CAIO DE BOCA NO CHÃO
Se tinha cinco anos ou pouco mais era muito. Mas me lembro como se fosse hoje. Casamento de um primo. Minha tia, costureira de mão cheia, tinha me dado de presente um vestido azul de tule, seda e rendas, com um maravilhoso casquete cravejado de lantejoulas e missangas. Par perfeito com minha irmã. O dela, rosa, caiu-lhe como luva. Ela, de olhos azuis, loirinha, cabelos lisos, ficou uma princesa. Eu, desengonçada, moreninha, de cabelos encaracolados, não me senti à vontade, até porquê, para minha tristeza e agonia, o casquete ficou grande e caía. Minha tia levou de volta para consertá-lo. Sufocada por minha ansiedade, nem conseguia brincar. Amiguinhos na calçada riam dessa tristeza. Foi quando a vi: minha tia descendo a rua, com um pequeno embrulho na mão. Numa tempestiva alegria, correndo desembestada, fui ao seu encontro. Tropecei e caí de rosto. Nariz, queixo e testa ensanguentados. Às gargalhadas, as crianças me reprovavam. Segundo elas, eu era muito exibida e merecia o tombo. Não guardei na memória o desfecho desta história. Mas trago comigo a lição. E quando fico feliz por demais e deixo transparecer emoções, percebo que há, ainda hoje, uma repetição de fatos. Caio de boca no chão.
Liz Rabello
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