O professor, poeta e escritor Alan Rubens,
maranhense de São Luís, criou uma nova forma poética cujo nome é "Alaniano
Poético" contendo uma pequena estrutura que segue algumas regras. O autor,
em parceria com a página Trechos e o seu próprio Blog (Blog do Alan Rubens) se
juntaram para promoverem o I Concurso Literário "Alaniano Poético"
com o intuito de incentivar a leitura, escrita e promover a Literatura.
REGRAS
* Possui três versos
* Pode possuir título ou não.
Obs: Se tiver Título que seja com o mesmo número de sílabas da regra do Alaniano (2 ou 3 sílabas).
* O primeiro verso deve ter três palavras
com duas sílabas
PUBLICAÇÃO DE DOIS POEMAS NA FORMA POÉTICA EM ALANIANOS NO JORNAL ELETRÔNICO DA ALPAS - JUNHO DE 2021
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
HOMENAGEM AO AUTOR DO MÊS DE SETEMBRO DE
2018 - ANLPPB MANOEL DE BARROS
UM ARTISTA DA PALAVRA COMO POUCOS!MANOEL DE
BARROS
Manoel Wenceslau Leite de Barros nasceu em
Cuiabá (MT), em 1916. Ainda novo, foi morar em Corumbá (MS) e mais tarde iria
para o Rio de Janeiro, para fazer a faculdade de Direito. Viajou pela Bolívia e
Peru, morou em Nova York, captou em cada um dos lugares por onde passava um
pouco da essência da liberdade, que aplicaria em suas poesias. Apesar de ter
publicado o primeiro livro em 1937, o “Poemas Concebidos Sem Pecado”, o
primeiro livro que escreveu acabou nas mãos de um policial. O jovem Manoel fez
a pichação “Viva o comunismo”, em um monumento, e a polícia foi em busca do
autor da ousadia. Para defendê-lo, a dona da pensão em que vivia disse ao
policial que o “criminoso” em questão era autor de um livro. O policial pediu
para ver e levou o livro. Chamava-se “Nossa Senhora de Minha Escuridão" e
Manoel nunca o teve de volta.
Formou-se em Direito, em 1941, na cidade do
Rio de Janeiro. E já no ano seguinte publicou “Face Imóvel” e em 1946,
“Poesias”.
Na década de 1960 foi para Campo Grande
(MS) e lá passou a viver como fazendeiro. Manoel consagrou-se como poeta nas
décadas de 1980 e 1990, quando Millôr Fernandes publicava suas poesias nos
maiores jornais do país.
Outros livros do autor são: ”Compêndio para
Uso dos Pássaros”, de 1961, “Gramática Expositiva do Chão”, de 1969, “Matéria
de Poesia”, de 1974, “O Guardador de Águas”, de 1989, “Retrato do Artista
Quando Coisa”, de 1998, “O Fazedor de Amanhecer”, de 2001, entre outros.
SUA POESIA TENTA CAPTAR O ÓBVIO
OUTRAS TANTAS, EM PROSA POÉTICA, CAPTA O
INATINGÍVEL
DIFÍCIL FOTOGRAFAR O SILÊNCIO
(...)
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um
sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do
que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um
mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre
uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim, eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na
aldeia de braços com Maiakovski - seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria roupa
mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.
TRATADO
GERAL DAS GRANDEZAS DO ÍNFIMO
A poesia está guardada nas palavras — é
tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre
ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de
imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.
Alguns dos prêmios que o autor recebeu:
“Prêmio Orlando Dantas”, em 1960, ”Prêmio da Fundação Cultural do Distrito
Federal”, em 1969. “Prêmio Nestlé”, em 1997 e o “Prêmio Cecília Meireles”
(literatura/poesia), em 1998.
Venho de um Cuiabá de garimpos e de ruelas
entortadas.
Meu pai teve uma venda no Beco da Marinha,
onde nasci.
Me criei no Pantanal de Corumbá entre
bichos do chão,
aves, pessoas humildes, árvores e rios.
Aprecio viver em lugares decadentes por
gosto de estar
entre pedras e lagartos.
Já publiquei 10 livros de poesia: ao
publicá-los me sinto
meio desonrado e fujo para o Pantanal onde
sou
abençoado a garças.
Me procurei a vida inteira e não me achei —
pelo que
fui salvo.
Não estou na sarjeta porque herdei uma
fazenda de gado.
Os bois me recriam.
Agora eu sou tão ocaso!
Estou na categoria de sofrer da moral
porque só faço
coisas inúteis.
No meu morrer tem uma dor de árvore.
