quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

ASSUSTADOR

 

O mar avança sobre o rio indefeso
Diante desta magnitude pobres águas doces
Rebelam-se, fortes, 

 Arrancam terras, capelas,
 E sobre a propriedade se dilacera.


     Tão logo meu olhar pousou na imensidão do horizonte avistei o mar paradisíaco. Ondas mansinhas, quebrando-se lá longe, como se fossem inocentes canções de amor. Meus olhos extasiados fixaram-se nas jangadas, que iam e vinham, paravam ao redor da piscina natural, uma das muitas existentes em meio ao espetacular oceano. Ponto turístico, onde é possível mergulhar e com peixinhos de perto poder nadar e o mesmo espaço cruzar. A piscina artificial da propriedade próxima me fez recuar, desviar, caminho de pedras tortuoso trilhar e um portão entreaberto ultrapassar. Ao abri-lo, uma surpresa: o caminho se acabava numa rampa suspensa. Abaixo: um rio de verdes tons, cujo curso não seguia um ritmo normal. Ao contrário, águas doces recebendo águas salgadas do mar. Percebia-se, nitidamente, que suas encostas, recentes, desenhavam vertigens de novos esculpir!


Nem sempre foi assim. O rio desembocava suas águas no Atlântico, à direita, uns quinhentos metros distante dali. A propriedade seguia vinte e cinco metros pela frente, agora mar adentro. Antes do combate, uma capela e um campo de futebol, a paz já exalaram. Quem os roubou? O rio ou o mar? Ou ambos irmanados numa fúria de retorno: Ao homem o que destruiu!


Adoro o verde. Meus olhos ficam tristes quando as queimadas destroem a mata ciliar para dar lugar aos sulcos de erosão e assoreamento do solo dos rios. Foi o que mais observei durante o trajeto do centro de Maceió: Ponta Verde até a praia de Paripueira. Ia me perguntando: “O que faz o homem pensar que suas ações não trazem respostas? O que faz o ser humano agir sem medo algum de interferências supostas e executadas a bel prazer? O que fazem invencionices serem mais importantes do que milhares e milhares de anos de criação celestial? Até quando o desrespeito e o fechar de olhos de quem não acredita no progresso a qualquer preço? Somos todos culpados por permissividade à esmo.


No trajeto do aeroporto até o hotel em que me hospedei, muitas árvores gigantescas, canteiros de flores centralizavam a rodovia de ponta a ponta, dando um ar primaveril e suave ao forte sol do Nordeste. Meu coração já havia parado de bater momentaneamente quando ouvi a cruel sentença já inscrita no orçamento da cidade: Serão abatidas para dar lugar ao Trem Bala. Agora olhando o combate das águas, ele batia assustado, revoltado. Sinto-me uma formiguinha, infeliz, assistindo meu amado Planeta Terra sucumbir em mãos insanas!

 Liz Rabello

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014


PERMITA-ME O AMOR!

Entre a sua liberdade
E minha autonomia
Permita-me o voo
De um novo sonho!

Entre a sua tristeza
E a minha solidão
Permita-me a metamorfose
Morte de uma mariposa!

Entre a sua melodia
E os acordes da canção
Permita-se o som
Do voo em comunhão!

Entre a sua esperança
E a minha desilusão
Permita-se o enlace
De nossas mãos!

Permita-me o Amor!

 O PASSADO NÃO RECONHECE O SEU LUGAR
ESTÁ SEMPRE PRESENTE

Estava na Casa de Repouso visitando meu sogro. Esperava no guichê o próximo atendimento, quando ouvi atrás de mim uma voz muito familiar dizendo Bom Dia. Meu coração, aos pulos, dilacerou o peito, enquanto me voltava para conferir. Sim, era Ele! Não podia ser verdade. Meu grande amor ali, na minha frente. Mesmo sorriso, mesmo jeitinho alegre. O tempo só lhe roubara cabelos, mais nada! Cingiu-me braços apertados e beijos no rosto demorados. Chorei em seus braços, enquanto me deixava dominar a emoção. “Precisamos conversar”. Levou-me para o estacionamento. E sem que eu entendesse nada, passou a abrir o capô do seu carro, a retirar o estepe e uma caixa colorida bem fechada à mão. Dentro dela, todas as cartas que eu lhe escrevera. Todas as fotos, que um dia tiramos juntos. Um par de alianças de ouro guardadas numa caixinha de veludo, que outrora fora minha grande ilusão.

