sexta-feira, 27 de agosto de 2021

LUTO ILUSÓRIO

A última vez que eu a usei foi no lançamento de Quatro Estações no Sarau Urbanista Concreto, em finais de 2019. Eu a adoro. Uma túnica azul turquesa, de rendas, bordada. Só a uso em ocasiões muito especiais, como a troca de presentes de Amigos Secretos, no Bar do Julinho, Sopa de Letrinhas. Olhava a foto com saudades da “Bem-me-Claire”, Flor sem idade, da biblioteca inteira que ganhei de presente, todos livros solo desta maravilhosa escritora, e, é claro, com tristeza eu olhava a minha túnica azul turquesa.

Ia participar de uma Live, receberia um Prêmio “Personalidade Literária 2021”, da ALPAS. Queria estar bem na chamada, on line. Decidi que a usaria. Procurei, procurei, revirei os dois guarda-roupas. E nada. Virei a página, esqueci do assunto. 

Mais recentemente, eis que me vem à memória o ocorrido. Quando minha ajudante doméstica chegou, eu a fiz procurar em todo canto. Nada! Se não a achava fisicamente, comecei a vasculhar a minha memória. Eu me lembrava de um momento em que percebi que a roupa estava suada e precisava de um trato. Eu a coloquei numa sacolinha de supermercado branca, para levá-la para ser lavada. Num sábado, indo para Ibiúna, passei na lavanderia, que estava fechada. Como segui viagem, pensei que ela poderia estar na chácara. E logo que pude, lá fui eu, revirando tudo por lá e nada encontrando.

Numa noite, já triste e decepcionada, acordei me lembrando que ficara chateada por ter dobrado a roupa tão cara de qualquer jeito e, ao colocá-la no balcão da “LA- VAN- DE- RIA”, estar com os bordados amassados. Deu o insight! É lógico, está lá, eu me esqueci de ir resgatá-la de um longo confinamento. Esta Pandemia ainda vai me matar! Esperei o dia útil e logo ao amanhecer fui em busca da preciosidade. Nada existia em meu nome naquele local. Insisti tanto que a atendente perdeu a calma. Sem esperanças, voltei, desanimei e não mais procurei.

Eu sou de dormir às madrugadas e meu filho, ao contrário, passa-as acordado. Entre um sono e outro, abri o celular e, muito triste, contei a história toda a ele. Postei minha foto com a Claire, usando a túnica. E lamentei: “Eu adorava esta peça...”  Em tom de despedida!

“Ei, mãe, você não se lembra que me pediu para ir buscá-la na lavanderia? Está aqui no meu guarda-roupa. Amanhã eu te levo.”

Ah, se todos os lutos fossem assim!!!!!!

Liz Rabello

quinta-feira, 19 de agosto de 2021


Forte elástico do tempo,
detê-lo é tão impossível!
Não há um só passatempo
que segure o previsível.

Amanhece quer se queira,
quer não... Também anoitece;
o orvalho vem molhar beira
das folhas, quando alvorece.

Ontem a dor que eu sentia,
já não tem espaço em mim.
Junto ao Sol, vem alegria,
um dia após outro, enfim!

Liz Rabello

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

FAÇO PARTE DESTE LINDO VÍDEO... UMA REFLEXÃO POLÍTICA SOBRE NOSSAS AÇÕES.

PAISAGENS BRASILEIRAS – PROSA POÉTICA

O Brasil é uma nação múltipla em sua diversidade. De norte a sul do país maravilhosas paisagens se sucedem e encantam. Belezas naturais contrastam com extensas monoculturas, solo arrasado e degradação ambiental. Nosso povo humilde é explorado desde a colonização, e colonizados seguimos espoliados. A dualidade ruidosa entre a Natureza esplendorosa e a degeneração territorial é tema do filme “Paisagens Brasileiras”, dirigido por Eduardo Waack.

Esta é uma obra colaborativa e solidária, com uma extensa lista de participantes. A narrativa conduzida por treze leitoras, com seu sotaque peculiar, dá uma sonoridade colorida à mensagem ecológica, espiritualista, cósmica e política que ecoa do início ao fim. São poesias, são crônicas: é prosa poética. As imagens, pequenos filmes oriundos dos mais variados rincões, são de um encanto ímpar e exuberante. Colhidas por 24 pessoas cuja paixão comum é a terra pátria. Merecem destaque as fotografias do paranaense Leandro Taques, em preto e branco, intercaladas e pontuando as longas sequências e planos curtos. Na trilha sonora incidental, interpretada ao piano, alguns dos mestres dos séculos XIX e XX, cuja marca registrada é a brasilidade.

