sexta-feira, 28 de maio de 2021


TIPOS DE RIMAS; ESDRÚXULAS, PRECIOSAS E RICAS

PROPAROXÍTONAS

Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto.
As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.
Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os artrópodes.
As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.
Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.
Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica!
Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito.
É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.
O inclinado e o íngreme.
O irregular e o áspero.
O grosso e o ríspido.
O brejo e o pântano.
O quieto e o tímido.
Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice.
Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice.
Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.
É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido.
Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.
Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.
(Este último parágrafo contém algo raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)
Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas.
É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.
O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido.
Da mesma forma, errar é humano. Épico mesmo é cometer um equívoco.
Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.
O que você não conhece é só desconhecido. O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma incógnita.
Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao âmago.
O desejo de ser uma proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais básicos têm o privilégio (efêmero) de pertencer a esse círculo do vernáculo – e são chamados de oxítonos e paroxítonos. Não é o cúmulo?

EDUARDO AFFONSO
Arquiteto, escritor e colunista do jornal "O Globo".
LÍngua e Tradição
SPINA (Nova Forma Poética)

CRÔNICA, ASSAZ CRÔNICA

Escritor, esdrúxulo, faz
da proparoxítona, uso!
Afastando místico bolor.

Ímpetos de rir: lépido, esquelético,
célere texto. Na prática: paroxítona?
Oxítona? Ausentes do artístico labor.
Canto épico, leitura anêmica, lápide,
fórmula antigo sarcófago do criador.

Liz Rabello

NOSSAS PROPAROXÍTONAS GENIAIS

Uma dupla sertaneja, Alvarenga & Ranchinho, já tinha feito o mesmo, cerca de 20 anos antes de Chico Buarque. Lançado há 50 anos, no início de 1971, o LP Construção, de Chico Buarque, ainda hoje é considerado um dos grandes discos da história da música popular brasileira. Quinto LP de Chico, foi lançado após seu exílio voluntário na Itália, que perdurou por cerca de 14 meses. Quando de seu retorno, em 1970, Chico já havia lançado um compacto simples, contando com “Apesar de Você” no lado A e “Desalento” no lado B.

Felizmente, os censores da época não consideraram de início essas duas canções obras “subversivas” e as liberaram. Uma surpresa, inclusive para o próprio Chico. Cem mil cópias vendidas e a “ficha” caiu: “você”, de “Apesar de você”, não era uma mulher mandona, autoritária, como o compositor sempre respondia a quem o indagava. Descoberto o “erro”, a canção foi censurada, proibida de ser veiculada pelas rádios e TVs, sendo os discos ainda não vendidos recolhidos pelas forças de segurança.

Se considerarmos o compacto “Apesar de Você”/”Desalento” como um aperitivo, o LP “Construção” revelou-se um banquete de iguarias finíssimas, daquelas que, como diria Vinícius de Moraes, “a pessoa, se fosse honrada mesmo, só devia comer metida em um banho morno, em trevas totais, sonhando, no máximo, com a mulher amada”.

Em dez canções que compreendem exatos 31 minutos e 12 segundos, Chico nos oferece uma obra definitiva, que nos marca “a ferro e fogo, em carne viva”. Mesmo 50 anos depois, não há como sair incólume após a audição desse disco. Para Mauro Ferreira, crítico musical, o LP Construção destaca-se pela coesão do repertório, pelo pulso político desse cancioneiro inteiramente autoral e pela adequação dos arranjos às dez músicas. Dentre elas, comento aquela que dá nome ao disco.

Versos alexandrinos

Maravilhosa, incomparável. Esses são alguns dos adjetivos que qualificam “Construção” de Chico. Versos alexandrinos, todos eles finalizados em palavras proparoxítonas.

Para muitos, “só Chico poderia fazer isso”. Realmente, Francisco Buarque de Hollanda é genial. Ponto. Mas, em relação às proparoxítonas ao final dos versos, uma dupla sertaneja, Alvarenga & Ranchinho, já tinha feito o mesmo, cerca de 20 anos antes da construção buarqueana.

