terça-feira, 23 de agosto de 2022

 FATIAMENTO EM VERSOS OU FRAGMENTAÇÃO

Todos nós amantes do Poetrix, temos plena ciência da imensa distância existente entre o que se denomina FATIAMENTO EM VERSOS e FRAGMENTAÇÂO NUM POEMA?!

Para qualquer diálogo sobre o tema, lembremos que FRAGMENTAÇÃO em um poema é uma técnica narrativa ou poética que perpassa as mídias, a literatura, as artes, sendo hoje menos uma saída revolucionária na estética, como foi para o Modernismo, ao romper a linearidade do discurso exigida pela razão, do que um hábito, um macete de composição de amplo domínio público. Já o fatiamento em versos, por sua vez, denota ausência de esmero na aplicação da linguagem poética na construção dos versos do poema. A Linguagem Fragmentada é uma narrativa, que abre espaço para um universo de possibilidades e interpretações, e assim dependerá do leitor realizar a sua compreensão individual.

Tomemos como base de percepção dessas diferenças este lindíssimo Poetrix, de Anthero Monteiro:

Ortografia

Uma gaivota só
um til sobre a palavra
imensidão

Não há “fatiamento” nos versos dois e três! Há, isto sim, a aplicação, especialmente no terceiro verso, da “Linguagem Fragmentada”, dando belíssima significância ao mote (que é o título) e à mensagem contida nos versos anteriores.

Dreif Gonçalves

FATIAMENTO NUM POETRIX NÃO O CARACTERIZA COMO TAL... É UM SIMPLES TERCETO

LIÇÕES DA SOLIDÃO
Se o amor vai e vem
Crie pontes
Os muros são obstáculos, derrube-os

FRAGMENTAÇÃO




domingo, 14 de agosto de 2022


 LAÇOS DE AMOR

Há sempre um ponto
Uma encruzilhada
Um banco
Uma esquina
Um lance de olhar
Uma gota de orvalho
Uma luz ao luar
Uma fonte a jorrar
Uma chuva constante
De lindas notas musicais
Onde o amor está!
Sou a filha do meio de um casal como poucos. Meus pais se amavam e não me lembro de brigas, muito menos desavenças por quaisquer razões. Só me vêm às lembranças muito amor, de ambos os lados. Cresci cercada de palavras de afeto e muito agarrada ao colo dele, a seus carinhos de proteção e ao seu jeitinho carinhoso de me dizer o quanto acreditava em meus sonhos e potencial. Pena tê-lo perdido tão cedo. Era menina quando Deus o levou para morar com as estrelas. Órfã de sua presença física, jamais vivi sem apego espiritual. Por esta razão mesmo adulta eu o tinha em pensamento e coração.

Uma noite, após estudos em grupo, preparação de um seminário, saí sozinha do apartamento de uma amiga do pós graduação que fazíamos pela PUC. O relógio marcava por volta de dez horas da noite. Oscar Freire, rua pouco movimentada de pedestres, mas com muito trânsito. Havia deixado o carro três quarteirões adiante e fui a pé, sem medo algum, já com as chaves na mão, pronta a entrar e ir de encontro aos meus filhos, que me aguardavam em casa. Foi então que atônita percebi três rapazes a me cercar. Rapidamente um pela direita, outro pela frente e um se adiantou e me ultrapassou na calçada ficando atrás de mim. Diziam palavras entrecortadas com obscenidades, dando-me a entender que pretendiam algo comigo apavorante. Num repente de defesa, corri para a esquerda, único fragmento de abertura disponível e atravessei a rua em meio ao trânsito, correndo desesperadamente, não sem antes, mentalmente pedir ajuda a Deus: “Pai, me socorre!” O semblante do meu Deus tinha a face de papai. Do outro lado da calçada, um carro claro, da Volkswagen, faróis acesos pronto para sair. Bati nos vidros com toda força que consegui e o motorista abriu a porta. Entrei. Pedi para correr. Não, não pedi, exigi, gritei! Ele me ouviu, obedeceu e só bem adiante é que parou, para me acalmar e, em Espanhol, pois nenhuma palavra entendia ou falava em Português, tentou se comunicar comigo. Pela lógica dos fatos, mostrando as chaves em minha mão, acabou voltando e me levando até meu carro. Acompanhou-me um bom pedaço e só desistiu de me ajudar quando observou que não estava mais em perigo.

Cheguei em casa muito suada. Tomei meu banho. Um chá. Não conversei com ninguém sobre o fato. Apenas agradeci a Deus.

