domingo, 31 de maio de 2020


EU, GIRASSOL


Eu, girassol 🌻,
Giro giro nesta luz solar
Pequenina estrela
Ouso esperançar

Liz Rabello



sexta-feira, 29 de maio de 2020


DOR

Ando de coração partido
Acima da dor do mundo
Há caixões
Há maldades
Há impiedosas fake News
De Bolsonaristas vazios

Remendo com sangue
Meus sonhos febris
Costuro minh'alma
Com fios de esperanças
O que desejo é uma vacina
Contra tanto desamor

Liz Rabello

quarta-feira, 13 de maio de 2020


TUDO O QUE EU VIVI ME TROUXE ATÉ AQUI

2020 ...Está EXISTINDO quer a gente queira, quer não. Na memória da minha neta serão dias alegres na companhia do papai que quase não tinha tempo para brincar com ela. Na memória do meu neto adolescente um momento terrível onde beijos e abraços e algo mais entre parceiros de idade foram completamente proibidos. Na memória dos demônios "capetalistas", como os derradeiros segundos de seu poderio imperialista. Na memória dos trabalhadores como dias de insegurança. Como conseguir o pão nosso de cada dia? Na memória dos idosos, sobreviventes, uma saudade imensa de quem partiu, voluntariamente para deixar o precioso AR para os mais jovens. Na memória dos europeus, Itália, principalmente, um momento de ruptura entre a tradição e o novo, pois milhares de idosos partiram. Na memória do povo indígena, o momento de genocídio organizado e orquestrado pela bancada evangélica, ruralista, latifundiária do Brasil. Na memória dos brasileiros a pior página de sua história. Um Grupo político usurpa o poder e compartilha fake news com teoria do negacionismo. Ao ritmo do batuque irresponsável do presidente e seus comparsas desdenham mortos e só se preocupam com a economia. O Corona vírus não existe. Os idosos são peso morto e devem doar respiradores aos mais jovens. Trabalhadores devem voltar ao trabalho e morrer pelo lucro do patrão. Para o Planeta Terra, momento sublime, finalmente o AR se renova, as flores voltam a nascer. Aos que sobreviverem, um desejo desesperador de um ancião, em seus suspiros derradeiros: "Cuidem bem de nossas crianças"... E o meu desejo é também o dele... "A humanidade há de dar certo, Flávio Migliacio"...
Liz Rabello 


DESTAQUE NO 33° CONCURSO LITERÁRIO
 INTERNACIONAL DA ALPAS CRUZ ALTA

terça-feira, 5 de maio de 2020


Tá tão difícil...
Palavras são pedregulhos na boca
Borrões de tintas no papel
Hipocrisias da minha alma
Estou seca
Liz Rabello


Estes dias me trouxe a lucidez do envelhecer neste país. Por lei, nós, idosos, somos descartáveis. Se o vírus me pegar, a morte é certa. Entre mim e o jovem o respirador é pra ele. Não há respiradores para todos. Talvez eu mesma ceda a vez pra ele. Afinal, eu já vivi. Mas dói pensar na humilhação de uma despedida assim sem família sem amigos sem abraços sem laços sozinha sozinha sozinha...

