quinta-feira, 29 de junho de 2017


CÍRCULO VICIOSO

Sou ponto fora da curva
Na esquina perdida
Sou roda girando
Sem pouso gemido
Sou fonte jorrando
Icebergs quebrados
Sou amor em taças de fel 
Aos porcos oferecidos
Entre a cruz e a espada
Restos mortais
A cães famintos servidos
Filhos, amantes, amigos
Quem dá mais
Para meu infeliz caminhar?
Liz Rabello

Fotografia de Nicholas Betoni - De light paint na beira da piscina, em Ibiúna. O Rodrigo Brandão girou bombril queimando e a foto foi tirada em baixa velocidade, iso 100, captando movimentos das fagulhas no ar.

DA JANELA DO MEU QUARTO

Vejo o sol escondido
claridade de esperança
Vejo flores coloridas
Manacás da serra
em botão floridos
Grades me separam
Grades me acolhem
Liberdade suspensa
Na clara manhã outonal
Dou meia volta
Transponho a grade
Eis-me coberta de flores
Perfumada de cores
Inebriada de vida!

Liz Rabello



quarta-feira, 28 de junho de 2017


PRETINHA FEBEM
Há quase dois anos atrás as galinhas de uma chácara vizinha invadiram a minha. Tirei várias fotos e fiquei encantada com os visitantes inesperados. De lá prá cá, fui amadurecendo a ideia de fundar um galinheiro. Mas tinha que ser algo mais bonito, mais charmoso, para combinar com o local, que é um verdadeiro paraíso. Dito, pensado e feito. Tudo pronto e lá fui eu comprar três franguinhas novas e poedeiras. Chegaram. Uma que batizei de Pretinha, outra Branquela e mais uma Riscadinha. Logo de cara, a Pretinha mostrou garras. Como líder do grupo, bate nas outras duas, que a respeitam sem pestanejar. Seus ovos são os maiores, porque é ela quem se alimenta melhor. Agora está liderando a fuga. Num final de semana qualquer, minha cruz foi tapar buracos, com tijolos, para evitar que o túnel aumentasse. Eita Pretinha Febem! Assim não dá!

A danada continuou a aprontar até que um outro visitante, um cão marron e muito bravo, que vive invadindo chácaras que não lhe pertence, acabou com a vida da Riscadinha. Fiquei muito triste, mas não desisti dos planos. Criamos mais segurança. Fechamos melhor o galinheiro. E quando menos esperávamos, reaparece o tal do cão. Pelas penas pretas encontradas, a Pretinha defendeu com sua própria vida a Branquinha, que não vingou. Quando soube do fato, sem pensar mais nada, enviei a Pretinha para seu antigo dono. Seria mais feliz longe de mim e com muita tristeza dei fim ao galinheiro. Hoje fui até lá para transformar o local num viveiro de flores, orquídeas e plantas coloridas. Quem não tem franguinhas, nem ovos, se delicia com perfume de flores. E segue a vida!
Liz Rabello





quinta-feira, 15 de junho de 2017


"Sou feito de retalhos. Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma. Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou. Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior... Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade... que me tornam mais pessoa, mais humano, mais completo. E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também. E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados... haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma. Portanto, obrigado a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias. E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de 'nós'."
Cora Coralina
 

MIL PEDAÇOS
Me fiz em mil pedaços
Pra você me decifrar
E de novo me montar
Quebra cabeça de desejos
Paixões desnorteadas
Estilhaços de esperanças
Paredes quebradas
Jogos de faz-de-conta
Vazios nos cantinhos
Invisíveis do olhar


Me fiz em mil pedaços
Pra você tentar juntar
Peças que não se encaixam
Antíteses paradoxais
Cores que não combinam
Com aurora ou entardecer
Viagens sem futuro
Sem passado a entender!
Um presente recortado
Em filetes de amanhecer


Me fiz em mil pedaços
Pra tentar me disfarçar
Que todinha me mostrava
E assim posso enganar!
Se quiseres me achar
Os pedaços encontrar
Basta apenas um por um
Sentimentos vir colar!
E não hás de me achar
Porque o meu Eu dentro de ti
Sempre perdido a te sondar


Liz Rabello (In Mil Pedaços, Editora Beco dos Poetas, 2012)

terça-feira, 13 de junho de 2017

ANDO POR AÍ SEMEANDO POESIA E MUITO AMOR


Desnuda tua alma
Amor não tem rótulos
Desnuda teu coração
Amor não tem cor
Desnuda tua fé
Amor não tem religião
Desnuda tua vivência
Amor não tem deficiência
Desnuda tuas vestes
Amor não tem genero
Desnuda teus caminhos
Amor não tem fronteiras

Liz Rabello

quinta-feira, 1 de junho de 2017


 ASAS DE BORBOLETA

Quero asas de borboleta
Para livrar-me da dor
Volúpia, pecado, torpor
Ao longe existe horizonte
Folhas, flores, frescor

Quero asas de borboleta
Para livrar-me dos fios
Enroscados no casulo, miolos
De muitas lutas, tijolos
Alçar voo em violetas

Quero asas de borboleta
Para livrar-me da inércia
Sementes em ausência
Ao longe existem nascentes
Rios que correm pro sem fim

Liz Rabello
(Fotos de Liz Rabello)