quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

 

INJUSTIÇA

Manhã nublada de dezembro. Às vésperas do Natal, levanto ansiosa e triste e meu coração me leva até um passado doloroso.

Recebi uma carta anônima. Envelope vermelho. Letra masculina. O que li me fez ficar tão abalada que bati o carro. Ofensas sem limite: “Viúva frustrada”... “Não consegue ver ninguém feliz”... “Invejosa”... “Fofoqueira”... “Infeliz”... Por outros detalhes, percebi quem era o autor dos desaforos maldosos. O Coordenador Pedagógico da escola que eu trabalhava. E agora, com muito ódio, afirmava que faria da minha vida um inferno... Um homem que dias atrás eu vira seduzindo uma amiga minha, jovem, casada, que eu considerava como filha. Com elogios, tentava beijá-la. E ela correspondia, completamente fascinada. Na hora H, li nos lábios dele: “E agora, ela viu!”- Ao que minha amiga respondeu: “Sem problemas, a Bete é minha amiga.” Eu não escuto bem há muitos anos. Por esta razão, não participava de fofocas nos intervalos da escola. Ficava muito calada, e todos tinham confiança em mim. Mas aquela cena me perturbou. Eu me senti na obrigação de alertar. Poucos dias depois, fizemos uma viagem juntas, como sempre fazíamos. No trajeto, eu ao lado dela, a ouvia triste, contava como a tal criatura a incentivava a fazer pós-graduação, Mestrado, e como afirmava elogios sobre sua beleza e inteligência... Eu poderia ter ficado calada, mas não fiquei. Alertei sobre os fatos serem verdadeiros e para tomar cuidado com segundas intenções daquele homem. Não comentei isto com mais ninguém, a não ser com minha amiga. Mas ela, ingênua, ou apaixonada, não sei, levou minhas palavras a ele. Ficamos de férias e três dias depois, recebi a carta anônima ameaçadora.

Durante as férias, a pessoa me difamou de tudo quanto foi jeito. Passou adiante a cena, dizendo que era eu quem a estava alastrando. Quando as férias terminaram e um novo ano letivo escolar se iniciou, fui recebida com caras e bocas, sem amigos, com ódio por todos os cantos. Não sei como aguentei aquele meu último ano na escola onde fora feliz por quase trinta anos. Pedi aposentadoria, que não saiu, depois solicitei mudança de escola. Levo comigo esta injustiça. E sei que mesmo depois de ter saído de lá, ainda carrego a cruz da perseguição daquele podre homem, congelada  no tempo.

Só recentemente rasguei a carta. Tinha a intenção de mostrá-la para minha amiga. Mas não precisei fazer isto, porque vejo pelas redes sociais fotos lindíssimas de seu casamento, férias, marido, filhos! O que eu queria que ela fizesse, ela fez... Valorizou o real, o verdadeiro! Fez Mestrado, Doutorado, mostrou seu valor ao mundo! Eu não preciso me defender de nada. Minha consciência está tranquila.

Liz Rabello

quarta-feira, 4 de dezembro de 2024


 LÁBIOS OUTONAIS

Não só beijos de selinhos
continuam sensuais
nos sulcos marcados
pelas pressas dos caminhos
por embustes camuflados
de sinceros sentimentos
por desejos reprimidos
em parceiros inaudíveis
Lábios outonais
são belos, experientes
guardam memórias
de beijos libidinosos
e de outros tantos maternais
em cores púrpuras
não precisam de batons
nem de disfarces
sem maquiagens são especiais
Liz Rabello

domingo, 20 de outubro de 2024

SÚPLICA DAS ABELHAS

De partida, uma abelhinha, faminta, de malas prontas, descansou ao pé de um vaso rachado, seco... Olhou ao redor desesperada... Planícies devastadas...

Em miragens alucinadas: campos de girassóis... Um lago, uma cerca viva, roseiras se debruçando em verde gramado... E enquanto assim sonhava, implorava:

"Por favor, plantem flores, temos fome! Façam a sua parte: elas enfeitam de cores as suas vidas, trazem luz, harmonia e olor delicioso! Elas nos alimentam e nós, fortes, em voos de gratidão, transferimos o pólen entre as flores e promovemos sua reprodução, o que é essencial para a biodiversidade e a produção de alimentos. E ainda, de quebra, oferecemos mel saboroso!"

Crianças a encontraram agonizante e, rapidamente, em mutirão, semearam Cosmos de Jardim, Allysson Flor de Mel, Onze horas coloridas... Passaram a regar, diariamente... Observaram as sementes germinando, vida verde em terra escura... Viram as flores chegando e enxames alegres de abelhas voltando...