Assim é “Paisagens Brasileiras”, uma lembrança e um recado. Um esforço e uma dedicação — uma declaração de amor. Por uma ética na estética! A simples constatação de que é necessária uma mudança de rota e de pensamento, para que corpo e alma, pessoas & lugares, o Brasil e os brasileiros, tornem a reencontrar-se.

#poesia #prosapoética #videopoema

Poesia Viva — Eduardo Waack

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

 
ALFABETIZAÇÃO... UMA BRINCADEIRA!

Fui alfabetizadora durante dezoito anos seguidos, num tempo em que meus filhos eram pequenos e, eles próprios vivenciavam estes momentos de primeiros contatos com a leitura e escrita.

Meu filho mais velho me deixou traumatizada por conta de que problemas familiares me fizeram optar por uma escola maternal para ele. Aos dois anos já estava frequentando o Colégio Pato Donald, que funcionava dentro do prédio do São João Gualberto; e, portanto, não era adaptado à criança tão pequena. Seus garranchos e rabiscos iniciais eram pautados de conceitos como “PÉSSIMO”, “SEM CAPRICHO” ou outros sinais de que quem o estava direcionando para os primeiros contatos com a alfabetização não tinha a menor ideia do mal que fazia para uma criança de dois aninhos. Se fosse hoje, eu o teria tirado daquele espaço num piscar de olhos. Quando entrou para o ensino fundamental já estava farto de escola, carteiras, lousas, lápis e cadernos. Reagiu como alguém que não tinha capacidade para aprender. E tinha.

A diferença entre os irmãos é de oito anos. Minha experiência negativa com o mais velho, deixou-me cautelosa com o mais novo. Não o coloquei na escola maternal, mas sim bem mais tarde. No entanto, por não ter com quem deixá-lo em casa, muitas vezes eu o levava comigo para a sala de aula. Usava vários materiais para a aprendizagem dos meus alunos e um deles eram os cartazes da Caminho Suave, a Cartilha e os varais. Tinha um jogo velho que deixei em casa e o meu filho se apropriou para brincar. Um dia eu o peguei no fundo do quintal pendurando os cartazes no varal de roupas e ensinando as galinhas a ler:

RA RE RI RO RU RUA!

SUAS GALINHAS BURRAS!

Ri muito da cena. E fiquei meditando se eu também não usava de brincadeiras para com meus aluninhos pequenos da Rui Bloem, onde lecionava. Acredito que sim... Um deles vivia me dizendo: “Já estou ficando cafuso... É muita letrinha pra me torturar!”


É claro que as galinhas jamais aprenderam a ler, mas o Rodrigo, sim! De tanto ensiná-las, quem se auto alfabetizou, foi ele próprio. Certa vez me disse num repente: “Mamãe, eu sei ler.” Abriu a Cartilha Caminho Suave e leu: LARANJA. Havia o desenho da laranja e eu menosprezei a leitura. “Oras, você leu a imagem” – E ele mudou a página. Desta vez leu DADO. E novamente deduzi que a imagem é que decifrava o código. Ele se irritou e leu SAPO... A mesma repetição dos fatos. Para me provar que sabia ler não mudou de página, apenas leu uma das palavras da lição do sapo: SALADA! Oras bolas e num é que era o SA do sapo, mais o LA da laranja, mais o DA do dado???? Ele ficou realmente zangado e berrou: “EU SEI LER!” E leu a página toda e depois outras páginas, enquanto muito emocionada eu o beijava de alegria... pois jamais o ensinara, apenas o deixei brincando com todo aquele material de alfabetização. Quando aos quatro anos eu o coloquei na escola Chácara Mundo Feliz ele já sabia ler e escrevia muitas palavras que aprendera sozinho por seu próprio interesse.


Isto me fez aprender a ensinar! E, principalmente a refletir sobre o que é que eu ensinava realmente quando queria ensinar algo que tinha em mente. Na verdade, não é o conteúdo, nem o material que importa, mas o MODO como fazemos o nosso trabalho.

Liz Rabello

GRATIDÃO