quinta-feira, 28 de agosto de 2014


LER UM LIVRO É...
ILUMINAR O ESPÍRITO DE PAZ


ADENTRAR PARA  A ESFERA DA SABEDORIA



CRIAR UM NOVO IMAGINÁRIO


 FANTÁSTICO MUNDO DE VALORES


ALCANÇAR A LUA


BRINCAR COM AS ESTRELAS



DESCER À TERRA REPLETOS DE LUZES



IRMANADOS PERMITIREM O AMOR


A AMIZADE E O RESPEITO


O COMPANHEIRISMO E O ABRAÇO!


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

CORRENTE SANGUÍNEA


Nosso planeta é um mapa de desolação. Aqui, a água como recurso natural indispensável está acabando. O Rio Tietê, que corta nossa cidade por completo, é uma fonte de doenças, mal estar, putrefação e ausência de vida. Logo ali, ar saturado. Milhares de carros entopem a cidade, parados, de um lugar que não vai a lugar algum. Mais adiante, queimadas matam o solo fértil, nutrientes necessários à vida perdidos para além do tempo. Habitat natural de insetos, borboletas, abelhas completamente destruídos. Acolá, lavouras de milho, soja, frutas, legumes morrendo à míngua, por ausência de chuvas, que quando caem dos céus, em gotículas serenas já chegam como chuva ácida.


Acidez é a rota para nosso planeta, que cobra vida! O corpo humano é setenta por cento água. O planeta, mais... Porém a potável, que só ela é fonte de vida, é pouquíssima! Seu pequeno volume somado aos cumes de montanhas geladas, com o calor saturado e ampliado das contingências do consumo capitalista, lixo sem controle, camada de ozônio aumentando sua esfera, pobres placas de água doce se derretem e se transformam em salgada de mares e oceanos, que não aplacam nossa sede de viver!


O pior é que os seres humanos, os mais inteligentes dos animais, que tanto poderiam fazer para transformar em flores a corrente de sangue que corre em volta de nós, apenas promovem a guerra. Duelos destruidores por palavras, por ações, por armas nucleares, por bombas... Lágrimas de sangue em meu coração, quando tudo o que desejo é um pouco de amor... Um laço de união... Um coração de flor!

Liz Rabello


quarta-feira, 20 de agosto de 2014


LUA NO CHÃO

Quando a lua vem até você só para dizer boa noite é porque a vida mora dentro de você! Estávamos na chácara e um clarão imenso nos absorveu por inteiro, logo depois que a luz elétrica acabou e que a mudez do som e o vazio das imagens dos computadores nos tiraram de nossos afazeres habituais. A princípio, atônitos com a louca escuridão dos primeiros sinais do apagão, ficamos inertes. Depois nossas mãos se procuraram em busca da segurança que um espera do outro em momentos de “não sei o que fazer agora”. Rimos e nos abraçamos como se tivéssemos nos encontrado somente naquele instante. A noite estava escura e era tempo de verão! Lá fora parecia que tudo estava imóvel como a vida que parara em busca de uma nova melodia. De mãos dadas e muito abraçados fomos para a varanda. A rede ainda estava lá, como leito de amor a espera da sede aplacar. De lá conseguíamos ouvir o sibilar do vento nas águas da piscina, nas folhas dos arbustos, no diálogo com as nuvens, que teimavam em esconder as estrelas. Nossos carinhos trocados se enlaçavam, em sussurros e afagos se tocavam, nossos corpos arrepiados de prazer se procuravam. Nossas vestes se soltaram. E nenhuma estrela brilhou mais do que devia! Quando a febre do desejo saturou nossos sentidos e nossos corpos se acalmaram, percebemos que a lua se encaixava em nossas mãos, num único clarão que as nuvens nos legaram e enfim, deliciados, desejamos ardentemente que o apagão fosse eterno  e nunca mais se iluminasse!

Liz Rabello  (In LUA NO CHÃO, 2015)


SUSSURROS AO OUVIDO

Cantigas de ninar
Madrugadas em carinhos
Dedos em afagos nos cabelos
Massagens circulares
Sussurros sibiliantes
Eu te amo doce voz
Minha e tua a um som só!

Pra nunca mais estarmos sós!

