Caneta Pilot sobre transparência em fotografia (Liz Rabello, 2009)
PACTO COM DEUS... ETERNIDADE!
Não vês que acabas todo o dia.
Que te renovas todo o dia.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
Minha mãe sempre teve muito amor
pela vida. Fazia pactos com Deus de viver mais dez anos, mais dois anos, mais
dois meses... E assim, se sucediam os segundos, os minutos, as horas. Passou
por muitos momentos críticos por conta de sua doença hereditária: trombose.
Mais de vinte anos em tratamento com um especialista, um médico querido, que
ocupa até hoje em nossas vidas, um lugar especial. Quando completou oitenta
anos, em sua festa de aniversário declarou que reinaugurara um novo pacto e que
viveria por mais dez anos, com alegria e otimismo.
Minha irmã morava pertinho dela.
Ainda não completara sessenta e gozava de perfeita saúde. No entanto, nos
últimos tempos, os revezes financeiros a deixaram stressada e em profunda
depressão. Brigava constantemente com minha mãe, a quem eu defendia com unhas e
dentes. Fico muito triste cada vez que me lembro que nunca lhe dei atenção como
adoraria fazê-lo agora. Só ouvir! Só ouvir!
Certa madrugada acordei aflita,
de um aviso prévio, porque vi as duas, num pesadelo mais do que real em
discussão muito agitada. Minha irmã saiu da sala da casa de mamãe batendo a
porta, com muita força e agressividade. Ouvi as palavras magoadas: “Vês como
ela me trata?” Respondi, antes de acordar atônita e agoniada: “Mãe, tenha
paciência com ela, pois vai morrer antes de você!” Quinze dias depois minha
irmã foi morar com as estrelas. Paradoxo da vida: Trombo embolia pulmonar!
Cuidávamos as duas de nossa mãe e nunca fizemos nada por minha amada irmã.
Já se passaram seis anos e jamais
consegui escrever sobre isto, tão grande é o sofrimento, cujas centelhas se
acendem. Após um ano e meio, também minha mãe abandonou a vida. E as duas me
deixaram. Deus me deu apenas quinze dias para eu me acostumar com o sofrimento
que até hoje não aguento.
Liz Rabello