sexta-feira, 23 de maio de 2014



MIL PEDAÇOS

Me fiz em mil pedaços
Pra você me decifrar
E de novo me montar
Quebra cabeça de desejos
Paixões desnorteadas
Estilhaços de esperanças
Paredes quebradas
Jogos de faz-de-conta
Vazios nos cantinhos
Invisíveis do olhar!

Me fiz em mil pedaços
Pra você tentar juntar
Peças que não se encaixam
Antíteses paradoxais
Cores que não combinam
Com aurora ou entardecer
Viagens sem futuro
Sem passado a entender!
Um presente recortado
Em filetes de amanhecer!

Me fiz em mil pedaços
Pra tentar me disfarçar
Que todinha me mostrava
E assim posso enganar!
Se quiseres me achar
Os pedaços encontrar
Basta apenas um por um
Sentimentos vir colar!
E não hás de me achar
Porque o meu Eu dentro de ti

Sempre perdido a te sondar!

Liz Rabello (In Mil Pedaços, Editora Beco dos Poetas, 2012)

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A VOCÊ QUE MEUS BRAÇOS NÃO ALCANÇAM EU ABRAÇO COM PALAVRAS


FOTO TIRADA NA FOZ DO RIO SÃO FRANCISCO ABENÇOANDO E SENDO ABENÇOADA PELO VELHO CHICÃO


Palavras são como pássaros
Voam em todas as direções
E se encontram rios, criam pontes
Onde o Amor vai e vem!
Palavras são como vento
Naufragam no pensamento
Passam pelas frestas entreabertas das janelas
Escancaram portas fechadas
Enternecem corações!

Palavras são como as águas
Correm pelas curvas das calçadas,
pelo declive do caminho,
Em busca de um ribeirinho
E se juntam a outras águas,
para unir as multidões!

Palavras são como as cores
Arco-íris leste/oeste
Tingindo o branco de tons
E o preto de brilho
Amanhecendo a aurora
com a luz da madrugada
Tecendo o entardecer de rubro anil
Sorrindo para a vida que dorme logo ali!

Palavras é como a música
Alimenta a alma
Rejuvenesce o espírito
Amadurece o coração do jovem
para entender o verdadeiro sentido da vida!
Palavras só podem ser usadas com Amor!

Palavras vão e voltam
Como pontes de alimentação da alma,
Como fontes de sedução do corpo,
Com formas de abraços,
Com toques de beijos,
Com carícias de desejos,
Como notas musicais,
Como letras de canções,
Como redemoinhos de emoções...
Não falo de todas as palavras,
mas somente daquelas que brotam do coração
e são concebidas por Amor!

Liz Rabello (In MIL PEDAÇOS, Editora Beco dos Poetas, 2012)



POEMA COLETIVO DO PORTAL DO POETA BRASILEIRO
EU FAÇO PARTE DESTA FAMÍLIA

segunda-feira, 19 de maio de 2014




SECA DE  2014

Serra da Cantareira
Seca, morna,
terra rachada,
mais parece um deserto 
Saara - Sertão agreste!

Serra da Cantareira
Mata ciliar em volta da represa
passado de glórias
tempestades e vitórias
saciavas a sede e a poeira inexistia!

Serra da Cantareira
meu coração por água clama
chuvinha que há de vir
fina e rasante por dias a fio
até te transformar em grosso caldo!

Serra da Cantareira
Teus gritos imploram
tuas flores se revoltam
as de Abril ainda não abriram
e as de Agosto já chegaram!

Queimam as queimadas
insanas fumaças
sem serem a gosto de Deus
nuvens revoltadas
 não trazem águas abençoadas!

Minhas lágrimas te inundam
danças indígenas te imploram
agulhas e linhas a juntar barro pesado
de gota em gota preenchendo teu repasto
saciar a sede do meu povo aqui da Capital!

