quinta-feira, 30 de junho de 2016

PARA UMA BOCA FECHADA... A POESIA!


Sou de um tempo em que aprendi a me calar
A ter medo de militar
A ficar no meu lugar de mulher
Abaixo do patrão, do pai, do irmão, do marido
Até do filho e do cão que ladra no quintal!
Mas também sou do tempo
Em que a fera ferida sangrou
E se libertou da menstruação
Do soutiem, da saia comprida
E do varão machista
Da lei imperiosa da mordaça do dólar
Pertenço a este momento histórico
Em que a mulher vai às ruas
E deflagra a corrupção
Se for preciso a trégua, que seja...
Mas cruzar os braços... Jamais!
Ainda nos resta a Poesia
que nunca "servil" a ninguém!

Liz Rabello


Sou Maria da Luta

Não me calo
Fico nua
Transparente
Mostro curvas
Não tão lindas
Mostro rugas
Não tão feias
Mostro alma
Não tão doce
Mostro tetas
Já caídas

Sou Maria da luta
Tão sofrida
Tão amarga
Tão da rua
Tão da vida

Sou Maria da luta
                 Só
Não resta mais nada

Liz Rabello

sexta-feira, 24 de junho de 2016


SEM TI EU NÃO EXISTO!


Teu amor é pra mim como o ar que respiro
Inalo, devagar, deixo fluir
E não prescindo...
É como o vento 
Que despenteia meus cabelos
Sopra beijos silenciosos
Aos meus ouvidos atentos!
É como o sol
Que me aquece as entranhas
Quando penso em tuas mãos
A simplesmente me tocar!
É como as estrelas
Cuja luz cintila
E lindamente brilha
A iluminar meu verde olhar!
Teu amor é para mim
O TUDO ou o NADA!
Na imensidão do infinito... 
Sem ti... Eu não existo!

(Liz Rabello in "Mil Pedaços", página 40, Editora Beco dos Poetas, 2012)

sexta-feira, 3 de junho de 2016


 SOMBRAS


Mistério no reflexo das águas
Sol, brilho, luz que reluz!
Sombras se cruzam com mágoas
Dilaceram e desfazem em lágrimas!
Galhos retorcidos em quimeras
Imagens, mosaicos sem encaixes
Árvores que se chocam no universo
Céu azul, anil, verde musgo a tecer
Esperanças

Liz Rabello


ESPANTALHOS DO PASSADO



Durante toda minha vida, minha mãe era contra minha participação em greves. Ficava nervosa demais e brigava comigo o tempo todo. Minhas memórias apenas me mostravam um olho roxo de papai, marcas de espancamento no corpo e quatro dias fora de casa. Sim, fora preso, como líder de seu grupo. Greve! Esta palavra tão difícil de ser pronunciada em tempos de construção do operário, desta classe social oprimida pelo sistema. Mil novecentos e cinquenta e três! As lutas operárias se intensificavam em todo o Brasil. Além de ser preso, foi mandado embora do trabalho, carteira "suja"... Era esta a palavra. Nunca mais conseguiu emprego. Na parede da cozinha havia um buraco, onde papai muito doente, (Fibrose pulmonar, adquirida pelo pó de madeira da fábrica, que não tinha sistema de anti poluição), deixava a cabeça a flutuar num desejo de pôr na mesa da cozinha um pouco mais do que chuchu, colhidos do fundo do quintal.
Liz Rabello


INJUSTIÇA!