Olhou para a outra aliança em minha mão esquerda. Percebeu meu embaraço. Sim, eu me casara há mais de vinte anos, duas filhas. Era feliz sem amar. Apenas respeitar e me anular para que outros fossem felizes. Não era exatamente assim a minha vida? Onde estava o meu “EU”? Observei que ele também tinha uma aliança na mão esquerda. Casara-se há apenas dez anos. Trocamos celulares, emails e nos prometemos que não nos perderíamos jamais.

NOTAS DESAFINADAS

Mar calado noite densa
Nenhuma onda gigante se manifesta
Palavras são redemoinhos ausentes
Pedregulhos pousados no fundo do mar

Corpo em pausa, corpo inerte
Nenhum som de encanto te faz acordar
Palavras são notas desafinadas
Na ponta do penhasco a se equilibrar

Arrepio na coluna... É o vento
Trazendo cantigas de um tempo lá atrás
Palavras agora exalam novos aromas
Perfumes mesclados a sabor e a paz

Coração se exalta enrubesce o rosto
Desejos mansinhos de vida a voar
Palavras nascem querendo acordar
Aurora repleta de sonhos a vivenciar

Tinha apenas dezenove anos quando nos conhecemos. Nós nos apaixonamos um pelo outro e decidimos nos casar a despeito da opinião da família que queria ver-me ao lado de outro alguém. Para conseguir o aval, menti. E depois da mentira, concretizei a ação. Decidimos pelo passo maior: uma lua de mel antecipada. Tirei uma semana de férias em meu trabalho. Ele fez o mesmo. Fomos para Campos do Jordão, num chalé, ouvir a melodia do amor. Minha primeira vez foi linda e nunca mais me senti tão feliz!

Daquele momento em diante ninguém mais poderia se interpor entre nós, pensei. Estava enganada. Mobiliamos uma nova casa, marcamos a data do casamento. Trocamos alianças de noivado. E o cenário cor de rosa só se transformou em noite densa quando a menina apareceu grávida dizendo que o pai era o meu noivo. Ele negava, é claro. Mas confessou-me ter tido intimidades físicas com ela. Minha decepção foi enorme. Meus sonhos dilaceravam-se por dentro. Rompi o noivado e me entreguei a uma fuga de vida, que nunca mais se acabou. Mesmo quando conheci meu atual marido, e um descuido deixou-me engravidar de minha filha mais velha, não foi amor. Apenas fuga, como era o álcool ou os choros convulsivos que me teciam as noites e faziam meu travesseiro verter lágrimas de sangue.

Eis que meu passado volta. De dentro deste túnel, o meu príncipe me pega pela mão e me leva para um quarto de motel. Não se atreveu a tocar-me. Ali fomos para poder fugir de olhares de terceiros. Precisávamos conversar olho no olho... Esculpir frases mal ditas em tempos malditos, lapidar aquele diamante bruto, que um dia foi o motivo do nosso viver. Justificar o injustificável.

De mãos dadas, contou-me que jamais me traíra, que aquela garota fora um deslize, um erro de juventude, que a gravidez fora uma mentira dela, que tentara de todas as formas uma reaproximação, que minha família o recebera até com armas na mão e que nunca o deixaram chegar perto de mim, que ficara sozinho durante treze anos, que se jogara na bebida e no fracasso profissional até conhecer a esposa atual. Mais velha do que ele, melhor sucedida financeiramente, ela o ajudara a reerguer-se e a se tornar o que era hoje. A pessoa que compartilhava sua vida era uma boa mulher, de alma limpa e muito doente. Um câncer dilacerava seu útero e tinha dias contados. Não podia deixá-la agora quando mais precisava dele.

