquanto Deus em suas teias
Belas, imortais e tão reais
Mantém a vida que tanto cremos recriar leais

Liz Rabello


Teias multifacetadas 
Fios de sonhos 
Tecidos perdidos 
No tempo do jamais 
A morte chegou 
O relógio parou!


(Liz Rabello)


 Desate os nós de minha vida
Retire os nós de meus anseios
Cascas retorcidas de velhas memórias
Renove, oh Vida, e nos permita
Laços em “nós” de amor em nós.

Liz Rabello




AUTO SUSTENTABILIDADE

Pode o homem capinar
Pode o homem destruir
Pode o homem matar
Pode o homem incendiar
Pode o homem asfaltar

Aqui a vida morre
Acolá ela renasce
Firme forte equilibrada
Basta o homem à natureza
Deixar a sua morada!


Liz Rabello



DES (JEJUM)

Tempestade de ventos
Galhos secos tombam
Mortos carregam vestígios de vida
Embelezam árvores inteiras
Raízes se retorcem, se encaixam
Numa crescente onda de vertigem
Tesão descontrolado na paisagem
Vida multifacetada de incertezas!
O verde em volta inspira cor
Mortes e mortes se alastram
Ninhos de pássaros se escondem
É a vida querendo a vida por toda parte!

Liz Rabello


Mistério no reflexo das águas
Sol, brilho, luz que reluz!
Sombras se cruzam com mágoas
Dilaceram e desfazem em lágrimas!
Galhos retorcidos em quimeras
Imagens, mosaicos sem encaixes
Árvores que se chocam no universo
Céu azul, anil, verde musgo a tecer
Esperanças


Liz Rabello



ÁGUA, PEDRAS, FLORES E ESPINHOS

Vida a me encantar em meus caminhos
Vou indo, me enfeitando, desviando dos espinhos
Sei que fazem parte de todo livramento
Quanto mais intenso, maior vivenciamento
Quanto mais difícil, maior o crescimento!


Liz Rabello



NATUREZA EM FÚRIA

O mar avança
sobre a calçada
indefesa
diante desta magnitude
pobres pedras mansas
desaparecem
Árvores se  envergam
torturam-se entre rajadas de águas salgadas!

Ondas gigantes em ressaca
rebelam-se,
fortes,
arrancam areias
derrubam muros
descortinam fumaças de águas
e sobre a rodovia
se dilaceram!

Liz Rabello (Foto de Sidney Santos)



CHUVA DE SAUDADES

Nem o mal de Alzheimer
Consegue apagar tudo da memória
Por vezes nos remete a
Momentos cristalizados
Mesmo que a foto se rasgue,
Que o tempo umedeça as cores
E as transforme em cinza água,
Ainda assim seremos nós, por lá,
Fazendo chover muitas saudades.


Liz Rabello



Lama de Mariana chegando no mar, 
vida que se nega ao encontro do mal,
sangue que se quebra na cortina de sal.

Liz Rabello




MASTIGANDO DOR

Lama tóxica
Lama barrenta
Caudalosa lama
Que invade casas, quintais, pastos
Identidades, passado,
Trabalho,  cultura perdida
Matas, córregos, rios, mar adentro
Pescadores sem ganha pão
Índios dançam tristeza sem fim
Ondas gigantes em tubos de esgoto
Surfistas choram na areia maldita
Peixes agonizam a sua passagem
Tartarugas perdem habitat
Desovas prematuras não as deixam vingar
Transformando belezas exóticas
Em morte visceral
Enlameando vidas
Matando tudo o que é vida
Deixando sede em tudo que é lugar!

Liz Rabello



GRITOS

Sedento
Cedendo
Cedendo
Sigo em frente
Até a morte em sede


Liz Rabello


APÓLOGO AO NOSSO PLANETA! 

Há um futuro 
Além do tempo
Lilás azul verde esperança! 
Só consegue vê-lo quem se sente
num universo a desvendar
dentro do relógio do tempo
abrindo folhas do passado 
lendo histórias do presente
medindo forças com sonhos ausentes 
fazer valer a pena o tempo atuante! 
Costurando silêncios noturnos 
Idealizando ecos 
reflexos de espelho
caminhando para um futuro 
Imaginário
que só o Coração consegue captar!

Liz Rabello