POEMAS CURTOS E MÍNIMOS (SLANS)
Tece com teus dedos ágeis
Linhas, nós, desenhos inimagináveis
Enquanto Deus em suas teias
Belas, imortais e tão reais
Mantém a vida que tanto cremos recriar leais
Liz Rabello
Teias multifacetadas
Fios de sonhos
Tecidos perdidos
No tempo do jamais
A morte chegou
O relógio parou!
(Liz Rabello)
Desate os nós de minha vida
Retire os nós de meus anseios
Cascas retorcidas de velhas memórias
Renove, oh Vida, e nos permita
Laços em “nós” de amor em nós.
Liz Rabello
AUTO SUSTENTABILIDADE
Pode o homem capinar
Pode o homem destruir
Pode o homem matar
Pode o homem incendiar
Pode o homem asfaltar
Aqui a vida morre
Acolá ela renasce
Firme forte equilibrada
Basta o homem à natureza
Deixar a sua morada!
Liz Rabello
DES (JEJUM)
Tempestade de ventos
Galhos secos tombam
Mortos carregam vestígios de vida
Embelezam árvores inteiras
Raízes se retorcem, se encaixam
Numa crescente onda de vertigem
Tesão descontrolado na paisagem
Vida multifacetada de incertezas!
O verde em volta inspira cor
Mortes e mortes se alastram
Ninhos de pássaros se escondem
É a vida querendo a vida por toda parte!
Liz Rabello
Mistério no reflexo das águas
Sol, brilho, luz que reluz!
Sombras se cruzam com mágoas
Dilaceram e desfazem em lágrimas!
Galhos retorcidos em quimeras
Imagens, mosaicos sem encaixes
Árvores que se chocam no universo
Céu azul, anil, verde musgo a tecer
Esperanças
Liz Rabello
ÁGUA, PEDRAS, FLORES E ESPINHOS
Vida a me encantar em meus caminhos
Vou indo, me enfeitando, desviando dos espinhos
Sei que fazem parte de todo livramento
Quanto mais intenso, maior vivenciamento
Quanto mais difícil, maior o crescimento!
Liz Rabello
NATUREZA EM FÚRIA
O mar avança
sobre a calçada
indefesa
diante desta magnitude
pobres pedras mansas
desaparecem
Árvores se envergam
torturam-se entre rajadas de águas salgadas!
Ondas gigantes em ressaca
rebelam-se,
fortes,
arrancam areias
derrubam muros
descortinam fumaças de águas
e sobre a rodovia
se dilaceram!
Liz Rabello (Foto de Sidney Santos)
CHUVA DE SAUDADES
Nem o mal de Alzheimer
Consegue apagar tudo da memória
Por vezes nos remete a
Momentos cristalizados
Mesmo que a foto se rasgue,
Que o tempo umedeça as cores
E as transforme em cinza água,
Ainda assim seremos nós, por lá,
Fazendo chover muitas saudades.
Liz Rabello
Lama de Mariana chegando no mar,
vida que se nega ao encontro do mal,
sangue que se quebra na cortina de sal.
Liz Rabello
MASTIGANDO DOR
Lama tóxica
Lama barrenta
Caudalosa lama
Que invade casas, quintais, pastos
Identidades, passado,
Trabalho, cultura perdida
Matas, córregos, rios, mar adentro
Pescadores sem ganha pão
Índios dançam tristeza sem fim
Ondas gigantes em tubos de esgoto
Surfistas choram na areia maldita
Peixes agonizam a sua passagem
Tartarugas perdem habitat
Desovas prematuras não as deixam vingar
Transformando belezas exóticas
Em morte visceral
Enlameando vidas
Matando tudo o que é vida
Deixando sede em tudo que é lugar!
Liz Rabello
GRITOS
Sedento
Cedendo
Cedendo
Sigo em frente
Até a morte em sede
Liz Rabello
APÓLOGO AO NOSSO PLANETA!
Há um futuro
Além do tempo
Lilás azul verde esperança!
Só consegue vê-lo quem se sente
num universo a desvendar
dentro do relógio do tempo
abrindo folhas do passado
lendo histórias do presente
medindo forças com sonhos ausentes
fazer valer a pena o tempo atuante!
Costurando silêncios noturnos
Idealizando ecos
reflexos de espelho
caminhando para um futuro
Imaginário
que só o Coração consegue captar!
Liz Rabello