quarta-feira, 25 de junho de 2014


RECORTES DA MINHA INFÂNCIA
Tenho janelas abertas do passado
Travas serenas prontas a me agasalhar
Saudades lindas e vibrantes!
Momentos vividos na infância
Sonhos a me iludir no presente!

DAS JANELAS DO PASSADO

A maioria das casas de nossa rua não possuíam ainda luz elétrica. Nós, sim! Mas o abastecimento era tão precário, que vivíamos apagões constantes! Éramos, então, obrigados a nos iluminar à luz de vela. Momentos lindos! Meu pai brincava de magia. Cortava o fogo com seus dedos ágeis e jamais os queimava! Depois pegava a vela e a levava ao caminho desconhecido do mundo dos contos de fadas: João e Maria... Perdidos na noite de lua escondida! O caminho iluminado pelo sol (vela acesa!) era marcado na mesa da cozinha por casquinhas de pão! Eu fingia ser o passarinho que as pegava para levar ao ninho e dar aos filhotes o abençoado jantar! Os dois irmãos jamais conseguiram voltar, por conta de que eu passarinho os comia... Chegávamos a desligar a luz elétrica só para brincar de magia à luz de vela! Era tudo tão lindo e eu fico de novo feliz, só de lembrar! Quando a luz voltava não havia na mesa nenhum vestígio das casquinhas de pão abençoadas! Até hoje, amo este lance do pão francês. Sei que é vestígio de minha infância povoada de palavras, de sons, de sonhos, que meu pai carinhosamente me iludia.

(In INTERVALOS, Liz Rabello, Beco dos Poetas, 2013 - SP)

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