Segunda-Feira. Minha irmã saiu para o trabalho. Era recepcionista de uma empresa. Beijou-o na testa, como sempre fazia. Ele lhe disse baixinho: “Não chegue tarde, é aniversário de sua mãe! Vamos fazer-lhe uma surpresa!” E realmente a fez! Acordei com os gritos de mamãe no quarto. Ele deu os últimos suspiros desejando a ela um “Feliz Aniversário!” Meu pai era um homem sereno, amoroso, orgulhoso de mim. Com ele, eu me sentia amada! Protegida! E quando ele se foi desta vida para sempre, toquei o chão, sem alcançar estrelas... Ficara doente sete anos antes deste sete de fevereiro. Marceneiro de mão cheia talhava madeira de próprio punho. Era um artista. Fazia móveis lindos! Ganhava muito bem. Tínhamos uma casa boa e bem mobiliada: geladeira, fogão a gás! Adorávamos o dia do pagamento dele, pois nos trazia potes de azeitonas, queijo prata, goiabada. Era festa em casa! Mas, (sempre tem um “mas”) a fábrica não tinha equipamentos de antipoluição e aquele pozinho insuportável foi se alojando nos seus pulmões, impedindo-o de respirar livremente! Ele foi o líder dos operários, à testa daquela greve, cujo panfleto eram os pedidos de melhores condições sanitárias dentro da fábrica! O mesmo desejo que o colocou nas mãos da justiça, era sua necessidade básica! Paradoxo da injustiça! Perdeu o trabalho que tanto amava, por estar perdendo a saúde para o ganha pão! Naquele tempo, carteira assinada... Quem a perdia, não conseguia mais emprego. E além dele, estava perdendo a saúde e a vida! Tínhamos um cachorro: Nero. Amigo fiel. Onde papai estava, podiam-se ver os seus pelos marrons brilhando ao sol, ou escondido atrás da sua cadeira de balanço. Uma semana após a sua morte, mamãe decidiu colocar a capa cinza e o chapéu de couro, que tanto papai usara, ao sol! Pretendia dar de presente a um tio. Pendurados no varal, o vento os balançava num ritmo frenético de dor! Nero se aconchegou, ali pertinho ficou... E chorou!

(Liz Rabello, in INTERVALOS, "INJUSTIÇA", Beco dos Poetas, 2013. SP)

domingo, 29 de maio de 2016

QUANDO VOCÊ SE SENTIR IMPOTENTE, LEMBRE-SE: 


O CAOS HÁ DE TER FIM


Só se garante o direito aos "Nossos Direitos" com luta. Foi assim na conquista, tem de ser assim na garantia. A luta tem de ser diária, constante, o tempo todo e por todo o lugar. Nas ruas, nas redes, nos supermercados, no salão, na porta da vizinha, a qualquer tempo ou momento. Os representantes do governo ilegítimo, incluindo ele próprio, estão dispostos a passar o rodo na nação brasileira. E não estão brincando. Dilma tem que voltar urgente para colocar a casa em ordem, caso contrário o país será rapidamente, terra devastada. A corrupção sempre existiu, apenas não a divulgavam e escondiam. Ninguém nunca apurou nada, apesar das denúncias no desgoverno do FHC, tudo era engavetado e nos outros também. Agora, parece que alguma força maior, creio vindo da justiça Divina, está abalando a segurança destes parasitas, predadores dos recursos públicos. Dilma não compactuou, não se submeteu e deu margem para esta "força maior", que vem de algo mais sublime. Demerval Saviani dizia que quando a vara pende para um lado só, a tendência é que deixe de inclinar e volte para trás e, ao voltar, se equilibre. Talvez a nossa fé, a nossa luta, faça com que Deus nos ajude a equilibrar esta vara. Temos que crer num ser, que está num campo maior, em outra dimensão, que governa poderosamente todas as ações, inclusive humanas. Creio na colheita do trigo e na queima do joio. Creio que neste momento, nossa pátria, passa por uma depuração, onde todos estes mal intencionados se sentirão tão perdidos em suas tramas, que provocarão a limpeza. Grosseiramente é como algo que irrita os intestinos e é expulso numa diarréia. Nossa nação está sob grandes dificuldades, por conta destas consciências extremamente apodrecidas, entregues ao comando de seres das trevas. Creio que no fim, o bem vencerá. Sei que até lá, os justos muito sofrerão, até para que clamem por justiça e não por vingança. E nós vamos continuar a lutar para realmente fazer parte da semeadura. Juntos, de mãos dadas, alcançaremos o melhor para a nação, que só pode ser o que prime pelo lado do mais oprimido, do mais pobre.” (Liz Rabello, Valter Travain e Vera Maria Galhardi)