Manoel de Barros foi fazer poesia com os anjos no dia 13 de novembro de
2014.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta
Você vai carregar água na peneira a vida
toda
Você vai encher os vazios
Com as suas peraltagens
E algumas pessoas vão te amar por seus
despropósitos
Manoel de Barros
Lendo este poema eu me lembro do meu tio
Adonio, que me ensinou a amar Olavo Bilac, telas de Van Gogh, que me declamava
no ouvido, bem baixinho: "Amai as estrelas, olhai para
entendê-las"... Ele era um simples sapateiro. No meio dos sapatos velhos,
cujas solas consertava, tinha muitos livros: Os Sertões de Euclides da Cunha,
Guerra e Paz, de Liev Tolstói, compêndios completos d' Os
Miseráveis, de Victor Hugo, coleções completas de Machado de Assis, O Primo
Basílio de Eça de Queirós, Angústia de Graciliano Ramos, todos os livros do
mestre Jorge Amado... Conversar com ele, era glória! Ninguém mais culto do que
aquele homem.
e
ganhei Manuel de Barros: Gramática Expositiva do Chão.
"O homem de lata é um
passarinho de viseira não gorjeia..."
SUGESTÃO DE PROJETO EDUCACIONAL NUMA ESCOLA
DE ENSINO FUNDAMENTALLEITURA
DE POEMAS DE MANUEL DE BARROS
CONSTRUÇÃO DE PLACAS COM POEMAS CURTOS.
COLOCÁ-LAS NUM JARDIM, APÓS SEMEAR E
PLANTAR.
ORGANIZAR UM SARAU POÉTICO.
quinta-feira, 3 de dezembro de 2020
TIM TIM
Taças se trocam
Vinho e rosas
Corpos falos e línguas
Taças se tocam
Tim tim
Repouso
Bem assim
Liz Rabello
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
NO FUNDO DO BAÚ
Estava
de férias escolares. Doze ou treze anos.Fui para Mogi Mirim. Meus tios e primos cuidaram de mim com muito
carinho. Era uma casa de esquina, grande, bonita, de cerca baixa. Apitos de
trem ao fundo do quintal davam à pequena cidade um ar romântico de interior.
À
noite íamos à praça para a paquera. Na época chamava-se "footing".
Garotas iam pela direita e rapazes pela esquerda. Caminhávamos em círculos opostos ao redor da Igreja matriz. Foi então que nossos olhos se
encontraram. Demos voltas e voltas até girar o coração. Os pais dele tinham uma
fazenda numa cidade próxima: Itapira. Dia seguinte, no café da manhã, fiquei sabendo que
iríamos passar um dia inteirinho naquele recanto. Meu tio e o pai dele encheram
os carros e fizemos uma viagem belíssima. Por lá, uma longa caminhada, por
vezes ao longo de um riacho de pedras escorregadias. Ele pegou a minha mão para
ajudar-me e não mais a largou.
Chegamos
atrasados e famintos para o melhor assado com batatas e um feijão e arroz
delicioso feito numa cozinha de fogão à lenha. Até hoje salivo o desejo
reprimido de repetir o prato, que não pude realizar. Só tinha olhos para um
jovem menino de pouco mais de quinze anos.
Depois
do almoço, viagem de volta, ardia minha pele queimada, tanto quanto o coração.
Levei uma enorme bronca porque não soubera me cuidar. Encheram-me de pomadas e
cama.
Por
volta da meia noite, acordei ao som do violão. Era ele. Viera improvisar uma
serenata. Só pra mim. Só pra mim...Na
alegria, sai correndo da cama, descabelada e com o rosto repleto de pomada. Ao
tentar abrir a janela fui repreendida por minha prima. "Arrume-se
primeiro"...Mas (sempre tem um
mas...)Meu tio antecipou-se e pôs os
rapazes pra correr.
Minhas
melhores lembranças são guardadas dentro do meu coração. E a cada vez que minha
pele descasca, que ouço um apito de trem, um som de violão, me vejo, menina,
num riacho de mãos dadas com um rapaz.
Liz Rabello
CRÔNICA PREMIADA COM "DESTAQUE" NO 33º CONCURSO INTERNACIONAL DE POESIAS, CONTOS E CRÔNICAS ALPAS
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
Quando meu mundo vira
cinzas
E eu não consigo escrever
Sorrir, impossível
Amar, tão difícil
Odiar, tão fácil
Apelo às flores
Odores
Sabores de entardecer
Alegrias de amanhecer
Respirar é incrível!
Liz Rabello
terça-feira, 18 de agosto de 2020
Anos de sonhos vermelhos
Um número que de azar não
tinha nada
Estrela que brilhava ao
sol do meio dia
Água pra caboclo em
cisternas
Na seca intermitente do
Ceará
Faculdade pro filho do
pedreiro
Marmita ao lado de um
livro
Brotado das mãos da preta
faxineira
Escrevendo fica tudo novo
Borboletas saindo da
memória
Liz Rabello
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
E SE FOSSE COMIGO?