Liz Rabello


domingo, 18 de maio de 2014



DOIS CAMINHOS

Dois caminhos a escolher
Ambos perfeitos
Endereço certo: Deus!
Princípio e fim de todas as coisas
Deus é a vida em ebulição
É só olhar a volta
Sentir e ver a presença d ' Ele
Em todo canto
Vida eterna
Ciência e fé a proclamam
Continuidade infinita
Nada é efêmero em sua essência
Só eu e você

Que passamos!

Liz Rabello

sábado, 17 de maio de 2014


DESAFIO  DE  ESCRITA

Estávamos na trilha. O sol fustigando folhas verdes. Ao chão, ramagens secas de Outono. Havíamos combinado uma troca de presentes. O que achássemos de inusitado seria nosso tesouro: tema para um novo Desafio de escrita. Meu presente: uma garrafa pet. Mudei meu ponto de vista. E no objeto me fantasiei.


SOU UMA GARRAFA PET

Bem branquinha, já fui frasco de uma garrafa de guaraná Dolly. Um dia me reutilizaram como carregadora de água para beberem durante o caminho da trilha. Ao término do conteúdo, eu, simples plástico descartável, inútil, fui jogada em meio ao desafio outonal de folhas secas. Alguém pegou-me, brincando abraçou-me. Por um momento um flash me fez brilhar. Estrela de um sorriso no olhar. Uma foto e um carinho. Mas depois, ia de um lado a outro sendo jogada, trapo velho, mais nada. Quando cheguei a um lugar bonito, repleto de flores, uma tampa se abriu. Dentro fui jogada, sem carinho fui lançada, na escuridão, perdida. Saco preto, de plástico. Outras coisas: latinhas de refrigerantes, saquinhos de compras de supermercado, outras irmãs iguais a mim. Meu destino: Reciclagem. Fui parar num grande balcão e lá alguém me separou das coisas diferentes de mim e só me deixaram numa grande família de garrafas pet, onde poderíamos voltar à vida, novinhas em folha e sermos de novo algo importante para todos os humanos. Este foi meu fim correto, eterno vai e vem que não termina. Penso: O que seria de mim, se na trilha ficasse? Em meio ao mundo orgânico e natural da mata ciliar daqueles lindos lagos, como poderia não danificar o meio ambiente? Impossível! Não consigo morrer, deteriorar e voltar à vida em outra vida e me transformar em mais vida. Mil anos são precisos para que eu possa não prejudicar o lugar onde sou esquecida. Se pudesse deixar uma mensagem aos humanos, claro, assim seria: Leve-me contigo para onde quer que vás, meu destino tem que ser a RECICLAGEM.

Liz Rabello

sexta-feira, 16 de maio de 2014



BONEQUINHA

Diz que sou tua bonequinha
Me desfaço em trapos de fiar
Em cada linha um sopro no ar
Te enviando olhares ao luar!

Sou a menina de trapos
Que tu viras em pedaços
Gozos e voltas pelos corpos
Dançando na cama como poucos

Sou sua musa a carinhar
Suas noites sem parar
Só desejos e sonhos embalar
Sou a tua bonequinha a te amar!

Liz Rabello


GRITOS

Vô chegano de mansinho
Me esguerano pelo matinho
Com quarqué baruio fico ativo
Meio morto, meio vivo
Apeio do animar
Entro no mato bem divagar
E paro pra escuitá
O baruio dos bicho
E os passarinho cantá.
José Luiz Pires

Verde que te queremos verde
 para maritacas e beija-flores
Prá natureza sorrir
E colorir nosso olhar
Conceição Gomes

 No oco do mundo
Espia-se a vida
Curiosidade e atrevimento
 será chave assim
Voos mirabolantes 
Num céu repleto
de possibilidades.
Nurimar Bianchi

No oco da árvore
Jovens maritacas
Penas cor de folha
Bicos de sementes
Olhares e gritos de indagação...
Milton Luna

Família toda aflita
Homens na mata
seca cortada
machados no ar
árvores tombando sem parar!
Liz Rabello