Liz Rabello


Minha adorável quarentena 43

O dia silencioso tinha de chegar. Durante toda a quarentena, fugi dos fantasmas da solidão e da desesperança por detrás de trincheiras de almofadas, travesseiros e telas de cristal líquido.
Escrevi diariamente, como quem passa água sanitária na dor. Durante todos esses dias, atirei palavras aqui, tentando expulsar os hectoplasmas do Covid-19 com poemas sufocados pedindo respiradores, com crônicas de garganta ressecada por puro desespero.
Mas ontem o dia do silêncio veio enfim, aterrado de pavor. Logo pela manhã, duas mortes de dois inventores do Brasil me pegaram pelo colarinho, mortes intimamente ligadas ao tempo de agora. Blanc e Migliaccio morreram de Brasil. E aquilo me congelou, despalavrado.
Aldir, um dia, disse, “por isso duramos, por isso morremos, eu quero morrer, durar por um motivo de gente, ainda que eu tenha de escarrar junto com o beijo”. Essa era a magnífica intensidade intencional sua, orgulhosamente suburbana, garimpada por ele nas ruas pela madrugada, sem estetização dramática da miséria.
Ela está pulsando agora, num céu de nuvens chupando estrelas no céu como um mata-borrão, que imagem, meu deus, para falar dos nossos desaparecidos políticos. Que atual.
Aldir é o gênio desenhador do nosso real, é nosso Maiakovski e nosso Émile Zola, cantando desde as querelas brasileiras de todos os tempos até o mais prosaico ban-daid no calcanhar. Em Aldir vê-se um Brasil desenfreado, morrendo e nascendo desesperadamente, em cada verso.
Aldir é um farol iluminando um mar lírico onde só ele navega, em sambas impensáveis, que narram, por exemplo, a visita de um recém-milionário ao psicanalista; as glórias das lutas inglórias de nossa gente; a sina verde e amarela de nossos artistas, heróis imortais; um amigo dizendo a outro, “que bom se eu morresse”; a esponja de pó de arroz no bolso como metáfora de um amor impossível; um velho mofado, espremido entre o torresmo e a moela; uma pesca de siri para homenagear um alérgico a frutos do mar; um corpo estendido no chão provocando tanta dor numa comunidade e como a vida os fez reagir àquilo, apenas seguindo em frente; a rotina de um casal, nos delírios de um catavento e de um girassol; as respostas de amor que só os mortais podem dar ao tempo, tanta filosofia, das graúdas. Só mesmo Aldir. Esse impreenchível compositor popular, até ontem brincando de “tudo”, com seus netos. Aliás, alguém lembrou de perguntar a ele como se brinca de tudo? Seus netos nos dirão.
Enquanto eu divagava nos fumos cheios de imagens potentes, os “pé na cara” que um dia Henfil recomendou ao menino tijucano recém-chegado ao Pasquim, me veio a notícia do suicídio de Flávio Migliaccio. Caramba, o meu amado Xerife da camicleta, o herói da minha infância, o palhaço brasileiro da estirpe mais elegante, a do povo. Chorei. Talvez estivesse precisando chorar um pouquinho.
A morte não quer mesmo me deixar em paz. Não quero olhar pra trás, mas a pandemia atira na paisagem recortada da minha janela, todo dia, uma montanha de mortos.
Flávio e Aldir se espelharam na carta que Flávio deixou e que foi motivo de muita polêmica na rede. No breve bilhete, como numa letra de Aldir, também havia dor, desespero inconsolável, amor, criança, ativismo na corda bamba de sombrinha.
Não esperem de mim uma posição sobre a validade da publicação. Não sei ser categórico sobre isso. Por um lado, acho que a carta heroiciza o ato e joga a gota que falta ao potinho de muita gente angustiada, atraída pelo fim, o que, de certo modo, promoveria a morte. Mas, por outro, acho também que um bilhete é um manifesto político, um grito que deve ser ouvido pelos concidadãos. Creio ser um direito dos velhos, desenhar dramaticamente, no estertor da vida, o seu fim, como quis manifestar esse ator de indiscutível talento. Migliaccio, como todo homem, tem direito a viver com a plateia o seu ato final, como um lúcido grito apontando para o horror em que nosso país vive.
Mas ontem não me vieram as palavras. Só pude voltar hoje a escrever porque descobri, cantando, “o que há nos lados dos meu coração”: que tanto Aldir como Flávio não apenas morreram de Brasil, eles viveram de Brasil também. Eles fizeram o Brasil viver, fazendo correr neles esse mesmo sangue que nos alimenta diariamente de Nação. E isso hoje me ressuscitou.
Marcilio de Godoy

segunda-feira, 4 de maio de 2020


Estamos de asas quebradas
Sem voos
Sem palavras
Sem sonhos
Tudo estagnado
Parado
À espera
À espera
De um milagre

Liz Rabello


Depois desta imagem... Só o próprio vírus resolverá o impasse... Guardarei em minha memória cinco episódios: este, as carreatas da morte nos hospitais da capital paulista pedindo o fim do isolamento social no auge da pandemia, a cena do comerciante da Paraíba obrigando seus funcionários a de joelhos implorarem pela abertura do comércio em pleno pico com cem mil infectados no Brasil, o vídeo fake afirmando que caixões são enterrados vazios. Familiares desesperados correndo risco de contágio abrem caixões para terem certeza da tragédia. Esta mistura de crueldade, descaso, NEGACIONISMO de fatos reais é absolutamente ignóbil. O Papa Francisco sozinho na sexta feira santa...  Orando pelos pela humanidade. Um filho escalando as paredes de um hospital para OLHAR para sua mãe entubada e fazer-se VER por ela, para que não fosse tão difícil seu "restinho" de vida. 
Liz Rabello


A foto se torna mais representativa quando olhamos para a sombra no chão....


Bolsonaristas fazem carreata da morte na região com maior concentração de hospitais em São Paulo.


Vivemos os agonizantes dias de final do capitalismo. O socialismo é o futuro. Esta imagem marca a época do mundo selvagem em que estamos inseridos.