Liz Rabello

segunda-feira, 18 de agosto de 2014




UM ASSALTO INUSITADO

Dizem que senhorinhas são mais sinalizadas para assaltos do que jovens mulheres ou homens. Por isto já estou na casa de mais de dez!  À mão armada ou não, certeza é que bandidos gostam de me explorar. E isto não acontece somente agora, pois logo que me casei, quando lavei pela primeira vez minhas roupas do enxoval, novinhas em folha e as pendurei no varal, saí para as compras. Ao voltar cadê as roupas? Nunca mais as vi! Minto, vi, sim, dentro do ônibus, dias depois uma garota vestindo meu terninho. Era impossível coincidências, pois eu havia escolhido o tecido de gorgurão vermelho, os botões e mandado para uma costureira confeccioná-lo. Designer escolhido e criado por mim. Não havia cópias da China, baratinhas como hoje em dia. Nada fiz, embora a vida inteira tivesse ímpetos de rasgar as vestes daquela menina.

No último assalto jurei: “Não vou mais permitir que me façam de boba!” Assim quando meu filho perguntou-me se sabia onde estava o relógio dele e cogitou de que havia sido roubado, fiquei com a última versão na cabeça. Não costumo ir ao centro de carro. Difícil estacionar. Fui de ônibus. E qual não foi minha surpresa quando observei um rapaz muito bem vestido, com um relógio igualzinho ao do meu filho. Marca, cor, senti até o mesmo perfume. Uma raiva muito grande e a lembrança do passado inacabado a perseguir-me. Em frente ao Metrô Marechal, o rapaz desceu. Fui atrás. Minha arma: meu guarda-chuva! Dei-lhe muitas guarda-chuvadas em suas costas, chamando-o de ladrão e gritando que queria meu relógio de volta. Em pânico, o rapaz obedeceu. Arrancou o relógio do pulso e em minha mão livre o depositou, safando-se do guarda-chuva o mais rápido que conseguiu fugir.

Muito feliz cheguei em casa com meu prêmio pendurado na lapela. Meu terninho vermelho finalmente estava vingado! Mas quando olhei em cima da cômoda ali estava brilhando, translúcido, angelical relíquia perdida: um relógio exatamente igual ao que eu havia “roubado” horas antes!

Liz Rabello (In "LUA NO CHÃO", Editora Essencial, 2015)

domingo, 17 de agosto de 2014


LEONID AFREMOV


Amo pinceladas de Leonid Afremov... Espátulas em lugar de pincéis. Movimento e cores. Brilho e luz, suavidade, leveza nas cores intensas.

Liz Rabello


Graduou-se em 1978 na Escola de arte de Vitebsk, fundada por Marc Chagall em 1921. Afremov é um dos mais notáveis membros da escola, assim como Kazimir Malevich e Wassily Kandinsky. Viveu trinta e cinco anos na União Soviética, onde trabalhava pintando pôsteres de propaganda para o governo comunista. Descontente por ter o governo lhe ditando o que e como pintar, mudou-se para Israel em 1990.


Em Israel, conseguiu, em duas semanas, um emprego em uma agência de publicidade, pintando outdoors. Pouco antes de uma exposição, invadiram, roubaram e vandalizaram seu estúdio. Sua obra foi mal recebida: as pinturas de homens e mulheres nus chocaram a sociedade, assim como a representação de músicos de jazz negros foi mal vista por quem julgava que o artista deveria representar israelenses. Ademais, Leonid sentiu-se discriminado por não ser um israelense nato de modo que, em 2001, migrou para os Estados Unidos da América.

Nos Estados Unidos, viveu primeiramente em Nova Iorque, onde alcançou grande sucesso. Seus quadros são expostos lado a lado com artistas como Rembrandt. Suas obras são expostas em mais de sessenta galerias da Nova Zelândia, Austrália, África, Israel e EUA. Após viver dois anos em Nova Iorque, mudou-se para Boca Raton, Flórida, onde vive atualmente com sua família, pois julgava que o clima frio estava prejudicando seu trabalho, tornando-o mais sombrio e menos vívido.”
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonid_Afremov)



quinta-feira, 14 de agosto de 2014





FOLCLORE

Meu netinho de mansinho
Veio dizer que é Agosto
Tempo de folclore a seu gosto
Imitando o Saci
Rosto pintado de carvão
Perninha suspensa em emoção
Atrás do sofá se escondeu
Assustou uma vovó
Que se fingia de improviso
Bateu a porta por querer
Até a maçaneta ceder
Depois veio como quem
Quer agradar pra valer!
“Vovó, quem decepou a perna do Saci?
Mula sem cabeça? Lobisomem?
Ou foi o bicho homem
Com as bombas dos judeus?
Ou foi o Iraque de araque
numa guerra por aqui?”
Como meus olhos marejaram
Me abraçou e comigo chorou
Que homem também pode,

Isto é o que me ensina o amor!

Liz Rabello

terça-feira, 12 de agosto de 2014



OH... MY CAPTAIN!