Uma arara fugida
pousa assustada
fica aflita
fica arrasada
Não tem pra onde ir
Se a árvore cair!
Acácio Costa


Não corte uma árvore sequer
 A natureza chora pelos animais
Quando o vento soprar elas sorrirão
 As aves cantam nos seus troncos
 O verde é vida divina.
Menduina Francisca

O apelo da Natureza
para nos sensibilizar
 vem na voz dos animais
 no vento cantando doce
 entre folhas e ramagens. 
Resta ao Homem escutar.
Lu Narbot

O homem não sabe escutar

O homem só sabe cortar
O que lhe dá a natureza
Ele não conserva a beleza
Que Deus lhe deu pra desfrutar!

Acácio Costa


quarta-feira, 14 de maio de 2014



MEU EU LIVRE

Voa voa minha borboleta
Meu eu casulo que morreu em ti
Saíste de um lugar seguro
Das entranhas do meu ser
Frágil frágil colorida
dentro de mim escondida
cinzenta e retorcida

Voa voa minha borboleta
para o céu azul 
em busca do arco-íris
poucas horas restam para ti
breve existência agora de partida
curta e significativa
Cor, perfume... Liberdade!

Liz Rabello

sábado, 10 de maio de 2014



FOLHAS SECAS

Cada folha contém seu tempo, uma linda história! Marcas e sinais de outrora. Uma breve vida. Poucas horas de beleza, intacta! Momentos únicos a verter da terra. O caule de uma árvore a dominou, a fez nascer verdinha, mas o passar das horas a modificou!

Assim somos nós! Um momento único de rosa bela! Depois o tempo a devora, tão rápido quanto cresceu!

Quero ser Outonos de folhas secas, sem belezas únicas de primaveras, sem verdes ramagens novinhas a serem devoradas pelo sol ou pelo vento! Quero me fazer antiga, sem nada mais a perder, te encontrar nas folhas semi mortas. Dar-te minhas mãos para mutuamente nos ampararmos na longa e infinita e difícil tarefa de terminar a vida para ser de novo adubo de uma linda rosa.

Liz Rabello





SER OU TER?

Outro dia estava dirigindo. Meu netinho ao meu lado. Conversávamos. Ele me disse que quando crescesse queria ser jogador de futebol, porque só assim iria ganhar muito dinheiro e ser feliz. Então perguntei a ele: O que é ser feliz? Ele começou a dissertar formas de se ter felicidades momentâneas. Não dá para se negar que quando se alcança algo que muito desejamos, alcançamos a felicidade. Mas isto não é ser feliz. Então eu retruquei: “Pois bem, meu amor, e enquanto você não crescer e não ganhar tanto dinheiro assim e não conseguir ser o jogador de futebol que você deseja, não vai ser feliz?” Sabiamente ele me respondeu: “Vovó, mas quem te disse que eu não sou feliz?” Comecei a rir. Repeti suas próprias  palavras do início de nossa conversa, e ele meio que sem graça, apenas reforçou: “Sou feliz por estar aqui ao seu lado e conversar com você, sou feliz por te amar e ser amado!”

Ser feliz é um estado permanente ou não de felicidade interior, nada muito difícil de acontecer, é independente de se ter a famosa felicidade baseada no verbo “ter”, concluída no verbo “comprar”, pilares básicos da sociedade capitalista. No início deste ano letivo, dei para meus alunos uma tarefa, após ouvirem Titãs e a música Comida, teriam que fazer uma colagem, que a reproduzisse. Sem problemas: “Eu tenho fome de quê? Eu tenho sede de quê?” Nada difícil para jovens bombardeados por meios de comunicação a serviço de um sistema econômico, que não nos reserva a possibilidade de “pensar”. Em outra aula, porém, fiz o oposto. Solicitei que a colagem mostrasse por imagens o que era ser feliz e o que queriam ser enquanto não crescessem. Simplesmente, pouquíssimos alunos conseguiram realizar a proposta. A maior parte de quem se aproximou do meu objetivo esperado fez colagens de família, animais de estimação, casais se beijando, amigos e com eles brincando, cercados de corações melados de beijos, que davam a entender que queriam apenas amar e serem amados. Outros colaram bicicletas, brinquedos caros, casas com piscinas... rsrsrsrsrsrs... Voltavam ao verbo “ter” de uma forma tão espontânea, que não conseguiam me entender.