Eu também preciso dele. E como, meu Deus? Entreguei-me aos sentimentos, com toda fome e desejo e coração e corpo e alma e eu inteira, por inteira, sendo Eu. Durante três meses nós nos encontramos regularmente. Mas, sempre tem um “mas”! Como poderia me olhar no espelho? Como poderia não me condenar? Como poderia viver nesta duplicidade?

OLHA PRA MIM

O que tu pensas sobre mim?
Como podes me julgar?
O que tu vês é apenas a carcaça
Corpo suado de sofrer
Aparências que me envolvem
Se tu olhas apenas pra fora
Nada enxergas!

Olhos além dos olhos
Intuição do coração
Belezas escondidas
Sorrisos ocultando tristezas
Avessos que nem sempre
Outra mente consegue mentir
Antes de desvendar!

Nunca tive nada meu e ainda não tenho. Não sou ligada a bens materiais. Tudo que da vida desejo é a construção do meu caráter, do que sou em essência. Foi por esta razão que a Igreja Batista tanto me encantou desde a minha mocidade, e, também foi por esta mesma razão que meus estudos acadêmicos se aprofundaram na Filosofia. Sou Teóloga. Meus discursos na Igreja decifram a Palavra de Deus. E meus atos me condenam perante a consciência e o coração. Meu primeiro passo levou-me a buscar uma reconciliação com meu marido. Mudei de cidade e de estado. Fui embora de perto da felicidade e dor que conheci. Tudo em vão!  Hoje me vejo separada tanto do pai das minhas filhas, que mentiras não mais fazem parte do meu viver, quanto do meu amor. Estou só. Preciso começar a me buscar, tentar reencontrar um EU profundo que possa recomeçar. Tenho esperanças. Fé no futuro. Quem sabe em algum lugar exista a paz do encontro final e a gente possa se amar para nunca mais se largar!

 ADEUS

Já te falei adeus 
Segurando o tempo
E mil vezes querendo dizer:
Volte logo meu amor!

Já te falei adeus
Na esperança de um novo início
Sem ter de fato acabado
Sem ter preenchido lacunas!

Já te falei adeus
Com dois pontos, vírgulas,
Exclamações, reticências
Sem nunca usar o ponto final

Já te falei adeus
Pra nunca mais
E não fiquei triste
Acredito em milagres!

Já te falei adeus
e só queria pedir-te
Não te esqueças de mim
Jamais te esquecerei!


Liz Rabello



sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

  

LAÇOS DE AMOR


Há sempre um ponto
Uma encruzilhada
Um banco
Uma esquina
Um lance de olhar
Uma gota de orvalho
Uma luz ao luar
Uma fonte a jorrar
Uma chuva constante
De lindas notas musicais
Onde o amor está!
Sou a filha do meio de um casal como poucos. Meus pais se amavam e não me lembro de brigas, muito menos desavenças por quaisquer razões. Só me vêm às lembranças muito amor, de ambos os lados. Cresci cercada de palavras de afeto e muito agarrada ao colo dele, a seus carinhos de proteção e ao seu jeitinho carinhoso de me dizer o quanto acreditava em meus sonhos e potencial. Pena tê-lo perdido tão cedo. Era menina quando Deus o levou para morar com as estrelas. Órfã de sua presença física, jamais vivi sem apego espiritual. Por esta razão mesmo adulta eu o tinha em pensamento e coração.

