quinta-feira, 5 de junho de 2014



EU MEREÇO

Fiquei  quarenta e cinco dias corridos em greve. Passei por poucas e boas: ameaças de corte de salário, ameaças de inquérito administrativo após a trigésima falta consecutiva, ameaças de voltar sem nada e humilhada ao trabalho...  Enfim, no último instante, mesmo depois de toda leitura do protocolo de negociações com o governo, a pressão era tanta que só consegui relaxar quando uma professora do meu grupo afirmou entre risos: “Alguém faz este pessoal radical se calar antes que o Haddad passe branquinho na negociação!”

Ontem voltei às aulas com uma aula aberta no espaço do Projeto Semear e fizemos um Sarau com poesias de bandeja. Um aluno lia e oferecia de presente a um amigo, que depois escolhia outro poema da bandeja, lia e consecutivamente iam passando um ao outro,  poemas inéditos de autores do Portal do Poeta Brasileiro.

Os pais deram apoio total à greve e não fizeram críticas nenhuma ao movimento. Tudo era paz! Até a última aula de hoje. Fui surpreendida com uma Manifestação dos alunos do sétimo B. Estavam acordados entre si, dispostos a fazer reivindicações, com cartazes e tudo o mais. Organizados e com a melhor aluna da classe como porta-voz do grupo. Lia-se em um deles: “TEMOS NOSSOS DIREITOS”... “NINGUÉM PODE NOS OBRIGAR A VIR REPÔR AULAS EM QUE FOMOS DISPENSADOS POR PROFESSORES EM GREVE”! E mais... Queriam  livro de chamada aberto, que nenhum professor colocasse faltas no diário e nem marcasse avaliações em dias de reposição. Argumentei  sobre ÉTICA, DIREITOS E DEVERES DE TODOS, COMPROMISSO COM APRENDIZAGEM E CONTEÚDOS SIGNIFICATIVOS, ao que rebatiam com uma das garotas defendendo muito bem a turma. Claro que me senti uma perfeita Secretária da Educação “Callegari” e já que não havia acordo, ameacei recolher os cartazes e entregá-los aos pais em reunião posterior. A ameaça surtiu efeito: debandaram. A aula acabou!  Muito irritada saí da sala ao sinal e fui direto para a Diretoria onde debatemos quais as próximas estratégias aos risos e gargalhadas da equipe, que me dizia: “Com quem será que os alunos aprenderam?  Comigo, é claro! Eu mereço!
Liz Rabello


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