Tenho lido, com muito
esforço para conseguir entender, comentários de religiosos a favor da vida de
um grãozinho de areia: "Sou contra o aborto", ou os mais radicais:
"Assassina"... Então eu me pergunto: "Se fosse minha netinha,
qual seria a minha opinião?" E eu te indago: "Você colocaria em jogo
a vida de uma criança de dez anos? Você seria capaz de fazer esta criança ver o
próprio corpo se modificar dia a dia crescendo dentro de si mesma algo que nem
sabia o que era?" Qual a pior crueldade? Impedir um grãozinho de areia de
crescer ou permitir uma vida menos dolorosa para quem já está sofrendo? - Eu
não teria dúvidas em ser a favor do aborto.
Liz Rabello
Que
hipocrisia
Desta
torpe sociedade
Que
tanto preza o feto
Quanto
manipula o fato
Que
tanto valoriza
A
semeadura de um grãozinho
Quanto
desvaloriza a vida
Imatura
de uma criança
Liz
Rabello
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
Esta poesia tem um significado especial pra
mim. Meu tio, um sapateiro, autodidata, me iniciou no caminho dos grandes
escritores. Por suas mãos li Machado, Jorge Amado, Victor Hugo, Eça de Queiroz,
Guilherme de Almeida, Graciliano Ramos. Não foi na escola, mas numa caixa de
sapato que pude segurar um livro: A Moreninha, Capitães de Areia, Guerra e Paz,
Os Miseráveis (eram livros grossos, que demorava muito a ler), outros eu lia
devagarinho pra não acabar. Olavo Bilac li, reli e amei. Meu tio declamava para
mim este poema, sussurrando em meu ouvido palavras poéticas. Foi sua última
mensagem pra mim, em seu leito, antes de partir para as estrelas.
Liz Rabello
Via Láctea
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no
entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em
pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão
contigo?"
E eu vos direi: "Amai para
entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender
estrelas".
Olavo Bilac
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
Minha alma nas lentes
Contagiantes de sonhos
Viaja na paisagem
Que meu corpo (é evidente)
Não consegue mais realizar
Liz Rabello
KITSUNJI
Assim são nossas rugas
Quanto mais a pele
Existir marcada
Mais alma calejada
Mais virtudes alcançadas
Liz Rabello
MARIELLE PRESENTE
Apagaram este sorriso
Cerraram seus olhos
Deixaram um coração sem bater
Ignoram sua morte
Como tantas outras mil
Arrancaram sua placa
Boicotaram homenagens
Pilhagens
Mas... Ahhhhhhh...
Sempre tem um "mas"
Não calarão a voz
Uníssona de indignados
Deste meu país!!!!!
Liz Rabello
sexta-feira, 17 de julho de 2020
BEIJO PROIBIDO
Que se desenha
Na chuva
Na janela
Na folhagem
Nos flagelos
Das manhãs
Tardes, noites
Nos desejos
Despenteados
Dos sonhos despedaçados
Liz Rabello
quinta-feira, 9 de julho de 2020
SPINA (Nova Forma Poética)
PANDEMIA
Histórias são interrompidas
Sem calor humano,
Quão pouca solidariedade!
Solidão é palavra de ordem
Afagos, abraços, beijos, fé, olhares
Negados... Vive-se só pela metade!
Separados cada qual num canto
Sem velórios, choros, sem humanidade!
Liz Rabello
TRABALHO DE VIK MUNIZ
O retrato é feito com as fotos de todos os médicos e
enfermeiros que faleceram na Pandemia de 2020 até o momento de criação da mesma.
Basta ampliar e ver. Ainda assim, há milhares mais!
sexta-feira, 3 de julho de 2020
SABORES E AFETOS
Desde que
soube que os principais sinais da presença maléfica do Covid é a perda do
olfato e do sabor dos alimentos, presto muita atenção nestes sentidos. O cheiro
do pão caseiro e do café pela manhã passou a ser uma alegria. Mas a maior das
simplicidades foi descobrir que dos pedacinhos de frutas degustados no desjejum,
um a um, alternados, o mais saboroso não é o kiwi, nem o morango, muito menos a
fruta do pecado...A mais gostosa ao meu
paladar é a banana!
Liz Rabello
domingo, 21 de junho de 2020
ODE AOS TREZENTOS E CINQUENTA MIL
Rainha sem coroa
Escancara janelas
Destrava portas
Arrebenta muros
Desata nós de cordas
Desta sociedade podre
Mostra face torpe
Aniquila sonhos
Rouba bolinhas de gude
De crianças sem avós
Apaga sóis
Desliga sons
Instaura trevas
Mata, mata tudo o que é amor!
Não permite
Nem sequer velório
Luto ilusório
Luta contra a dor
Liz Rabello
Pintura de Juan Lucena, Itália. Esta pintura foi realizada em honra de todos os avós mortos pelo Covid 19, que não puderam dizer adeus aos netos. O título desta obra é: "O que faremos sem eles?