terça-feira, 17 de maio de 2016




NEGO DEZ
Estávamos conversando sobre identidades e sua construção desde a mais tenra idade. Salete, muito orgulhosa do pai, desatou a falar sem parar. Nego Dez. Era assim o nome dele. Na boca do povo, ninguém o chamava de forma diferente. Sempre bem vestido. Roupas limpas, cabelos arrumados, bem cortados, barba feita. Quando a esposa lhe dizia que não havia o que cozinhar, a história era sempre a mesma: “Hoje não tem o que comê, dispois de amanhã tem. Hoje tem o que comê, dispois de amanhã num tem. E amanhã? Bem, amanhã é outro dia...” - E repetia a mesmíssima história contada mil vezes e nunca retocada pelo viés criativo da imaginação: “Quando era boiadeiro e chegava co’a manada, sem nada no estômago pra forrá, num tinha peleja, não! Era água, farinha e açúcar, que nunca fartava, não!” E esta foi a primeira vez no dia em que ouvi falar do significado verdadeiro da fome. Honestidade e trabalho eram suas matrizes essenciais. Seu pavor era morrer velhinho, sem memória, sem dignidade. Dizia que se o homem perdesse a vergonha era melhor partir desta pra outra de vez. Para sua alegria, morreu aos cinquenta e deixou um legado de sabedoria e orgulho de memórias por aqui.
Salete se afastou para dar um beijo em Tula, artista da caneta, dança carimbó, atriz, cantora. Uma negra, que até faculdade já cursou. Falava de sua família e de sua alegria em nunca precisar se prostituir para dar o que comer para os meninos. Viera pra São Paulo, com uma mão na frente e outra atrás, filhos pequenos, sem pai, que se perdeu nos meandros da vida. Sozinha, arranjou emprego de doméstica e um belo dia percebeu que se ali ficasse para sempre não iria progredir. Passou a mão nos trastes e resolveu estudar. Trocou a pia pelo canto, a vassoura pela caneta, o balde pela dança, o pano de chão por um bom livro. E agora, sim, era respeitada. Uma mulher com identidade própria, que antes de mais nada se auto afirmava: Bela, negra, emponderada. E, com olhos úmidos lembrava, dos dias de farinha, água e açúcar, dor no estômago, sem conseguir dormir! E foi assim que pela segunda vez, por acaso ou por dedo de Deus eu ouvi a mesma frase, naquela tarde de descobertas sem tréguas.
Estávamos na II FLIMP, na Galeria Olido, e um escritor lançava seu novo livro: Eloy. Sua irmã chegou, o abraçou, comprou o livro. Ele autografou. Era orgulho da família: um escritor. O mais novo dos seis homens. Ela a caçula de todos. "Somos doze, seis de cada", acrescentou. Mostrou a foto da mãe, idosa com 77 anos, ainda uma bela mulher. Indaguei espantada: “Como conseguiu criar tantos filhos?” - Ela respondeu: Às vezes era farinha, água e açúcar o que tinha pra comer...
Moramos na cidade mais rica da América Latina: São Paulo! É impensável a fome por aqui. Talvez seja por isto que para os eleitores desta região seja tão difícil entender por que Lula é tão importante para o Brasil.
Liz Rabello 



(Relato feito ao som de violão de Henrique Vitorino na Casa Amarela, em São Paulo, Capital)

sábado, 14 de maio de 2016

 
DIA 15/05/2016 ESTAREMOS NA CASA AMARELA LANÇANDO UM NOVO LIVRO COM CARLOS TORRES,  AKIRA KURASAWA,  MILTON LUNA E OUTROS AMIGOS IMPRESCINDÍVEIS





COM ILUSTRAÇÕES DE PUNK ALÉM DA LENDA



quinta-feira, 5 de maio de 2016



Tela de  Carolina Ferreira

Lama de Mariana chegando no mar, 
vida que se nega ao encontro do mal,
sangue que se quebra na cortina de sal.
Liz Rabello

quarta-feira, 13 de abril de 2016




UMA CORUJA LAMENTA OS RESQUÍCIOS DE LIBERDADE QUE AS HORAS NEGAM... OS ABUTRES ESPREITAM RESTOS MORTAIS DE NOSSOS IDEAIS.

Liz Rabello


quinta-feira, 7 de abril de 2016

EU SEI ONDE É O MEU LUGAR


Quero estar no meio do meu povo
Onde cores brotam do improviso
Da roupa suada que não deu tempo de secar
Do grito uníssono autoral de quem sabe o que quer
Do empoderamento do devir
Quem sabe faz
Não espera passivamente o ódio corroer!
Quem sabe luta não agride violentamente ao perder!
Quem sabe conscientiza
 a quem se equilibra sem saber
Quem sabe quer o golpe bem longe
Dos jardins do amanhecer!