Na apreciação dos trabalhos, o diálogo foi fundamental, mas nem sempre proveitoso. Como lutar com um Sistema de Valores que bombardeiam os nossos sentidos? Continuo voltando ao tema. Acredito que é importante demais fazer com que o jovem reflita em como se sentir bem consigo mesmo. Olhar o Sol pela manhã. Conversar com estrelas e observar seu brilho. Acompanhar pingos de chuva rolando pela calçada, Observar um casalzinho de passarinhos a construir um ninho. Brincar com seu cãozinho de estimação. Olhar a paisagem pela janela do ônibus e conseguir descobrir um beijo de uma mãe no rosto do filho... São detalhes que nos ajudam a “ter felicidade interior”. Esta conquista diária, com certeza vai nos fazer “Ser feliz!”

Liz Rabello


SENSAÇÃO DE SER FELIZ


Será que adquirir bens materiais que nos dá prazer instantâneo e momentâneo é o suficiente? Por exemplo, a compra de um carro novo? Penso que é comum confundirmos nossos verdadeiros sentimentos com aquilo que nos dá prazer e o que pode nos proporcionar felicidade. Achamos que ela está vinculada a algo material, porém o que realmente buscamos é a SENSAÇÃO que o objeto ou situação nos oferece. Adoro dirigir numa auto estrada. É simplesmente maravilhoso! Mas posso conseguir esta mesma alegria se estiver no banco do carona. E isto é real. Portanto, o que temos a descobrir é o que nos deixa a SENSAÇÃO de SER FELIZ. A mesma alegria ou bem estar pode ser proporcionada ao caminhar ao lado de uma amiga numa trilha, rir de brincadeiras do passado numa conversa informal, por trocas de mensagens virtuais com amigos. Buscar a SENSAÇÃO de bem estar que o outro nos traz, à medida que nos permitimos a possibilidade de SER FELIZ, nos faz descobrir o que somos e o que desejamos.

Liz Rabello




quinta-feira, 8 de maio de 2014




 BORRÕES DE AMOR

Por trás dos montes nuvens se agitam
Compõem desenhos de cor em degradê
Mágicas canções em notas multicores
formam-se agitadas ondas em nuances

Antes da lua prateada sondar a escuridão
O sol nos leva para outras dimensões
Uma tempestade de cores se forma no horizonte
aos nossos olhos autênticos borrões de amor"

Liz Rabello


(Fotos de João Paulo Naves Fernandes)



terça-feira, 6 de maio de 2014


VOCÊ

Você chegou na hora certa

No outono exato de meu viver
Momento certo em que eu já estava
Desistindo de sobreviver
Mancando de dor por não mais querer

Abriu as portas de minh’ alma
Escancarou as janelas do coração
Trouxe alegrias paz segurança 
carinho compreensão e de bandeja
me oferece beijos desejos gozo em profusão

Você chegou e tomou conta do meu viver
E agora nenhuma noite eu acordo sem saber
Ou procurar você para em tuas mãos me esconder
E me deliciar de teu cheiro e me enebriar de prazer
Para não mais me deixar nenhum suspiro sem você!

Liz Rabello

segunda-feira, 5 de maio de 2014




Borboletas voam para lá do meu jardim
eu não me importo
aos céus esvoaçando luzes
sinais de amor levando
letrinhas encantadas carregando
de volta ao poeta
que tanto nos legou
e nada nos pediu.

Liz Rabello