Dois dias depois fui à casa dos padrinhos do meu filho mais velho. Já estava saindo quando minha tia me falou: “Noite passada tive um sonho estranho e rápido. Você atravessava a rua e seu pai a protegia com a mão em sua cabeça.” Nada consegui dizer. Só chorei. O amor tem laços que somente o coração consegue captar.
ONDE ESTÁ O AMOR?

Há sempre uma porta aberta
Uma janela a sorrir à luz do sol
Uma flor abrindo pétalas de cores
Exalando mil aromas
Gritos e gemidos de orgasmos
Lances de poesia dos sorrisos de crianças
Lambidas e carinhos de animais de estimação
Onde a única nota musical a soar é o Amor!

Liz Rabello

sábado, 13 de agosto de 2022

 

BASTA SER UM POETRIX?

A Bula Poetrix estabelece os requisitos mínimos para que se considere um terceto um Poetrix. Além desses requisitos mínimos obrigatórios, também há recomendações claras para o aprimoramento contínuo dessa arte, ou seja, não deve bastar ao poetrixta que seu terceto seja considerado um Poetrix. Não pode ser suficiente fazer um Poetrix, ou uma série deles, sem aplicar critérios além dos mínimos. Não teria sentido nenhum esquecermos das recomendações (ainda que não sejam exigências) de estarmos atentos ao que pode ser inserido e/ou retirado de cada Poetrix, do que pode ser trabalhado e retrabalhado em cada um deles para que saiam da condição de simples Poetrix, ou Poetrix “ruins” para a condição de “melhores”.
A prática dessa lapidação, desse trabalho de aprimoramento, de fato, é o que nos proporciona prazer na realização dessa arte, tanto para o poetrixta quanto para leitores de Poetrix. É mais atraente e nos prende mais o Poetrix que mostra profundidade e que houve trabalho, que existiu preocupação de usar o máximo das recomendações da Bula.


De todo modo, ainda que haja recomendações e contraindicações claras para a confecção de um bom Poetrix, isso não nega a possibilidade de termos visões e interpretações diferentes e subjetivas do que seja um ótimo Poetrix ou um Poetrix insosso, até porque arte lida com emoções e experiências subjetivas, e há aquilo que toca mais quando lemos um Poetrix, e aquilo que nos parece sem profundidade. Há temas sobre os quais temos conhecimento mais profundo e há outros em que precisamos ter vontade e disposição de procurar entender o que o poetrixta quis dizer. Não podemos dizer que um Poetrix é ruim simplesmente porque não o entendemos. A autocrítica como leitores também é recomendável.
Enfim, o Poetrix é, sim, uma arte minimalista, mas isso não significa mínimo esforço, nem na confecção e nem na leitura.
Sandra Boveto

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

 

A ARTE DO TÍTULO NO POETRIX


POR JOSÉ DE CASTRO ( In Academia Internacional Poetrix)

Colocar títulos em poetrix é uma arte. Aliás, o título é de suma importância, pois ele situa e contextualiza o poetrix e dá significado ao texto.

Geralmente, o título é o que vem por último num processo de criação literária. Assim acontece em poemas, contos e romances. Depois de escrever, o autor atribui à sua produção um título que servirá como um convite à leitura, atraindo a atenção do leitor.

Pode acontecer de alguém, primeiramente, ter um título em mente para depois escrever o poema ou texto.

Assim, podemos ter dois pontos de partida:

– um poetrix em busca de um título;

– um título em busca de um poetrix.

QUE TAMANHO DEVE TER UM TÍTULO?

Sabe-se que o título de um poetrix pode ter o tamanho que se quiser, pois as palavras não entram na contagem das sílabas. Isto não quer dizer que devemos abusar, criando títulos quilométricos, pois o poetrix é um gênero minimalista.

Então, reflita: existe algum propósito específico para um título longo? Você tem uma justificativa sólida, uma razão forte e intencional para causar algum impacto? Mesmo assim, saiba que não existe nenhuma garantia se isso funcionará a favor ou contra a sua ideia.

PORTANTO, PREFIRA UM TÍTULO MINIMALISTA QUE DIGA MUITO COM POUCAS PALAVRAS

O título pode ser uma síntese ou um guia de leitura do poetrix e até mesmo um complemento, um algo mais. Poderá também estabelecer analogias ou provocar contrastes em relação ao tema.

UM BOM TÍTULO DEVE SER INSTIGANTE E PROVOCATIVO PARA CHAMAR A ATENÇÃO DO LEITOR

É recomendável que o título tenha uma “pegada” para capturar e seduzir o leitor. Mas, sem exageros, na medida certa. Ele precisa ser coerente e fazer sentido no contexto poético. Na arte do poetrix não se pode visar apenas um efeito estético formal. Tudo tem que ter uma razão sólida e cumprir uma função poética.

