segunda-feira, 27 de março de 2017


SAGRADO AMOR

Fria manhã de outono
Onde o verão se despetala
Pássaros em refúgios de ninhos
Fogem em canções desafinadas
Cantam o silêncio das mágoas
Dançam ao som de cordas
De violões arrebentadas
E teimam poesia
Pois todo amor é sagrado


Liz Rabello

quinta-feira, 23 de março de 2017

PEGADAS NAS PEDRAS

Amontoo sonhos estilhaçados
Remendo retalhos rasgados
Descubro poesias na dor
Releio emails trocados
Procuro respostas ausentes
Em feridas não cicatrizadas

Descubro que o frio me persegue
Solidão é palavra de ordem
Corrimão que da mão escorrega
Labirinto escuro sem trégua
Caminhos secretos é regra
Em minhas pegadas nas pedras

Liz Rabello

sexta-feira, 17 de março de 2017


METAMORFOSES
Mudanças repentinas
Renovações aqui, acolá
Reviravoltas na vida
Basta uma limpeza no sótão,
No quartinho de despejo
Álbuns em fotos puídas
Recordações brotam do nada 
Metamorfoses perdidas no tempo.

Jamais ter medo de arriscar
Agir em prol do que sonhamos.
Às vezes é necessário
Mudar a estratégia da vitória
Adiar desejos secretos,
Mas jamais eliminá-los de vez.
Afinal a esperança é um pó mágico
Numa gaveta discreta da alma.

A escolha é nossa
Cadeados em gavetas ou
Janelas escancaradas nos casulos
Coloridos de fiapos de esperanças
Prefiro ser equilibrista em 
Metamorfoses constantes 
Driblando estrelas brilhantes,
No infinito da vida!

Liz Rabello

quinta-feira, 16 de março de 2017


CÍRCULO VICIOSO

Sou ponto fora da curva
Na esquina perdida
Sou roda girando
Sem pouso gemido
Sou fonte jorrando
Icebergs quebrados
Sou amor em taças de fel  
Aos porcos oferecido
Entre a cruz e a espada
Restos mortais 
A cães famintos servidos
Filhos, amantes, amigos
Quem dá mais
Pra meu infeliz caminhar?

Liz Rabello

sábado, 11 de março de 2017


Sou árvore frondosa
Raízes firmes
Fincadas ao solo mãe
Nenhum navio me fará ondular
Em águas aventureiras do além mar
Só irei pra Portugal,
que não é logo ali, no fundo do quintal,
quando tiver passagem de volta, breve e certeira.
Liz Rabello

terça-feira, 7 de março de 2017


UMA ARTE BEM GOSTOSA

Cidinha Paixão era uma pessoa “quadradinha”, toda certinha, que andava com Diário Oficial debaixo dos braços. Mas era boa de coração. E por esta razão foi unânime a adesão. “Vamos fazer para ela, nossa Diretora predileta, uma festa de aniversário surpresa”.  E fizemos.  A data caiu numa quarta-feira.  Aulas foram desmarcadas. Na surdina, ninguém abriu a boca para falar o que não devia e a surpresa realmente foi para nós.  No almoço, o prato servido foi Strogonoff de carne e frango para todos os gostos. Unidos, professores e funcionários fizeram algo para preparar a festa, desde bexigas a enfeites de mesa, que por sinal ficou linda! Trabalhei na cozinha e muitas batatinhas descasquei, cortei e fritei. Tudo pronto, meio dia e nada da Cidinha aparecer. Uma hora, duas horas, três horas....  A fome aumentando e o estômago roncando. Fomos comprar mais batatinhas, porque elas é que estavam desaparecendo. Regadas à caipirinha, foi o que nos restou para conseguirmos fazer a espera durar.

Alguém contratou a escola de samba do bairro.  Os músicos e as passistas chegaram. Samba rolou solto no pátio interno, todo fechado, para ninguém saber o que rolava por lá. Eu só me lembro que me sentei na escada e que tirei os sapatos e ensaiei passinhos de samba que jamais soube dançar. Foi neste dia que aprendi que se ficasse de fogo, o que faria seria sorrir.  Foi a melhor festa de minha vida.  Gargalhei gargalos de alegria!

Cidinha não apareceu e nem soube se ela percebeu que no sábado seguinte a escola toda foi feliz da vida repor o dia do aniversário que não aconteceu.

Liz Rabello