Uma noite, após estudos em grupo, preparação de um seminário, saí sozinha do apartamento de uma amiga do pós graduação que fazíamos pela PUC. O relógio marcava por volta de dez horas da noite. Oscar Freire, rua pouco movimentada de pedestres, mas com muito trânsito. Havia deixado o carro três quarteirões adiante e fui a pé, sem medo algum, já com as chaves na mão, pronta a entrar e ir de encontro aos meus filhos, que me aguardavam em casa. Foi então que atônita percebi três rapazes a me cercar. Rapidamente um pela direita, outro pela frente e um se adiantou e me ultrapassou na calçada ficando atrás de mim. Diziam palavras entrecortadas com obscenidades, dando-me a entender que pretendiam algo comigo apavorante. Num repente de defesa, corri para a esquerda, único fragmento de abertura disponível e atravessei a rua em meio ao trânsito, correndo desesperadamente, não sem antes, mentalmente pedir ajuda a Deus: “Pai, me socorre!” O semblante do meu Deus tinha a face de papai. Do outro lado da calçada, um carro claro, da Volkswagen, faróis acesos pronto para sair. Bati nos vidros com toda força que consegui e o motorista abriu a porta. Entrei. Pedi para correr. Não, não pedi, exigi, gritei! Ele me ouviu, obedeceu e só bem adiante é que parou, para me acalmar e, em Espanhol, pois nenhuma palavra entendia ou falava em Português, tentou se comunicar comigo. Pela lógica dos fatos, mostrando as chaves em minha mão, acabou voltando e me levando até meu carro. Acompanhou-me um bom pedaço e só desistiu de me ajudar quando observou que não estava mais em perigo.

Cheguei em casa muito suada. Tomei meu banho. Um chá. Não conversei com ninguém sobre o fato. Apenas agradeci a Deus.

Dois dias depois fui à casa dos padrinhos do meu filho mais velho. Já estava saindo quando minha tia me falou: “Noite passada tive um sonho estranho e rápido. Você atravessava a rua e seu pai a protegia com a mão em sua cabeça.” Nada consegui dizer. Só chorei. O amor tem laços que somente o coração consegue captar.

ONDE ESTÁ O AMOR?


 Há sempre uma porta aberta

Uma janela a sorrir à luz do sol

Uma flor abrindo pétalas de cores

Exalando mil aromas

Gritos e gemidos de orgasmos

Lances de poesia dos sorrisos de crianças

Lambidas e carinhos de animais de estimação

Onde a única nota musical a soar é o Amor!

Liz Rabello


segunda-feira, 6 de janeiro de 2014


EDUARDA  E MÔNICO

Com você posso ser
Sentir de coração
De mente demente
Aquilo que não se mente
Semente somente de amor!

Quando meu amor me disse que me enviou um torpedo que não havia chegado, logo previ, mandou a outra sem querer. Ele é todo atrapalhado. Tem uma mochila com diversos compartimentos. Bolsos furados, uma nárnia alegre onde tudo se perde e nada se encontra. Em nossos primeiros momentos delirava à procura de um não sei o quê, que esquecera no local anterior onde estivera.  É sempre assim... Cabos de carregadores de celulares espalham-se por todo canto. Três, que usa ao mesmo tempo, só que nunca tem tempo de me atender quando necessário é. Quanto ao torpedo, certeza do comando, que não disparara o essencial, pra quê palavras se o coração chegou? Está bem aqui na minha mão, batendo descontroladamente, em meio a felicidade em nuvens de algodão. E eu sinto que é verdade. Uma demência louca de amor, com toda paz e sobriedade, pois que sem mente sã é difícil realizar desejos secretos, já que o secreto se perde em segredos de amor. Logo de cara dei-lhe um presente perfeito: uma mochila novinha, que esquece de usar.

Tão pouco tempo e já o conheço como a palma de minha mão. Menino travesso. Moleque sem jeito. Amigo perfeito. Mil histórias a contar. Um milhão de outros amigos a me anunciar. Ama a poesia, assim como eu. Rima histórias na vida real. Trabalha, trabalha, sem nada ganhar. Dinheiro nunca está em suas mãos.

Não tem carteira assinada, nem propriedade privada. Paga aluguel e não tem preocupação. O ladrão pode vir que nada tem a levar. Abre portas e não as fecha, pois não tem o que temer. É bem mais jovem do que eu e me ensina a ver as nuances da aurora, as belezas raras de folhas a se mesclar nas caminhadas pelas trilhas da vida, que me leva a percorrer.

Como Eduarda e Mônico, somos o oposto, um do outro a se tocar, será que um dia vamos nos encontrar nesta paradoxal tempestade de ser não ser quem desejamos ser?

NOTAS DESAFINADAS

Mar calado, noite densa
Nenhuma onda gigante se manifesta
Palavras são redemoinhos ausentes
Pedregulhos pousados no fundo do mar!