ROBIN, O HERÓI DO SORRISO

“Mais de 350 milhões de pessoas têm depressão, diz OMS - Estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde mostra que aproximadamente 5% da população sofreu com a depressão no último ano”
“Mapa da depressão: Brasil é o país com mais casos no mundo”

 Por que a depressão passou a ser uma das doenças mais temíveis do planeta? O que pode acarretar à saúde da pessoa que sofre disto? São inúmeras as faces da depressão no mundo. Talvez quem esteja lendo agora estes mal escritos, seja um grande depressivo e nem saiba...

Ontem tivemos mais uma notícia triste que abalou o mundo. Um homem das artes cênicas morreu deprimido, triste, sozinho... O ator da arte do sorriso, Robin Willians. Sua carreira foi gloriosa por muitos anos, desde que começou no teatro. Iniciou como um comediante de stand up engraçadíssimo. Imitador de fazer qualquer homem de mau humor rolar no chão de rir. Robin e o palco eram a alegria, a vida, a fusão de um sucesso estrondoso. Veio fama pela TV com personagens lendários, até explodir no cinema. Daí a carreira alçou voos mais altos. Filmes de grandes bilheterias, estúdios felizes com lucros, entrevistas, amigos, histórias, prêmios e aquele homem bonachão, de sorriso simples e olhos ingênuos, poucos sabiam, sofria muito. Conquistou diretores, produtores, atrizes, muito dinheiro... E como um bom homem ajudou muito as instituições de caridade. Muitas... Seu encontro com as drogas e o alcoolismo deram trabalho e perdas nos relacionamentos pessoais. Até ser encontrado morto, Robin foi convidado para muitas apresentações, até mesmo aos soldados americanos no Iraque e no Afeganistão. Mas acho que esse capítulo se esgotou... O que pode levar a pessoa a ser depressiva, por que um homem que alegrou a tantos pelo mundo morreu triste e desconsolado? Nem sempre é possível existir clareza sobre quais acontecimentos da vida levam uma pessoa a ficar deprimida. Culpar drogas, momentos traumáticos são às vezes irrelevantes.

A depressão é causa ainda hoje de muito preconceito, inclusive dos que estão doentes. Motivo de chacota, pessoas de quase ou nenhuma informação não acreditam que ela pode inclusive paralisar uma pessoa, ou motivar agressividade.

Do meu ponto de vista a depressão é fruto de uma sociedade competitiva, doentia, consumista e egocêntrica. Normalmente para pessoas públicas é muito mais complicado. Cada ato falho na vida é muito mais cobrado. Enquanto vivermos de forma que existam vencedores e perdedores, onde a qualquer custo devemos atingir o status de “bem sucedidos”, muitos depressivos virão.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

IMAGENS INSANAS


FOGO EM IBIÚNA PRECISA DO AUXÍLIO DO CORPO DE BOMBEIROS PARA NÃO CHEGAR EM PROPRIEDADES RURAIS E EM FIOS ELÉTRICOS, CUJOS POSTES AINDA SÃO DE MADEIRA.



 UMA GRANDE EXTENSÃO DA PROPRIEDADE JÁ ESTAVA DEVASTADA PELO FOGO. O VERDE QUE ALI BROTAVA AGORA NÃO PASSA DE MATO QUEIMADO.


AGOSTO INSANO

Desde criança estas cenas invadem minh'alma de indignação. Meu pai, por origens de trabalho, adquiriu uma doença crônica e irreversível: Fibrose Pulmonar. Pó de madeira, em seus pulmões fechavam os brônquios e ele não conseguia respirar sem o auxílio de oxigênio. Tubos iam e voltavam dentro de minha casa. Aflição de criança!

Meus vizinhos cortavam o mato do quintal. Colocavam fogo e meu pai morria aos poucos. Gritava, estraçalhava minha indignação com choro fértil. Lá se vai meio século da partida do meu grande amor e eu, hoje, choro por todos os animais que morrem a cada queimada, pelo solo perdido, pelos nutrientes queimados, pelo planeta e sua camada de ozônio cada vez mais em abismo. Pela água que não brota mais do céu. Seca que nos faz ficar com a pele encarquilhada e com a respiração difícil! Meu coração queima a cada Agosto insano!

Liz Rabello


QUEIMADAS

Uma tarde em que a saudade apertou, fui ao quarto dela. Encontrei um trabalho de pintura e colagens de fotografias. Era seu hobby, eternizar a vida ou a mim. Álbuns meus repletos de imagens dentro de caixas, cuidadosamente guardadas. Sabia perfeitamente o que havia lá dentro: Fotos minhas desde antes de nascer. Registros de meu crescimento, primeiros passos, primeiras quedas, choros e muitos sorrisos. Eu sempre fui alegre e não tinha como não o ser! A família toda me envolvendo em carinhos e afetos, cuidados e exigências! Todas, bem o conhecia: limites para me fazer ver que a vida nos é dada por empréstimo, que é preciso cuidar!