Liz Rabello
TROVAS PARA UMA ABELHINHA


Quis a florzinha plantar
para abelha fazer mel...
Quem diz que vão me pagar
por tão gostoso aluguel?
Liz Rabello


Fui eu que plantei a flor
para abelha fazer mel.
Dei de graça meu amor,
mas queria um aluguel.
Liz Rabello


Coração é abelha em mel,
voando de flor em flor...
Às vezes licor de fel
entre amor e desamor.
Liz Rabello

domingo, 22 de setembro de 2024

 GUSTAVO GOMES SILVA DOS SANTOS - ESCRITOR INFANTIL

LANÇAMENTO DE GUSTAVO GOMES DOS SANTOS: "MEU UNIVERSO", NO CÉU CURUÇÁ

Aluno do Céu Curuçá, foi descoberto enquanto escritor num trabalho da Sala de Leitura, Clubinho Poético. A professora encantada fez um vídeo do menino e publicou no YouTube. Em poucos meses viralizou. Quando li sobre seu desejo de lançar um livro, decidi ser madrinha financeira do desejo da criança. E nasceu o livro MEU UNIVERSO.

LANÇAMENTO DE GUSTAVO GOMES DOS SANTOS: "MEU UNIVERSO", NO ARMAZÉM DA CIDADE.

O jornalista Gilberto Dimenstein mediou todo o evento do lançamento com o secretário de educação municipal Gabriel Chalita, o cantor Crioulo, a empreendedora social Bel Pesce e a Orquestra de cordas da favela de Heliópolis, empreendedores sociais e pessoas ávidas para ouvir o menino Gustavo e conhecer seu trabalho. Muitooosss elogios de apoio e palavras de estima pela educação.

Grande Gustavo Gomes Silva Dos Santos ... É tão pequenino que precisou subir à cadeira para ser visto pelo público... Mas se tornou "enorrrme" ao ser ouvido...

ESTE É O BRASIL QUE EU ACREDITO. O FUTURO É DOS JOVENS QUE LUTAM POR UM PAÍS MELHOR: SEM PRECONCEITO, SEM DISCRIMINAÇÃO, COM ATITUDES DIGNAS EM BUSCA DE UMA IGUALDADE SOCIAL.

LANÇAMENTO DE GUSTAVO GOMES DOS SANTOS: "MEU UNIVERSO" NO CANTINHO GIRASSOL, EM SOROCABA.


BATE PAPO COM LIZ RABELLO E GUSTAVO GOMES DOS SANTOS NA UNISAL

Uma noite inesquecível com cerca de oitenta estudantes na Biblioteca da UNISAL de Santa Terezinha, se acotovelando para conhecer os escritores, da novíssima geração em São Paulo. Gustavo abriu o verbo com suas ideias e pensamentos e Liz Rabello revelou experiências como professora e escritora, e mulher, feliz pelo novo caminho na literatura infantil. Algumas fotos do rico debate, sob a batuta excelente da professora e mediadora Cida Sarraf.




BATE PAPO COM CHICO CESAR E GUSTAVO GOMES DOS SANTOS NO SESC CONSOLAÇÃO


EU SOU A LUZ



GUSTAVO GOMES SILVA DOS SANTOS RECEBE PRÊMIO DE CIDADÃO DE SÃO PAULO "CATRAQUINHA"

Gilberto Dimenstein na cúpula do Catraquinha premiou nosso menino prodígio por seus ensinamentos de cidadania, pelos vídeos que rolam na Internet aos quais Gustavo fala de sua rotina diária, de como ultrapassa barreiras do preconceito e de seu amor ao Ceu Vila Curuçá, Clubinho Poético, Professora Maria Gorete De Jesus Coutinho Cordeiro e, é claro, respeito aos livros, à poesia e sua felicidade em já ter um livro publicado: "MEU UNIVERSO". Adormeci iluminada pela fé, esperança, otimismo. Pessoas maravilhosas foram homenageadas por um prêmio: CIDADÃO DA CIDADE DE SÃO PAULO, mas acredito que o prêmio maior seja a própria vida de cada um dos ganhadores...







EMEF TENENTE AVIADOR FREDERICO EM SÃO PAULO

Participamos na EMEF Tenente Aviador Frederico com o escritor mirim Gustavo Gomes dos Santos, a convite da equipe escolar... Galera mais do que bem humorada e receptiva para com o escritor Gustavo Gomes num evento que finaliza um projeto anual de IDENTIDADE AFRO. Adorei a experiência. Parabéns ao Diretor Fábio e sua equipe, que conhecemos na Feira Periférica Marginal Independente em Sampa. 




ENCONTRO DO AUTOR MIRIM GUSTAVO GOMES, E  E.E. CARLOS CRISTOVAM ZINK, EM CAMPINAS - SÃO PAULO

Como não parabenizar uma escola assim? Crianças auto disciplinadas, envolvidas no processo, protagonistas da própria história. Ficaram quinze dias se preparando para receber Gustavo Gomes, autor do livro "MEU UNIVERSO"... Escreveram a partir dos poemas do escritor mirim, seus próprios poemas. Lindos desenhos, livros, camisetas com o título de um poema lido... Esqueci de algo? Sim, porque muita emoção rolou neste encontro.





LINKS DE VÍDEOS 

https://youtu.be/mo-on7ikYi4



quarta-feira, 18 de setembro de 2024

 SARAU DE SEGUNDA

 VEM VIVER CONOSCO MAIS UM DIA INESQUECÍVEL


SEGUNDO SARAU DE SEGUNDA... Uma delícia rever amigos queridos!