Corpo em pausa, corpo neutro
Nenhum som de encanto te faz acordar
Palavras são notas desafinadas
Na ponta do penhasco a se equilibrar!

Arrepio na coluna... É o vento!
Trazendo cantigas de um tempo lá atrás
Palavras agora exalam novos aromas
Perfumes mesclados a sabor e a paz!

Coração se exalta, enrubesce o rosto
Desejos mansinhos de vida a voar
Palavras nascem querendo acordar
Aurora repleta de sonhos a vivenciar!

"QUE O SOM DO PIANO SEJA TOCADO

 PELAS ASAS DE UMA BORBOLETA"
Liz Rabello

sábado, 4 de janeiro de 2014



SOMOS POEIRA DO VENTO!

Quando eu me for desta
para outra esfera
Quero ser a estrela mais bela
Lua dançante de tuas noites azuis!
Ondas quebrando em teus pés molhados
Um grão de areia a roçar sua face
Magia do vento a balançar cabelos
Luz do sol a perpassar folhas de alface
Olhar fiel do teu cãozinho amigo
Festim de cores de tuas flores
Gramado verde a cobrir o pasto
Frutos maduros a saciar tua fome!
Quando eu me for desta para outra esfera
Quero ver-te sorrindo como agora vejo
Lábios cantando músicas alegres
Crianças correndo pela casa toda
Memórias boas a deslizar no quarto
Outras memórias que virão depois!
Quero te ver vivendo sempre
Que a vida é para quem está aqui!

FOLHAS SECAS

Cada folha contém seu tempo, uma linda história! Marcas e sinais de outrora. Uma breve vida. Poucas horas de beleza, intacta! Momentos únicos a verter da terra. O caule de uma árvore a dominou, a fez nascer verdinha, mas o passar das horas a modificou! 
Assim somos nós! Um momento único de rosa bela! Depois o tempo a devora, tão rápido quanto cresceu! Quero ser Outonos de folhas secas, sem belezas únicas de primaveras, sem verdes ramagens novinhas a serem devoradas pelo sol ou pelo vento! Quero me fazer antiga, sem nada mais a perder, te encontrar nas folhas semi mortas. Dar-te minhas mãos para mutuamente nos ampararmos na longa e infinita e difícil tarefa de terminar a vida para ser de novo adubo de uma linda rosa.

(In INTERVALOS, de Liz Rabello, Editora Beco dos Poetas, 2013)



sexta-feira, 3 de janeiro de 2014




REINAUGURAR AURORAS

A vida quando é rotina
Impõe regras, rótulos
Caminhos certos
Previstos
Obrigações
Impede a fantasia
Impossibilita a utopia
Nostalgia o coração
Nocauteia a imaginação
Rouba a euforia
Há que se cuidar
Da esperança
Reinaugurar a aurora
Com o esplendor
De um novo sonho
Perder-se na beleza
Do inusitado destino
Que ninguém prescreve
Que ninguém cogita
Criação pura da alma
Redescobrir sempre
A alegria de viver!

(In MIL PEDAÇOS, por Liz Rabello, Editora Beco dos Poetas, 2012)

sábado, 28 de dezembro de 2013

CINQUENTA TONS DO OLHAR



CINQUENTA TONS DO OLHAR

Adoro o verde!
Meus olhos claros
Esverdeando ambiente
Reflexos de Narciso
Começo a contar:
Um, dois, três
Nances diferentes
Quatro, cinco, seis
do meu verde olhar!

Meu paraíso aí está:
Montanhas e vales,
Floreiras e vasos
gramados e galhos,
cercas vivas e ninhos
flores e folhas,
ambiente externo e interno
Tudo muito verde
Cinquenta tons do olhar!

Liz Rabello

SENTIMENTOS


"SENTIMENTOS NÃO MORREM COMO PLANTAS QUE SECAM SEM O BÁLSAMO DAS ÁGUAS, POIS POSSUEM LÁGRIMAS PARA REGÁ-LOS NO CORAÇÃO"

(In MENINAS SUPER POÉTICAS II, de Liz Rabello, Editora Beco dos Poetas, 2012)

SOLIDÃO

Escrever me faz chorar
lágrimas salgadas
tinta colorida no papel
Dói menos!