Formada em 1929 por Murilo Alvarenga, mineiro de Itaúna, e por Diésis dos Anjos Gaia, paulista de Jacareí, a dupla iniciou sua carreira apresentando-se em circos no interior de São Paulo. Em 1934, Murilo e Diésis foram contratados pelo maestro Breno Rossi e passaram a se apresentar na Rádio São Paulo.

A carreira consolidou-se após a mudança para o Rio de Janeiro, onde gravaram o seu primeiro disco, em 1936, e passaram a integrar o grupo de atrações do Cassino da Urca. Faziam enorme sucesso com a criação de sátiras políticas, o que lhes valeu, também, uma série de prisões.

Sumiços e rearranjos

A formação original se desfez em 1965, quando Diésis abandonou definitivamente a dupla. Sumiços anteriores já haviam ocorrido, quando então havia sido substituído por Delamare de Abreu, irmão, por parte de mãe, de Murilo Alvarenga.

Com o rompimento definitivo, um “terceiro” Ranchinho surgiu, Homero de Souza Campos, conhecido também como Ranchinho da Viola e como “Ranchinho II” (apesar de ter sido o “terceiro”). Homero cantou com Alvarenga de 1965 até o falecimento deste, em 1978.

Mas e as proparoxítonas? Elas estão presentes em “Drama de Angélica”, canção composta em 1949 por Murilo Alvarenga e M. G. Barreto, tendo sido um dos maiores sucessos da dupla.

Reparem na letra: são 12 conjuntos de textos e cada um deles tem oito versos, sendo que, em praticamente todos eles, as últimas palavras são proparoxítonas.

Há algumas poucas exceções, tais como “perplexo” e “convexo”, mas ao longo da canção isso nem se nota, pois elas também se encaixam no ritmo estabelecido pela letra. Ouça a música, a partir de 8’50’’, no programa Ensaio, da TV Cultura.

Drama de Angélica (1949) – Murilo Alvarenga e M.G. Barreto

Ouve meu cântico
quase sem ritmo
Que a voz de um tísico
magro esquelética
Poesia épica
em forma esdrúxula
Feita sem métrica
com rima rápida
Amei Angélica
mulher anêmica
De cores pálidas
e gestos tímidos
Era maligna
e tinha ímpetos
De fazer cócegas
no meu esôfago
Em noite frígida
fomos ao Lírico
Ouvir o músico
pianista célebre
Soprava o zéfiro
ventinho úmido
Então Angélica
ficou asmática
Fomos ao médico
de muita clínica
Com muita prática
e preço módico
Depois do inquérito
descobre o clínico
O mal atávico
mal sifilítico
Mandou-me célere
comprar noz vômica
E ácido cítrico
para o seu fígado
O farmacêutico
mocinho estúpido
Errou na fórmula
fez despropósito
Não tendo escrúpulo
deu-me sem rótulo
Ácido fênico
e ácido prússico
Corri mui lépido
mais de um quilômetro
Num bonde elétrico
de força múltipla
O dia cálido
deixou-me tépido
Achei Angélica
já toda trêmula
A terapêutica
dose alopática
Lhe dei em xícara
de ferro ágate
Tomou num fôlego
triste e bucólica
Esta estrambólica
droga fatídica
Caiu no esôfago
deixou-a lívida
Dando-lhe cólica
e morte trágica
O pai de Angélica
chefe do tráfego
Homem carnívoro
ficou perplexo
Por ser estrábico
usava óculos
Um vidro côncavo
o outro convexo
Morreu Angélica
de um modo lúgubre
Moléstia crônica
levou-a ao túmulo
Foi feita a autópsia
todos os médicos
Foram unânimes
no diagnóstico
Fiz-lhe um sarcófago
assaz artístico
Todo de mármore
da cor do ébano
E sobre o túmulo
uma estatística
Coisa metódica
como Os Lusíadas
E numa lápide
paralelepípedo
Pus esse dístico
terno e simbólico
“Cá jaz Angélica
Moça hiperbólica
Beleza Helênica
Morreu de cólica!”

