sexta-feira, 28 de agosto de 2015



AQUARELAS DE TINTAS

Nas mãos certas
Telas nascem
Paisagens de formas
Tortuosas
Inexatas
Quase mortas
Ganham vida
Cores sementes
Carregadas de futuro!

Belas
Fortes
Enchem os olhos de ardor
Saturam o coração de valor
Enriquecem a vida de amor
Assolam as manhãs de calor
Ainda assim
Prefiro a paz
o amálgama da luz
de telas pintadas por Deus!

Liz Rabello



quinta-feira, 27 de agosto de 2015



AMIZADE 

Em algumas tribos xamânicas, se você chegar ao curandeiro se queixando de desânimo, de depressão, ele irá te fazer 6 perguntas maravilhosas e significativas:
1. Quando você parou de dançar?
2. Quando você parou de cantar?
3. Quando você parou de acreditar?
4. Quando você parou de se encantar pelas histórias?
5. Quando você parou para silenciar?
6. Quando você parou de amar?
(Alexandre Carvalho)


AMIZADE

Amizade é fonte de água doce
Desce em cataratas, desfaz sal
Em todas as horas, nos momentos marcantes

Amizade é mel nas veias
Açúcar na canção de lágrimas
Transformando em solo fértil o árido chão

Amizade é braço forte
Segurando o outro no abismo
No fundo do buraco negro do infinito

Amizade é riso fácil
Gargalhando juntos na rotina
Vomitando vaidades e egoísmos do dia a dia

Seja onde for,
no tempo, no espaço, na rotina, no infinito
A amizade nos satisfaz!


Liz Rabello

quarta-feira, 26 de agosto de 2015




CHUVA DE SAUDADES

Nem o mal de Alzheimer, tão cruel,
Consegue apagar das lembranças
Por  vezes nos faz volver ao passado
Descristalizar lágrimas e emoções
mesmo que a foto se rasgue,
que o tempo umedeça as cores
e as transforme em cinza água,
ainda assim seremos nós, por lá,
fazendo chover muitas saudades.


Liz Rabello




terça-feira, 18 de agosto de 2015



LEMBRANÇAS E ENSINAMENTOS

Meu pé de goiaba não era só meu. À noite eu o dividia com as galinhas de plantão.  Durante o dia, sentava no melhor galho para ler minhas revistinhas e livros emprestados às prateleiras dos meus primos. Eram maravilhosos meus intervalos de lanches ou de almoço, entre o trabalho que ajudava a mamãe a ganhar o dindin do pão. Passava colas em fitas, que forravam caixinhas de papelão, para presentes em lojas de vendas.  Em meus momentos de lazer, corria para minha árvore predileta.  Ficava a ler o que podia.  Quantas risadas eu fantasiei por ali?  Quantos beijos de príncipes encantados ganhei?  Quantos sonhos alimentei?  Quando penso em volver o tempo, vou pra trás, muito além até o cacarejar das galinhas pedintes, aos oito, nove anos de amor para os meus livros, que na verdade nunca foram meus.  O que me restam são lembranças. Estas, ninguém as tira de mim. O que me restam são os ensinamentos, que a vida enfim veio me oferecer.

Liz Rabello

segunda-feira, 17 de agosto de 2015



SEXTO SENTIDO

Passei por um túmulo muito bem cuidado, com capelinha e tudo e de lá de dentro uma vozinha: “Mamãe cadê você?”  Fugi dali correndo, o sol da tarde se pondo dava um nó de terror na escuridão que se aproximava.

Estava num velório de uma tia lá pelos ares do Araçá...  Fomos juntos: eu, meu filho de quatro anos, meu sobrinho de cinco e minha irmã. Não achávamos correto levar crianças em lugares assim, mas a indisponibilidade de poucos não nos deixou opção.  Havia deixado as crianças com minha irmã e caminhava solitária em busca deles.