Liz Rabello

terça-feira, 29 de março de 2016




SIMPLES ASSIM

Esconde lista de propinas dos amiguinhos, grampeia Lula e a Presidente. Vaza informações à Imprensa com rapidez de leão faminto e fica tudo por isto mesmo. Um pedidinho de desculpas básico e é só? Simples assim.... Se você, Moro, fosse meu aluno de primeira série, eu te contaria a história do homem que foi ao confissionário pedir perdão por ter caluniado alguém. O padre lhe deu a seguinte tarefa: "Confeccione um travesseiro de penas e volte aqui." -  O mais rápido possível o caluniador trouxe o travesseiro pronto. "Eis aqui, Padre. Estou livre do pecado?" - "Não, ainda, meu filho. Agora, vá à montanha mais alta e solte as penas." -  Intrigado, mas confiante, lá foi o pecador cumprir a pena. Voltou de mãos vazias e penitente perguntou: "Estou livre da culpa, padre?" - "Não, meu filho, vá ao pé da montanha e recolha todas as penas que você fez o vento levar." - Aprende a lição santinho do pau oco e remova todas as feridas que você construiu e o ódio que vociferou entre os brasileiros marionetes deste  nosso país. 
Liz Rabello

sábado, 19 de março de 2016

EMPODERAMENTO DA CIDADANIA
Olhei e enxerguei de cara além dos olhos. Lá estava ela, mulher simples, uma filha mais velha de pouco mais de dez anos e um bebê de no máximo três meses. O que fazia ali no meio da muvuca que se iniciava para receber Lula numa manifestação na Avenida Paulista? Quando derrubei sem querer minha bolsa e me abaixei para pegá-la, a neném agarrou a tira com força e não quis mais largar. Começamos a conversar e eu indaguei pensativa: “Você não tem medo de estar aqui na Paulista?” Claro que projetei o meu próprio receio na pergunta feita na hora certa e no momento exato. A aula de História rolou. Com palavras vivenciadas falou de seu empoderamento de Cidadania, que se iniciou anos atrás na era Lula/Dilma. A valorização do negro, a emancipação da mulher. “Hoje assumi a minha identidade afro, sou cidadã deste país, vim das entranhas de Sergipe, tenho trabalho para alimentar os meus filhos, adquiri o meu próprio canto, uma casinha minha pra morar e posso sonhar em viajar para minha cidade de avião. Meu pai quase morreu na Ditadura Militar porque não obedeceu ao toque de recolher. “ Este povo que quer o Golpe, não sabe o que é fome... Não sabe o que é Miséria! “ 
Liz Rabello

quinta-feira, 3 de março de 2016


DORMIR!

Senhor Cirilo está de volta. Mais uma semana comigo.  Minha casa virou canil de cachorros folgados.  Ontem ele estava encapetado. Acho que pisou na macumba...  Nem o tal do maracugina fez sucesso.  Para acabar com os uivos chamando seu dono “Rodiguuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!!!!” coloquei música, liguei a  TV, para distraí-lo. Por algum tempo, ficou bem. Chegou até a vir lamber meus pés... Mas quando lembrou do dono, começou a uivar bem baixinho e foi levantando o tom da voz, mais alto, mais alto, até me deixar fora de mim . Apelei para o chinelo. Dei uma surra na cadeira e aos berros disse que o próximo seria ele.  A Vareta veio em defesa da cadeira, mas levou a parte dela: "Cala-te senão você apanha junto!” Bem ou mal  entenderam  a situação e me deixaram  dormir....  Dormir!   Delícia! Dormir!

Liz Rabello

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

METAMORFOSES

Mudanças repentinas
Renovações aqui, acolá
Reviravoltas na vida
Basta uma limpeza no sótão
No quartinho de despejo
Álbuns em fotos puídas
Recordações brotam do nada
Metamorfoses perdidas no tempo

Jamais ter medo de arriscar
Agir em prol do que sonhamos.
Às vezes é necessário
Mudar a estratégia da vitória
Adiar desejos secretos
Mas jamais eliminá-los de vez
A esperança é um pó mágico
Numa gaveta discreta da alma

A escolha é nossa
Cadeados em gavetas ou
Janelas escancaradas nos casulos
Coloridos de fiapos de esperanças
Prefiro ser equilibrista em
Metamorfoses constantes
Driblando estrelas brilhantes
No infinito da vida

Liz Rabello

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016


PARA  ROSIANE CEOLIN


O OLHAR

Teu olhar
Me seduz
Reflexo no espelho
É o meu ou é o teu?
Lacan me ensina
Que nunca somos um ou nenhum
Porque ninguém é o que o espelho mostra
E nem é o que pinta a mão alheia
E não é o que vê no quadro
E nem é o que pensa que vê
Mas há uma essência
A verdadeira face do olhar divino
Onde reside a bondade de quem pinta
De quem vê
De quem se mostra
De quem se sente
Filho de Deus...  Como realmente é!