OS TIJOLOS E OS “CAUSOS”
Obviamente, a genialidade de ambas as canções não está relacionada somente à presença das proparoxítonas, é muito mais do que isso.
Chico, em alguns poucos minutos, descreve o cotidiano de um operário da construção civil, com todas as suas mazelas e desencantos. As proparoxítonas funcionam como tijolos em uma construção mágica e trágica, em uma tensão crescente embalada pelo também genial arranjo do maestro Rogério Duprat.
Alvarenga e Ranchinho, por sua vez, nos remetem àqueles “causos” que ouvíamos de nossos pais, histórias das quais ansiávamos por conhecer o seu final, mesmo que trágico. Uma verdadeira novela, arrebatadora, com idas e vindas, em uma interpretação perfeita da dupla. Ao final, não há como não gargalhar, a despeito do “Drama de Angélica”.
Chico é um intelectual, com sólida formação cultural. Alvarenga é de origem humilde, iniciou a carreira em circo e se tornou símbolo da música caipira. Tão diferentes e tão geniais. Como diria Caetano Veloso, “salve o compositor popular” do Brasil.
José Paes de Almeida Nogueira Pinto é professor do Departamento de Produção Animal e Medicina Veterinária Preventiva, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp, Campus de Botucatu. É assessor da Assessoria de Comunicação
e Imprensa da Unesp.
Na imagem acima, a dupla sertaneja Alvarenga & Ranchinho em apresentação no programa
Ensaio, da TV Cultura, de São Paulo, gravado em fevereiro de 1973. Foto: captada do vídeo do Canal da TV Cultura no YouTube.

Sentindo falta de árvore
respirei fundo profundo,
o meu pulmão como mármore,
tragava ar pesado, imundo!

Árvore não rima com mármore
E o primeiro verso está com sílaba a menos. (Adilson Gonçalves)

Nos sites, vários, consta que são rimas. Como me dizia uma aluna do fundamental, alfabetização, seis aninhos: "cada dia, fico mais "cafusa"... (Liz Rabello)

TROVA CORRIGIDA

Por sentir árvore em falta,
respirei fundo profundo,
meu pulmão logo ressalta
ar traguei pesado, imundo!
Liz Rabello


As considerações aqui são para trovas e as rimas devem ser perfeitas no som e na grafia. O que vale para Construção de Chico Buarque, magnífico, não vale para a trova. Nos sites, não são informações erradas, são inadequadas para a trova. Especialmente com proparoxítonas, a rima poética pode muito bem ser feita como você fez: árvore/mármore, pois a tônica é a mesma e a terminação também. Porém, para a trova, isso não vale, uma vez que uma letra é diferente: v/m. O maravilhoso Chico Buarque assim fez, bem como Alvarenga e Ranchinho. (Adilson Gonçalves)


Meu passado enigmático
é tão fácil de entender...
Para tantos, emblemático,
para mim, valeu viver!

MEDALHA DE OURO NO GRUPO COLAR DE TROVAS EM 21/08/2022


FESTA DOS MEUS AMIGOS NO GRUPO POETRIX, APÓS O OURO NA TROVA:

Esta rima esdrúxula, além da elisão *Obs*táculo... Foi minha prova dos nove... Chico, vôce é demais! Gratidão pela homenagem...


VINGANÇA BOA NA TROVOADA

Com colar de trovas
Ante os obstáculos
Infinitamente Fé... Liz!
Ronaldo Ribeiro Jacobina
Lisboa-PT, 21/08/2022


No convite, um casamento!
Eram só nomes homônimos,
unidos em sentimento,
na ficção de nós anônimos.
Liz Rabello


Na tempestade frenética
fio do poste se suicida...
Na pós tormenta, sem ética,
Sol beija chuva sem vida.
Liz Rabello

RIMAS PRECIOSAS

São as rimas artificiais, feitas, forjadas, com palavras combinadas, tais como:
múmia / resume-a
vence-a / sonolência
pântanos / quebranta-nos
águia / alaque-a