Foi então que a vi, sozinha, meio que atônita:  “Onde estão os meninos?”  - “Com você!” – respondi assustada.  E passamos as duas a correr pelos túmulos em busca dos travessos moleques que escaparam de nossa vigilância. Imediatamente eu me lembrei do pedido de socorro de dentro daquela capelinha e lá voltei com o sexto sentido que só mãe costuma ter.  Sem nenhum medo de assombração, encontrei os dois, presos do lado de dentro de uma porta com chave, que caíra túmulo abaixo. Foi preciso chamar os coveiros e a administração para arrombar a porta e de lá retirar os dois chorando até morrer de tanto viver para fazer traquinagens.

Liz Rabello


UM CONVITE MUITO ESPECIAL


segunda-feira, 10 de agosto de 2015



UM ANJO

O microfone anunciava em alto e bom som:  “Última chamada para Passo Fundo”. E eu desesperada. Nosso voo atrasara por quatro horas e já havia me mudado de lugar diversas vezes. Em algum canto deixara o banner, com minha foto e capa do novo livro “Lua no Chão”, que calculava iria utilizar num lançamento, que deveria ocorrer em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. Não conseguia encontrá-lo. Pedia licença aos passageiros que aguardavam novos voos, e olhava por debaixo das pernas deles. Nada!  Foi então que a menininha me viu e se compadeceu de minha aflição: “O que a senhora procura?” - Ao ouvir a resposta me falou meigamente: “Vou ajudá-la”  - E  ao se levantar do lugar, o rolo do banner caiu no espaço vazio que o banco deixou.  Realmente aquele anjo me ajudou.


Liz Rabello



MEU PAI TAMBÉM NÃO ME CORTOU AS ASAS

De certa forma, mais simples, minha história de vida também é semelhante à Malala. Sou neta de avós maternos italianos, que não admitiam que mulher estudasse. Éramos criadas para sermos do "lar". Meu pai não concordava com isto e me inspirou a fazer o que de melhor quisesse para minha vida. O problema é que eu o perdi aos dez anos. Morreu muito cedo o meu defensor. Mas teve tempo suficiente para não cortar minhas asas. E minha mãe incentivada pela cultura familiar, não me apoiava nos estudos e também precisava de mim para ajudar no ganha pão, já que ela própria jamais se preparara para esta missão externa ao lar. Comecei a trabalhar aos treze anos com carteira assinada. Desde então nunca mais parei. Só há quatro dias é que me aposentei. Como estudei? Concomitante ao trabalho, à noite, numa escola pública. Fiz Faculdade de Letras, Pedagogia e pós graduação latu sensu e stritu sensu, pela Santana e PUC SP. Sou uma vencedora e tenho absoluta certeza de que mulheres são tão capacitadas quanto os homens. Basta querer! Lutar e vencer! Avante Malala!

Liz Rabello

domingo, 9 de agosto de 2015




SABUGOS DE MILHO

Plantação de milho no fundo do quintal
 Mais chuchu, mais goiaba,
caqui, couve, salsinha, cebolinha
Galinhas e ovos de montão!
Nunca a fome se instalou
mesmo nos piores momentos da nação.

Brincadeiras de boneca
Fiapos de luz em cabelos
Crespos, lisos, coloridos
Nenhum preconceito
Para a mamãe satisfeita
Todas as bonecas eram irmãs.

Trapos velhos de vestidos
Carinhas borradas de batom
Terninhos, gravatas, camisetas
Sabugos de milho travestidos
De meninos ou meninas... 
Que importância tinham então?

E assim na brincadeira
Foi que aprendi a lição
De ser uma cidadã verdadeira
Sem preconceitos de gênero,
De raça, etnia ou de classe social
Lutando pela unidade de minha nação!

Liz Rabello



segunda-feira, 3 de agosto de 2015



DIÁLOGO INSANO 

           -  Amor, nunca vi a rodovia assim. Quanta queimada, que cheiro horrível, que ar poluído! Olha, o por do sol está incrível e eu não consigo vê-lo!
          -  Experimenta tirar o óculos escuro!"
Liz Rabello