Adoro dormir. Quando bebê, dizem, era difícil encontrar-me acordada. Passei a maior parte da minha infância convidando meus irmãos para brincarem comigo “de dormir”. Certa vez, fui encontrada dentro do guarda-roupa, após ter deixado a família e todos os vizinhos desesperados com o meu sumiço. Só aprendi a dormir menos quando meus filhos nasceram. Foi então que meu sono pesado tornou-se leve e passei a acordar várias vezes durante a noite e a dormir intensamente logo após.
Estranho o que me aconteceu certa vez em que acordei sobressaltada com o telefone a tocar por volta da meia-noite. Não era ninguém que se manifestasse. Atendi e a voz do outro lado silenciou. De meia em meia hora, por quatro vezes seguidas, fui surpreendida por aquele toque silencioso e maligno. Fora de hábito, perdi o sono meio que preocupada, meio que agoniada, quando ouvi um baque surdo de um corpo pulando muro abaixo perto do meu quarto. Corri até a sala e liguei para a polícia, que veio muito rápido, cercou minha casa e vasculhou em cada canto o quintal inteiro sem nada encontrar de errado.  Morava sozinha com meus dois filhos pequenos desde a morte do meu marido e, naquela noite estávamos os três na cama de casal. Abraçada a eles, tentei adormecer de novo. Como não conseguisse, orei a Deus, o meu bom Deus, que me amparasse.
Não sei se dormi, nem mesmo sei se sonhei ou foi real. Certo é que me vi abrindo bem os olhos e vendo em volta de uma névoa uma mão a mim estendida. Reconheci de imediato, porque além dos olhos dele, o que mais o admirava eram as mãos. Perguntei de mansinho, voz baixa, tranquila: “É você, amor?” Ele de costas, voltou-se e vi, nitidamente, apenas o rosto do meu amado que em outras esferas já morava. Ouvi: “Precisava vir, quero saber como você e as crianças estão”. Fiz um sinal com a cabeça para mostrar meu filho menor que dormia do meu lado, bem pertinho. Olhei também para o meu anjinho, mas quando levantei os olhos, tudo sumiu de minha frente e me vi, consciente, sentada em minha cama, chorando e agradecendo a Deus por me ajudar a viver na solidão.
Liz Rabello

MINHA ÁRVORE DOS SONHOS

Tem um sabor agreste
Verde oliva azul celeste
Gotas de arco-íris em luz
Bolhas de ilusão no meu capuz

Tem um sabor de eternidade
Algo que transmuta realidade
Mudanças de estado, verdades
Erros de egos, status de vaidades

Tem sabor de alegorias
Luzes claras de alegrias
Sons suaves de euforias
Canções em doces melodias

Minha árvore dos sonhos
É assim: água corrente
Nas manhãs incandescentes
Abraçando sol lua paz nascentes

(In APANHADOR DE SONHOS, de Liz Rabello, a ser publicado em 2014)



quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

CINZAS

LUTA 

É ela que me decifra melhor
Meus sucessos são mais rápidos
do que um cometa
Meus fracassos, muito estéreis
Não chegam a tomar posse de mim
Eu vou à luta!
E com ela
Namoro,
Brinco,
Suo,
Sofro,
Grito
Pulo!
Mas a encontro do outro lado do muro!
O que fazer?
Parece que meu mundo não tem fim!
Ainda bem,
Sinal de que enquanto a luta está em chamas
A vida rola
Estou aqui!

"(...) Sofri como nunca! Dor da alma e do corpo. Este sarou. A saúde voltou. Ferida de amor não cicatriza jamais, não morre nunca, amortece apenas os sentidos, mas volta a doer quando o tempo muda, quando as tempestades desabam, quando a última dor, impossível de se evitar, a faz recordar.  Como fênix que renasce das cinzas, continuo meu voo único, inevitável, sem olhar para trás, em busca da essência da vida!"

(In "INTERVALOS", de Liz Rabello, conto, 
ARMADILHAS DO DESTINO, Editora Beco dos Poetas, 2013)