Por ver-te com olhos cúpidos,
por querer-te, por amar-te,
na procissão dos estúpidos
eu fui o porta estandarte
Celio Grunewald

Buscar a felicidade?
De tanto fiquei nervoso,
que preciso agora já de
um cafezinho gostoso
Fernando Antonio Belino





sexta-feira, 21 de maio de 2021

Menino chora ao chegar na Espanha pelo mar amarrado em garrafas plásticas

Nas últimas semanas, imagens da crise migratória vivida na fronteira de Ceuta, no sul da Espanha têm chocado o mundo. Nesta quarta-feira, 19/05/2021, as câmaras da agência Reuters, registraram um jovem imigrante que recorreu a garrafas de plástico, amarradas ao corpo, para conseguir flutuar da fronteira do Marrocos com o país europeu. O vídeo é um retrato de desespero daqueles que se lançam ao mar na esperança e luta pela sobrevivência. Quando chega em solo espanhol, o menino tenta fugir de militares que estão na costa a sua espera. Ele tenta escalar um muro, mas é apanhado por dois polícias que estavam no terreno.

Ceuta fica no continente africano — é um pequeno pedaço da Espanha cercado por território marroquino à beira do Mar Mediterrâneo. A fronteira entre Ceuta e Melilla no Marrocos, são as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África, e são constantemente palco de tentativas de entrada de migrantes africanos na Europa. Nas últimas semanas, por volta de dois terços dos cerca de 8 mil migrantes que chegaram à Ceuta, já foram expulsos, disse o Ministério do Interior em Madri. Segundo as autoridades espanholas, dentre esses migrantes estão crianças desacompanhadas de até 7 anos.

Aschraf Sabir, de 16 anos, foi abandonado ao nascer. A primeira mulher que o adotou faleceu há cinco anos e ele foi adotado novamente, só que dessa vez por uma uma viúva moradora de um bairro pobre de Casablanca, no Marrocos, segundo o jornal espanhol “El País”. Além dele, nas últimas semanas, muitas pessoas têm tentado entrar em Ceuta e Melilla, dois enclaves da Espanha no norte da África, que estão na fronteira com o Marrocos, pelo mar.

Em entrevista ao “El País”, Aschraf disse que seu sonho é ir para a Espanha “para poder ajudar minha família primeiro e estudar para realizar meu futuro”. Ele conversou com o “El País” na local onde mora sua família em Casablanca, aproximadamente 400 km de Ceuta. Esta foi a terceira vez que o adolescente tentou entrar no enclave espanhol. Sua segunda mãe adotiva, Miluda Gulami, falou sobre  Aschraf . “Estou muito feliz com ele e espero que possa realizar seus sonhos. É um menino muito ambicioso, tem muitas qualidades, e eu não sou capaz de satisfazer seus sonhos”, afirmou Gulami. Com a grande repercussão do caso, uma ONG se comprometeu a pagar seus estudos e também lhe dar um lar.

sábado, 8 de maio de 2021

JAMAIS DEIXE DE LER AS ENTRELINHAS

Nunca são bobas as palavras, nem tolos os desenhos. Certa vez uma faxineira trouxe o filho ao trabalho. A criança agitada e infeliz me angustiava. Dei-lhe vários lápis coloridos e papel em branco. Foi assim que o vi pela última vez: desenhando. Mais tarde soube que o menino pediu à mãe para ficar sentado no portão. Ela permitiu. De repente, cadê a criança? Desapareceu num passe de mágica. Aos gritos, a mulher me chamou e juntas fomos pelas ruas procurando o garoto. Nada, voltamos, peguei a chave do carro, dirigi por toda redondeza. Parei no parque. Um bando de moleques jogando bola. Mas o menino não estava lá. A mãe, a esta altura, chorava convulsivamente. Chamou por telefone a filha mais velha, que junto com o noivo veio em seu socorro. Foram os três à Delegacia mais próxima. Eu me sentei desanimada diante dos desenhos e comecei a olhá-los. Da primeira vez que li, nada entendi. Comecei a repassá-los; desta vez de trás para frente: Uma criança sentada no portão. Outro desenho, uma curva. Duas curvas... Um parque... Outra curva... Uma rua muito comprida... Árvores... Parecia um cogumelo... Um morro e no topo, um monte de casinhas derrubadas... Tornei a olhar. Virei o desenho do cogumelo, meio de lado e descobri: Era a Caixa d'água da SABESP. Quando senti o insight, dei um grito. O menino desenhou um mapa. Roteiro de fuga. Chamei a mãe de volta. Ela rodopiou de alegria. O garoto estava na favela, onde seus amigos perderam suas moradias, porque foram desmanteladas pelo progresso... O Carrefour chegara e com ele, a periferia foi levada para além da periferia... O progresso não entende o coração das crianças. Só o papel...
Liz Rabello

