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AO MESTRE COM CARINHO
O estranho de tudo isto é que, em geral, somos nós, os humanos, que escolhemos animais de estimação. No caso, Nininha nos escolheu. Meu sobrinho e meu filho passavam em sua casa, diariamente, e ela abanava seu rabinho de vira-lata, no porte do capa preta pastor alemão, olhinhos sapecas e inteligentes, dignos da mescla de um erro de sua mãe... Uma pedigree apaixonada por um vira-lata. Passavam dali, paravam e com ela brincavam. Um dia, fugiu por uma fresta do portão e os seguiu. Eles “juram” que tentaram devolvê-la. Eu trabalhava demais e não queria problemas. Quando a Menina chegou, logo impus minhas regras. Fica na lavanderia. Nada de entrar dentro de casa! E ela obedecia! Linda! Estávamos próximos ao Natal. Final de ano letivo, formatura dos meus alunos de oitava série. Era a paraninfa deles e estava ajudando na organização do evento. Ensaiávamos juntos “Ao Mestre com Carinho” e esta música não me saía da cabeça. Eu a cantava em todos os lugares por onde estava: no carro, no chuveiro, lavando folhas de alface na pia da cozinha. Distraída, não observei que Nininha chegou bem pertinho. Como era de praxe, eu lhe dizia: “Aqui, não! Volte para sua casinha!” Ela voltava. Era obediente demais. Mas sua maior característica era a sensibilidade e a inteligência. Naquela manhã de sol, os raios perpassavam pelas veias singelas das folhas de alface e meu coração foi tocado pelo amor! Nininha me acompanhava, de olhos fechados balançava a cabeça no ritmo e nos acordes da canção! Nunca mais eu a toquei para sua casinha. O espaço dela adentrou para o meu. Nós nos tornamos amigas para além da vida! E ela sempre soube que eu a amava de verdade. Quando o câncer tomou conta dela, precisou fazer cirurgias, aguentou cinco antes da Metástese. E ela o fazia com a sabedoria de quem entendia que precisava deixar-se passar pelo sofrimento da dor para poder perder a dor maior! Era um encanto vê-la confiar em nós três. Eu e meus filhos cuidávamos dela com muito amor! Já se passaram muitos anos e eu a guardo na memória com o mesmo encanto da primeira vez. Sou professora e ensino o valor das palavras, mas foi com a minha Nininha que aprendi o valor da sensibilidade e do amor! Amores assim são eternos!
(Liz Rabello, In INTERVALOS, Editora Beco dos Poetas, 2013)
coração amplitude vitória força fé - o mestre que nos torna o destino...
ResponderExcluirNão é o mestre que conduz o destino, mas o Coração de Estudante, eterno aprendiz, que nos faz crescer e sermos sempre melhores...
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