Parei diante daquela pintura. As fotos coladas sobre a chapa de acrílico, datavam de Agosto. Troncos de árvores queimadas. Cinzas. Restos do que poderia ser belo. Imediatamente eu me lembrei do quanto vovó dizia que sofria ao ver em suas viagens, as queimadas, que criminosamente os homens cometiam. Visualizei sua alma naquela foto, desenho de um contorno. Não por acaso, a pintura se chamava DOR. Atrás do quadro, um pequeno bilhete. Abri rapidamente como se encontrasse um copo de água no deserto:

Feche olhos pras queimadas
A gosto de quem não vê
Os Agostos sem chover!

(In “INTERVALOS”, “CÓDIGO AGV”, Liz Rabello, Editora Beco dos Poetas, 2013)

sábado, 9 de agosto de 2014

HOMENAGEM PÓSTUMA
FELIZ DIA DOS PAIS ZEZINHO!

Perdi meu pai com pouca idade (mais ou menos dez anos)... Presentes? um bebê num carrinho de passeio, DNA? Tudo, sou ele, me vejo parecida com ele, de minha mãe, só os trejeitos italianos, ou a cor verde do olhar. Fraldas, mensalidades? Nada disto, que naquele tempo era tudo muito diferente... No entanto, sabe do que me lembro? De quando me colocava em seu colo e me fazia ler a Caminho Suave, de quando pegava em minha mão e me ensinava a escrever um bilhete de amor a minha mãe, de quando me encantava com histórias de contos de fadas, João e Maria, de quando me elogiava, eu me via pelos seus olhos, sem espelhos e conseguia acreditar que um dia eu seria ALGUÉM! Ele me transmitiu valores, ética, e, principalmente, a certeza de um amor sem fim, porque sei que o amo até a eternidade. E lá se vão cinquenta anos ou mais de ausência/presença infinita em minha vida. Amar é isto, eu creio!


Pai, eras minha proteção,
Puro amor
Idealização do que sou,
Do que fui, do que serei!
Tua partida deixou um vácuo
Um abismo jamais preenchido!
Mas fui tecendo dia a dia
O que tu querias, Zezinho!
A cada conquista, uma resposta
Um agradecimento, uma vitória!
Sim, sou tua filha, Zezinho!

Liz Rabello

RECORTES DA MINHA INFÂNCIA

Tenho janelas abertas do passado
Travas serenas prontas a me agasalhar
Saudades lindas e vibrantes
Momentos vividos na infância
Sonhos a me iludir no presente

A maioria das casas de nossa rua não possuíam ainda luz elétrica. Nós, sim. Mas o abastecimento era tão precário, que vivíamos apagões constantes. Éramos, então, obrigados a nos iluminar à luz de vela. Momentos lindos. Meu pai brincava de magia. Cortava o fogo com seus dedos ágeis e jamais os queimava. Depois pegava a vela e a levava ao caminho desconhecido do mundo dos contos de fadas: João e Maria... Perdidos na noite de lua escondida. O caminho iluminado pelo sol (vela acesa) era marcado na mesa da cozinha por casquinhas de pão. Eu fingia ser o passarinho que as pegava para levar ao ninho e dar aos filhotes o abençoado jantar. Os dois irmãos jamais conseguiram voltar, por conta de que eu passarinha as comia... Chegávamos a desligar a luz elétrica só para brincar de magia à luz de vela. Era tudo tão lindo e eu fico de novo feliz, só de lembrar. Quando a luz voltava não havia na mesa nenhum vestígio das casquinhas de pão abençoadas. Até hoje, amo este lance do pão francês. Sei que é vestígio de minha infância povoada de palavras, de sons, de sonhos, que meu pai carinhosamente me iludia.

Liz Rabello

quinta-feira, 7 de agosto de 2014


A alma de uma criança consegue olhar para o céu e enxergar um balão colorido e mágico, repleto de esperanças, desnuda as bombas que do mesmo céu desceram e deceparam os sonhos de seus pais...
Liz Rabello


ALMA DE CRIANÇA

Olhos para o céu
Balão mágico nas alturas
Vai e volta com o bater das mãos
Tropeça nos escombros
Perna de pau
Bomba a decepou
Pele crua!

Olhos de oliva esperança
Alegria no balão de ar
Desnuda a miséria da guerra
Treina a alma para acreditar
Que só este balão amigo
Há de jorrar dos céus
Que nada mais há de estilhaçar
Velhos sonhos de seus pais!

Liz Rabello