É tão bom encontrar novos e velhos amigos. Cada sorriso me faz viver um tempo bom, um tempo de alegria e de amor incondicional. Dia 14/10 estaremos de volta a enfeitar a noite de poemas e canções. Não esqueçam: toda segunda segunda do mês nos encontraremos outra vez.
Aline Romariz e Liz Rabello



TERCEIRO SARAU DE SEGUNDA- OUTUBRO DE 2024
APRESENTAÇÃO DO MEU NOVO LIVRO INFANTIL XIMBINHA LIGEIRINHA



segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 DNAS ENTRELAÇADOS

Tia Cláudia, noventa anos... Caçulinha da família... Irmã da minha mãe. Se minha mãe estivesse viva, estaria completando noventa e oito... Entrei no salão de festas e fui cumprimentando o meu passado... Entre rugas, rusgas e abraços, DNAs entrelaçados... Sorrisos e afagos: " Ei, é você, a filha da tia Nair?" Minha mãe era muito querida por todos... Um elo entre os irmãos. Quando pequenos, era ela quem os ajudava a se deitar, tirar a roupa, ir ao banheiro... "Nair, apaga a luz, Nair, acende a luz!" É só falar estas frases pras irmãs sorrirem e voltarem no tempo... Oitenta anos atrás... Tia Elza, minha madrinha, está com noventa e quatro. Lucidez e alegrias perfeitas... Começou o revoar de memórias: "Lembra de quando ganhei a viola e não queria, porque pensava ser um pernil de natal?" Renato grita exultante! E aquela viagem à Aparecida do Norte... cumprir promessas pela saúde do meu pai? Éramos dezenove dentro de uma Kombi.

Formamos um círculo ao redor de uma tela. Fotos girando numa retrospectiva de vida e eu me vi, me reencontrei comigo menina. Acendi as luzes do castelo do bolo de oitenta anos da festa do meu nono! Foi magia pura... 


Viajei pelas risadas nas danças de tarantelas e fandangos na festa de oitenta anos da vovó Adélia... Eduardo dizendo: "Como a gente era feliz!" E mais recente: a festa de casamento do Leandro, estilo caipira, no sítio do Pedro... 

Passei o domingo procurando fotos, principalmente de minha mãe... Uma saudade enorme!!!!!!!!!!! Encontrei a minha irmã, o meu pai, chorei, ri, por um mundo que não existe nas redes virtuais, saindo de álbuns de faz de conta continua tudo sendo verdade!!!!!!!! E jamais me esquecerei! 








Liz Rabello

MEDO
Até bem seus três aninhos, Juju se agarrava em minhas mãos ao passar pelas muretas de pingo de ouro da trilha para a lavanderia, puxadinho do churrasco, escada acima. Lá se soltava para se deliciar na cadeira de balanço. Enfrentava o medo novamente, descia as escadas e passava pelas muretas. Esquecia o sentimento e se soltava para colher jabuticabas e delas se enfastiar até se lembrar da última dor de barriga. Olhava para ela e me via dentro do meu próprio medo, na idade dela, até um pouco mais velha, quando andava, ou melhor, corria de pavor pelo corredor estreito, no meio dos chifres de boi, matéria prima dos cabos de guarda-chuva, fábrica dos meus ancestrais italianos, os Bonellos, na General Flores, Bom Retiro.
Da festa de oitenta anos do nono, duas coisas nunca saíram de minha memória: Primeiro, a magia do acender e apagar das luzes do castelo, um bolo, cujas janelas iluminadas, povoaram minha imaginação de encantos! E, segundo, meu pavor: meu primo mais velho me levou para o inferno da fábrica e me largou lá na escuridão, entre os chifres de boi...


Na foto, sou uma emburrada de bracinhos cruzados... Adivinha por que estava zangada? É que este primo maior me levou para a fábrica. A certa altura, apagou todas as luzes. Na escuridão, não encontrava a saída... Naquele corredor comprido, a saída era a mesma da entrada e eu seguia ao contrário, num beco que não tinha fim. A minha sorte foi uma voz ter me avisado. Penso que foi minha prima Margarete.
Liz Rabello


BONDE DO PASSADO
Juju passou o dia comigo. Pegamos um bonde novo, ou melhor, velho... Ela começou a me entrevistar:
- Vovó, você tem medo de barata?
- Hummmmm, claro que sim, mas enfrento, porque não consigo ficar em paz se não a mato. Para conseguir aplacar o medo, fico lembrando de quando era mocinha. Trabalhava nas Empresas José Giorgi. Era recepcionista. Tinha só treze anos de idade. Era tão criança que brincava de me segurar com as mãos uma em cada mesa do escritório e levantar o corpo balançando os pés. Numa destas brincadeiras, fui pega em flagrante pelo chefe. Gritei: "Uma barata!"... Até ele fugiu e eu caí na gargalhada.
Juju adorou a minha travessura e quis ver uma foto minha daquela época. Passamos a tarde vendo fotos antigas.
Liz Rabello