segunda-feira, 3 de maio de 2021

 METALINGUAGEM DA TROVA

A Metalinguagem, ou função metalinguística, é um recurso literário. A Metalinguagem é a linguagem que descreve sobre ela mesma. Ou seja, ela utiliza o próprio código para explicá-lo. A metalinguagem nada mais é do que a preocupação do emissor totalmente voltada ao próprio código que está sendo utilizado. Isso quer dizer que o CÓDIGO é o tema da mensagem ou, então, ele é usado para explicar sobre ele mesmo.

ANÁLISE DA POSTAGEM

A sexta não é trova porque conteúdo não rima com absurdo. (Liz Rabello)

E eclética não rima com métrica. O segundo verso tem apenas 6 sílabas. A consoante muda não pode ser contada como sílaba sonora. Então o ab elide com o do anterior: " che-ga-per-to-doab-sur-do " (Adilson Gonçalves).

Vale ressaltar na terceira trova do Luís Otávio o uso de "como a trova"... (Liz Rabello)

Sim, isso é importante. A história do veto ao como é recente. Eu não concordo, como já disse... (Adilson Gonçalves)

As cinco trovas seguem dentro do TEMA: TROVA, mas não servem como exemplo de trovas metalinguísticas. O paradoxo da postagem é que o único poema que tem a função metalinguística é o sexto, uma quadra, que especula sobre a não trova, negando todos os preceitos da trova, na sua criação.

Pode-se definir “metalinguagem” como a linguagem que comenta a própria linguagem, fenômeno presente na literatura e nas artes em geral. O quadro “Van Gogh pintando girassóis”, de Paul Gauguin, é um exemplo de metalinguagem, porque mostra o pintor no momento da criação.

Um bom exemplo de metalinguagem nas artes é a obra “Drawing hands” (“Desenhando mãos”), de Maurits Cornelis Escher. A técnica usada é a litografia, processo de reprodução que consiste em imprimir sobre papel, por meio de prensa. Dizem que o artista usou a sua própria mão direita como modelo para ambas as mãos representadas na gravura. Portanto, é um desenho mostrando o ato de desenhar.

O EXERCÍCIO DA CRÔNICA

"Escrever crônica é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar dele, criou porque quis.  Com um prosador do cotidiano, a coisa fia mais fino. Senta-se ele diante de uma máquina, olha através da janela e busca fundo em sua imaginação um assunto qualquer, de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera, em que, com suas artimanhas peculiares, possa injetar um sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o inesperado."

(MORAES,  V. Para  viver um grande  amor:  crônicas e  poemas. São  Paulo:  Cia das  Letras, 1991)

Predomina nesse texto a função da metalinguagem, que se constitui nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de uma crônica.

OUTRO EXEMPLO

"Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido de um texto. É, a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que o seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo uma outra não prevista."

LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

Nesse texto, a autora apresenta reflexões sobre o processo de produção de sentidos, valendo-se da metalinguagem. Essa função da linguagem torna-se evidente pelo fato do texto discorrer sobre o ato de leitura.

PESQUISA

https://www.bing.com/search?q=O+QUE+%C3%89+METALINGUAGEM%3F&cvid=b6c14b1bc4f44eaf9a07b4a18fefc295&aqs=edge..69i57j0l2.7622j0j1&pglt=299&FORM=ANNTA1&PC=DCTS