 O TÍTULO PRECISA CONTRIBUIR PARA A POETICIDADE DO POETRIX

Importante lembrar os seis valores preconizados pelo teórico Ítalo Calvino para a literatura, em sua obra Seis propostas para o próximo milênio (leveza, rapidez, multiplicidade, visibilidade, exatidão e consistência). Esses valores ou qualidades, imprescindíveis na literatura em geral, aplicam-se também ao gênero poetrix e, claro, aos títulos.

 O TÍTULO DE UM POETRIX PRECISA SER CONSISTENTE

A consistência significa que o título engloba algum ou alguns dos valores preconizados por Calvino. Por exemplo, rapidez e exatidão: quando alguém bate o olho no título já percebe o que ele quer dizer. Por outro lado, a multiplicidade implica em riqueza expressional. É o mesmo que falar de polissemia ou amplitude de significados. Já a visibilidade é o poder de sugerir, de gerar cenários e ativar a imaginação.

Vale observar que os valores destacados por Calvino aplicam-se não só ao título, mas também à totalidade do poetrix. Não basta um título estar bem colocado se os versos não têm consistência. É preciso que exista uma relação de diálogo e pertinência entre o título e os versos. Se os versos expressam leveza, o título precisará ser coerente com isso. Contudo, a leveza não impedirá o autor de tratar de temas polêmicos, tristes ou mesmo conflituosos. A leveza refere-se mais à forma de se expressar, com elegância, consistência e clareza. Jamais significará que o autor precisará sempre utilizar um estilo lírico ou romântico. A leveza é a magia que nos faz flutuar, viajar, voar com as palavras, mesmo que elas não sejam de conformismo.

É muito comum em poetrix – e também no título – se fazer a quebra de palavras para gerar um efeito de ambiguidade, dupla leitura, ou seja, para expressar mais de uma ideia. Evite as quebras já muito utilizadas e que se encontram desgastadas (Ex.: ser_tão; amar_ela; dentre outras). É muito difícil, hoje, você conseguir uma quebra que surpreenda o leitor, pois tal artifício vem se banalizando.

Devido ao campo expressional reduzido de um poetrix, afinal são apenas três versos, evite repetir palavras dos versos no título.

O cânone do poetrix recomenda que não se use versos construídos com frases quebradas, seja em duas ou três partes. Cada verso precisa ter “luz própria” e não depender do verso anterior ou subsequente para se completar. Essa mesma recomendação é válida também para o título. Ele não deve ser algo incompleto que precise do primeiro verso para fazer sentido. Da mesma forma, o primeiro verso não pode ser refém do título para expressar uma ideia ou parte dela.

Finalmente, use a sua criatividade para garantir que o título do seu poetrix tenha a força que você quer para situar o poetrix dentro da ideia que você quer passar, pois o título é o cartão de visitas, a porta de entrada para capturar a atenção do leitor. O título precisa ser bem pensado e surpreender. Sendo sugestivo e significativo já é um bom começo. Ele poderá conter metáforas ou qualquer outra figura de linguagem. Quanto mais poeticidade, melhor. Mas, às vezes, o que conta mesmo é a simplicidade da ideia, o seu jeito leve de ser e trazer aquele “toque” ao seu poetrix. Portanto, o título nunca será algo casual, aleatório ou apenas de impacto.

RESUMINDO

Lembre-se que o título, em geral, deve procurar atender a algumas dessas características:

– atrair a atenção do leitor por alguma característica especial;

– situar o poetrix dentro da temática abordada;

– suscitar algum efeito de surpresa e/ou encantamento;

– buscar a originalidade ou algum grau de inovação;

– ser instigante, provocativo, sugestivo;

– ter coerência e adequação com os versos;

– estabelecer diálogo com os versos, evitando redundâncias;

– trazer mensagem sugestiva, instigante, que leve à reflexão;

– abrir possibilidades de leitura múltipla;

– ter riqueza imagética e sinestésica;

– ter consistência e clareza em sua forma de expressão;

– ter leveza, rapidez e poeticidade.

É importante que você tenha clareza acerca da escolha que fez para criar o título, de maneira que ele trabalhe a favor da sua ideia, seja ela qual for. Um título precisa sempre caracterizar-se como uma escolha consciente, uma opção estética intencional e consistente em relação ao poetrix.

OBSERVAÇÃO:  OS EXEMPLOS EM GRAFITRIX SÃO DA AUTORA DA POSTAGEM E NÃO FAZEM PARTE DO TEXTO ORIGINAL.