Estava
de férias escolares. Doze ou treze anos.
Fui para Mogi Mirim. Meus tios e primos cuidaram de mim com muito
carinho. Era uma casa de esquina, grande, bonita, de cerca baixa. Apitos de
trem ao fundo do quintal davam à pequena cidade um ar romântico de interior.
À noite íamos à praça para a paquera. Na época chamava-se "footing". Garotas iam pela direita e rapazes pela esquerda. Caminhávamos em círculos opostos ao redor da Igreja matriz. Foi então que nossos olhos se encontraram. Demos voltas e voltas até girar o coração. Os pais dele tinham uma fazenda numa cidade próxima: Itapira. Dia seguinte, no café da manhã, fiquei sabendo que iríamos passar um dia inteirinho naquele recanto. Meu tio e o pai dele encheram os carros e fizemos uma viagem belíssima. Por lá, uma longa caminhada, por vezes ao longo de um riacho de pedras escorregadias. Ele pegou a minha mão para ajudar-me e não mais a largou.
Chegamos
atrasados e famintos para o melhor assado com batatas e um feijão e arroz
delicioso feito numa cozinha de fogão à lenha. Até hoje salivo o desejo
reprimido de repetir o prato, que não pude realizar. Só tinha olhos para um
jovem menino de pouco mais de quinze anos.
Depois
do almoço, viagem de volta, ardia minha pele queimada, tanto quanto o coração.
Levei uma enorme bronca porque não soubera me cuidar. Encheram-me de pomadas e
cama.
Por
volta da meia noite, acordei ao som do violão. Era ele. Viera improvisar uma
serenata. Só pra mim. Só pra mim... Na
alegria, sai correndo da cama, descabelada e com o rosto repleto de pomada. Ao
tentar abrir a janela fui repreendida por minha prima. "Arrume-se
primeiro"... Mas (sempre tem um
mas...) Meu tio antecipou-se e pôs os
rapazes pra correr.
Minhas
melhores lembranças são guardadas dentro do meu coração. E a cada vez que minha
pele descasca, que ouço um apito de trem, um som de violão, me vejo, menina,
num riacho de mãos dadas com um rapaz.
Liz Rabello
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