Liz Rabello

domingo, 10 de janeiro de 2016


NINHADA ASSANHADA


  
Minha chácara fica num condomínio.  Modernidade e passado convivem de mãos dadas.  Algumas são de último padrão, com muito conforto e tecnologia, mas há também aquelas bem modestas. Tenho a sorte de ser coluna do meio e conviver com a proximidade de uma mais simples, que tem inclusive um galinheiro de “meninas” caipiras, que são bem autônomas.  Diariamente é possível vê-las  saindo para um passeio e voltando sozinhas, sem que ninguém as acompanhe.  O galo toma conta delas.  Hoje observei um grupo familiar. A ninhada para dentro de minha propriedade. Os pais, tias e primos do lado de fora, muito agitados chamando os pequeninos do seu modo e com suas próprias regras.  Mesmo que eu me aproximasse e significasse “Perigo”, ficaram parados à espera dos menores.  Saí de mansinho para não atrapalhar a festa matinal.

Liz Rabello



terça-feira, 29 de dezembro de 2015



 LEI DO RETORNO

"Muitas vezes não vemos os sinais desta lei, até porquê ela vem da alma, está ligada ao espírito. Gente ruim não tem paz interior, vive atrás do pior que está por vir e que vai criar. No entanto, as pessoas boas, de coração em paz, podem comer o pão que o diabo amassou e dele sentirão a glória da fome passar e gratos vão ser, porque a dor já não faz efeito." Acho que li este trecho de algum post no facebook e penso que é isto mesmo. Já conversou com uma pessoa simples da periferia? Eu dei aula por três anos no começo de minha carreira num lugar onde a escola saía do mapa. Fim de linha. Sabe o que ganhava de presente no dia dos professores? Mudinhas de couve, morangos, salsinha. Fiz uma horta em minha casa e quando estava verdinha, sem querer, sem planejar, trouxe a menina que me dera a mudinha dos morangos para pela primeira vez andar de trem e vir até a minha casa passar um final de semana. Se você visse os olhinhos dela quando olhou para os frutinhos vermelhos perfumados na hortinha! Nada me deu mais fé no futuro do que aquela cena. É nisto que acredito!

Liz Rabello


segunda-feira, 30 de novembro de 2015


UMA ÁRVORE EM TRÊS TEMPOS
Uma amiga minha (Leide Borges) chegou hoje de São Paulo, e eis o que vê: Uma árvore imensa, que conhecia desde 1967, no Setor Universitário, onde morou, cuja copa frondosa atravessava a avenida, foi cortada de vez. Seu crime: deixar cair um galho no Laboratório da Faculdade. É o que consta.

Cada galho que se corta, 
cada folha que se perde, 
cada fruto que não se come,
cada flor que o beija-flor deixou de amar,
cada sombra que se desfaz,
é um pouco da ausência
que se consome de vez no lugar da vida.

Ah os homens tortos, 
que não percebem o que estão fazendo...
 Dói demais, dói demais.
Liz Rabello

sexta-feira, 27 de novembro de 2015


ENGRENAGENS

Mãos vazias
Carregam marcas
Digitais internas
Indeléveis
DNA de uma antiga
Engrenagem

Mãos vazias
Carregam marcas
Rugas externas
Palpáveis
Construção de um presente
Engrenagem

Mãos vazias
Nada carregam
Soltam em linhas
Pregam em versos
Escrevem tortuosas
Engrenagens

Mãos vazias
Coração imenso
Perdão a quem
Não te perdoa
Pelo mal que nunca  fez
Engrenagens

Mãos vazias
Bolsos sem dólares
Trabalho suado sem tronos reais
Tudo doado
Ao longo da vida
Engrenagens de Saber!

Liz Rabello (VII Congresso do Portal do Poeta Brasileiro, 2015, Editora Iluminatta)